quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Salários em Atraso Conta Como Poupança?

Pois é, hoje, dia 31 de Outubro celebra-se o Dia Mundial da Poupança que foi criado para alertar os consumidores para a necessidade de controlar os seus gastos e amealhar alguns tostões - "não gastem tudo em putas e vinho!" - para depois conseguirem fazer face a situações inesperadas, mesmo que sejam por culpa dos outros.

Perguntas:

Será que ter salários em atraso conta como poupanças? Será que afinal quando as empresas não pagam os salários a tempo e horas aos trabalhadores estão no fundo a incentivar-nos a poupar? Se calhar isto até é verdade, mas eu por acaso não sinto mesmo nada disso!



terça-feira, 30 de outubro de 2018

Mais Vale Ler um Livro Antigo

"O amigo, efetivamente, ali estava, tendo nas mãos um grosso livro de páginas furadas por uns pequenos orifícios sobre os quais passava vagarosamente os dedos pálidos, cheios de nós como um bambu, olhando para o ar, com o olhar vago.
O presidente sentou-se a seu lado, pegou-lhe na mão e apertou-lha com modo afetuoso.
- Já? - perguntou o cego com um sorriso na direção dele, mas um pouco desviado. - Acabaste?
- Acabei sim. Que estás a ler?
- Vergílio. 
- É o prémio Goncourt deste ano?
- Não. Só leio livros antigos. Todo o livro novo não é mais do que a mistura de ideias, de factos e de nomes tirados de outros livros e dispostos numa ordem um tanto diferente. Apenas impresso, vai tomar lugar nas estantes até que um novo escritor dali o tire para extrair uma ideia, um facto uma data ou um nome, que misturará com outros elementos tirados doutros livros, para deles fazer um novo livro. Mais vale ler um livro antigo.

"O Homem que Procura o Amor" - Pitigrilli (Dino Segrè

Plantas por Livros


A ideia surgiu-me por mero acaso. Eu gosto de ler mas os livros são muito caros, especialmente caros para os baixos salários praticados em Portugal, onde a mão-de-obra é muito barata quando nos comparamos com os outros países europeus e, um livro, mesmo português e que não foi alvo de nenhuma tradução, é quase um objeto de luxo. Por outro lado, há algo que eu tenho em excesso e que preciso despachar, não tanto para fazer dinheiro, que ainda assim nunca é de desprezar, mas para libertar espaço, porque acabei por me tornar um quase perigoso acumulador de plantas, que além de as propagar às dezenas, detesta deitar o que quer que seja fora, porque é uma planta, um ser vivo.

E, se isto é um mero passatempo, se calhar até aqui está uma ideia que poderia ser engraçada para um negócio, porque se calhar não é assim tão disparatada quanto isso. Temos então que eu tenho muitas plantas e as plantas são cada vez mais caras. E se calhar tu até tens muitos livros em casa que te queres desfazer. Porque até deixaste de ser solteiro e foste viver com uma pessoa parecida contigo e que se calhar até tem muitos livros que tu também já tinhas. E qual o sentido de terem livros repetidos em casa não é? E entretanto descobriram o gosto por plantas e queriam começar a comprar algumas mas apercebem-se que até é uma coisa dispendiosa. Ou então já estás reformado e queres começar a despachar mais de metade dos livros que tens numa estante (vê lá que até deitaste uns caixotes de livros fora!) porque já não fazem sentido para ti e queres-te ver livre deles. E assim por mero acaso encontras alguém na internet que até aceita livros como moeda de troca, que até te dá uma série de dicas e, até se voluntaria vê lá tu, para ir lá casa colocar as plantas em vasos novos(deve ser por ser demasiado simpático que estou solteiro!) e sem gastares dinheiro algum, resolves o problema.  

Como disse, isto começou por brincadeira mas estou a gostar cada vez mais da ideia. Quem sabe um dia ainda me vai tornar numa espécie de jardineiro-alfarrabista que fala de Pitigrilli enquanto muda umas plantas de vaso! E se calhar até seria engraçado ter um espaço, uma espécie de viveiro de plantas, onde as pessoas as poderiam comprar, mas em alternativa poderiam levar uns livros e levá-las de borla. Um espaço onde coexistissem plantas e livros, se calhar nem seria assim tão disparatado... Onde até se pudesse ler e/ou aprender sobre plantas. Onde se fizessem oficinas de plantas, para aprender sobre jardinagem, e porque não, onde se fizessem clubes do livro para se aprender mais sobre determinados autores ou diferentes temas. E já agora, curiosamente os livros, (além do pergaminho) primeiro vieram da planta do papiro, e depois das árvores.

E a brincar a brincar, nesta última troca recebi mais de sessenta livros, e só um deles, um livro de poemas dos anos quarenta que me chamou logo a atenção, e que tive a curiosidade de ir investigar, e fui encontrá-lo à venda num alfarrabista por vinte e cinco euros.  Logo, se calhar isto até seria rentável! E se eu tivesse uma sócia muito entendida em literatura para ficar responsável pela parte dos livros, então é que era!

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

A Mão de Deus que Abençoa a Tortura de Bolsonaro... e dos outros Fachos Todos

Com a aprovação divina, um escravo pode ser surrado até a morte sem punição para o seu dono, desde que o escravo não morra imediatamente.” 

Êxodo 21:20-21


domingo, 28 de outubro de 2018

A Hora Não Mudou Para os Gatos!

Domingo, dia 28 de Outubro de 2018 e a merda da hora voltou a mudar. 
Ironicamente, à mesma hora de todos os dias, e hoje mais cedo, os gatos começaram a miar por comida. Ao fim da tarde, voltaram a miar por comida pela hora antiga! Olha, queres ver que a hora não mudou para os gatos?


Pessoas que Não Gostam de Ser Corrigidas

"O meu pai, desde pequenino, dizia uma coisa que eu achava que era um tique "posso estar enganado mas..." e nós gozávamos com ele. Ele falava connosco em inglês (a minha mãe é inglesa) e então ele de vez em quando fazia uns erros e quando isso acontecia eu dizia "ó pai isso não está certo". Ele dizia: "Ó pá, isso é a melhor coisa que me podes dizer!"


Também eu Miguel, gosto muito que me digam quando tenho um pedaço de alface metido no meio dos dentes, uma catota no nariz, ou, me digam que estou errado, por exemplo no português. Ainda me lembro, quando teria uns quatro ou cinco anos e dizia "camboio" e depois me corrigiram que era comboio que se dizia. Tal como fiquei agradecido quando a primeira namorada me disse que não se dizia "quaisqueres" porque o plural de qualquer é quaisquer. Ou recentemente, quando me disseram que era logótipo que se dizia e não "lógo-tipo". Gosto de aprender mais, porque infelizmente ninguém sabe tudo, muito menos eu, que a única certeza que tenho, é a de que pouco ou nada sei. Mas infelizmente a maioria das pessoas não pensa assim, e está sempre tão cheia de certezas acerca da sua ignorância. 

Estou em crer que a primeira vez que coloquei as pessoas da empresa em alvoroço, foi quando disse que tinha "tartarugas da Florida". Não, o problema não tinha nada que ver com as tartarugas, tinha sim com a forma como pronunciei "Florida". Tal como se diz em "jardim florido", a palavra "Florida" que designa o Estado norte americano, por ser de origem hispânica e não anglo-saxónica, pronuncia-se como no português.  

De imediato tentaram-me corrigir afirmando que eu estava a pronunciar mal. É Flórida que se diz, porque afinal toda a gente, incluindo os jornalistas da televisão assim dizem. E se se diz na televisão, quem és tu para dizer de forma diferente! E preparou-se de imediato um verdadeiro pelotão de fuzilamento e todos, sem exceção, afirmaram que eu estava errado, tão simplesmente porque a ignorância é muito atrevida e é tão cheia de certezas. Então a primeira coisa que se lembraram - tão inocentes! foi de pesquisar a palavra com acento, querendo provar que a palavra é acentuada (coisa que nunca foi) e lá me mostraram sites em que a palavra aparecia acentuada, não sabendo que um motor de busca como o Google simplesmente apresenta resultados para aquilo que pesquisamos, e se alguém assim escreveu mal, e pesquisamos mal escrito, iremos ter como resultado aquilo que pesquisamos.

O fanatismo é tão grande que quando mostrei sítios como o dicionário online Priberam.pt,  ou o Ciberdúvidas, verdadeiro sítio de esclarecimento da língua portuguesa, que diz como se pronuncia "Florida" era porque eram "sítios que me interessavam"! Tu queres ver que eu lhes disse para escreverem mal, só porque era como eu achava que é?!


Claro que remar contra a maré é sempre muito mais difícil do que se nos deixarmos levar. Continuo tantas vezes a perguntar-me porque me importo e porque entro em tantas discussões que à partida sei que não vão levar a lugar algum e que o melhor seria deixar as pessoas continuarem na sua ignorância. No fim desta discussão, e mesmo depois de perceberem que estavam errado, ainda ouvi um "mas eu vou continuar a dizer Flórida", e de todos eles, acho que só mesmo um terá querido corrigir-se.

Por uma outra vez tinha cinco pessoas à minha volta, (sim, contei-as na altura perante tal insólito que estava a acontecer!) e, qual manada de hienas a rosnar, só porque eu disse que "posso estar enganado mas acho que se diz "dep" e não "dip" porque o nome se escreve com dois p e não com dois e" referindo-me ao ator Johnny Depp, ídolo de algumas das pessoas que lá estavam e não propriamente o meu ator preferido. E, em vez das pessoas se questionarem se estão certas, não, logo afirmaram convictamente que eu estava errado!, porque afinal parece que toda a gente que conhecem diz Johnny Dip! 

Numa outra situação, falava-se de politica, assunto diga-se, que há muito me aborrece, não fosse eu o único a defender as minorias, os trabalhadores, e a igualdade, ao passo que os meus caros colegas, estão sempre do outro lado da barricada, e confesso que, estar ali sempre enfiado numa trincheira, isolado, sempre a ser bombardeado por todos os lados que há muito me cansa, ainda por cima, porque nunca ninguém vai convencer os outros de nada, porque as pessoas baseiam-se sempre nas suas convicções  morais, e muitas vezes mesmo com factos à frente dos olhos, não os vão querer ver. E desta vez eu até estava ao longe, mas quando alguém falou, para dar um exemplo de como os imigrantes são perigosos, citou o argumento do "Arrastão de Carcavelos" ao que eu só disse: "deixem-me só fazer um parêntesis, é que o arrastão é só mais um mito urbano, que nunca existiu e foi uma invenção da extrema-direita, de alguns polícias, empresários e de alguns autarcas". 

Adiantou alguma coisa eu ter chamado a atenção que a pessoa estava com um bocado de alface enfiada nos dentes? Não! Nada! Só serviu para a pessoa se exaltar, afirmar convictamente que tinha a certeza que isso foi realmente verdade, que "quinhentos pretos entraram praia adentro e roubaram toda a gente". E pronto, lá fui eu fazer uma pesquisa, enviar um e-mail com o relatório da polícia, com um relatório da Amnistia-Internacional, e com um artigo a falar da péssima cobertura jornalística do tal pseudo-arrastão que nunca existiu. Anos mais tarde, voltou-se a falar no Arrastão e a mesma pessoa, mesmo depois de ter recebido toda essa informação, voltou a repetir o mesmo, que o arrastão existiu! Sim, para que é que uma pessoa anda a gastar o seu latim, se as pessoas simplesmente querem-se manter ignorantes e não querem retirar o pedacinho verde entre os dentes mesmo quando lhes dizemos que ele está lá?

Miguel, também eu gosto muito que me corrijam, principalmente quando falo ou escrevo algo errado, então com erros de português fico agradecido, mas infelizmente, a verdade é que as pessoas não gostam de ser corrigidas 

Fake News é Que a Fake News é Fake News! E que Jesus Travesti te Abençoe!

Apedrejar um Gato dá Cadeia. Violar uma Mulher ou Roubar um Banco Claro que Não!



Toda a gente tem a sua opinião sobre o que está pior no seu país, eu também tenho. Para mim, desde que me conheço, o que está pior, é, sem dúvida, a Justiça (ou a falta dela). Diz-se que a justiça é cega, mas em Portugal a justiça anda de olhos bem abertos, e distingue muito bem o pobre, muitas vezes de espírito, do homem rico, que por ter dinheiro é certamente pessoa de bem.

Vamos tentar perceber um pouco da arbitrariedade da justiça portuguesa, analisando três diferentes penas atribuídas muito recentemente pelos tribunais portugueses.



Primeiro caso. O banqueiro João Rendeiro, acusado de burla e falsear a contabilidade do BPP, banco que foi à falência porque andou a vender gato por lebre, estilo Dona Branca prometendo juros de 5%, e já depois de ter sido declarado inocente em tribunal (sim, a sério!) e por recurso do Ministério Público, foi agora condenado. A sério que a justiça portuguesa colocou um banqueiro na cadeia? Acham mesmo? Claro que não! Um banqueiro é o supra-sumo da pessoa de bem! João Rendeiro que saiu em liberdade com pena suspensa!






Segundo caso. Dois homens violam uma mulher desmaiada numa discoteca de Gaia. Não mostram qualquer arrependimento perante o tribunal. O coletivo de juízes aplica-lhes uma pena suspensa porque afinal a culpa até foi da mulher, que como mulher de bem tinha era que estar em casa na cozinha e não num espaço de diversão noturna, onde só vão as galdérias que querem foder!

Terceiro caso. Homem de 25 anos apedrejou um gato. Pena: dois anos de cadeia efetiva!

Disto concluirmos então que: para a justiça portuguesa, é muito mais grave apedrejar um gato que violar uma mulher ou roubar e levar um banco à falência! No meio disto tudo, a minha pergunta é: e se fosse um banqueiro a apedrejar um gato, também ia para o chelindró dois anos? Oh, estupidez minha! Claro que não, como disse no início, estava-me a esquecer que um banqueiro, sendo rico, é  inevitavelmente pessoa de bem! 

sábado, 27 de outubro de 2018

Por Que é Que os Padres Não Publicam Livros a Contar os Pecados Mais Sórdidos Ouvidos Em Confissão?

Parece que virou moda publicar livros com conversas privadas e que por isso mesmo, digo eu, não deveriam vir para a praça pública, porque privado significa "pessoal" e "particular" que é o oposto de público. Pior ainda quando estamos a falar das mais altas figuras do Estado e que deveriam por isso mesmo dar o exemplo. 
Desta vez foi Cavaco Silva, que decidiu sair do sarcófago onde estava, para publicar um livro "Quinta-feira e outros dias" em que revela conversas privadas que manteve com outras figuras de Estado como primeiros-ministros e líderes partidários. 


Espera-se já a seguir, por dezenas de livros do género, nomeadamente livros com os melhores pecados contados pelos fieis católicos, em confissão, aos padres deste país. É um filão que sido tremendamente desprezado!, e que pode, por exemplo, sair todos os dias à venda conjuntamente com o escarro jornalístico mais vendido do país.

sábado, 20 de outubro de 2018

"Only The Strong Survive"

Já quase duas décadas se passaram, assim, num abrir e fechar de olhos, mas entretanto o disco do cérebro tem vinte anos de novos dados acumulados e essas lembranças de há vinte anos tenho de as ir buscar à reciclagem, correndo o risco da informação já não ser bem precisa, no entanto, acho que o essencial está cá. 

Depois de uma Primavera e Verão muito atribulados nas nossas vidas (com capítulos que há muito me tem vindo a apetecer escrever, porque são momentos importantes da minha vida), tinhas entretanto acabado o secundário e preparavas-te para ser a primeira pessoa da tua família a ir para a universidade. Sim, algo que te poderias orgulhar. 

A tua escolha número um era a Psicologia, área que te era muito familiar visto que era o que andavas a estudar. Mas como na altura a média de entrada era bastante elevada, acabaste por entrar na tua primeira alternativa que era Recursos Humanos. É curioso, como quando começamos a desfiar as memórias, acabamos por nos lembrar de certos pormenores e eu acabo de me lembrar, de quando certa vez me dizias que tinhas uma professora que dizia que os humanos nas empresas não são um recurso. São tudo, porque sem humanos não existiriam empresas, o que de facto faz todo o sentido e La Palisse não diria melhor!

Até que chegou a altura de começar as aulas, e discutimos o tema da praxe. E acho que até aqui no blogue um qualquer leitor fantasma que não me conhece, mas me vá acompanhando, facilmente saberá o que eu penso sobre o tema. E penso hoje o que pensava há vinte anos. 

Praxe, fui agora ver ao dicionário para saber a origem, e a palavra é originária do grego prâksis que significa ação, transação, negócio e que no nosso português significa "prática habitual". Temos pois que humilhar os novos alunos numa universidade porque é a "prática habitual". A tradição. 

A praxe está para as universidades como as touradas estão na sociedade. É uma prática habitual tolerada. É uma prática sim, mas ridícula! Mandar um piropo a uma mulher é crime. Dar um chuto num gato dá direito a dois anos de cadeia efetiva. Mas humilhar violentamente os alunos que chegam a um novo estabelecimento de ensino é praxe, uma prática habitual tolerada.

Falamos sobre isso e tu explicaste-me o porquê de te ires submeter aquela tortura. Era tudo por causa dos teus pais e, para que, mais uma vez, não fosses apontada como ovelha negra, como diferente, como aquela pessoa que é sempre do contra, ainda que, ser contra a humilhação não é ser do contra mas sim ser em defesa da nossa sanidade mental, decidiste seguir a carneirada e fazer o que todos fazem. E eu, mesmo sendo contra, apoiei-te. 


Claro que já não sei os detalhes todos. Mas sei que odiaste tudo aquilo. E estamos a falar duma universidade privada, cheia de betinhos filhos de papás ricos, e duma cidade que não Coimbra, onde o terror será, como bem se sabe, bem maior. 

Chegavas a casa verdadeiramente aterrorizada. Chegaste mesmo a pensar desistir porque aquilo estava-te a causar graves danos emocionais, mas quiseste levar o masoquismo até ao fim, pelo direito a que, quatro anos depois, lá pudesses fazer todo o cerimonial da "prática habitual", onde eu sempre lá estive, contigo ao lado, até mesmo na "Benção das Pastas" com o bispo e tudo, e mesmo sendo absolutamente contra aquele triste espetáculo, que depois encerra com a Queima das Fitas.


Mas logo no primeiro ou segundo dia de aulas, acho que foste tu que me pediste a minha camisola de Machine Head para passar uma mensagem porque nas costas da camisola diz: Only The Strong Survive (só os fortes sobrevivem). E tu sobreviveste à praxe. Mas continuo a achar que ninguém se deveria deixar humilhar voluntariamente só porque é a "prática habitual". O "mundo pula e avança" e todos nós deveríamos querer um mundo melhor, não o mundo velho dos Velhos do Restelo que nunca querem que nada mude mas, tão simplesmente porque as coisas sempre foram assim. 

Sim, eu ainda tenho aquela velha e gasta camisola de tantas lavagens. Aliás, tirei mesmo a fotografia esta semana, no trabalho, enfiando-a num porta-paletes servindo assim de modelo, já a pensar no que iria escrever sobre ela. Talvez devesses ter querido ficar com ela. Se me tivesses pedido eu ter-ta-ia dado porque sou um gajo espetacular. Tal como te devolvi a pasta com as fitas, que ma tinhas dado, em que duas das fitas fui eu que as escrevi e pintei... Ou talvez anos depois a camisola já não fizesse sentido para ti porque afinal já não estávamos juntos. Não sei. Mas parece-me que aquela camisola foi, ainda que num curto período de tempo da tua vida, mais importante que em todo o tempo que a tive. Durante todos aqueles dias em que foste humilhada, em que berraram contigo, em que te fizeram rastejaste como um animal, era aquela camisola que trazias contigo, era também, como e fosse a minha segunda pele que te protegia. Hoje é só uma velha camisola vintage, que se calhar ainda vale algum dinheiro se eu quiser vender no Ebay.  

Pré-Requisitos Essenciais Para Ser Ladrão e Não Ser Apanhado!

Ora bem decidi que a minha profissão vai ser roubar os outros, mas à moda antiga. Não quero ser um ácaro e roubar contas bancárias nem entrar em sites de outras empresas porque não percebo um cu de informática, quero sim ser um ladrão como se deve ser, não propriamente um Robin dos Bosques e roubar aos ricos para dar aos pobres, mas sim um ladrão empreendedor que roubo aos pobres para proveito próprio. 

Então que é que eu vou fazer primeiro? 
- Aprender a arrombar fechaduras e cofres? Fazer um curso de tiro ao alvo para saber manejar uma arma como um profissional? Aprender técnicas para saber disfarçar-me como ninguém e nunca ser identificado?

Não. Vou mas é fazer uma tatuagem, bem grande, e no pescoço, que é para toda a gente ver bem à distância e saber identificar-me que o ladrão sou eu!


E sempre que o nome da minha aldeia é notícia nunca é pelos melhores motivos. Ou é por causa dum incêndio de grandes proporções, ou então é porque três meliantes que se evadiram do tribunal de instrução criminal do Porto resolveram vir-se esconder aqui neste fim-do-mundo!

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

E se um Árbitro se Indignasse por Não Ter Sido Escolhido para Arbitrar Determinado Jogo? O Que pensaríamos dele?

Há muito que deixei de ver jogos de futebol. Coincidiu mais ou menos quando o ex-ministro e ex-Doutor Relvas (aquele tipo de Tomar que nunca meteu os cotos numa universidade, mas que como se mexia bem e até chegou à maçonaria, arranjaram-lhe um canudo para ele dizer que era Doutor) decidiu retirar os jogos de futebol do campeonato português da RTP, e tudo passou para as televisões privadas do cabo. Então deixei de ver futebol, tirando um ou outro jogo da seleção, um ou outro jogo das competições europeias. 

Ainda assim lá vou, de vez em quando, acompanhando os resultados na estereofonia, mas cada vez menos apaixonado com a coisa, ainda por cima porque o futebol é algo que atrai o que de pior existe na sociedade: ladrões, corruptos, insurretos, terroristas, traficantes de droga, mafiosos, racistas, nazis, etc. Ainda por cima os clubes estão todos falidos, mas quem anda à volta do futebol ganha milhões, apesar de ainda assim parecer muito pouco, que o diga o herói nacional (e muitos outros que tais) que não declarou ao fisco espanhol 150M€. Anda sempre triste, coitado, acha que ganha pouco dinheiro!

E no futebol, como em todos os desportos, são precisos árbitros. E no futebol os árbitros foram sendo escolhidos para os jogos de diferentes maneiras. Já foram escolhidos por nomeação (e depois os clubes que perdem reclamam que deveria ser por sorteio), e já foi por sorteio (e depois os clubes que perdem reclamam que deveriam ser escolhidos por nomeação!)

Mas algo que até hoje nunca vi, foi, determinado árbitro reclamar do resultado do sorteio! Nunca até hoje ouvi nenhum árbitro vir para a praça pública dizer que o sorteio foi viciado, e que o quiseram afastar de determinado jogo porque ele é que era o melhor para o efeito. Ele é que arbitrar aquele jogo. Mais ninguém!

Nunca até esta semana em que o super juiz Carlos Alexandre veio para a praça pública dizer entre dentes que foi afastado propositadamente do caso Operação Marquez. Mas afinal o que é que ele quererá dizer com isto? Que ele é o único juiz competente em Portugal? Que o outro juiz a quem foi entregue o caso é corrupto ou incompetente? Como é que podemos interpretar estas suspeições que ele lançou?

E já agora, o que é que a se comentaria por aí se, em vez de um super juiz, um qualquer árbitro da bola viesse dizer o mesmo, que o sorteio onde estava foi viciado, e que ele é que, por exemplo deveria arbitrar o Benfica - Porto? Que é que as pessoas iriam pensar dele? 
Pois é...



terça-feira, 16 de outubro de 2018

Quanto é que o Teu Telemóvel Bebe aos 100?

Por norma, começa-se a chegar ao fim do mês e, invariavelmente (muito eu gosto de usar advérbios de modo) começo a ouvir a minha colega a queixar que a net está a acabar. Isto é mais ou menos como a maioria das pessoas que, geralmente tem quase sempre mais mês que salário para gastar!

Mas neste mês de Outubro (em que ainda nem tivemos oportunidade de começar a gastar o salário de Setembro) já vamos a meio e já ouvi hoje a minha colega a queixar-se que já está a ficar sem net. E sempre que isto acontece, sugere que pode muito bem ser o marido que lhe "rouba" net. 

Ora bem, como eu não percebo nada disto de telemóveis modernos com internet, suponho que se roube net como fazia antigamente nos carros com o combustível. Pegava-se numa mangueirinha, e aspirava-se o combustível para dentro dum bidão para depois o meliante despejar no depósito do seu carro. Na volta com os telemóveis é igual. Talvez haja um cabo qualquer que se ligue dum telemóvel ao outro, carrega-se numa tecla e pronto, rouba-se um bocado de net para jogar ou atualizar a rede social. 

E tu queres ver que os telemóveis também são como os carros, e que uns consomem mais ou outros menos? Na volta é isso, o do meu colega bebe muito menos net que o dela! Um dia já sei, se pensar em comprar um telemóvel com internet, já sei que tenho de comprar um que seja mais económico! 

Por que é que as Mulheres Não se Apanham com Mel?

"E sabes bem que Gerry Somercotes te adora.
- Oh, mas eu odeio tipos que me adoram! - gritou Yvette, erguendo o seu delicado nariz. - Eles aborrecem-me. Não nos largam!
- Então, o que é que queres, se não suportas que te adorem? Acho que está perfeitamente certo que sejamos adoradas. Sabes que nunca virás a casar com eles, portanto, por que é que não havemos de deixar que continuem a adorar-nos, se isso os diverte?
- Oh, mas eu quero casar-me! - exclamou Yvette.
- Então nesse caso deixa que eles continuem a adorar-te até que encontres um com quem te seja possível casares-te.
- Dessa maneira, nunca! Nada me irrita mais do que um tipo adorador. Aborrecem-me tanto. Fazem com que me sinta abominável.
- Oh, também a mim, quando se tornam insistentes. Mas, à distância, penso que são muito agradáveis.
- Gostaria de me apaixonar violentamente.
- É natural! Pois eu nunca! Odiaria tal coisa. E, provavelmente, o mesmo sucederia contigo, se na verdade isso te viesse a acontecer. No fim de contas, temos de assentar um pouco, antes de sabermos o que queremos.

A Virgem e o Cigano / D.H. Lawrence (1926)


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

O Fim do Google+

Pois é, a única rede social, digna desse nome, em que estava vai acabar. Estou a falar do Google+ que apareceu em 2011 para tentar concorrer com as outras grandes redes sociais da altura, mas que nunca se conseguiu impor. 

Eu juntei-me ao Google+ em 2015 porque resolvi, por fim, agregar todas as plataformas do Google, nomeadamente o Blogger (e eu tenho três blogues) o canal do Youtube e, claro, a conta de e-mail do Gmail. Com isso deixei de poder usar primeiro pseudónimo do Blogger "Aquifolivm" e passei a ser o Königvs do Youtube e do Gmail.



Nada é para sempre, muito menos as plataformas eletrónicas. Eu ainda me lembro bem da paranóia com mIRC, com o Messenger (que depois passou a Skype) com o Hi5 e o Myspace.

Como não estou nas redes sociais mais usadas atualmente, não tenho forma de comparar, mas devo confessar que gostava da forma como, além da página principal onde se pode ver tudo que partilho, depois poderia encaminhar cada publicação para a sua pasta respetiva, chamadas "Coleções do Utilizador" e um qualquer seguidor até poderia só seguir determinada coleção que tivesse interesse.

Infelizmente, vinha notando um cada vez maior abandono por parte dos utilizadores e era extremamente desagradável ver tanto spam e tanta pornografia ali escancarada.

Eu usava a rede social mais para mim que outra coisa. Diversos artigos que lia ou que depois queria ler, encaminhava para o Google+, para uma dessas tais coleções, e ali ficava organizado para facilmente depois encontrar e (re)ler. E claro, servia para mim como forma de agregar as coisas que ia publicando e apesar de pouca gente usar, cerca de duzentas pessoas por lá me foram acompanhando.

Ainda assim, por causa do Google+, há precisamente dois anos, desaparecem-me milhares de fotografias do Bucólico-Anónimo algo que me deixou verdadeiramente possesso.

Mas agora que estou órfão (apesar de ainda funcionar) de rede social, talvez seja sirva de incentivo para  ir pregar para outras freguesias. Já há algum tempo andava a pensar no Twitter... já percebi que para algumas coisas o diabólico Facebook também me daria jeito. Não sei. Encontramo-nos por aí. Mas antes tenho de ir ao funeral do Google+. Paz à sua alma.

domingo, 14 de outubro de 2018

Vantagens do Poliamor


Aqui e ali vamos ouvindo, cada vez mais, falar de poliamor e de casais poliamorosos que falam maravilhas da coisa. Não julgo, é uma opção legítima como qualquer outra, ainda por cima eu sou sempre defensor da liberdade, ainda assim julgo que não seria coisa para mim. Acho que já é tão complicado e raro, encontrar uma só pessoa por quem nos apaixonemos, e ainda por cima tem também ela que de sentir por nós o mesmo, no tempo certo e estar disponível, e querem convencer-me que podemos multiplicar isso por dois ou três e depois cada um desses elementos pode também ter mais dois ou três... Foda-se!, que puta de confusão! Nem quero imaginar como será a agenda dessas pessoas só para dar uma simples foda!

Mas no entanto já percebi a grande vantagens da coisa!

Apaixonei-me por uma mulher e estou extremamente feliz. As coisas vão bem até ao momento em que nos separamos. Fico na merda. É o fim do mundo. Quero morrer e vou já ali saltar da ponte mais próxima. Se calhar é melhor não porque não sei nadar e ainda morro afogado e é uma chatice. 

Ora, se um gajo alinha nessa cena do poliamor, quando uma namorada decide acabar com o contrato de fidelização, um gajo não precisa de ficar p'ra morrer! Basta ir logo a correr para os braços das outras namoradas para elas nos consolarem... Muito bem visto!

Coisas que Te Fazem Lembrar de Mim: 1986

Quando em Abril, dias depois de ter passado um ano desde a última vez que nos encontramos e quase me teres partido mais uma costela com os teus fortes abraços, dos quais como imaginarás tenho muitas saudades, perguntaste-me se eu já tinha visto algum episódio da série da RTP "1986" .


Tinha sim visto o primeiro episódio. Por esses dias a minha colega de trabalho não falava de outra coisa! Até estranhei tendo em conta que nós, aparentemente, temos tantas diferenças de gostos culturais! Ela estava muito entusiasmada com o início da série e achava que seria muito interessante para pessoas que viveram nesse tempo (que não ela que já nasceu em 90) relembrarem coisas da sua infância. 

Eu também já tinha reparado nas publicidades das paragens de autocarro, e tinha apanhado uma reportagem com o jovem ator e personagem principal, Tiago, no programa da manhã da Antena 3.


Disseste-me também que havia uma personagem que te fazia muito lembrar de mim porque tal como eu também falava muito!

Eu gostei bastante da série. Foi interessante recuar no tempo, às eleições provavelmente mais épicas da democracia portuguesa em que os comunistas, na segunda volta, apoiaram o mal menor Mário Soares do PS, para o que facho de direita Freitas do Amaral (CDS, e apoiado pelo PSD) não chegasse à presidência. E, se nos primeiros episódios, o interesse residia em saber se o puto bem comportado conseguia cair nas boas graças da miúda gira e na batalha que se disputava entre os pais que, à semelhança de Romeu e Julieta, se odiavam porque apoiavam candidatos opostos.

Entretanto a meio da série comecei a achar que as personagens principais (Tiago e Marta) começaram a apagar-se, ao passo que começavam a destacar-se, e até tinham mais graça, o Sérgio (o metaleiro) e a Patrícia (a gótica) e até o radialista que trabalhava no videoclube, um negócio em expansão na altura. 
Acho que era óbvio que seria o Sérgio, o metaleiro, que te fazia lembrar de mim porque de facto ele falava imenso! Agora se era tanto como eu, isso já só tu podes dizer!

# Coisa que Me Lembram de Ti

Affaire Satânico!


Não Saber Escrever o Nome do Próprio Carro que se Tem!

Um vendedor de Oeiras, está a vender no OLXulos, com destaque pago e tudo, um todo terreno de marca Geep!  


Como é que os Ricos Decapitam os Governos de Esquerda (para Totós!)

A Conspiração

"Tal como o Candidato tinha previsto, os socialistas, aliados com o resto dos partidos de esquerda, ganharam as eleições presidenciais. O dia da votação decorreu sem incidentes numa luminosa manhã de Setembro. Os de sempre, acostumados ao poder desde tempos imemoriais, ainda que nos últimos anos tivessem visto as suas forças debilitar-se muito, preparavam-se para celebrar o triunfo com semanas de antecipação (...)

O senador Trueba seguiu a votação na sede do seu Partido, com perfeita calma e bom humor, rindo-se com petulância quando algum dos seus homens se punha nervoso com o avanço indissimulável do candidato da oposição. Antecipando-se ao triunfo, tinha quebrado o seu luto rigoroso pondo uma rosa vermelha na lapela do casaco. Entrevistaram-no para a televisão e todo o país pode escutá-lo: "Ganharemos nós, os de sempre", disse com soberba, e logo convidou a um brinde pelo "defensor da democracia". 

À meia-noite soube-se que tinha ganho a esquerda. Num abrir e fechar de olhos, os grupos dispersos engrossaram, incharam, estenderam-se e as ruas encheram-se de gente eufórica que saltava, gritava se abraçava e ria. Ataram tochas e a desordem das vozes e o vaivém da rua transformou-se numa alegre e disciplinada comitiva que começou a avançar até às bonitas avenidas da burguesia (...) 

- Disse-te que ganharíamos às boas, Miguel! - riu Alba. 
- Ganhámos mas agora há que defender o triunfo - replicou. 
No dia seguinte, os mesmos que tinham passado a noite de vela aterrorizados nas suas casas saíam como uma avalancha enlouquecida e tomaram de assalto os bancos, exigindo que lhes entregassem o seu dinheiro. Os que tinham algo de valioso, preferiram guardá-lo debaixo do colchão ou enviá-lo para o estrangeiro (...)

Trueba estava mais surpreendido que que furioso (...)

- Uma coisa é ganhar eleições e outra muito distinta é ser presidente - disse misteriosamente aos seus chorosos correlegionários.  
A ideia de eliminar o novo Presidente, no entanto, não estava ainda na mente de ninguém, porque os seus inimigos estavam seguros que acabariam com ele pela mesma via legal que lhe tinha permitido triunfar. Isso era o que Trueba estava pensando. No dia seguinte, quando foi evidente que não havia que temer a multidão festiva, saiu do seu refúgio e dirigiu-se a uma casa de campo nos arredores da cidade, onde houve um almoço secreto. Ali se juntou com outros políticos, alguns militares e com os gringos enviados pelo serviço de inteligência, para traçar o plano que derrubaria o novo governo: a desestabilização económica, como chamaram à sabotagem (..)




Todos eles, menos os estrangeiros, estavam dispostos a arriscar metade da sua fortuna pessoal na empresa, mas só o velho Trueba estava disposto a dar também a vida. 
- Não o deixaremos em paz nem um minuto. Terá que renunciar - disse com firmeza. 
- E se isso não resultar, Senador, temos isto - acrescentou o general Hurtado pondo a arma do regulamento sobre a toalha. 
- Não nos interessa um golpe militar, general - respondeu o agente da embaixada no seu correto castelhano. - Queremos que o marxismo fracasse estrondosamente e caia por si, para tirar essa ideia da cabeça dos outros países do continente. Compreende? Este assunto vamos resolvê-lo com dinheiro. Ainda podemos comprar alguns parlamentares para que não o confirmem como presidente  Está na sua Constituição: não obteve a maioria absoluta e o Parlamento deve decidir. 
- Tire essa ideia da cabeça , mister! - exclamou o senador Trueba. 
- Aqui não vai conseguir subornar ninguém! O Congresso e as Forças Armadas são incorruptíveis. É melhor destinar esse dinheiro para comprar todos os meios de comunicação social. Assim poderemos manejar a opinião pública, que é a única coisa que na realidade conta. 
- Isso é uma loucura! A primeira coisa que os marxistas vão fazer é acabar com a liberdade de imprensa! disseram várias vozes em uníssono.
- Acreditem-me cavalheiros - respondeu o senador Trueba. - Eu conheço este país. Nunca acabarão com a liberdade de imprensa . Além disso esta nos seu programa de governo, jurou respeitar as liberdades democráticas.
Apanhá-lo-emos na sua própria armadilha .
O senador Trueba tinha razão. Não conseguiram subornar os parlamentares e no prazo estipulado pela lei a esquerda assumiu tranquilamente o poder. E então a direita começou a juntar os ódios (...)

A direita realizava uma série de ações estratégicas destinadas a destruir a economia e a desprestigiar o governo. Tinha nas suas mãos os meios de difusão mais poderosos e com a ajuda dos gringos, que destinaram fundos secretos para o plano de sabotagem. Em poucos meses puderam-se apreciar os resultados. O povo encontrou-se pela primeira vez com dinheiro suficiente para cobrir as suas dificuldades básicas e comprar algumas coisas que sempre desejara, mas não o podia fazer, porque os armazéns estavam quase vazios. Tinha começado o desabastecimento, que chegou a ser um pesadelo coletivo. As mulheres levantavam-se ao amanhecer para ficarem de pé nas longas bichas onde podiam comprar um magro frango, meia dúzia de fraldas ou papel higiénico. 
Produziu-se a angústia da escassez, o país estava sacudido por ondas de rumores contraditórios que alertavam a população sobre os produtos que iam faltar e as pessoas compravam o que houvesse, sem medida, para prevenir o futuro.... 


sábado, 13 de outubro de 2018

Por que é que a Despesa do Estado Não Diminui Se os Funcionários Públicos Têm Cortes e não São Aumentados Há 10 Anos?

Se calhar é por causa deste tipo de coisa:

"Este país, tornou-se num país de outsourcing’s.
Aliás, quando me falam da despesa pública com a saúde e a educação, apetece-me perguntar-lhes.
O Estado nos últimos sete anos despachou mais de 70.000 funcionários públicos para a reforma, ou para o desemprego (contratados).
Os ordenados dos que ficaram, e as reformas dos que saíram para a aposentação foram reduzidos pelos cortes ou pela via fiscal. Nem no ano de 2018 ainda não estarão como estavam em Janeiro de 2010, por causa dos escalões de IRS.
Mas a despesa continua intacta. Ou reduziu pouquíssimo.
E qual a razão?
Ah, é culpa do chulo do funcionário público!
Ou talvez não.
É a empresa de limpeza e o catering nas escolas. Mas o pior é que a limpeza vale pouco, e a comida uma boa bodega. Perguntem aos putos? Nalgumas até a Segurança é privada. Universidades e Politécnicos em especial.
Nos hospitais, idem. É limpeza, o catering, e a Segurança. O velho electricista, canalizador ou trolha que ia fazendo a manutenção, conservação, e tapando os buracos deixou de existir para dar lugar aos ajustes directos. Até os espaços públicos, jardins são arranjados por empresas outsourcing.
Qualquer dia vamos ao balcão das Finanças da nossa residência fiscal, e em vez do funcionário que nos habituámos a consultar, está uma menina dos CTT para nos atender, informando-nos que os CTT tinham ganho o concurso público para cobrar os impostos.



sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Eu Quase Te Amei



"I Almost Loved You" / My Dying Bride (2015)

Não Tens Fotografia?

Não sei. Talvez sejam sinais dos tempos. 

Não sei ao certo quantas pessoas fui conhecendo e que, só passado algum tempo, algumas vezes muitos meses depois é que conheci pessoalmente e soube como eram fisicamente. Não quero agora começar a contar, mas foram vários casos, várias mulheres que se calhar os dedos de uma mão não cheguem para contar. 

Confesso que gosto desse jogo de ir desvendando a outra pessoa aos poucos. As palavras que emprega, as semelhanças que tem connosco, a empatia, a sua cultura, as suas opões de vida. E claro que também percebemos quando o outro nos está a analisar e nos faz determinadas perguntas. Não somos parvos, especialmente quando até já temos uns cabelitos brancos. Por outro lado, já sou muitas vezes parvo no sentido de não usar muitas máscaras e filtros. Mostro-me quase sempre como sou e, querida, aquilo que tu vês, é aquilo que levas. Mas este jogo é, pelo menos comigo por vezes tem sido, um jogo um pouco arriscado e, quando finalmente nos encontramos com aquela pessoa, mesmo sem saber muito bem como ela é, isso quase que já não interessa muito, pois a cumplicidade já é muita. E tal como Cícero, que se aproximou demasiado do Sol, também nós podemos sair chamuscados. 


Mas entretanto parece que as coisas estão a mudar. A própria forma como as pessoas estão na internet tem vindo a mudar. Se antigamente só se usava um pseudónimo e uma imagem de perfil que nunca era a foto do próprio, agora as pessoas preferem usar o nome próprio e a própria fotografia o que, diga-se, é extremamente inteligente. Quer-se ver logo tudo. Tudo escancarado, se calhar, de preferência com uma foto de nu integral! Já não há tempo a perder, ou a ganhar. A vida é agora, a queca também. Fode-se primeiro, fala-se depois. 

E, se há vinte anos, a frase mais ouvida na internet era "donde teclas?", nos últimos meses constatei, com curiosidade, por duas vezes, duas diferentes mulheres, que de imediato perguntaram: "Não tens fotografia"? E deixamos de falar porque a curiosidade física delas era superior à curiosidade de conhecerem primeiro, minimamente, a pessoa que estava do outro lado. 

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Conhecer Melhor os Portugueses na Europa

O relatório da PORDATA que faz o retrato de Portugal na Europa foi apresentado ontem e creio que apresentará alguns dados surpreendentes para muitas pessoas. Afinal, será que nos conhecemos assim tão bem?

Antes de mais parem de dizer que Portugal é um país pequeno! Esse é mais um mito que se repete erradamente, mas que não corresponde minimamente à verdade. Portugal é hoje o 12º mais populoso da União Europeia. Existem dez países na União Europeia que têm menos de cinco milhões de habitantes! Não temos que ter nenhum complexo de inferioridade, nós fazemos parte, sublinho, dos maiores países da Europa. 

Depois, o dado que achei mais interessante e surpreendente: a maioria das crianças que nasce em Portugal, nascem fora do casamento e parecidos connosco só os países do norte da Europa, como os suecos e dinamarqueses. No oposto estão estão os italianos e os gregos. Ou seja, nós não somos o país tipicamente do sul da Europa. Interpretação minha, que acho que não será abusiva, dizer que isto significa a completa falência da instituição casamento e da Igreja Católica. 

Depois, puxar o ego para cima - já basta os jornais e televisões para nos enterrar - e nos aspetos positivos dizer que, nós somos o país que, desde os anos sessenta até hoje, mais reduziu a mortalidade infantil quer da Europa como no Mundo. 

No que se refere à saúde, por vezes muito se fala pelos piores motivos, mas na verdade a Esperança Média de Vida dos portugueses é superior à média europeia.

Estes e outros dados podem ser ouvidos na entrevista da Antena 1 à diretora da Pordata, Maria Valente Rosa aqui.



terça-feira, 9 de outubro de 2018

Livrai-nos Senhos dos Maus Vizinhos

Hoje deixei aqui a vizinhança em polvorosa. A vizinha e a mãe é que é uma grande cabra (que sai ao seus...) mas eu é que certamente ficarei com a fama. Porque só vão ouvir a versão delas. Também não me interessa.  

A vizinhança dos meus pais começou por me ignorar quando para cá vim morar. Algum tempo depois, começou por ser extremamente simpática. Se ao início nem bom dia nem boa tarde, depois, quando se começaram a aperceber onde eu trabalhava, rapidamente mudaram o seus semblantes e começaram a aproximar-se. Porquê? Porque eu lhes podia ser útil, só por isso. No fundo precisavam de mim, dos meus favores. Chama-se a isto usar os outros. Mas como por aqui já aqui referi, por vezes até nos dá jeito deixar-mo-nos usar, principalmente se até nos der jeito. Trata-se de um jogo ganhar-ganhar, desde que, claro, não sejamos ingénuos. 

Só que entretanto a grande multinacional onde trabalhava encerrou portas. Eu deixei de lá trabalhar e por consequência deixei de ter qualquer utilidade para a vizinhança. Os meus pais são pessoas que se metem na sua vida. Não frequentam cafés, não vão caminhar à noite pelas ruas da aldeia, não falam da vida alheia para os outros. E o tempo foi passando, algumas peripécias dignas de novela foram acontecendo e, ao que parece, toda esta vizinhança (duas casas) que não interessa nem ao Diabo, parece que além de falaram imenso de nós e inventam também algumas calúnias. E rapidamente, tudo voltou à forma inicial. Deixaram novamente de falar, e nem bom dia, nem boa tarde.


Vamos aos acontecimentos. Quando para cá vim morar, deixava o meu carro no monte. A partir de 2008, quando mudei de carro e comprei o meu cavalo preto, fizemos uma garagem para o guardar, visto que o carro era semi novo e tinha algum valor e tal e coisa. Na altura, sempre que eu deixava o carro junto ao monte, onde havia lugar para três carros, por inúmeras vezes tinha de estacionar na rua onde mal passam dois carros um pelo outro. E apesar de terem toda a rua para estacionar, era curioso como decidiam estacionar junto ao meu carro. Por vezes tinha mesmo aquele espaço todo ocupado e era eu que tinha de ir estacionar mais longe, na rua. Entretanto eu comecei a deixar o carro na garagem, deixando mais um lugar vago para os vizinhos, mas, ironicamente, aos poucos, a vizinhança começou a estacionar os carros, não no monte, mas cada vez mais perto da minha garagem! Se calhar devia ser para os carros não se sentirem sozinhos de noite, podiam ter medo!

Neste domingo, na dúvida entre sair ou não sair e ir dar uma volta, acabei por decidir-me ficar em casa. Decidi sair por volta das quatro da tarde, mas quando vou à garagem para sair, vejo que a carrinha da vizinha, que tem mais um ano que eu, estava a obstruir-me a saída. Buzino e nada, ninguém aparece. Até que, lá tento sair, para trás e para a frente, e quando estou quase a sair ela aparece, passa por mim, com os cornos virados ao chão e nem és burro nem camelo, nem um ai, nem um "desculpa lá". Ontem, chego a casa e, de novo a mesma carrinha dela a obstruir-me a passagem. Novamente com muitas voltinhas lá consigo meter o carro dentro da garagem. Hoje chego do trabalho, e de novo a mesma situação. Terceira vez? Bom, se é provocação que queres, então vais ter reação. Tranquilamente estacionei a par da carrinha dela, em frente à minha garagem. Se não me permites estacionar na minha garagem, bom, então pelo menos acho que tenho o direito a estacionar, à minha mão, em frente da minha garagem. 

Sim, tinha acabado de bloquear a estrada e já ninguém ia passar se ela não tirasse o seu carro. Era uma mensagem, uma espécie de desenho que eu estava a fazer para ver se percebe. Buzinadelas, vizinhos cá fora. Não, não houve peixeirada apenas um "se fosse eu chamava a polícia" do irmão. Quase me ri! A cabra faz o que faz, e eles ainda se acham cheios de razão! Eu gostava mesmo era que viesse a polícia! Teria a sua graça! 

Uma pessoa mete-se na sua vida. Não tenho qualquer vida social aqui na aldeia. Ninguém sabe nada de mim, com quem ando, deixo de andar, o que faço o que deixo de fazer. Não frequento cafés, não estou nas redes sociais. Mas mesmo assim, vá la saber-se porquê, consigo incomodar as pessoas. Talvez porque não vibre na mesma frequência desta gentalha que não interessa nem ao Diabo, ou então talvez seja mesmo porque realmente a dor de cotovelo é muito fininha. 

Sabem uma coisa? Senhor nos livre de maus vizinhos!
 

domingo, 7 de outubro de 2018

Cinco Anos

Confesso que não tinha a data de cor na minha cabeça, mas claro que sabia que era agora, mais dia menos dia, que fazia anos que nos conhecemos. Então fui revirar os cerca de cinco mil e-mails que tenho ali numa pasta com o teu nome para chegar à conclusão que o dia é hoje.

O nosso encontro foi um pouco insólito. Não nos conhecíamos, tu esqueceste-te do telemóvel em casa, e ainda por cima chegaste bem mais cedo do que seria suposto, mas ainda assim, por artes mágicas, eu consegui estacionar a uns cinco metros de onde estavas sentada. De imediato eu fiquei com a ideia que aquela jovem menina, magra, de chapéu preto de aba larga na cabeça, e que lhe escondia metade da cara, ali sentada a ler um livro fosses tu... mas podias não ser!, até porque não era suposto estares ali aquela hora!

Nesta semana que passou, por diversas vezes dei por mim a pensar como a tua vida tem mudado radicalmente. Há cinco anos quando te conheci, tinhas o nono ano de escolaridade. Mas não foi por isso que desde logo deixei de pensar que serias uma das pessoas mais cultas que tive oportunidade de conhecer. 

Aguarela pintada por ti com o teu auto-retrato
A cultura, que define muito do que somos, é muitas vezes uma das principais desigualdades quando nascemos. Tu por exemplo, tiveste a sorte de nascer no seio de uma família de classe média-alta, com uma mãe das letras, um avô anarquista importante e tudo, e rodeada de livros por todos os lados. Por vezes tens mesmo de ter cuidado para não ficares soterrada debaixo de todos esses livros! Outras pessoas, como eu, nascem em casas onde não havia livros ou, e quiser ser mais exato, onde havia apenas um livro (ou conjunto de escritos) a que se dá o nome de Bíblia Sagrada. 

E claro que ninguém é melhor do que ninguém só porque tem um imenso conhecimento de literatura, cinema, pintura, fotografia, no fundo tudo que está associado às artes e que tu dominas. Tal como ninguém é melhor do que ninguém só porque tem um canudo ou dois, aliás, como disse alguém, a universidade apura todas as capacidades, incluindo a estupidez. Tal como todos nós temos as nossas especificidades, e não raras vezes, é nas pessoas mais humildes que encontramos os maiores ensinamentos.

O teu caminho não tem sido propriamente fácil. Por vezes também tem que ver com a nossa forma de ser, com as nossas escolhas, também com a sorte. Mas, aos poucos, não deixa de ser assinalável as experiências por que aquela menina fechada na sua concha passou. E, depois de tantas peripécias que fui acompanhando, ora mais de perto, ora mais à distância, contavas-me por estes dias, pessoalmente, porque já sabes como sou, que ias começar, inesperadamente, com as aulas na universidade.

Fazem hoje cinco anos que nos conhecemos. 

Anoitecer na Aldeia


Proposta para Substiuir Ritalina por Heavy Metal

A Ritalina é um flagelo mundial. Drogam as crianças com a desculpa delas serem... crianças! O PAN (Pessoas Animais Natureza) já lançou a discussão esta semana submetendo a votação uma proposta que visa proibir a prescrição de Ritalina (metilfenidato) a crianças com menos de seis anos. 

A minha proposta, cientificamente fundamentada, é substituir qualquer droga, que transforma crianças em zombies e engorda os cofres das farmacêuticas e passar-lhe a aplicar uma boa dose de Heavy Metal por dia. 

Não estou a ironizar! O Heavy Metal está científicamente comprovado por um estudo da Universidade de Queensland (Austrália) que este tipo de música torna as pessoas mais calmas e ainda por cima reduz a tristeza!





Senhor ministro Mário Centeno, acabe já com todos os tratamentos pagos pela Segurança Social para tratar a depressão, pois basta prescrever uma boa dose diária de Heavy Metal. As pessoas saem de casa, vão a uns concertos, deixam de estar deprimidas, tristes e zangadas, o absentismo desce, o Estado poupa dinheiro, e toda a gente fica mais feliz!
Além de tratamos as pessoas ainda por cima se reduz o mau gosto musical dos portugueses que cada vez mais só ouvem pimbalhadas, muitas vezes pimbalhadas latino-americanas.
Sim, em alternativa ou conjuntamente, um bom mergulho no rio Tejo também terá os seus efeitos terapêuticos!

E agora vejam estes dois amores, esta menina de onze anos, super tranquila a tocar a Raining Blood dos Slayer:



E agora o original de 1986, tocado ao vivo no ano passado no The Tonight Show com Jimmy Fallon:




Já se sentem mais calmos?

# Os Inventores de Doenças

Quando Lost Regressa para Me Assombrar



Esta semana recebi mais um lote de filmes em DVD a preço simbólico e, visto que fiquei dois dias sem internet (não foi o fim do mundo mas causou-me alguma comichão) resolvi então entreter-me à noite a ver o que me tinha chegado e que não conhecia (porque por norma só coleciono filmes que já conheço e que gosto). 

O primeiro filme que coloquei no leitor de DVD foi "A rede" (The Net) de 1995. É um filme de suspense em que a jovem Angela Bennett (Sandra Bullock) é a típica programadora de computadores que vive sozinha, não tem namorado e rejeita convites para sair e que para jantar encomenda pizzas pela net. Certo dia acaba por descobrir uma conspiração secreta para infetar todos os computadores do mundo e acaba sendo perseguida por um assassino que a pretende silenciar. No meio disto tudo (o mais importante é mesmo que podemos ver Sandra Bullock nos anos noventa de bikini a mostrar as nádegas!) a sua identidade é apagada e deixa de poder provar quem na verdade ela é e sempre foi. 



E quem é que, num papel de dois minutos vai ser a sua advogada? L. Scott Caldwell, a Rose da série Perdidos (Lost). É sempre interessante reencontrar atores e atrizes em pequenos papeis, muitos anos antes de termos reparado neles. Este foi um desses casos.




Segundo filme que resolvi ver em seguida, "Frequência" (Frequency) de Gregory Hoblit do ano 2000.



Logo após o início do filme quem é que aparece? Elizabeth Mitchell, a Juliet a loiraça de Lost. Bom, que grande coincidência, pensei! Não deixou também de ser engraçado, quando um pouco mais à frente percebi que, se a Juliet de Lost era médica e passava a vida na ilha com seringas, aqui neste filme era enfermeira!


Só que isto não iria ficar por aqui. Ia-se tornar ainda mais assustador! De novo já caminhava o filme para o final, e como é que se chama o assassino? Pois é... o assassino chama-se... Jack Shepard. Sabem qual é a personagem principal de Lost interpretada por Matthew Fox? Pois é... precisamente... Jack Shephard!


Mas isto ainda não ficou por aqui! Terceiro filme, desta vez "Serenity" (Joss Whedon) de 2005 que ainda nem acabei de ver.  E logo no início aparece uma outra personagem de Lost, ainda que só tenha aparecido num ou outro episódio, no caso a personagem Susan Porter (Tamara Taylor) que era a namorada de Michael (e mãe de Walt) atriz que se calhar a maioria das pessoas conhecerá de "Bones". 




Qual era a probabilidade de pegar em três filmes ao calhas, e nos três seguidos apanhar estas coincidências? Claro! Só pode ser o destino a dizer-me que devo rever Lost!

sábado, 6 de outubro de 2018

De que Serve Tanto Dinheiro aos Ricos?

A meu ver, os homens extraordinariamente ricos, são maníacos, enfermos, psicopatas. Em suma, sejamos  francos: para que serve todo esse dinheiro aos ricos? 

Eles têm no máximo vinte, trinta anos de vida, 7300 ou 10950 dias. De que lhes vale uma coleção de automóveis, se não há possibilidade de utilizar senão um de cada vez? Por muito que possua, ninguém poderá fazer mais de três a quatro refeições diárias; não ocupará mais de uma poltrona nem viajará melhor do que em primeira classe. Por mais que se use a roupa esta não durará menos de uma estação. De cinquenta pares de sapatos, escolhe-se afinal sempre o mesmo par, o que não magoa os pés. Os livros zelosamente guardados, adquiridos aos metros para encher a estante e que o dono jamais emprestaria a um rapaz inteligente, nunca serão lidos, para não estragar a encadernação preciosa. As adegas transbordantes de vinhos caros, tornam-se inúteis , porque o médico de luxo, forçado a dizer alguma coisa para justificar o preço da consulta, recomenda a abstenção das bebidas.

O colecionador hipertrófico de dinheiro acaba colhendo desprezo e ingratidão. Julga-se rodeado de amigos e está entre comparsas, remunerados como coristas de melodrama. Quanto mais se ilude de atrair os homens, tanto mais se vê isolado de si mesmo. 

Certo dia, um rico avarento foi pedir conselho e ensinamentos a um rabino. Este conduziu-o a uma janela e disse-lhe:



- Olha para esta vidraça e diz-me o que vês.
- Vejo muita gente - respondeu o ricaço.
O rabino levou-o então a um espelho e perguntou:
- Que estás vendo agora?
- Vejo-me a mim próprio.
- Muito bem, irmão. A janela e o espelho são ambos de vidro. Mas o vidro do espelho reveste-se duma ténue camada de prata. Entrando de permeio um pouco de prata, deixamos de ver os outros e só nos vemos a nós próprios. 

A camada de prata! A barreira de prata ou de ouro é que leva o operário, o artista, o boémio, o refratário, o irregular, o não-conformista, a repartir com o pobre a sua última nota de cem, ao passo que o multimiliioário, a sociedade anónima, a alta finança afrontam o tribunal, o ridículo, para negar os cinco contos que devem sacrossantamente ou para obrigar outrem a pagar os dez tostões em dívida. 

"O sexo dos Anjos" / Pitigrilli / 1952

Por que é que as Pessoas defendem sempre os Agressores?

"Penso que por ser rico, bonito e um grande jogador
 as pessoas têm inveja de mim. Não encontro outra explicação"

Não é de agora, pois este já estava prometido no mês passado e há muito mais tempo que pensava escrever sobre isto. No entanto talvez me tenha sentido agora mais motivado a escrever, e dar até a minha opinião, na sequência do novo falatório da semana: o ressurgimento do tema da alegada violação por parte do herói nacional Cristiano Ronaldo, e da imediata reação das fãs (homens também claro, que eu sou inclusivo!), e que, tal como as fãs do Tony Carreira, logo vieram a terreiro defender o plagiador apesar de há dez anos se saber da verdade. Pois também com o Cristiano as fãs dizem que é tudo mentira e inveja como até diria o próprio. A gaja que o acusa é que é uma puta (neste caso sem alegadamente!) pois acabou-se-lhe o dinheiro e ela quer mas é mais.

Há muito que andava para pegar neste tema porque se há algo que me faz alguma confusão é ver as pessoas, principalmente as que me rodeiam no trabalho, mas muitas outras no universo internetesco, virem constantemente defender os agressores e porem contra as vítimas. Vejamos alguns exemplos:

– Uma portuguesa ou colombiana (não cheguei bem a perceber tão opostas eram as versões na imprensa) por certo que fez algo grave para levar nas trombas quando entrava num autocarro no Porto. 
Ah, mas ó Königvs, ela parece que estava a entrar à frente de não sei quem... Pois é, mas mesmo que isso tenha acontecido, isso dá logo todo o direito a que seja espancada brutalmente como se fosse uma assassina? É que eu cresci e fui educado, ouvindo dizer que perdemos a razão quando partimos para a violência, mas agora parece que não. Parece que qualquer motivo é válido para agredir os outros, e ainda assim permanecer com as simpatias! Eu faço uma caricatura de Maomé, porque acho que ainda vivemos em liberdade, mas mereço de imediato levar um tiro nos cornos. Não deixa de ser curioso e irónico que, tão rapidamente todos tenham deixado de ser Charlie. Parece que foi só naquela semana para as redes sociais. É pena. 

– E aquele casal homossexual espancado à porta de um centro comercial em Coimbra? Pois certamente que o casal homossexual não tinha nada que se pôr aos beijos no meio da rua. Mas onde é que nós estamos afinal? Em pleno século XXI, num Estado de Direito Democrático em que há liberdade? Não, parece que não. As pessoas têm de vir defender quem os agrediu com argumentos como "eu não estive lá, certamente que fizeram algo para merecer ser espancados". E com este tipo de argumentos não há mais nada para dizer. Só que, entre a vítima e o bárbaro agressor, as pessoas preferem sempre acreditar no agressor. É pena. 

– E o caso da rapariga que estava desmaiada e foi violada por dois trabalhadores duma discoteca de Gaia? Dizem-me que está tudo bem com a decisão judicial, afinal as gajas que vão para as discotecas são umas putas, umas oferecidas, que andam ali de mini-saia e com decotes a verem-se as mamas e depois sujeitam-se. No fundo, claro, a culpa é delas, nunca dos homens!
E o que é que faz o bom pai de família, aquele segundo o qual o juiz decide? O bom pai de família quando vê uma mulher desmaiada e inconsciente no chão, que não pode dizer nem sim nem não, chega ali viola-a e chama o amigo! Tal como por exemplo um médico! Um médico que vá operar uma mulher, que está anestesiada e não pode dizer que não, o que o bom médico de imediato faz é aproveitar a oportunidade e violar a mulher!

- E neste caso do Cristiano? Sem que ninguém lá tenha estado para ver, de imediato as pessoas defendem quem? O agressor pois claro, ainda por cima porque é rico e famoso. Então não se vê logo que acabou-se o dinheiro à mulher e ela agora quer é mais a grande puta? Ele pagou-lhe ela só tinha que estar calada!

Pois é. Só que há um pequenino problema. Um crime público não se apaga nem prescreve com dinheiro. Mau era se se apagasse, então é que os ricos nunca seriam punidos até porque, injustamente, numa sociedade tremendamente desigual, o Pedro Dias é chamado e descriminado de monstro na imprensa ao passo que o Duarte Lima é o senhor Doutor ex-deputado arguido por "alegadamente" ter morto a Catalina. Monstros é coisa de pobre. Não se vê logo?

Mas volto a sublinhar, um crime público não se apaga só porque se tem dinheiro e se tenta comprar a vítima, tal como um pedófilo compra o silêncio de uma criança com doces. Por falar em pedófilos, um dia a criança decide dar com a língua nos dentes, afirmar que o padre a violava mas é uma chatice. Ironicamente não vejo ninguém a defender os padres, afirmando que esses supostos casos de pedofilia na Igreja Católica são tudo delírios de crianças que se querem aproveitar dos santos padres que, como é óbvio, têm um comportamento inatacável. Caso para dizer que até para se ser violador é melhor cair em graça que ser engraçado!


Ah, mas ó Königvs, sabes que há muita gente a aproveitar-se das situações para tirarem proveito. E por acaso acham que sou ingénuo e não sei disso? Não sei se já contei já aqui no blogue, mas se contei conto de novo porque eu mesmo acompanhei uma situação dessas no meu anterior trabalho. Nova gaja que vem trabalhar e tem formação com um colega. A coisa vai evoluindo e ela começa-se a insinuar para ele lhe saltar para cima. Ele tendo namorada começa a resistir. Na sequência desta abordagem agressiva e consequente nega, e cheia de orgulho ferido ela não tem mais nada. Certo dia resolve rasgar a roupa (isto deve ser excesso de novelas brasileiras) e vai-se queixar aos recursos humanos que ele a tentou agarrar no elevador. Logicamente que, quem é que seria despedido se ele não tivesse todas as mensagens explícitas que eles trocaram? Seria ele, não ela como acabou por acontecer.

Daí que seja sempre preciso muito cuidado com julgamentos na praça pública, porque esses são os piores. O que aconteceu naquele hotel em 2009 entre o Cristiano e a senhora, só os dois sabem ao certo. Compete pois à justiça investigar. Ainda assim, quando estamos certos que nada de mal fizemos não andamos a tentar negociar o silêncio da suposta vítima como foi o que aconteceu. Eu não fiz nada de mal mas contrato advogados e detetives privados e digo (está escrito!) "tem de ser menos", e pega lá 375 mil dóllars e não digas que vais daqui... Se calhar só eu acho estranho. E só isso parece-me que que augura nada de muito de bom para o herói nacional.

Ainda assim, o seu clube de fãs lá continuará a defendê-lo com unhas e dentes, e ai de quem diga o contrário, que merece logo ser empalado na Praça Pública como aconteceu com o Paulo Dentinho que escreveu no Facebook algo que poderia muito bem ter sido escrito por mim: