domingo, 27 de fevereiro de 2022

Largos Dias Têm Três Anos ou O que Tem de Ser Tem Muita Força

Há três anos e meio escrevi aqui :

"Os senhores convidados, entre os quais o autarca, procedeu à entrega dos prémios, deixou elogios aos treinos realizados na escola primária e deixou-nos à vontade para por lá ficar. De imediato aproximei-me dele, agradeci, mas a verdade é que ainda estou para saber porque raio não mais para lá voltamos. Toda aquela gente que ia treinar se perdeu. O pai e o filho, que no torneio logo se mostraram interessados em fazer sócios e treinar também nunca apareceram. Acabamos por angariar mais dois jogadores, o Leandro e o Paulo, sempre cheios de motivação e continuamos à espera que o treinador viesse do exílio, ou do fim do trabalho escravo como ele diria".

Muita coisa aconteceu nestes três anos e meio, se calhar, tudo menos o que deveria ter acontecido.

Como referi, por motivos que até agora me são alheios, não continuamos, como acordado a treinar na escola, apesar de tudo ter corrido bem. E eu não gosto nada que as pessoas não cumprem a sua palavra e nem sequer me tenham dado uma satisfação, até porque já não sou um cachopo. 

No nosso grupo, uma mera dúzia de pessoas e tantas confusões, egos, intrigas e constantes manipulações. E ainda se diz que as mulheres são intriguistas. Homens maiores de idade, alguns casados e com filhos e a comportar-se como crianças. 

Fizemos uns quantos torneios, não raras vezes éramos os mais fraquinhos, mas, como costumo dizer "é preciso alguém perder para os outros ganharem". Outras vezes, em torneios de gente não federada como nós, já era diferente e batíamo-nos de igual para igual. 

Mas o importante é o parecer. Não é treinar com afinco. É parecer. Os polos que usávamos em competição eram quentes e feios. Porque o importante é perder com estilo. Importante não é treinar com afinco e ganhar, mesmo com polos pouco bonitos. 

Intriga vai e intriga vem, conversas por trás, sempre por trás, a minar, porque pela frente é preciso ter tomates, e lá se conseguiu um patrocinador que pagasse uns equipamentos novos. Porque o que importa é parecer. 

Nunca fui tido nem achado em nada. Era sempre o corno, o último a saber das coisas. Se calhar nem tinha que saber, afinal, não era responsável de nada no clube. Mas depois fui chamado a reunir quando fizeram merda. Disseram ao patrocinador que os equipamentos ficavam por 500€, mas afinal, iam ficar por 1250€.

À frente de toda a gente perguntei: "Mas está tudo louco? Vós fodestes 1250€ em equipamentos para oito pessoas"? Afinal tinham mandado fazer 16 equipamentos, porque "já fica, para quem vier"! Como se já soubessem que quem vier veste S, M, L ou XL! E voltei a perguntar: "1250 em equipamentos? Acham que não precisamos de nada mais importante?" Mas o que importa é parecer. 

Os equipamentos iam custar o dobro do que tinham dito ao patrocinador. Esse era o problema. O presidente do clube nem sequer tinha sido informado. Colocou-se a carroça à frente dos bois. Mas quem fez merda que se limpasse.

Entretanto o presidente do clube que foi presidente durante tantos anos comunicou que iria viver para o Algarve e iria abandonar a direção do clube. Mal ou bem foi sempre ele que tratou de tudo, com tudo de bom e de mau que isso tem. E, apesar de ter as minhas questões pessoais, sempre disse que os nossos problemas não eram criados por ele, mas pelo pessoal que treinava, no fundo, por nós. 

O Leandro, que é  jovem e podia ser meu filho, que tinha vindo treinar quando estivemos aqueles dois meses na escola chegou-se à frente e foi o único. Ia fazer uma lista e tomar conta do clube. Os outros, os que manipulam, que são como aqueles cãezinhos pequenos que ladram muito pelas escondidas, mas perante os problemas metem os rabinhos entre pernas, esses nem um pio. Desde logo disse que tinha o meu apoio, afinal, era é dali da terra e é novo. Vai cometer muitos erros, mas irá aprendendo com eles. 

Na campanha eleitoral para as autárquicas recebemos a comitiva do PSD. Fiquei a saber que a nossa pequena coletividade deverá ser a que tem mais associados na união de freguesias. Surpreendente.  

Mas porque o que importa é aparecer, e porque alguns egos ficaram melindrados por, ou não terem sido escolhidos ou posteriormente, excluídos da lista por falarem de mais, acabaram por sair do clube e foram-se embora. E, apesar das perdas competitivas, interessa olhar o lado positivo e constatar que o ar ficou mais respirável. 

Tomamos posse no início do ano. Logo fiz questão de pressionar para reunirmos com a Junta de Freguesia. E de falar em sítios com espaço para treinar. Lá reunimos e muito surpreendido ficou o presidente da junta. Então vocês não estão na escola? O antigo presidente não nos deixou continuar a treinar na escola mas nem se dignou a avisar a junta de freguesia que não íamos continuar a treinar lá! 

O presidente da junta quis reunir connosco e com a responsável da outra associação que também está na escola. Eu fui representar o nosso clube. Enquanto esperava, via pelo retrovisor o carro do antigo presidente a aproximar-se e a passar na estrada. Parecia quase um sinal. Uma passagem de testemunho.

Mas como as coisas são curiosas. Fomos para a escola por minha iniciativa. Na altura o Leandro era só um jovem que frequentava o café em frente e foi lá experimentar. Ficou a treinar, evoluiu imenso como jogador e hoje é o presidente do clube e eu o tesoureiro. E três anos depois, sou de novo eu a formalizar o regresso à escola. Porque largos dias têm três anose porque o que tem que ser tem muita força. 

da Rússia com Amor


sábado, 26 de fevereiro de 2022

Regresso ao Teatro Dois Anos Depois

Contam-se pelos dedos as vezes que fui o teatro. Acho que não é por mais nada, é tão simplesmente por não ter sido habituado a ir. Não ter nas minhas relações (que sempre foram muito poucas) pessoas que me convidassem ou incentivassem a ir. Mas a verdade é que comecei a ir mesmo sozinho. 

Tinha ido a última vez ver "Boudoir" uma peça inspirada em Filosofia na Alcova do Marquês de Sade, protagonizada por Maria João Abreu. Entretanto meteu-se uma pandemia pelo meio. Mas a verdade é que, mesmo durante a pandemia quis ir ao teatro ver "Catarina e a Beleza de Matar Fascista", mas por causa dos constrangimentos da própria pandemia, de constantes adiamentos e até de infeções entre os atores, acabei por não conseguir ver. 

Mas entretanto lá regressei de novo ao teatro. Foi no sábado passado. Tinha visto na newsletter da cidade de Matosinhos e desde logo fiquei com ideia em ir. É verdade que fazer 80Km num sábado à noite, sozinho, pode ser um pouco dissuasor. Mas contra isso decidi logo comprar o bilhete on-line. Assim, já não me poderia arrepender mais tarde.

E lá fui ver "Nossa Senhora da Açoteia", encenada e interpretada por Luís Vicente, que cresci a ver e a rir-me quando fazia de Átila em Duarte e Companhia. 

"A ação decorre em meados dos anos 60 do século passado, numa aldeia do Algarve litoral, quando ainda eram pujantes a faina da pesca e a indústria da conserva de peixe, e os homens e mulheres viviam do mar e para o mar.

A peça revela-nos encadeadas sequências de condenações familiares diversas, umas evidentes, outras obscuras. São narradas por uma personagem do tempo dos nossos avós. Fala-se de um outro tempo, portanto; e também de uma outra memória".

"Ah o que eu queria era que a Nossa Senhora me aparecesse"!

Como facilmente se percebe eu não sou conhecedor de teatro. Mas sei dizer se gostei ou não. E a verdade é que gostei bastante. A peça alterna momentos trágicos e cómicos. E é bastante educativa. Revela bem como era a vida miserável em Portugal, nomeadamente no Algarve, na década de sessenta pouco depois de ter começado a guerra colonial. Miserável e ingrata, principalmente para as mulheres.


Cada vez mais, não sei se é de estar a ficar velho, chamam-me a atenção as peças de teatro do que os filmes, principalmente os da moda, amaricanados. Tentarei estar mais atento ao que se passa e às peças que passem por cá no grande Porto e tentar apoiar mais esta arte. A sala estava bem composta, mas maioritariamente eram mulheres e eu terei sido dos mais novos. 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

A Invenção Recente do Dia dos Namorados e o Namoro à Bicha!

 O dia de S. Valentim (ou dos namorados) começa a estar na moda. Mas deve ser importação, já que não encontrei, até agora referência de tradições portuguesas dedicadas à efeméride. Cheira a aquisição recente e consumística, estudada pelo marketing e estranha a hábitos e cheiros da terra do quinteiro. 


Não quer isto dizer que não haja, entre nós, tradições, usos e costumes de namoro e casamento. Basta lembrar o namoro à bicha, na romaria do Senhor de Matosinhos, onde o sinal de bom estatuto - ao menos da moça que atraía os pretendentes - era dado pela quantidade de namoros que viessem oferecer-se-lhe. Os pais, babados, ate diziam: "A minha filha tem tantos namorados!", contando-os e comparando-a com as vizinhas. Práticas, convenhamos, interessantíssimas, já que, evidentemente quem não apresentasse bons cabedais e sólidas propriedades poucas hipóteses teria de conquistar a amada. Por onde andariam paixões e arroubos nesta sociedade tão pragmática em matéria de casamento? Não sei responder-lhes. A maior (e única) subversão do costume era dada pelos estudantes que, disfarçados de pretendentes ricos, se infiltravam nas carreiras e iam prometer mundos e fundos, pondo as cabeças de raparigas e pais a fazerem contas à riqueza, antes de descobrirem a marosca. 

O casamento surge igualmente rodeado de crenças. Por exemplo: a aliança de ouro era usada há mais de 3000 anos nas cerimónias nupciais egípcias, sob a forma de ricos anéis decorados, mas o facto de se usar no dedo anelar esquerdo é romano. De tal dedo, uma veia dirigia-se diretamente ao coração (ideia poética para romanos, noutros aspetos tão sensaborões). 

Superstições existiam várias: marcar o enxoval com o monograma do nome do noivo dava azar, maior se a noiva visse o noivo, no dia do casamento, antes da cerimónia. Assim como pôr o véu, ainda que para simples prova. O sapato velho atado ao carro dos noivos é resquício de tempos em que a mulher se sujeitava ao poder masculino. O sapato, símbolo da autoridade paterna, significava a transferência desta para o noivo. Também noutras épocas havia o arroz ou milho em abundância. Atiravam-no aos noivos para lhes augurar que tivessem filhos. O arroz é símbolo oriental, significando possa a vossa despensa estar sempre bem provida. Agora à guisa de compensação atiram confetis ou papelinhos porque o arroz está caro. As fores de laranjeira - símbolo de pureza - têm origem árabe; de Israel provém a simbologia de lealdade e amor dada por uma peça de roupa de cor azul, usada pela noiva. 

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Não Tenho Medo da Estrada... O Vento Levar-nos-à

 "Não tenho medo da estrada... 

E tudo vai ficar bem lá

O vento levar-nos-à...



" Le Vent Nous Portera" - Noir Désir (2001)