"Marx concluiu o primeiro volume de "O Capital" sob condições extremamente difíceis. De par com imensos estudos teóricos, realizava uma obra colossal e complexa dirigindo a Internacional. A permanente tensão e as privações materiais minavam a saúde de Marx, que já se encontrava abalada.
Num dos momentos críticos, Marx, pedindo a Engels de novo ajuda, escrevia-lhe: "Asseguro-te que preferia que me cortassem o dedo polegar do que ter de escrever esta carta. A ideia de que metade da vida se vive a depender de outrem pode levar ao desespero. A única coisa que me anima é a consciência de que ambos atuamos como sócios, eu dedico o meu tempo ao aspeto teórico e partidário da causa comum".
Com o afeto e a fidelidade de amigo e com o grande ilimitado desvelo de membro do Partido pelo seu grande guia, Engels ia sempre em auxílio de Marx. Como a saúde deste piorou muito, Engels, alarmado, depois de consultar os médicos, pede a Marx que mude para Manchester para descansar e tratar a sério da doença que poderia ter um desfecho funesto.
"...Faz-me a mim e à tua família o único favor - permite que cuidemos da tua saúde. O que será do movimento se contigo suceder alguma coisa? Ora se te portares como até agora, isso será inevitável. Com efeito, não tenho nem terei sossego, seja dia ou noite, enquanto não te tirar dessa embrulhada: todos os dias que não recebo notícias tuas, fico preocupado, pensando que pioraste outra vez"
A ajuda proporcionada por Engels na composição de "O Capital" não se limitou ao aspeto material. Marx geralmente consultava Engels a respeito dos problemas teóricos mais importantes, expondo nas cartas as suas deduções e pedindo a opinião de Engels sobre várias questões. Marx pedia frequentemente auxílio ao amigo a respeito de diversas questões práticas da economia em que Engels era grande perito (...)
A 16 de Agosto de 1867, Marx comunicou a Engels que tinha concluído a revisão do último (49.º) caderno de "O Capital". O prefácio também já fora remetido. "Deste modo, este volume está pronto - escreveu Marx. - É só graças a ti que isto se tornou possível. Sem os sacrifícios que fizeste por mim, eu jamais conseguiria realizar a obra colossal que exigiram os três volumes. Abraço-te, cheio de reconhecimento!.. Saúdo-te, meu caro e fiel amigo!"
"Desde que no mundo existem capitalistas e operários ainda não apareceu um livro que tivesse tamanha importância para a classe operária" - escreveu Engels sobre "O Capital".
Marx precisou de vinte e cinco anos de tensas pesquisas científicas para que a sua doutrina económica adquirisse uma forma clássica e perfeita.
O Capital foi um dos livros mais interessantes que li, e uma leitura base - a par com o choque de civilizações de Samuel Huntington, a Riqueza das Nações de Adam Smith e qualquer livro do Francis Fukuyama - para perceber os diversos sistemas políticos e a história da politica contemporânea -
ResponderEliminarDito isto, como alguém de esquerda, o Comunismo falhou, é uma ideologia falhada, porque ignora ou minoriza vários pressupostos fundamentais, entre eles por cliché que possa parecer, o Comportamento Humano.
Uma ideia excelente, e libertadora num mundo de fortes hierarquias que criou ela mesma as mais brutais ditaduras, os meus abjectos ditadores e as maiores desigualdades e concentrações de poder que queria combater, minorizada muitas vezes porque a sua intenção era/é boa, mas de boas intenções está o inferno cheio, as pessoas que vivem/viveram em países comunistas que o digam.
O ser humano está programado para cooperar, somos seres sociais no final de contas, mas possui igualmente instintos atávicos que a cultura ou estimula ou suprime, a cultura, nunca um Estado e menos ainda num curto espaço de tempo, o Comunismo matou a criatividade, a livre iniciativa que é uma das alavancas do progresso desde que controlada nos devaneios egoístas que a tomam; certamente que o Comunismo teve aspectos positivos, tais como a escolarização (embora truncada) em massa, a valorização de aspectos culturais e de vida comunitária, saúde publica, e isso mostrou que certos componentes de uma sociedade - aqueles essenciais à vida - não devem servir objectivos de lucro. Nem Marx nem Engels viram os efeitos bons e maus das suas ideias na prática, é tentador pensar que a sua amizade real, se iria manter e iriam corrigir muito do que propuseram.
Miguel
Olá Miguel, bem-vindo.
EliminarEu trouxe "O capital" uma vez da biblioteca e dei só uma vista de olhos durantes os dias que o podia ter em casa. A minha sensibilidade é que nunca como hoje as pessoas deveriam lutar para decapitar este capitalismo dos que, mesmo em plena pandemia ficam cada vez mais ricos e os trabalhadores ganham salários de merda (como dizia o Nel Monteiro). Sucessivamente as diferenças salariais aumentam, os ricos pagam menos impostos e as pessoas comuns vivem com mais dificuldade, mas anestesiadas por este capitalismo do entretenimento, das redes sociais e dos estímulos permanentes. Vivemos tal e qual naquilo que Huxley descreveu quando se insurgia para a revolução industrial: "A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão." Eu não me revejo minimamente neste tipo de sociedade capitalista em que vivemos hoje em dia e que nos leva para a pobreza geral e para o fim dos recursos. É tudo baseado no lucro, até a morte das pessoas ou a sua saúde dá muito lucro, aliás, a "Saúde" é o segundo negócio mais rentável do mundo, a seguir às armas.
E depois, foi mesmo este tipo de amizade quase incondicional, cada vez mais raro infelizmente que verdadeiramente me surpreendeu. Num mundo onde abunda cada vez mais a vaidade, arrogância, narcisismo, mentira...ver estes dois homens no combate político em defesa dos que menos têm, sempre lado a lado uma vida inteira é de se dar muito valor.