domingo, 29 de novembro de 2020

Sozinho



"...Confinado, estou vivo, em algum lugar pelas folhas de Outono

Caindo no meio

Porque ninguém está lá para manter minha cabeça erguida

Ninguém está lá para acalmar minha mente (...)

Sozinho estou com medo

Para encontrar vida vazia

Noites sem dormir, dias vazios

Sozinho...


Alone / Ramp (2003)

sábado, 28 de novembro de 2020

200 Anos do Nascimento de Engels

 Hoje, 28 de Novembro de 2020, passam duzentos anos do nascimento de Engels. Algumas breves notas deste génio humanista.

"Friedrich Engels nasceu a 28 de Novembro de 1820 na cidade de Barmen. O seu pai era fabricante de têxteis. A Prússia Renana, terra natal de Engels, foi a primeira região da Alemanha onde se iniciou a marcha vitoriosa da indústria de máquinas e da grande produção capitalista nascidas na Inglaterra. Na Prússia Renana já começavam a aparecer os primeiros quadros do proletariado industrial e a evidenciar-se as contradições entre a classe operária e a burguesia. 

A miséria e as desgraças de que Engels fora testemunha desde criança, causaram-lhe uma impressão inapagável. Nas "Cartas de Wuppertal", sua primeira obra, Engels descreve com uma sincera compaixão as duras condições de vida dos operários fabris e artesãos de Barmen e Elberfeld. A principal causa das desgraças e sofrimentos dos operários, no dizer de Engels são "os desmandos revoltantes dos donos das fábricas". 

O pai de Engels era um homem religioso, conservador e despótico. Além de Friedrich, ele tinha mais três filhos e quatro filhas. Estes três filhos seguiram a carreira do pai e as filhas casaram com homens do seu círculo Somente o modo de vida de Friedrich estava em flagrante contradição com o espírito que reinava na família. Sedento de saber e voluntarioso, ele revelou muito cedo uma inteligência aguda e perspicaz, o dom de ter ideias próprias e uma índole independente. Lendo uma carta do pai de Engels dirigida à esposa, vemos que a educação do filho, que contava então com 15 anos lhe causava grande inquietação. 

"Exteriormente, como sabes, ele tornou-se mais bem educado, mas apesar das severas sanções anteriores, ele, ao que parece, nem mesmo por temor ao castigo, deseja aprender a obedecer ser reservas. Para grande desgosto meu, hoje, descobri novamente na sua escrevaninha um livro vil da biblioteca do século XIII... Que Deus salve a sua alma! Muitas vezes sinto medo por este rapaz que, em geral, é excelente."

Jovem de raro talento, Friedrich, interessava-se profundamente pela literatura, arte, música e o estudo de idiomas. Compunha versos, desenhava muito bem caricaturas. De índole alegre e jovial, Engels era fisicamente resistente e muito ágil. Praticava com entusiasmo hipismo e esgrima, era um exímio nadador. Engels conservou este amor ao desporto por toda a vida. 

Em Setembro de 1837, Engels teve que abandonar o ginásio sem ter concluído o último ano. O pai, desejando que o seu primogénito seguisse a carreira de comerciante, tratou de habituá-lo a trabalhar no comércio. Primeiro, Engels, durante um ano, trabalhou no escritório do pai e depois partiu para servir numa grande casa comercial em Bremen. 

Mas a perspetiva de seguir essa carreira nem de longe seduzia o jovem Friedrich. Em Bremen, grande porto comercial, Engels teve a possibilidade de ler jornais ingleses, holandeses e franceses e publicações proibidas na Alemanha. Os livros e jornais ampliavam a visão do mundo de Friedrich, sendo, além disso, um meio excelente para dominar línguas estrangeiras. Engels, frequentava com agrado os teatros, concertos, apreciava sobretudo as sinfonias de Beethoven.

Em Bremen, o jovem Engels também observava a vida dos trabalhadores que nada possuíam, mas eram "o que de melhor pode ter o rei no seu Estado". 

O pai de Engels, preocupado com o rumo do desenvolvimento espiritual do filho, enviou-o precavidamente para a casa dum pastor de Bremen. Mas justamente sob o teto desta casa, Friedrich, atacado por dolorosas dúvidas religiosas, rompeu para sempre com o credo dos seus ancestrais. 

Começou a pensar cada vez mais nos problemas sociais e políticos do desenvolvimento da sociedade. A situação social e política formada nesta altura na Alemanha em vésperas da revolução e nos países vizinhos fornecia um material abundante para meditações, exercendo uma influência excecional sobre a formação intelectual do jovem Engels. 

Depois de sepultar o filho, Marx escrevia a Engels: "Já suportei muitas angústias, mas só agora sei o que é uma verdadeira desgraça... No meio de todas as terríveis torturas por que passei durante estes dias, sempre me animou a lembrança de ti e da tua amizade, e a esperança de que juntos ainda temos muito a fazer, neste mundo, algo de razoável." 

Engels fazia tudo ao seu alcance para que a família de Marx não passasse e mal. Quando se lhe ofereceu a oportunidade de proporcionar a Marx uma ajuda material suplementar escrevendo artigos, ele aproveitou-a com satisfação. Em Agosto de 1851, o jornal progressista americano New York Daily Tribune propôs a Marx que escrevesse artigos para um periódico. Numa carta a Engels, Marx pediu a sua ajuda: "No que respeita ao New York Daily Tribune, peço-te que me ajudes, pois estou ocupadíssimo com a economia política. Escreve alguns artigos sobre a Alemanha a partir de 1848." Engels pôs imediatamente mãos à obra, enviando sistematicamente um artigo após outro a Marx, que os remetia ao New-York Daily Tribune". Foi assim que surgiu a célebre série de artigos "Revolução e Contra-Revolução na Alemanha". Só depois de publicada a correspondência entre os dois, é que se constatou que se tratava de uma obra de Engels e não de Marx. 

Verdadeiro poliglota, Engels dominava (falava e escrevia) doze idiomas e lia em quase vinte. Sabendo tantas línguas, Engels pôde dedicar-se a problemas gerais da linguística como tal e da linguística comparada, lançando um sólido fundamento marxista destas ciências.

Friedrich Engels Breve biografia - Eugénia Stépanova (1986)


sexta-feira, 27 de novembro de 2020

A Amizade de Marx & Engels

"Em quase todos os livros que tratam da amizade se fala dos grandes pares de amigos da antiguidade (...) Daí a impressão de que hoje já não existe a verdadeira amizade, de que esta pertence apenas e irremediavelmente ao passado. É uma impressão ilusória (..) 

Verificamos, então, que existem também no nosso mundo nobre figuras de amigos, de amizade que duraram quase toda a vida, e que tiveram um certo peso na História. O caso mais óbvio e importante é o de Marx e Engels. A sua amizade data de 1844. Engels tinha então vinte e quatro anos, Marx vinte e seis. Tinham-se conhecido num encontro breve em Colónia, e colaborado a mesma revista. Conheciam-se, portanto, mas não tinha nunca acontecido entre eles o encontro revelador, aquele do qual nasce a verdadeira amizade. Este acontece em Paris, onde ficam juntos dez dias. Foi um período extraordinário e entusiasmante. Começaram mediatamente a trabalhar juntos no livro que seria depois editado sob o título A sagrada família. No ano seguinte Engels junta-se a Marx em Bruxelas e aqui escrevem juntos A ideologia Alemã e, em 1848, o Manifesto do Partido Comunista, o livro que viria a influenciar a história do mundo. 

Marx e Engels completavam-se, tanto no carácter como no pensamento. Foi Engels que ensinou a Marx os primeiros rudimentos da economia, lhe descreveu as condições do proletariado, porque as conhecia em directo. Foi ele que deu a Marx a chave económica para modificar o idealismo hegeliano. Marx consegue, ao contrário, dar forma sistemática às intuições do amigo, construir a rigorosa demonstração daqui que o outro entrevia. O próprio Marx escreve a Engels "sabes como sou lento em perceber as coisas, e com sigo sempre os teus exemplos". Por outro lado, Engels encontrou em Marx o seu mestre espiritual e gostou sempre de se apresentar como o seguidor, o segundo violino do amigo. Em 1850, Engels toma a decisão de voltar a trabalhar na editora Ermer & Engels, de Manchester, fundada por seu pai. Como assistente geral ganhava cem libras estrelinas por ano e, com aquele dinheiro, mantém Marx e a sua família dezanove anos. Era um trabalho de que não gostava e que fazia para permitir ao amigo dedicar-se à sua grande tarefa, a compilação de O Capital. Quando finalmente em1859, pôde deixar o trabalho e voltar à atividade política e de estudo, sente-se renascer. 

Engels era caçador entusiasta, um caminhante incansável, um grande bebedor, e sempre calmo. Mesmo durante o período em que trabalhava, conseguiu escrever diversas coisas que Marx admirava profundamente. Mas não publicou nada com o seu nome, para não entrar em conflito com o seu pai e, assim, correr o perigo de não poder mais ajudar o seu amigo Marx. Marx, por outro lado, fazia de tudo para não ser pesado ao amigo, trabalhava esforçadamente e vivia as maiores restrições. Apenas excecionalmente lhe pedia ajuda, e então, cheio de tristeza, lamentava-se de ser um fardo para ele. Houve só um momento em que a sua amizade pareceu desmoronar-se. Tinha morrido Mary Burns, com quem Engels vivera durante vinte anos, e Marx, todo absorvido nos seus problemas de economia, limitou-se a mandar uma carta de circunstância. Engels sentiu-se ofendido e escreveu-lhe. Marx teve então a coragem de lhe falar sincera e diretamente de todas as suas preocupações e Engels ficou feliz por reencontrar o amigo. Engels era sereno, Marx atormentado. Engels escrevia com fluidez, de maneira constante, Marx tinha repentes destrutivos e criativos. No entanto confiava totalmente em Engels, tanto para os problemas familiares como para os políticos. Esta confiança estava bem depositada. Por sua morte, em 1883, Elgels dedicou-se a pôr ordem nos inúmeros e caóticos papéis de O Capital. O segundo volume estava muito avançado e Engels poderá escrever a sua introdução em 1885. Para o terceiro e quarto volumes, pelo contrário, é-lhe exigido um enorme esforço. E só consegue publicar o terceiro. 

A amizade entre Marx e Engels e em particular a dedicação de Engels, não podem ser consideradas como o entusiasmo que se estabelece entre companheiros de um movimento. Evidentemente esta amizade nasce como movimento. O encontro de 1844 foi, entre ambos, um verdadeiro estado nascente.



segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Fica Comigo


"Oh, I, I can see the light
Stay with me
Away from the darkest of nights
Stay with me"


"Stay With Me" / In Flames (2019)

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O Negador do Racismo Condenado Por Racismo


 Estávamos no Verão, em plena pandemia, e o líder partidário André Ventura do CHEGA, que tinha criticado a manifestação contra o racismo que se fez em Portugal, na sequência da morte de George Floyd, isto porque afinal estávamos em pandemia, resolve, ele mesmo, dando o dito pelo não dito, porque afinal a sua manifestação dos negadores de máscaras não ia infetar ninguém, resolve ele mesmo fazer a sua manifestação afirmando que "não há racismo em Portugal". 

Estamos a falar do líder partidário que é apoiado por nazi-fascistas, incluindo, por exemplo, Mário Machado condenado a dez anos por ter matado um negro em que o seu único crime foi ter-se cruzado com ele no Bairro Alto. Estamos também a falar do líder partidário que mandou a deputada eleita da nação Joacine Moreira "ir lá para para a sua terra. 

Hoje ficamos a saber que o líder partidário que nega que exista racismo em Portugal, foi ele mesmo condenado por racismo. Este é um daqueles casos em que se costuma dizer que a realidade ultrapassa a ficção.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Pra Cima de Puta

 "Tentando documentar as suas recordações, voltou a folhear os álbuns dos Jogos Florais enquanto Sara Noriega arranjava qualquer coisa para comer. Viu cromos de revistas, postais amarelecidos dos que se vendiam como recordações nos portais de loja e foi como uma passagem fantasmagórica pela falácia da sua própria vida. Até então fora sustentado pela ficção de que era o mundo quem passava, os costumes, a moda:  tudo menos ela. Mas naquela noite viu pela primeira vez de forma consciente como ia passando a vida de Fermina Daza e como passava a sua própria, enquanto ele não fazia mais nada do que esperar. Nunca tinha falado dela com ninguém porque se sabia incapaz de dizer o seu nome sem que se lhe notasse a palidez dos lábios. Mas nessa noite, enquanto folheava os álbuns, com em tantas outras vigílias de tédio dominical, Sara Noriega teve uma dessas tiradas acidentais que gelavam o sangue.

- É uma puta - disse. 

Disse-o ao calhas, vendo uma gravura de Fermina Daza disfarçada de pantera negra num baile de máscaras e não precisou de mencionar ninguém para que Florentino Ariza soubesse de quem falava. Temendo uma revelação que o perturbasse para toda a vida, este apressou-se numa defesa cautelosa. Alegou que só conhecia Fermina Daza de vista, que nunca tinham passado dos cumprimentos formais e não sabia nada do que se passava na sua intimidade, mas dava como certo que era uma mulher admirável surgida do nada e enaltecida pelos seus próprios méritos. 

- Por obra e graça de um casamento por interesse com um homem de que não gosta - interrompeu-o Sara Noriega. 

- É a maneira mais baixa de ser puta."

"O Amor em Tempos de Cólera" / Gabriel Garcia Marquez (1985)

Queres Ser Meu Amigo? Então Sê Como Engels Foi de Marx

 "Marx concluiu o primeiro volume de "O Capital" sob condições extremamente difíceis. De par com imensos estudos teóricos, realizava uma obra colossal e complexa dirigindo a Internacional. A permanente tensão e as privações materiais minavam a saúde de Marx, que já se encontrava abalada. 


Num dos momentos críticos, Marx, pedindo a Engels de novo ajuda, escrevia-lhe: "Asseguro-te que preferia que me cortassem o dedo polegar do que ter de escrever esta carta. A ideia de que metade da vida se vive a depender de outrem pode levar ao desespero. A única coisa que me anima é a consciência de que ambos atuamos como sócios, eu dedico o meu tempo ao aspeto teórico e partidário da causa comum". 

Com o afeto e a fidelidade de amigo e com o grande ilimitado desvelo de membro do Partido pelo seu grande guia, Engels ia sempre em auxílio de Marx. Como a saúde deste piorou muito, Engels, alarmado, depois de consultar os médicos, pede a Marx que mude para Manchester para descansar e tratar a sério da doença que poderia ter um desfecho funesto.

"...Faz-me a mim e à tua família o único favor - permite que cuidemos da tua saúde. O que será do movimento se contigo suceder alguma coisa? Ora se te portares como até agora, isso será inevitável. Com efeito, não tenho nem terei sossego, seja dia ou noite, enquanto não te tirar dessa embrulhada: todos os dias que não recebo notícias tuas, fico preocupado, pensando que pioraste outra vez"

A ajuda proporcionada por Engels na composição de "O Capital" não se limitou ao aspeto material. Marx geralmente consultava Engels a respeito dos problemas teóricos mais importantes, expondo nas cartas as suas deduções e pedindo a opinião de Engels sobre várias questões. Marx pedia frequentemente auxílio ao amigo a respeito de diversas questões práticas da economia em que Engels era grande perito (...)

A 16 de Agosto de 1867, Marx comunicou a Engels que tinha concluído a revisão do último (49.º) caderno de "O Capital". O prefácio também já fora remetido. "Deste modo, este volume está pronto - escreveu Marx. - É só graças a ti que isto se tornou possível. Sem os sacrifícios que fizeste por mim, eu jamais conseguiria realizar a obra colossal que exigiram os três volumes. Abraço-te, cheio de reconhecimento!.. Saúdo-te, meu caro e fiel amigo!"

"Desde que no mundo existem capitalistas e operários ainda não apareceu um livro que tivesse tamanha importância para a classe operária" - escreveu Engels sobre "O Capital". 

Marx precisou de vinte e cinco anos de tensas pesquisas científicas para que a sua doutrina económica adquirisse uma forma clássica e perfeita.  

domingo, 15 de novembro de 2020

A Vespa Parasitóide e o Hospedeiro Adormecido

 Por entre os pingos da pandemia e das melhores eleições americanas dos últimos anos, cheias de imprevisibilidade e comédia, em que o candidato que perde diz que ganhou e manda parar a contagem de votos enquanto estava a perder!, eis que o PSD decide coligar-se com os fascistas do CHEGA com vista a governar o arquipélago dos Açores, mas, afinal, veio-se a descobrir que, ao contrário do que Rio queria fazer crer, o acordo é nacional. 


De uma assentada rui toda a argumentação de 2015 e a ladainha do PS ter sido governo sem legitimidade democrática e consegue ainda fazer muito pior: aliar-se aos fascistas da extrema-direita. No fundo o que o PSD mostra é que teve dor de cotovelo da coligação inesperada de esquerda que se formou porque tinha maioria para poder derrubar o governo de Passos e Portas que ostracizava o povo retirando-lhe sucessivos direitos e não dizia que o povo era "maricas" como fez esta semana Bolsonaro, mas disse que era "piegas" e a porta do país era a serventia da casa para quem não estava bem. Rui Rio faz agora nos Açores a mesmíssima coisa que o PS fez em 2015, mas não tendo nojo de se juntar aos racistas, xenófobos, misóginos que querem castrar pessoas ou tirar os ovários às mulheres.

O Partido Popular Democrático, mais à frente Partido Social Democrata foi um partido criado depois do 25 de Abril por Sá Carneiro e era assumidamente, dito pelo próprio, um partido de Esquerda. Entretanto como bem sabemos, depois de Cavaco, Durão e Passos Coelho, qualquer pessoa afirma sem margem para dúvidas que o PSD é de Direita, ou Neo-Liberal, que privilegia a defesa dos interesses dos mais ricos, apesar de, à semelhança dos vários partidos existentes, haver diferentes sensibilidades. 


Sobre o CHEGA. 

Pela mão de Passos Coelho, o verdeiro Dr. Frankenstein, pessoas como eu, que não faziam ideia que o senhor era comentador da bola no CMTV, foi lançado o monstro do populismo-fascista André Ventura como candidato à câmara municipal de Loures e rapidamente começou a falar que Portugal tinha um problema com os ciganos. O homem exagerou de tal maneira que o próprio CDS decidiu retirar-lhe o apoio à candidatura e avançou com o seu próprio candidato. 

Entretanto ficamos a saber ao que vem André Ventura. Apoiado por nazis e pessoas de extrema-direita, racistas e xenófobos, incluindo pessoas como Mário Machado condenado em tribuanal a dez anos de cadeia por matar um preto em Lisboa, e apoiado também por fundamentalistas cristãos, tem tido um discurso de ódio e provocação em linha com o pior que temos visto no mundo, replicando comportamentos de Trump e Bolsonaro, e, com os seus grupos, como os recentes conhecidos dos "médicos e jornalistas pela verdade" e com os seus exércitos de bots espalha mentiras pela net, financiados por grandes grupos financeiros. As suas propostas para "ajudar" o povo passam por acabar com o Serviço Nacional de Saúde (que daria imenso jeito agora nestes tempos de pandemia!), acabar com escola pública, diminuir os impostos aos mais ricos pondo os pobres a pagar mais! E tem gente que adere a estas ideias!

E entretanto Rui Rio decide coligar-se com esta gente, e relembro que Ventura o chamou de "pacóvio"!

Isto faz-me lembrar da vespa parasitóide que para quem não conhece eu passo a descrever. Esta vespa, como o nome indica é parasita, ou seja, colocando os ovos num hospedeiro, geralmente uma lagarta injetando-lhe os seus ovos. Ora o que acontece é que os ovos eclodem e as pequenas larvas vão-se alimentando do hospedeiro. Este continua a comer e a comer, mas sem se aperceber está só a alimentar as vespas parasitas. E é isto que irá a acontecer. Cheio de sede de poder, o PSD acha que será governo mais facilmente aliando-se ao ao CHEGA, mas não se apercebe (ou não quer perceber e o pior cedo é o que não quer ver) que será a ser uma mera barriga de alugar para os parasitas nazi-fascistas do CHEGA crescerem e se espalharem.  


Aos Vossos Avós Foi Pedido Que Fossem Para a Guerra...



"Penso que foi no Inverno de 2020 que os olhos de toda a gente estavam sobre nós. Eu tinha 22 anos, estudava engenharia quando a segunda onda chegou. Com 22 anos queres é festas, estudar, conhecer novas pessoas, sair e estar com os amigos. Contudo o destino tinha planos diferentes para nós. Um perigo invisível ameaçava tudo aquilo em que acreditávamos. De repente o destino do nosso país estava nas nossas mãos. Corajosamente fizemos o que o nosso país esperava de nós. Fizémos a única coisa certa. 

Nada! Absolutamente nada! Dia e noite enfiamos o cu em casa e lutamos contra a transmissão do vírus. O sofá estava na frente de batalha e nossa arma: paciência. Por vezes temos que rir quando lembramos estes tempos do passado. Foi o nosso destino. 

Foi assim que nos tornamos heróis durante o Inverno de Corona 2020. Sê um herói também e fica em casa. 

(Campanha publicitária do governo alemão) 

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Ana Karenina

 "Todos os géneros de felicidade se parecem, mas todas as desgraças têm o seu carácter peculiar. "

É com esta frase que começa o Ana Karenina, livro de Tolstoi que acabei por estes dias, e que posso garantir que acaba "bem". Este é um livro sobre relações de amizade e de amor, de traições, mas também sobre as dúvidas existenciais que nos assolam. É um livro sobre a vida e por isso intemporal. É um livro sobre todos nós ou, sobre todos aqueles que já amaram; sobre os que amaram e não foram correspondidos, sobre aqueles que se deixaram amar mas por quem as regras da sociedade não acham aceitável; sobre todos aqueles que já amaram e foram trocados por outro; sobre todos aqueles que já amaram e foram correspondidos. É também um livro sobre as dúvidas existenciais que nos assolam, como o medo da morte e sobre o porquê de aqui estarmos e se afinal isto faz algum sentido...

Neste romance identifiuei-me principalmente com a personagem de Levine, que se sentia bem era no campo, que preferia a companhia dos trabalhadores e não tanto a socializar na alta sociedade ou com o seu próprio irmão, destacado escritor e que gostava sempre de lhe ganhar as discussões.


Gostei muito do livro, que acabei por ler em tempo recorde (pensei inicialmente só lá para o Natal o conseguir acabar!) e de seguida vi o filme e nunca tinha visto, nenhum dos vários que já se fizeram. Vi a edição de 1997, com Sophie Marceau no papel de Ana Karenina, Sean Bean como Vronsky e Alfred Molina como Levine. O filme tem uma fotografia muito bonita e lindas paisagens (foi filmado na Rússia) mas logo nos primeiros minutos tudo me começou a parecer como se estivesse a ver unicamente fotografias ou fragmentos dos momentos mais importantes de tudo que li. E como é lógico nem de longe nem de perto o espectador do filme compreenderá a densidade e os dramas de cada uma daquelas personagens, nem todos os pormenores que levaram a certas tomadas de posição, mas há que compreender que não será fácil pegar num livro com tantas páginas (as edições modernas têm mais de mil) e conseguir contar tudo, porque para tal seriam precisas muitas horas.  

De qualquer forma eu recomendo o livro. Achei muito bom. 


terça-feira, 10 de novembro de 2020

Viva a Meritocracia!


É fácil falar-se em "meritocracia" quando segundo a OCDE, uma família portuguesa pobre precisa de 5 gerações até os descendentes terem um salário médio.

Sobre a "meritocracia" o que pouca gente sabe é que é um termo pejorativo, inventado Michael Young, escritor de esquerda, no seu livro satírico de 1958 e que se chamava The Rise of Meritocracy

A obra retrata uma Inglaterra do futuro em que as pessoas são classificadas de acordo com sua inteligência, medida por testes padronizados. Os "mais inteligentes" recebem a melhor educação e têm acesso aos melhores empregos, e os “menos inteligentes” ficam com o que sobra. Mas esse sistema, que Young batiza de “meritocracia”, contém distorções evidentes:  os “mais inteligentes” são-no, em parte, justamente porque recebem educação de qualidade – sem a qual os "menos inteligentes" jamais terão qualquer hipótese de ascender. O livro mostra como um sistema aparentemente justo se pode tornar uma máquina de produzir e agravar injustiças. Termina na Revolta da Meritocracia, uma convulsão social que se passa em 2033. 

Resumindo: o termo “meritocracia” é pejorativo. Isso não impediu que, ao longo das décadas, fosse mudando de significado – e acabasse adotado pela direita como exemplo de coisa positiva, o que Young detestava. "O livro era uma sátira, uma advertência (que, nem preciso dizer, não foi ouvida)”, escreveu ele em 2001, um ano antes de morrer, no artigo Down with Meritocracy publicado no jornal inglês The Guardian.  

Ironicamente a piada de Young virou dogma e hoje dizem-nos que vivemos em tempos de "meritocracia" e que tudo aquilo que alcançamos depende apenas do nosso trabalho árduo. E se não conseguimos a culpa é nossa, é porque não nos esforçamos o suficiente, porque afinal, para direita, todos podemos ser ricos. Viva a "meritocracia"!!

sábado, 7 de novembro de 2020

Conversas Improváveis (57): 400 Matchs no Tinder

"Finalmente cheguei ao fim da lista proposta pelo tinder.  99% de quem entrou em contacto comigo é entediante e tem sempre a mesma conversa: "olá, boa noite, tudo bem, que fazes, se onde és,..." seca ou enviam o whatsapp logo nas 3 primeiras mensagens e insistem por uma foto. 
Não há foto, tirei a exactamente para poder pôr likes em todos os perfis e constatar factos. Há excepções com quem gostaria de continuar a falar mas são mesmo excepções."



Como eu expliquei, mais ou menos, no meu perfil eu fiz swipes para a direita a todos os perfis (antes tinha foto minha e não fazia isso mas tirei para experimentar) fiz a lista até ao fim.

Tive uns 400 matches (calculo que muitos homens façam o mesmo) e não iniciei conversa com nenhum. Mas uns cento e tal iniciaram conversa comigo. Mas como disse umas pouquíssimas são interessantes. Algumas que são interessantes descubro depois que são de homens comprometidos.

Portanto imagina que uns 10 têm conversas interessantes, desses 10, metade é comprometido".

Mais Historiadores, Menos Epidemiologistas


Na pandemia de pneumónica de 1918, difundida pelo mundo por causa do regresso das tropas da casa, a máscara foi o grande método de proteção, conjuntamente com outras recomendações como não cuspir, não tossir nem espirrar em cima das outras pessoas e evitar os grandes aglomerados de pessoas. A pandemia chega aos Estados Unidos em Outubro, e voluntariamente quatro em cada cinco pessoas usa uma máscara para se proteger e para proteger os outros. Entretanto graças a bandalheira que se instaurou, o uso da máscara acabou mesmo por ser obrigatório e com multas pesadas para quem não cumprisse. 

Os jornais publicaram instruções sobre como as pessoas poderiam fazer suas próprias máscaras em casa. Pessoas que não cumpram podem enfrentar pena de prisão, multas ou ter seu nome publicado no jornal, revelando que são os “preguiçosos das máscaras”.
E se hoje em dia os avisos chegam por telemóvel, há cem anos os conselhos importantes como o de arejar as casas eram afixados nos autocarros.


Mas depois do uso generalizado de máscara ter resultado e as infeções tinham baixado muito, as autoridades de saúde resolveram levantar estar restrições logo em Novembro, um mês depois da chegada da pandemia aos Estados Unidos. Houve imensas festas na rua, milhares de máscaras espalhadas pelo chão, com as pessoas a dançar e abraçadas umas às outras. Resultado: as infeções voltaram a subir e a máscara acaba por voltar a ser obrigatória em 1919, só que desta vez há enormes manifestações contra o uso das máscaras, prisões, devido àquilo que se designa por "cansaço pandémico".


Ora, se a política prestasse mais atenção aos historiadores e à história, já teria antecipado que, ou se ataca a dispersão de uma pandemia logo no início, com medidas obrigatórias ou, se deixar as coisas nas mãos da responsabilidade individual a coisa vai descambar com ajuntamentos como os que vimos por estes dias na Nazaré e já com mais de três mil casos diários reportados. Mais. Quando depois quiser impor alguma coisa, começarão a aparecer os negacionistas dos movimentos anti-máscara ou, pior, dos negacionistas da própria pandemia, exatamente como aconteceu em 1918.

Não era preciso inventar muito, bastaria olhar para o que aconteceu há cem anos. As mesmas formas de combater a transmissão da doença, as mesmas reações que as pessoas começaram a ter fruto do cansaço pandémico. Por isso, se calhar, teria sido bem mais importante os governos rodearem-se de historiadores e não tanto de epidemiologistas. 

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

"Mentirosos pela Verdade"

 Depois de termos sabido que nos "médicos pela verdade" não existia um único epidemiologista, mais engraçado ainda é descobrir-se que nos "jornalistas pela verdade" não existe um único jornalista!!

A fonte é da conhecida jornalista da RTP, Rita Marrafa de Carvalho que fez a  seguinte publicação no Twitter:




Posto isto, eu acho que vou criar uma página intitulada "Mentirosos pela Verdade" para mostrar às pessoas todas as mentiras em que precisam de acreditar! Nós, os mentirosos, nós é que dizemos as verdades!

Editado: Recomendo esta reportagem sobre os "jornalistas e médicos pela verdade". Muito elucidativa: