sábado, 29 de abril de 2023

Abril Calores Mil

 


Eu ainda sou do tempo do "Abril, águas mil", de chover sempre da Feira do Livro do Porto, que acontecia sempre em Abril e de chover no Barroselas Metal Fest (festival que costuma acontecer entre o 25 de Abril e o Dia do Trabalhador) e de andar com as Doc Martens enlameadas.

Mas já nada é o que era. Nem sequer a chuva de Abril. 

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Os 80 Anos dos Principezinho


 *Artigo publicado no dia 15 de Abril no jornal Folha de São Paulo

O livro “O Pequeno Príncipe” extrapolou a literatura  já há muito tempo, e foi viver também em outros lugares — posts nas redes sociais, tatuagens, conselhos religiosos e discursos em concursos de beleza são apenas alguns dos usos que as pessoas já fizeram das palavras escritas por seu autor, o francês Antoine de Saint-Exupéry, exatos 80 anos atrás.

Talvez seja essa vida, digamos, eclética que o principezinho levou fora das livrarias que o tenha levado a ganhar adjetivos nada gentis ao longo do tempo, como “cafona” (que não é sofisticado) e “piegas ”(que é excessivamente sentimental).


A tradutora da edição brasileira do livro pela Companhia das Letrinhas, Mônica Cristina Corrêa, acha esse julgamento injusto. “O ‘Pequeno Príncipe’ não pode ser entendido fora do contexto. Ele foi escrito durante um conflito mundial por um autor que morreu na guerra, e nunca deixou de participar dela”, ensina Mônica, que estuda a obra de Saint-Exupéry. Para ela, como viveu e serviu à força aérea de seu país durante a Segunda Guerra Mundial, na década de 1940, o escritor entendeu que precisava tratar em seus escritos do que Mônica chama de “realidades incontornáveis”.


“Ele precisava falar de toda a dilaceração que as pessoas estavam passando, e traz para a história a solidão da época. O príncipe é muito sozinho e está procurando amigos.”

Na história, o protagonista vai contornando dificuldades para conseguir uma amizade —a raposa é quem o ensina sobre o que realmente vale a pena na vida. “Os baobás têm o poder de esmagar um planeta inteiro no livro, e são uma metáfora do nazismo, que ia para cima dos países varrendo tudo”, comenta.


“Então não faz sentido olhar para tudo isso e achar piegas. Vejo como má vontade das pessoas. Isso tudo fora a decisão que ele toma no final, com o destino ousado que dá para o protagonista”, provoca Mônica, que não vai dar spoiler, mas já mostra que as coisas não saem às mil maravilhas.

Para quem não conhece a história, aliás, ela mostra as viagens do menino habitante do asteroide B-612 pelo universo. Várias falas dele e de outros personagens, como a Rosa, a Raposa e a Serpente, ficaram famosas: “O essencial é invisível aos olhos”, “O tempo que você perdeu com sua rosa é que faz sua rosa tão importante”, “Se você me cativar, precisaremos um do outro”.


E, por trás de toda essa atmosfera, diz Mônica, está uma importante ideia: falar sobre a morte. “O livro não começa com um texto, mas com um desenho. E aquele desenho não é florido, é um desenho de uma fera sendo morta, devorada por uma serpente. E a cara dela é de pavor”, diz. “Todo o processo do livro segue até quando o Pequeno Príncipe diz que precisa ir embora.”

Isso não faz de “O Pequeno Príncipe” um livro trágico. Para Mônica, é uma história com importantes ensinamentos. “Ele nos faz ver que a morte não faz com que a vida não valha a pena, mas sim que, uma vez que a gente vai morrer, tem que achar um sentido para a vida”, opina.


“O príncipe consegue ver coisas que os adultos não veem mais, pois estão contaminados por coisas que não fazem sentido. Para o autor, só há um luxo verdadeiro: as relações humanas. Se você for importante para alguém, você também vai criar sentido para essa pessoa. Como você se veste, onde você mora, quanto você ganha são coisas que não deveriam ter a menor importância.

terça-feira, 25 de abril de 2023

O Professor que Conseguiu que os Alunos lhe Dessem os Telemóveis

 * artigo publicado no jornal La Vanguardia (Espanha) no dia 23 de Abril (Dia Mundial do Livro) 


O professor do ensino secundário Telmo Lazkano conseguiu que 19 de seus 23 alunos duma turma duma escola de San Sebastián lhe dessem seus telemóveis por uma semana. Ele manteve os telefones fechados na e pediu aos jovens, de 15 e 16 anos, que escrevessem um pequeno diário naqueles dias. Os resultados foram surpreendentes. Durante os primeiros três dias, eles relataram "um quadro muito claro de dependência"; A partir do quarto dia, porém, começaram a falar de um sentimento de liberdade ou de terem tirado uma pedra dos ombros. A iniciativa espalhou-se para escolas e Lazkano acaba de receber o prémio Elkar Eraginez do Governo Basco.

O projeto em questão, denominado No Phone Challenge, surge da preocupação de Lazkano com este problema: “Há vários anos que leio boa parte da literatura publicada sobre esta questão e os dados que as diferentes investigações produziram pareceram-me alarmantes. Ao mesmo tempo, como professor do ensino secundário, tinha diante de mim aquela realidade que a pesquisa mostra”.

Este professor de Inglês e Ciências Sociais de 29 anos começou por fazer uma pergunta aos seus alunos: quantas horas passais à frente do teu telemóvel? “Diretamente não me disseram, e a média era entre cinco e seis horas por dia. Em alguns casos, nos finais de semana chegavam sete ou oito horas por dia”. Além disso, Lazkano surpreendeu-se com o desconhecimento dos alunos sobre o funcionamento das redes.

“Quando temos de pagar por algo, por uns sapatos ou por uma bicicleta, tendemos a desconfiar e a valorizar se o preço é condizente com o produto, se o material é bom ou se a origem é ética. Quando é gratuito, por outro lado, essa desconfiança desaparece. Deveria ser o contrário. Deveríamo-nos estar a perguntar por que empresas multibilionárias investem tanto dinheiro em aplicações como estas e porque os oferecem gratuitamente. É evidente que nós somos o produto, e não existia essa reflexão entre os alunos”, aponta.

Este diagnóstico foi o ponto de partida da experiência, que exigiu um trabalho prévio. Em primeiro lugar, assistiram ao documentário El dilema de las redes e gerou-se um debate. Em segundo lugar, refletiram sobre temas como os filtros de beleza nas redes ou sobre a perspetiva aspiracional destes. Por fim, pediu que lhe dessem os seus telemóveis por uma semana: “Foi totalmente voluntário. Se eu considerasse sem aquele trabalho anterior, eles não teriam concordado. Buscamos conhecimento e, posteriormente, reflexão crítica. A motivação foi gerada em torno do projeto”.

A partir daí, o que foi anotado nos diários pelos jovens mostrou a profundidade da experiência: “Nos primeiros três dias, aconteceu exatamente o que os estudos diziam: um quadro muito claro de dependência. Viviam com nervosismo, não conseguiam dormir, comiam mais do que o normal, sofriam com pensamentos intrusivos, não sabiam lidar com o tédio, irritavam-se com facilidade... Foram deixados numa quinta-feira e isso chamou-nos a atenção que a partir do quarto dia, após o fim de semana, ocorreu uma virada. Eles começaram a expressar que se sentiam mais felizes e, acima de tudo, muito mais livres. Que eles haviam removido uma pedra de cima. Disseram que saíam como se fosse algo excitante e que podiam dedicar essas cinco horas a hábitos saudáveis ​​como ler, visitar a avó, ir às montanhas ou ver um pôr do sol sem registá-lo”.

Um dia antes do fim do projeto, alguns alunos disseram que não queriam recuperar os telemóveis ou com medo de cair na dinâmica anterior. Outros, entretanto, estavam ansiosos para saber quantas mensagens haviam recebido. “O objetivo era torná-los mais conscientes da sua relação com os telemóveis e as redes, e estabelecer a partir daí hábitos mais saudáveis. Quando voltamos ao assunto, depois de alguns meses, alguns alunos mostraram que haviam reduzido pela metade o consumo diário”, aponta.

Lazkano vê no seu dia-a-dia as consequências que o uso compulsivo de telemóveis está a causar entre os menores: “As empresas tecnológicas lutam pela nossa atenção naquilo que se chama economia da atenção. Como nosso tempo é finito e a concorrência é grande, eles implementam diferentes estratégias para nos manter na frente do ecrã. As consequências destas técnicas são as que mais tarde afetam a sua auto-estima, a sua saúde mental ou a sua atenção”.

E é aí que surge a pergunta: é possível um adolescente manter uma relação saudável com o telemóvel? “A melhor medida para conter os seus efeitos nocivos é o treino adequado, o contacto progressivo, o acompanhamento no processo e a idade adequada à ferramenta que vai utilizar. É difícil para uma criança menor de 16 anos ter uma relação saudável com o telemóvel sem formação. Além disso, seria apropriado que os pais não fizessem guerra por conta própria e concordassem em adiar a idade inicial. Há muito a ganhar."

34 Anos com 39 de Febre

 

Eu tinha conseguido marcar dois torneios para a mesma semana, o que, para malta como nós, que nem sequer somos federados e pouco competimos, era ótimo. Mas se algo de errado tiver que acontecer acontecerá sempre no pior momento. É o Murphy que o diz. 

Na empresa um colega perguntava à nova colega, de trinta e poucos anos, que idade ela lhe dava e tal e coisa e vai daí metem-me ao barulho.  

- Que idade dás ao Königvs? (ou Konigovsky, como diz a minha colega, com quem trabalho diretamente e que tem idade para ser minha filha) E a colega de trinta e poucos, que usa óculos e, provavelmente, estará a precisar de trocar de lentes, deu-me 34 anos. Basicamente errou num 1/3 da minha idade correta e, ainda por cima, nesta fase, que até ando com barba de talibã e que, acredito, me dê até mais uns quantos anos. 

Mas, se alguma coisa pode dar errado dará. 

Fevereiro e Março foram meses de cão. Bom, de cão vadio porque agora a maioria dos cães faz vida de novo burguês e um dia destes ainda tem um SNS melhor do que as pessoas. É melhor dizer vida de cão vadio, então. Trabalho em excesso. Tanto trabalho como se calhar nunca me aconteceu, até que, certo dia, comecei a ouvir vozes na minha cabeça: "isto não pode continuar assim e tens que te pôr a mexer porque isto não é vida para ninguém". Mas o corpo haveria de aguentar, firme (e hirto como dizia o outro) e teria que ser, precisamente, naquela semana dos torneios que tinha que ficar doente. Há semanas que os colegas andavam todos fodidos e, claro, ainda por cima eu com as defesas sempre nos mínimos, não sou de ferro. Mas não podia ter sido antes, ou na semana seguinte! Não, só para me chatear tinha ser naquela semana, para não poder aos torneios. Se algo tiver que dar errado, dará e sempre no pior momento!

Mas pronto, o pior já passou (outro pior virá a caminho), e mais torneios virão. E ter estado doente com 39º até foi uma experiência interessante - tal como ter adormecido com a anestesia na cirurgia - percebi que teria febre quando comecei quase a delirar, a sentir-me sozinho - e na verdade não estamos sempre sós no mundo? Por outro lado devemos focar-nos aspetos positivos. 

Afinal, tive 39º de febre mas com 34 anos!