sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Preconceitos: O sexo e o envelhecimento

Por estes dias alguém me dizia como ficara quase emocionada quando viu um casal de velhos de mão dada. "Já não há sexo, mas o amor manteve-se até que a morte os separe". Ao que eu manifestei a minha opinião contrária. "Mas quem te diz que já não há sexo"? Sabes lá! Isso é um preconceito muito comum, parece que o sexo é coisa exclusiva dos jovens. Faz-me até lembrar a decisão de um juiz, que apoiado nos seus preconceitos, vinte anos depois, reduziu a indemnização a uma mulher, com a desculpa de que, "depois dos cinquenta anos, o sexo já não é importante". O meu "mestre" mostra-nos que isso não passa mesmo de puro preconceito:

Há dias fui abordado por gente simpática que tenciona introduzir o tema da Sexologia num portal da Internet. Pediram a minha opinião sobre os conteúdos propostos. "Acrescentaria mais alguma coisa"?, perguntam. Respondi  que não vira nada sobre sexualidade e envelhecimento. Deram uma vista de olhos ao índice e concordaram, surpreendidos. Um pôs hipótese que reputo de verdadeira: "no fundo estamos sempre a pensar nos utilizadores mais jovens". E ainda bem!, eles precisam de boa informação e espaços de conversa, lixo já existe de sobra. Mas o esquecimento é natural, vivemos em mundo obcecado pelos números que habitam o bilhete de identidade das pessoas; não ser jovem - ao menos de espírito! - começa a estar perigosamente fora de moda. No dia seguinte um certo mail desaguou no meu computador. Uma organização sem fins lucrativos - é bom salientar estes factos! -afirmava ter um projeto para familiarizar os idosos com a Net. Imaginem para que área desejavam a minha ajuda?

Comecemos pelas palavras. Não gosto muito das expressões que nós, os especialistas, vimos divulgando. "Terceira idade", "Segunda metade da vida", "Idosos", quem traça os limites? Até eu já me encontro baralhado. Que estou na segunda metade da vida não tenho dúvidas, mas já vivi as duas primeiras idades? Idoso é um sinónimo caritativo de velho? Mas porquê? a palavra não traduziu sempre um estatuto honroso no passado? Prefiro não esquartejar o nosso caminho e manter pedaços de vida em gavetas fictícias, muitos de vocês já descobriram que alma e articulações não envelhecem de mãos dadas. E não utilizei este verbo por acaso,tudo se torna mais simples se nos pensarmos envelhecendo e não velhos súbitos a partir de um cerro lusco-fusco.

A vida é uma caminhada e, a menos que existam problemas de saúde física ou psicológica, a sexualidade mantém-se fiel até ao fim, está-nos em sangue e sonhos.

Passemos ao título da crónica. Amantes. Triste sociedade esta que, de todos os significados presentes no dicionário, em geral apenas recorda o de "pessoa que mantém relações ilícitas com pessoa de outro sexo". Ignorando outras que recordam paixões e namoros, dir-se-ia que aceitamos, resignados, que palavra orgulhosa de Abelardo e Heloísa, Romeu e Julieta ou Cyrano e Roxanne se veja exilada para o reino do mexerico, " sabes com quem anda fulano"? Para não falar do "outro sexo", até o ilícito é negado aos homossexuais!
Imagino leitor impaciente: "está bem, homem leve a taça! Mas chamar-lhes clandestinos? Isso não é conversa do tempo  da outra senhora"? Há clandestinidades que não dependem da existência de polícias políticas, o silêncio ou o escárnio chegam. Já repararam que ninguém se escandaliza com uma eventual repressão da sexualidade dos mais velhos?
E no entanto... Quando projeto um diapositivo com dois a beijarem-se, escuto risos abafados pelo anfiteatro. Se paro e indago a razão, um dos meus meninos arranja coragem para dizer: " Ó Dr,, acha natural com aquela idade? Por acaso acho, mas o mais grave é que os próprios interessado absorvem a mensagem. Ainda há pouco alguém me dizia que iniciara uma relação e hesitava na palavra para a definir. E eu arrisquei: "não será um namoro"? Resposta clássica: "Se eu tivesse menos trinta anos seria, agora..."
Não há maior clandestinidade do que a auto-imposta. Envergonhados, vivemos os afetos escondidos de nós próprios. Amargos, consideramos que chegou o tempo da reforma e saudade. Quando a palavra paixão nos aguilhoa, enviamo-la para o exílio ternurento dos filhos e netos à volta do almoço de domingo. E contudo, nada obriga a que nos sentemos à mesa com o erotismo perdido nas brumas da memória.

Regressemos à relação entre sexo e envelhecimento. Antes de mais, para referir que o aconselhamento sexual nesta área é cada vez mais procurado. Seguramente porque as populações envelhecem, as estatísticas e as dores de cabeça governamentais não mentem. Mas também porque alguns mitos se resignam a ser apenas isso - mitos.
Tomemos o exemplo de um inquérito levado a cabo pelo Conselho Nacional Americano para o Envelhecimento. Das mil pessoas de ambos os sexos entrevistadas, todas com mais de cinquenta anos, 60% estavam satisfeitas com as suas vidas sexuais. Cerca de 61% diziam ser o sexo tão bom ou melhor que na juventude e 70% tinham relações sexuais pelo menos uma vez por semana. Não menos elucidativo, das que afirmavam ser o sexo raro ou inexistente, 34% responsabilizavam pelo facto, doenças variadas, a perda do parceiro ou efeitos colaterais das medicações. As queixas sexuais referidas eram semelhantes às dos mais novos, embora a frequência de coito e masturbação fosse menor. Os indivíduos para quem a atividade erótica fora satisfatória no passado continuavam a destacar-lhe a importância, demonstrando como é falso o mito segundo o qual existiria o risco de nos "gastarmos sexualmente" enquanto jovens e depois, velhos falidos servimos apenas para mimar netos, vencer campeonatos de sueca ou tricotar junto à lareira.

Mas se os mais velhos partilham interesses com os jovens, o mesmo se verifica, infelizmente com as angústias. As alterações da função sexual, relacionadas com o envelhecimento são-lhes desconhecidas e por isso mais assustadoras, não são apenas os adolescentes a precisarem de - pelo menos! - informação de boa qualidade. E imaginem (os que por lá não passaram) a angústia de quem fica sozinho e não acredita poder ainda despertar o desejo que fala através de um olhar maroto ou do convite hesitante para jantar. Há gente que sufoca sob uma solidão sofrida e não escolhida, simplesmente porque o espelho confirma os seus receios, "credo!, quem me pode achar piada"? Os adolescentes dizem o mesmo, a insegurança não tem idade.

Excertos de Amantes Clandestinos I e II de Júlio Machado Vaz

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Brasileiras, uma ciência que desconheço

Como dizia a outra, não vou negar à partida uma ciência que desconheço, mas há coisas que me deixam a refletir.

Vamos imaginar que um grupo de homens, todos casados, que têm de se deslocar por uns mesitos ao Brasil, a fim de por lá fazerem uns trabalhos para a empresa onde trabalham em Portugal. E vamos imaginar que chegam e os seus casamentos foram todos para o espaço.

Afinal - O que é que as brasileiras têm a mais que as outras?

Por esta altura os meus seguidores imaginários já me estão a responder "Ah porque as brasileiras são jeitosas, e bonitas"... Sim, mas sem querer defender o produto nacional, felizmente que também há muita portuguesa jeitosa e bonita.
Outros dir-me-ão que é do calor, da pouca roupa e dos bikinis.... Certo, mas no verão português também faz muito calor, e as praias também estão cheias de mulheres semi-nuas! E relembro que os senhores foram - supostamente - trabalhar, e não apanhar sol sol e ver bundas na praia!
Ah, então, estão outros a pensar,  é do sexo, as brasileiras devem ser umas grandes malucas! Mas vamos lá ver uma coisa. Eu quando conheço uma mulher, só de olhar para ela, não faço a mais pequena ideia se ela é "uma grande maluca na cama" ou se pelo contrário é um verdadeiro tédio! 
Ou seja, ninguém se interessa por uma mulher só de olhar para ela e achar que é uma grande trancada, porque para saber mesmo, ter de partir para as vias de facto! E estamos a falar de senhores casados, homens de respeito, com contrato de fidelização com a mulher e tudo. Contrato esse que é supostamente para toda a vida!
E ainda a propósito do sexo com brasileiras, relembro uma reportagem na RTP sobre putas, em que referiram que muitos clientes já estavam a dispensar as brasileiras, porque segundo eles, elas eram "muito despachadas"!

Agora, que há aí um fenómeno qualquer, mais ao menos ao nível do Triângulo das Bermudas, isso é por demais evidente. Afinal os homens vão para o Brasil, e de imediato os casamentos desaparecem, para todo o sempre!

Obviamente eu não estou em condições de avançar hipóteses para o fenómeno. Talvez só quando eu mesmo for para o Brasil, me misture junto das nativas, para fazer um estudo verdeiramente aprofundado para retirar as verdadeiras conclusões e publicar aqui! 

Até lá, tenho para mim, que os homens portugueses não perdem a cabeça pelas brasileiras, só por estas serem boas. Tenho para mim que será por serem boas mas principalmente fáceis. 

domingo, 4 de janeiro de 2015

Onde vais assim vestida?

Tenho para mim que, sempre pensaram que eu não sou ciumento, porque nunca impliquei, ou mandei, e a palavra certa é essa - mandar - nenhuma namorada minha trocar de roupa, porque "não sais assim vestida comigo para a rua".

E eu até pensava, se calhar ingenuamente, fruto da não muita convivência social, que esses comportamentos medievais estariam foram de moda, ou então remetidos a pequenos guetos machistas, como na aldeia onde vivo. Mas afinal não! Ainda por estes dias me dizia uma senhora, que não, que na verdade esse tipo de comportamento está bem vivo e de boa saúde! 

Mas vamos lá ver uma coisa, alguém me explica por favor, como se eu fosse muito burro, o que é que tem a ver o ciúme com a forma que a namorada se veste? Outra questão para os homens: e elas, não podem também elas mandar-vos trocar de roupa? 
Isto já me faz lembrar aquela história do meu amigo que, se a namorada quiser trazer uma amiga para se juntar à festa, que venha que é muito bem recebida, mas quando eu pergunto, e então se ela quiser trazer um amigo? Aí nem pensar! Afinal a democracia e o "ciúme" não é para ambos, funciona só para um dos lados! Afinal só os homens podem ter "ciúme"!

"Ciúme" é a desculpa que os homens broncos dão, por forma a exercer o poder e o controlo sobre as mulheres. Mas tão idiota é o homem que não deixa a mulher andar com esterno à vista (aquele osso baixo do pescoço!) como mais burra ainda é a mulher que se submete aos desmandos de um qualquer homem idiota. 

É cedendo nestes, aparentemente pequenos detalhes, e iludindo-se elas que "ele manda-me mudar de roupa porque gosta muito de mim", que estão a dar espaço, para que, futuramente, surjam outros tipos de controle. 

Uma mulher não é agredida pelo companheiro assim do nada. A relação não era perfeita, e simplesmente de um dia para o outro, o homem passa-se e dá-lhe um arraial de porrada. Não, tanto homem como mulher, (porque a violência doméstica não tem sexo) que gostam de exercer controle, vão-no fazendo porque o outro vai dando espaço, e o cerco vai-se apertando, até que um dia as coisas passam da pressão psicológica à agressão física. 

Do "ai gosto tanto dele que ele é tão ciumento" um dia pode eventualmente chegar ao "Onde vais minha puta assim toda arranjada?" Mas o que eu acho mais curioso, é que este tipo de homem, e ao que parece ainda é um espécime muito comum da nossa sociedade, este homem interessa-se por estas putas antes de começar a namorar com elas! Sentem-se atraídos por elas, mas depois de começarem a namorar com a "puta", e porque já se julgam dono dela, querem à força toda que elas saiam todos os dias de burka vestida.

Mas eu volto a sublinhar. O único culpado desta situação, não são os homens medievais e bons católicos portugueses, e que inveja que devem ter dos muçulmanos que têm as suas mulheres vestidas de burka! A culpa é única e exclusivamente da mulher que em pleno século vinte e um, acha que estes comportamentos são manifestações de "afeto". 

O ciúme é uma coisa real, e ocorre nos mais variados cenários, até entre amigos, no local de trabalho, pode até estar relacionado com a inveja e principalmente com a desconfiança ou o amor-próprio, mas nada tem a ver com a roupa que as mulheres vestem.

Eu felizmente que sou um tipo de homem muito diferente destes machistas ridículos. 

Existem dos tipos de homens. O que arregala logo os olhos se a mulher está com um centímetro do rego das mamas à vista, ou então com um centímetro a menos no comprimento da saia. Mas depois existe um segundo tipo de homens. Aqueles que gostam de estar bem acompanhados. Que não se importam que todos os homens quase partam o pescoço a olhar para a beleza que os acompanha. 
"É linda não é? Mas está comigo!" E eu sou deste segundo tipo de homem. 

Ciúme? Isso é um assunto que nada tem a ver com o excesso de pele à vista, até porque todos nós nascemos sem roupa não é?