Hoje, 28 de Novembro de 2020, passam duzentos anos do nascimento de Engels. Algumas breves notas deste génio humanista.
A miséria e as desgraças de que Engels fora testemunha desde criança, causaram-lhe uma impressão inapagável. Nas "Cartas de Wuppertal", sua primeira obra, Engels descreve com uma sincera compaixão as duras condições de vida dos operários fabris e artesãos de Barmen e Elberfeld. A principal causa das desgraças e sofrimentos dos operários, no dizer de Engels são "os desmandos revoltantes dos donos das fábricas".
O pai de Engels era um homem religioso, conservador e despótico. Além de Friedrich, ele tinha mais três filhos e quatro filhas. Estes três filhos seguiram a carreira do pai e as filhas casaram com homens do seu círculo Somente o modo de vida de Friedrich estava em flagrante contradição com o espírito que reinava na família. Sedento de saber e voluntarioso, ele revelou muito cedo uma inteligência aguda e perspicaz, o dom de ter ideias próprias e uma índole independente. Lendo uma carta do pai de Engels dirigida à esposa, vemos que a educação do filho, que contava então com 15 anos lhe causava grande inquietação.
"Exteriormente, como sabes, ele tornou-se mais bem educado, mas apesar das severas sanções anteriores, ele, ao que parece, nem mesmo por temor ao castigo, deseja aprender a obedecer ser reservas. Para grande desgosto meu, hoje, descobri novamente na sua escrevaninha um livro vil da biblioteca do século XIII... Que Deus salve a sua alma! Muitas vezes sinto medo por este rapaz que, em geral, é excelente."
Jovem de raro talento, Friedrich, interessava-se profundamente pela literatura, arte, música e o estudo de idiomas. Compunha versos, desenhava muito bem caricaturas. De índole alegre e jovial, Engels era fisicamente resistente e muito ágil. Praticava com entusiasmo hipismo e esgrima, era um exímio nadador. Engels conservou este amor ao desporto por toda a vida.
Em Setembro de 1837, Engels teve que abandonar o ginásio sem ter concluído o último ano. O pai, desejando que o seu primogénito seguisse a carreira de comerciante, tratou de habituá-lo a trabalhar no comércio. Primeiro, Engels, durante um ano, trabalhou no escritório do pai e depois partiu para servir numa grande casa comercial em Bremen.
Mas a perspetiva de seguir essa carreira nem de longe seduzia o jovem Friedrich. Em Bremen, grande porto comercial, Engels teve a possibilidade de ler jornais ingleses, holandeses e franceses e publicações proibidas na Alemanha. Os livros e jornais ampliavam a visão do mundo de Friedrich, sendo, além disso, um meio excelente para dominar línguas estrangeiras. Engels, frequentava com agrado os teatros, concertos, apreciava sobretudo as sinfonias de Beethoven.
Em Bremen, o jovem Engels também observava a vida dos trabalhadores que nada possuíam, mas eram "o que de melhor pode ter o rei no seu Estado".
O pai de Engels, preocupado com o rumo do desenvolvimento espiritual do filho, enviou-o precavidamente para a casa dum pastor de Bremen. Mas justamente sob o teto desta casa, Friedrich, atacado por dolorosas dúvidas religiosas, rompeu para sempre com o credo dos seus ancestrais.
Começou a pensar cada vez mais nos problemas sociais e políticos do desenvolvimento da sociedade. A situação social e política formada nesta altura na Alemanha em vésperas da revolução e nos países vizinhos fornecia um material abundante para meditações, exercendo uma influência excecional sobre a formação intelectual do jovem Engels.
Depois de sepultar o filho, Marx escrevia a Engels: "Já suportei muitas angústias, mas só agora sei o que é uma verdadeira desgraça... No meio de todas as terríveis torturas por que passei durante estes dias, sempre me animou a lembrança de ti e da tua amizade, e a esperança de que juntos ainda temos muito a fazer, neste mundo, algo de razoável."
Engels fazia tudo ao seu alcance para que a família de Marx não passasse e mal. Quando se lhe ofereceu a oportunidade de proporcionar a Marx uma ajuda material suplementar escrevendo artigos, ele aproveitou-a com satisfação. Em Agosto de 1851, o jornal progressista americano New York Daily Tribune propôs a Marx que escrevesse artigos para um periódico. Numa carta a Engels, Marx pediu a sua ajuda: "No que respeita ao New York Daily Tribune, peço-te que me ajudes, pois estou ocupadíssimo com a economia política. Escreve alguns artigos sobre a Alemanha a partir de 1848." Engels pôs imediatamente mãos à obra, enviando sistematicamente um artigo após outro a Marx, que os remetia ao New-York Daily Tribune". Foi assim que surgiu a célebre série de artigos "Revolução e Contra-Revolução na Alemanha". Só depois de publicada a correspondência entre os dois, é que se constatou que se tratava de uma obra de Engels e não de Marx.
Verdadeiro poliglota, Engels dominava (falava e escrevia) doze idiomas e lia em quase vinte. Sabendo tantas línguas, Engels pôde dedicar-se a problemas gerais da linguística como tal e da linguística comparada, lançando um sólido fundamento marxista destas ciências.
Friedrich Engels Breve biografia - Eugénia Stépanova (1986)
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