segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Vejo-te, mas nunca és tu....

Isso não acontece só com as separações por via da morte, acontece também nos casos das separações amorosas. E apesar de racionalmente ser mesmo impossível ver tal pessoa, por ela estar bem longe num outro país, mas basta um vislumbre dos mesmo cabelos, das mesmas formas do corpo, dos mesmos óculos de sol que lhe tapavam metade da cara, que ao longe, o nosso cérebro logo nos engana e faz-nos acreditar que sim, que é mesmo aquela pessoa. E também aí se fica muito nervoso e o coração dispara. Depois aos poucos aproximamo-nos e comprovamos que não é quem queríamos que fosse.

Quanto ao seu pai… É curioso como até nisso nós não somos todos iguais, e não há nenhum ministério da igualdade ou lei que nos faça iguais, porque seremos sempre todos diferentes, todos mais ou menos especiais. Isso há-de ter uma qualquer explicação, talvez um dia a conheçamos. E eu continuo sem saber por que será que há pessoas que têm a capacidade, o dom, ou a maldição, e eu acredito mesmo que se trata de uma maldição, pois só pode ser uma maldição muito grande, ver quem já morreu. Tal como só pode ser uma maldição ter informação privilegiada sobre tudo e sobre todas as pessoas, mesmo de pessoas de quem nunca se viu, só dos outros nos falarem delas em conversa. Tão grande maldição que é preciso ter acompanhamento para não se dar em maluco…





Talvez um dia a Carla volte a ver o seu pai. Talvez eu mesmo volte a estar com o meu pai que não vejo há mais de vinte anos. Mas isso ainda podia esperar mais uns dias. Por agora contentava-me só em ter o abraço da mulher que amo, que perdi, e que vejo por aí de vez em quando. Nunca é ela, porque não poderia ser, mas como eu tanto queria que fosse…


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Este pequeno texto foi um comentário meu a uma crónica de uma senhora que escreve (e como escreve bem) num blogue que visito frequentemente, e onde maioritariamente se fala sobre política mas não só. Eu vou comentando com as minhas alarvidades, umas vezes mais, outras menos, mas cada vez mais nos poucos textos que fogem ao tema da política.

No texto, a autora fala do seu pai, que já partiu (e eu ainda me lembro de ler textos em que ela falava dele ainda vivo)  e de como agora, por vezes, acontece achar que o está a ver. O coração dispara, o corpo fica a tremer, mas depois constata que era uma mera ilusão, era simplesmente uma pessoa parecida e o seu desejo de o poder voltar a reencontrar.

"Não foi a primeira vez que isto me aconteceu. O coração e, logo a seguir, as pernas, às vezes também as mãos, foram sempre enganados. Pessoas sensatas explicaram-me que é normal, coisa que eu nunca duvidei ser. Os olhos procuram similitudes com padrões conhecidos. Os olhos procuram, respondo, o que o coração deseja ver. E o coração, que é sempre o pobre tolo, tem de aprender, uma e outra vez, a perder."


E também eu já fiquei com o coração a disparar e o corpo a tremer perante a possibilidade de me estar a cruzar com alguém que me é muito importante. Eu fui escrevendo, apaguei umas partes, acabei por deixar outras ali que não fazem nenhum sentido, estive quase (como muitas vezes acontece) a apagar tudo, mas acabei mesmo por submeter um comentário que acabou por se revelar demasiado sentido e demasiado pessoal. Demasiado íntimo e demasiado revelador. Mas para que as palavras desse comentário não se percam por aí, agora vão ficar aqui também.

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