sábado, 28 de agosto de 2021

Tristes Efemérides Numerológicas



Foi precisamente num sábado como o de hoje, neste mesmo dia 28 de Agosto como hoje, que o meu pai partiu há exatamente 28 anos, com a exata idade que eu tenho hoje...

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Polígrafo SIC Anda Perdido Há 100 Dias a Caminho de Marte


 "Os jornais não servem para dizer a verdade. Já é bom que eles não mintam." 
(Françoi Rene)

De repente, e vindos sei lá de onde, começaram a aparecer nos meios de comunicação social, tal como cogumelos em noite de chuva, os "polígrafos" que, qual ministério da verdade, atestam aquilo que, qualquer pessoa numa pesquisa do Google descobre num minuto.

Se bem me lembro, a palavra "polígrafo" entrou no léxico dos portugueses quando, ao melhor estilo sensacionalista, a SIC trouxe este equipamento para um programa de televisão, em que figuras públicas, condenadas de crimes, sujeitaram-se ao dito cujo para atestar se, na verdade, estavam inocentes ou não. E, se não estou em erro, julgo que a primeira pessoa em Portugal a submeter-se a tal espetáculo mediático foi o padre Frederico, em 1994, no programa da SIC "Máquina da Verdade", em 1994. Entretanto ao que parece popularizou-se e o polígrafo anda a ajudar nas audiências nos vários canais. E foi a mesma SIC, que trouxe agora para o jornalismo português e também muito rapidamente espalhou-se por outros órgãos de comunicação social. 

Acontece que, ultimamente, uma das pessoas mais geradoras de mentiras e que mereciam mais do que ninguém um "fack check", como agora se diz em estrangeiro que fica sempre mais bonito e internacional, é o senhor diretor-adjunto de informação do próprio canal do fundador do PSD: José Gomes Ferreira. 

José Gomes Ferreira, jornalista e tudólogo (pessoa especialista em todos os assuntos!) que sempre quis passar por economista, este ano, apesar de não ter qualquer formação em História, virou também historiador ao publicar o livro: "Factos Escondidos da História de Portugal" em que, como o próprio diz, andou pela internet a ler o que lhe interessava e compilou um punhado de factos alternativos que deixaram os historiadores de cabelos em pé. 

"Se não faz sentido que um jardineiro dê consultas de obstetrícia ou que um historiador projete a construção de uma ponte, também não se deve aceitar que alguém sem formação em História, se rogue no direito de desprezar o trabalho das pessoas formadas na área, e que o fazem seriamente".  (Podcast / Falando de História)

José Gomes Ferreira, fruto de todo o protagonismo que tem à frente da informação de um canal, rapidamente desdobrou-se em entrevistas por todo o lado, promovendo o seu livro que, no próprio livro diz que "não é um livro de História, é um livro de política", apesar de o vender como tal, aliás, basta olhar para o título que lhe deu. 

E vai daí que, em Maio, mês em que lançou o seu livro, foi ao programa da Antena 3 "Prova Oral" do radialista Fernando Alvim e, entre outras, saiu-se com esta bela pérola:


"Marte, o planeta vermelho? Não acreditem! Os americanos alteram as cores"
"Porque não querem revelar para já todas as potencialidades que lá existem. Cada potência quer manter escondido, até depois de ter tido a tecnologia, o acesso e a possibilidade de mapear e reclamar para si, não quer revelar. Os americanos alteram as cores do planeta Marte!"

De uma assentada, José Gomes Ferreira deixa historiadores e astrónomos de cabelos em pé! 

E entretanto já passaram cem dias sobre estas suas afirmações do diretor-adjunto da SIC, mas do Polígrafo SiC nada. Caladinhos que nem ratos. A estação de televisão tem um maluco que todos os dias diz mentiras atrás de mentiras, lança teorias da conspiração que lê na internet e transforma a estação numa espécie de FOX NEWS. 

Ou então estarei a ser injusto Polígrafo SIC. Provavelmente mal o José Gomes Ferreira disse aquelas barbaridades sobre o planeta vermelho, eles meteram-se num foguetão e estão perdidos a caminho de Marte para fazer o fack check que os espectadores tanto anseiam! 


quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Pra Cima de Pasquim

 



Há polémicas e discussões intermináveis que a sociedade desconhece e que só quem está no Twitter é que sabe. Bom, se eu quiser ser mais correto, nem assim!, porque eu estou no Twitter vai para dois anos e meio e, se no primeiro acho que não percebi como é que aquele rede social social funcionava, agora, que até sou muito ativo, muitas das vezes apanho polémicas a meio e nem sei de onde é que elas vieram. 

Eu posso dizer que, ainda precisei duns quantos dias até perceber porque é que muitas mulheres diziam beber a própria menstruação! Depois lá percebi que era tudo uma grande ironia exponenciada pela Fernanda Câncio.

Mas ainda por estes dias, não fosse a minha ex-colega de trabalho (e única pessoa que conheço pessoalmente do Twitter) me ter perguntado se eu sabia o que a Carmo Afonso tinha dito sobre os talibã e não fazia ideia do porquê dela estar nas "trends", ainda por cima porque não tenho grande interesse em temas como Afeganistão, Síria, Israel, Turquia, Polónia, etc. 

Mas o Twitter cada dia tem as suas polémicas, nem que seja porque alguém se lembra de dizer que não gosta de Bolas de Berlim! No fim-de-semana passado a polémica foi a missa na RTP. Não propriamente o absurdo da estação pública transmitir celebrações religiosas, mas sim porque alguém que, certamente não leu a Bíblia, indignou-se com a Epístola de São Paulo aos Efésios, ainda por cima porque, por estes dias, o tema Afeganistão e talibã está na ordem do dia, e chegaram à conclusão que a Bíblia tem passagens ao nível da burka. 

E vai daí, qual não é o meu espanto quando vejo que as conversas das redes sociais, nomeadamente as do Twitter, em que também eu deitei umas valentes achas para a fogueira da queima da religião, na capa daquilo que se supõe ser um jornal!

O jornalismo sério e credível, seja nos jornais (que deixei de comprar) bem como na televisão (que deixei de ver) está em extinção. As editoras dedicam-se a editar lixo; televisões como a SIC, tem um diretor-adjunto, José Gomes Ferreira, que vive numa realidade paralela e todos os dias difunde teorias da conspiração e uma editora edita-lhe um livro de história que deixa os historiadores de cabelos em pé; e há jornais que fazem primeiras páginas com conversas das redes sociais. 

Jornalismo sério e credível, paz à sua alma. 

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Estamos Todos Vacinados Mas Porque é Que Morrem Dez Vezes Mais Pessoas em Portugal?


Por estes dias estamos todos contentes. Somos um dos países do mundo com mais pessoas vacinadas contra a COVID-19! O Serviço Nacional de Saúde, a Ministra da Saúde e o Almirante das vacinas estão todos de parabéns. Ao contrário do que muitos queriam, principalmente os partidos de direita - e basta relembrar o que Rui Rio disse em Janeiro, sobre os privados não terem sido incluídos no processo de vacinação - e a direita serve basicamente para isso, para defender os interesses dos privados - mas, afinal contra o que muitos desejavam, o SNS esteve à altura e ganhamos os Jogos Sem Fronteiras das Vacinas 2021. 

É um dado adquirido. A vacinação, que foi, e bem, voluntária e não obrigatória, porque só se vacinou quem quis, correu muito bem. Portugal é um dos países do mundo com menos pessoas resistentes às vacinas (o que se calhar pode ter surpreendido muita gente) e a população aderiu em massa e o governo até resolveu antecipar a maior abertura de pessoas nos restaurantes e em espetáculos. 

Mas depois parece que a pandemia já acabou. Há miúdos a dizer que se foram vacinar para poder deixar de usar máscara na escola!?, e também encontro muita gente que não sabe como funciona uma vacina e acha que por se ter vacinado já nada lhe vai acontecer! Nem vão morrer nem nada!

Não sei se foram as vacinas que tiveram esse efeito pernicioso, mas parece mesmo que a pandemia acabou, só que não, e se calhar, e espero ser só eu a ser pessimista, mas a pandemia, infelizmente, ainda está muito longe de acabar. E basta olhar para os números! a cada duas semanas morrem entre 200-250 pessoas em Portugal de COVID-19. Não está tudo bem! Pelo contrário, está uma valente merda! Estamos no pico do Verão, época menos propícia à transmissão do vírus e estamos com números absurdos apesar da enorme taxa de vacinação, e de já termos ultrapassado o primeiro milhão de pessoas que tiveram a doença ou testaram positivo e que desenvolveram, naturalmente, anticorpos. 


Só que, apesar da vitória de sermos um dos países do mundo com mais pessoas vacinadas, algo de muito errado se está a passar. Atingimos aquele número utópico que nos venderam da alegada imunidade de grupo (70% da população) e, apesar de sermos dos poucos países na Europa que ainda usa máscaras nas ruas, como é que então ainda morrem tantas pessoas de COVID-19 em pleno verão?

Como sou um bocadinho curioso e gosto de olhar para os números - apesar de há meses não ligar puto ao que vai acontecendo na pandemia - lembrei-me de fazer uma coisa engraçada. E que tal se fosse comparar Portugal, com a Suécia e a Chéquia - que têm os mesmos dez milhões de habitantes que Portugal - e verificar quais as taxas de vacinação e os números médios de mortos por semana? E foi o que fiz. 

Mas as conclusões são desconcertantes. Países que, como nós, têm dez milhões de habitantes, e com taxas de vacinação bem inferiores, e no entanto nós temos dez vezes mais mortos? O que é que explica isto?

Eu não sei explicar porque não sou nem infecciologista ou da área da saúde, muito menos tudólogo das televisões que esses é que sabem tudo e mais alguma coisa, contudo, acho que não é preciso ser tudólogo ou especialista em saúde pública para perceber que, apesar da maioria da população estar vacinada as coisas não estão bem e não acho nada que estamos preparados para o próximo Outono e Inverno. Espero estar redondmente enganado. 

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Qualquer dia Estamos a Acabar uma Relação com um Emoji


 A propósito das afirmações de Cristophe Clavé, que relaciona o empobrecimento da linguagem com o emburrecimento coletivo (temos primeira vez uma geração com um QI inferior ao dos pais) aqui deixo alguns excertos do programa "O Amor é" da Antena 1 com Júlio Machado Vaz e Inês Menezes. 

"Ao simplificarmos cada vez mais a linguagem é inevitável que, atrás da linguagem vá também o processo de pensamento.

Vou-lhe dar um exemplo, que por caso me irrita bastante. Eu gosto muito de adjetivos e, hoje em dia, assistimos, quer na televisão, quer nas redes sociais, hoje em dia parece que só temos um adjetivo que é o "incrível". O incrível dá para tudo. Não quer dizer que eu não o use, porque eu também o uso, mas, tudo está resumido ao incrível e isso terá a ver com este empobrecimento da linguagem, com esta preguiça. Nós não vamos procurar outra forma de adjetivar, serve-nos o incrível. 

Quer ver um verbo? "Amei".  Uma pequena notícia? Amei. O filme não-sei-quê? Amei. E neste aspeto até há outro risco, que é, a banalização das palavras. O verbo amar, para mim, está muito relacionado com pessoas e com sentimentos por pessoas. 

"Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento. Estudos têm mostrado que parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de descrever as emoções em palavras" (Christophe Clavé)

Se nós não conseguimos articular (antes de dizer as palavras nós pensamos). Numa discussão estamos a elaborar um argumento. Se a poupo e pouco isso se vai tornando cada vez mais difícil nas nossas cabeças, antes de as escrevermos ou dizermos, isto vai empobrecer a nossa capacidade de argumentar. Perante essa incapacidade de argumentar, uma das pseudo-soluções é a emoção tomar o lugar do processo de pensamento. E então o que acontece é que, com meia dúzia de palavras, o que nós acabamos por verificar é que desaguamos no conflito, as posições são rígidas, tão mal explicadas, as pessoas não têm maleabilidade. Veja por, por exemplo, à medida que nós vamos tendo mais dificuldade de criar aquilo que é dito - e não é só a palavra pura e dura - é a maneira como a palavra é dita. Nós vamos perdendo a capacidade de discernir, de vez em quando, entre o insulto e o humor. E isso pode ser catastrófico num diálogo. 

As nuances da linguagem. Há palavras muito próximas. Quem tem muito bom vocabulário tem a capacidade de fazer um autêntico degradé no seu léxico, e isto é, muito enriquecedor, para a pessoa, porque tem ao seu dispor uma paleta, não de cores, mas de palavras, para traduzir o que sente, muito mais rica, mas também para quem ouve. 

O Empobrecimento da Linguagem / O Amor é - Antena 1

O Maior Inimigo do Progresso São os Velhos Hábitos


 Numa overdose de idas ao hospital consecutivas, e com uma dia ao centro de vacinação pelo meio, tropeço em duas coisas que julgava que já estariam erradicadas no nosso país, hábitos que julgaria extintos, e, se não fosse pelo senso comum, então, ao menos que tivesse sido pelo poder da lei, mas parece que estava a só a ser ingénuo porque parece que há hábitos que custam a ser extintos. 

A questão tem que ver com os símbolos religiosos nos hospitais. E logo à partida há dois interesses que podem parecer colidir: o da liberdade religiosa e o da laicidade do Estado. Vivemos num país com liberdade religiosa. Cada um pessoa professar a religião que quiser, acreditar no Deus que melhor lhe convier, que não pode ser discriminado por isso. Tudo bem, nada contra. Mas também vivemos num país que, supostamente (e é mesmo supostamente mas pronto, façamos de conta) é laico. E isto quer dizer que já não vivemos num país onde a religião é lei, como ainda há tão pouco tempo acontecia em que era obrigatório, ao lado do quadro com a fotografia do ditador, um belo crucifixo. Portanto, o Estado nem é católico, nem protestante ou testemunha de Jeová; o Estado não tem religião nenhuma e, cada pessoa é livre de ter ou não ter nenhuma religião. 

E como é que um Estado se exibe verdadeiramente laico? É simples, não tomando nenhum partido religioso, não exibindo símbolos que violem essa imparcialidade. Para tratar todos por igual, as diferentes religiões, os ateus e agnósticos, é manter uma neutralidade religiosa. 

Como vivemos demasiado tempo num Estado religioso, esses resquícios de parcialidade eram olhados sem estranheza, afinal, a quase totalidade da população era católica. Mas, libertados desse jugo de 48 anos de ditadura fascista e católica, em que os crucifixos eram obrigatórios, as coisas começaram a mudar e era preciso que o Estado se mostrasse, efetivamente, laico, e que não o fosse só no papel. 

Foi então que, por exemplo, os crucifixos nas escolas e hospitais começaram a incomodar, não porque pessoas como eu não respeitam a liberdade religiosa dos outros, mas porque consideramos que, quando vamos a um departamento público, seja uma escola, hospital, ou repartição de finanças, estando em espaço neutro, este tem que ser isento e livre de manifestações religiosas. Cada pessoa, individualmente, pode levar o seu terço ao pescoço, uma burka, ou o que lhe apetecer, mas o espaço em si, bem como todos aqueles que representam o Estado, não, porque o Estado tem o dever e obrigação de representar todos por igual, sejam da religião da maioria, de outra religião qualquer, ou, como eu, que não têm religião nenhuma. 

Disse que nós vivemos num Estado "alegadamente laico" porque não o é na prática. Diz-se laico mas é só mesmo para constitucionalista ver. Um Estado verdadeiramente laico começa logo por não poder ter feriados religiosos! E um Estado verdadeiramente laico, não pode ter uma RTP, televisão pública, a transmitir em direto, todas as semanas, celebrações católicas! É uma completa aberração! A televisão pública até poderia ter programas sobre diferentes religiões, sobre diferentes pensamentos filosóficos, ouvir a voz dos agnósticos e dos ateus, mas um Estado laico não pode, de todo, exibir celebrações religiosas seja de que religião for! Talvez lá chegaremos um dia, quando a religião se extinguir na Europa, e cada vez está mais perto disso, mas, entretanto lá temos que gramar com este absurdo. 

Contudo, convém lembrar que a questão dos crucifixos, já fez jurisprudência em 2009, quando o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, deu razão e decretou uma indemnização a uma mãe italiana que reclamou do crucifixo na escola dos filhos. 

É então um pouco incompreensível para mim, quando entro numa enfermaria de um hospital público, e deparo-me com uns quantos bonecos da santinha da Fátima. Eu, se quiser ver arte sacra vou à igreja, ainda que a bíblia, ironicamente, condene o uso de imagens, mas não tenho de levar com bonequinhos religiosos quando vou ser tratado num hospital! Eu se fosse crente ia rezar à igreja porque tendo fé certamente que Deus me salvaria da doença; mas sendo um herege sem religião vou-me tratar ao hospital, por isso cada macaco no seu galho. À religião o que é da religião, ao hospital o que é do hospital. 

Mas, ainda não refeito ainda desta surpresa, qual não é o meu espanto quando, no dia seguinte me dirijo ao centro de vacinação da minha região, no pavilhão multiusos de Gondomar, e, enquanto aguardo aqueles trinta minutos depois de levar a segunda dose da vacina para a COVID-19, fico boquiaberto quando, num grande televisor aparece o autarca do PS a fazer propaganda eleitoral! 



Mas que merda é esta? Um centro de vacinação é num pavilhão para permitir maior afluência e vacinar o maior número de pessoas, mas é na mesma como se fosse um hospital, é um sítio do Estado, e portanto deve ser neutro e isento de manifestações ou propagandas políticas!

Mas isto não deixa de ser ainda mais gravede, quando o senhor presidente da câmara de Gondomar, Marco Martins, se mostrou, pasme-se!, muito incomodado, com as bandeiras vermelhas do Partido Comunista Português, aquando este celebrou os cem anos do partido. 

Vivemos num país plural, de liberdade religiosa e política, e, felizmente, que longe vão os tempos do partido único fascista da ditadura religiosa, mas um autarca que se mostra muito incomodado com a propaganda política dum outro partido, ironicamente, não se sente incomodado por violar as regras da Comissão Nacional de Eleições e andar a fazer propaganda eleitoral num centro de vacinação público!

Acho que é admirável o que o nosso país evoluiu, a todos os níveis, nestes últimos quarenta e sete anos de democracia. Nas infraestruturas, acessibilidades, do ponto de vista da educação, no acesso aos cuidados de saúde, na cultura, etc. Mas, infelizmente, ainda há velhos hábitos, tão entranhados e até olhados com normalidade, que parece que custa muito ser erradicados duma sociedade plural, democrática e respeitadora de todos.

domingo, 8 de agosto de 2021

Ironias de um País Ingrato que Não Merece os Seus Heróis


Se há algo que a História nos tem ensinado é que não aprendemos nada com a História.  

Otelo Saraiva de Carvalho, arquiteto do 25 de Abril, morreu a 25 de Julho. António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, que são primeiro-ministro e presidente da república graças a Otelo ter derrubado a ditadura, acharam por bem que acabar com 48 anos de ditadura não era feito suficiente para o militar de Abril merecer o dia de luto nacional. 

Só que, se olharmos para trás, parece que tudo merece dia de luto nacional: cantar o fado mereceu dia de luto a Amália. Jogar à bola mereceu dia de luto nacional a Eusébio. Até uma religiosa mentirosa compulsiva, sim, um país laico meteu-se nesses assuntos da religião, e achou por bem conceder-lhe dia de luto nacional! Já o fazedor do 25 de  Abril não teve direito à homenagem de um mísero dia de luto nacional para lembrar a memória do seu feito.

Ah, mas ó Konigvs, tens de compreender que ele foi uma figura polémica...

Claro que compreendo. Otelo manteve-se sempre fiel aos princípios que levaram os militares a fazer o 25 de Abril. Devolver o poder ao povo, construir um país socialista, fazer a reforma agrária. Compreendo também que o grande mal de Otelo foi lutar pelo seu sonho e não arranjar um tacho num qualquer partido, e teria sido tão fácil ir para qualquer um deles, até porque, se calhar, foi convidado por quase todos. E certamente que se estivesse filiado no PS ou PSD, aí sim, certamente teria sempre direito ao seu diazinho de luto nacional, porque afinal foi o herói de Abril! Mas Otelo teve o descaramento de não se deixar corromper e a política tem sempre muito medo de pessoas com coluna vertebral. 

Diz-se que Otelo foi polémico. Se calhar foi, polémico principalmente para todos aqueles, que não são poucos, e que odeiam o 25 de Abril e os cravos vermelhos.

Mas se Otelo foi "polémico", o que dizer então da figura do terrorista Spínola? Spínola tudo fez, depois do 25 de Abril, para instalar uma nova ditadura de extrema-direita. Spínola liderou em 1975 um movimento terrorista, o Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), que andou a colocar bombas em sedes do partido comunista (e socialista), que mataram diversas pessoas, incluindo o famoso padre Max e Maria de Lurdes e tantos anos volvidos ninguém foi responsabilizado. 


Mas ser um terrorista e ter a ousadia de querer, de novo, instalar uma ditadura fascista em Portugal, não foi polémico o suficiente para negar a Spínola o direito de ter também o seu diazinho de luto nacional. Otelo é que foi polémico por se manter fiel aos princípios do 25 de Abril.

Fez-se o 25 de  Abril, mas rapidamente meteu-se essa ideia romântica de devolver o poder ao povo na gaveta. O povo rapidamente ficou a chuchar no dedo e o dinheiro novamente começou a ser desviado do esforço de todos, para o bolso de alguns, muito poucos, ficarem com o dinheiro todo. 

Cavaco Silva, ex-primeiro-ministro e ex-presidente da república, que nos tempo do fascismo foi dar o nome de bom comportamento à PIDE, também negou a pensão a Salgueiro Maia, outro herói do 25 de Abril (que também não teve direito a dia de luto nacional) enquanto a concedia a dois ex-PIDE pelos "altos serviços prestados". 

Mas depois há coisas, de facto, muito irónicas. Faz-se o 25 de Abril, acabou-se com 48 anos de ditadura, inscreveu-se na Constituição que os partidos fascistas são proibidos, mas o Tribunal Constitucional não viu nada de errado com o racista, homofóbico e xenófobo partido Chega. Nem viram nada de errado na entrega de milhares de assinaturas falsas para fundar o partido, processo que ainda está a ser investigado pelo Ministério Públiico. Nem ninguém viu nada de errado com a lista que permitiu a Ventura ser eleito deputado e que não cumpria os critérios.

E, ironia das ironias. Dias depois da morte de Otelo Saraiva de Carvalho, ficamos a saber que, pela primeira vez, na recente história da democracia portuguesa, um bombista terrorista de extrema-direita do MDLP vai sentar o cu na suposta casa da democracia, eleito por um partido ilegal. Um bombista terrorista de extrema-direita vai substituir um deputado racista eleito por um partido ilegal. 

Otelo (e os militares) acabaram com a ditadura salazarista devolvendo-nos a liberdade, mas nunca devemos tomar a Liberdade por garantida. E a mim revolta-me ver este estado de coisas. Revolta-me ver um país ingrato com quem nos libertou dum jugo de repressão, de fome e de morte. E revolta-me que, apesar de teros tido quarenta e oito anos de ditadura repressiva, apareça um partido fascista ilegal, que os juízes do Tribunal Constitucional simplesmente não viram nada de errado, e que tenha levado 500 mil portugueses a votar no seu líder racista, homofóbico, xenófobo e fanático religioso nas últimas presidenciais. 

 São tudo sinais a que deveríamos estar muito atentos, porque, como se sabe, "quem adormece em democracia, acorda em ditadura".

# Spínola e Os Ataques À Bomba Patrocinados pela Igreja Católica em 1975

terça-feira, 3 de agosto de 2021

E Quando Não Há Química Digital?


Já sabemos que as pessoas conhecem-se na internet e devem ir logo a correr conhecer-se pessoalmente (ironia). Mas, e quando duas pessoas que se conhecem pessoalmente, sem saber nada do outro, e até se percebe que há interesse de parte a parte,  mas depois começam-se a conhecer no  digital e simplesmente não há química? Ah pois é! Que é que aconselharão os psicólogos neste caso? "Quando está interessado em alguém que conhece pessoalmente, vá logo a correr conhecer as redes sociais da pessoa ou, nunca, mas por nunca, que vá querer conhecer as redes sociais dessa pessoa"? Acho que se calhar vai depende do psicólogo!

A história já tem alguma distância temporal, até porque aconteceu no primeiro verão de pandemia!, mas é rápida de contar. Numa das melhores aplicações de engate que existem (Custo Justo ou OLX!) enontrei-me com uma vendedora a quem comprei uns quinze livros. Ela foi sempre muito simpática. Encontrei-me com ela na estação de comboios e acabamos por ficar a conversar uns quantos minutos porque a conversa começou a ficar muito interessante. Achei-a extremamente culta, e isso cativou-me ainda mais que as boas pernas ou o decote proeminente. Entretanto chegou a hora de pagar e ela não tinha troco. Como me vendeu os livros a um preço simbólico, acabei por a contrariar, que queria ir levantar dinheiro, e dei-lhe cinco euros a mais. "Então depois escolhe mais livros ou dou-lhe a diferença".

Essa ponta solta fez com que acabássemos a trocar mensagens. Tratávamo-nos sempre na terceira pessoa e eu sempre fui (como sou sempre) bastante respeitoso, ainda por cima sabia lá bem eu se a  senhora era comprometida ou não. Ainda por cima tinha-me dito que "estamos a mudar" por isso estava a despachar dezenas, se não centenas mesmo, centenas de livros. E "estamos" é plural, é mais do que um. Mas começou a chegar a um certo ponto que percebia-se que ela estava a ser  muito explícita no interesse - fosse ele qual fosse - na minha pessoa. 

Começamo-nos a tratar tu, a trocar mensagens, mas ela queria ir para um canal de conversação. Tudo bem. Mas coisa já nas mensagens por telemóvel não começou lá a fluir muito bem, e de forma meio despropositada pergunta-me se eu sou sempre assim, "lento" para tudo. Posteriormente percebi que estava bloqueado na rede social que usámos para teclar, durante, sei lá, um dia? Dois? 

Não houvesse tecnologia, provavelmente ia-mos sair, quem sabe até, com algum convívio íntimo e nunca se sabe o que poderia dali acontecer. Assim a senhora foi ver o meu perfil da rede social, fez os seus juízos de valor - "porque é que não gostas dos Estados Unidos" - e, aquilo que até poderia ser uma bela amizade, acabou digitalmente mais depressa que começou, porque, ao que parece, não tínhamos química digital.