domingo, 31 de janeiro de 2021

A Igreja Sempre do Lado do Capitalismo e Contra os Oprimidos



"A religião é o que impede os pobres de matar os ricos" (Napoleão)
"Os magnatas gostavam de se definir pela sua confissão religiosa (...) No conjunto, os magnatas ligavam-se às Igrejas presbiteriana, congregacionista e episcopal. No entanto, nos anos 1900, metade dos 75 multimilionários de Nova Iorque pertenciam à Igreja Episcopal. É que o ritual desta Igreja correspondia muito mais ao sentimento de dignidade e de grandiosidade de que os magnatas estavam impregnados. O caráter espetacular dos serviços episcopais, o sentido muito fortemente marcado pela hierarquia - tudo isso constituía, para os magnatas, o símbolo por excelência das suas aspirações e do seu poder. A este respeito, os exemplos de Henry Clay Frick e de John Pierpont Morgan são reveladores. Morgan, que cultivou sempre o estilo aristocrático, manifestou um grande zelo em favor da Igreja episcopal da qual se tornou um dos pilares laicos. Fez dotes generosos à Igreja Saint-George e deu 500 000 dóllars para a construção de Saint John Divine. O seu gosto pelo cerimonial e pela grandiosidade parece ter encontrado satisfações nas práticas do culto. "A Igreja não era para ele nem um símbolo de piedade, nem um símbolo de moralidade, mas o atributo da aristocracia. Neste sentido ele encarna perfeitamente o tipo do businessman da classe dominante tal como é descrito por Veblen: "Os fieis desta classe têm tendência para filiar-se nos cultos que ligam uma importância relativamente maior ao cerimonial e aos acessórios espetaculares".

Assim, as igrejas, prosperando graças aos donativos generosos dos Vanderbilt, dos Rockefeller, dos Morgan, etc, foram as auxiliares preciosas dos magnatas. Elas difundiram o evangelho da riqueza, concedendo uma sanção divina às empresas dos grandes homens de negócios e encorajando as massas à resignação. Os pastores nunca deixavam passar uma ocasião de citar os magnatas em exemplo, e de estigmatizar a ação dos que se insurgiam contra a ordem social, em particular os chefes sindicalistas. Os generosos doadores que permitiam às Igrejas beneficiar da sua filantropia sabiam o que faziam. Mas poucos eram tão francos como James Hill. Quando lhe perguntaram porque é que ele, protestante, tinha dado 500 000 dóllars à Igreja Católica para fundar um seminário de teologia em Saint Paul, Minesota, respondeu: "Olhai para estes milhões de estrangeiros chegando em massa a este país, para os quais a Igreja católica romana representa a única autoridade que eles temem ou respeitam; quais serão as suas ideias sociais, a sua acção política, o seu estatuto moral, se esta única força de controle fosse suprimida? "As igrejas - sobretudo as Igrejas poderosas de Chicago e de Nova Iorque - viviam quase da generosidade dos magnatas. Elas eram consideradas por eles como instituições necessárias à manutenção da ordem. E a Igrejas foram militantes, mas a favor do capitalismo e contra os oprimidos. Qualquer que fosse a sua "denominação", elas inculcavam uma verdade fundamental às massas: a submissão.

"O Capitalismo Selvagem nos Estados Unidos" (pág 250) / Marianne Debouzy (1972)

O Flagelo de que Ninguém Fala


 Há um terrível flagelo a acontecer um pouco por todo o lado e que não está a ter a devida atenção. Muito pior que abandonar os animais de estimação, e ainda pior que o abandono dos velhos, é o abandono das piscinas desmontáveis e insufláveis.

Por altura dos reis, o pessoal que liga a essas coisas, começa a desmontar a árvore de Natal. Em boa verdade, eu nem sei porquê esse trabalho todo, se, afinal, se diz que o Natal é todos os dias e ao menos mantendo a árvore montada, cheia de luzinhas e tudo, talvez lembrasse as pessoas que podem ser hipócritas e fingir que são amigas dos outros o resto do ano. Mas, já no que se refere às piscinas não é bem assim, mas já lá vamos.

Antes de mais a compra das ditas piscinas. Se nós temos o privilégio de viver junto ao rio, com praias fluviais, até com piscinas municiais aqui na freguesia, e com o mar a vinte minutos de carro, a pergunta que faço é: há realmente necessidade de comprar um atranquilho do imenso tamanho que é uma piscina de superfície? 

Ah, mas tu não gostavas de ter uma bela casa com piscina?

Eu estava-me a referir ao comum dos mortais portugueses, que é a maioria, e que tem salários baixos, não me estava a referir às pessoas carenciadas com casas de um milhão de euros que se mostraram muito indignadas quando tiveram que pagar um imposto por elas. Porque com certeza que se eu tivesse o salário do Mexia que parece que ainda trabalha na Eletricidade da China, pois certamente que, por exemplo, não tinha que fazer as contas ao balúrdio que iria gastar só para encher a dita piscina!

Porque é o que me parece. As pessoas compram por impulso e não fazem bem as contas ao gasto. Quer-se uma piscina, e então compra-se e está feito! Depois de instalada é que se apercebem que têm que se encher com água, porque só com ar não dá muito jeito. É depois, é pá, mas aqui em Gondomar a água é cara comó caralho! Olha, não tinha pensado nisso! Deixa lá, enchemos só metade e já fica muito bem assim! 

Eu observo os vizinhos. Compram as ditas piscinas e, se durante o verão passado a usaram cinco vezes foi muito. O miúdo, coitado, para lá ia chafurdar mas depois saía todo embrulhado na toalha com frio. Lembro-me muito bem do calor do verão passado, porque saiu-me da carteira. Gastei 70€ para carregar o ar condicionado, e quantas vezes é que tive mesmo que o usar porque estava um calor estúpido, que não se aguentava mesmo com as janelas do carro abertas? Três ou quatro vezes, se tanto!

Gasta-se dinheiro num imenso atranquilho que ali fica a estorvar. Tem-se o grande gasto a enchê-la com água da torneira e depois? Pois bem, era aqui que queria chegar. Depois de usada meia dúzia de vezes, pois ali fica, abandonada, a ganhar algas e porcaria, porque depois dá muito trabalho desmontar e as pessoas cansam-se só de pensar que no trabalho que isso vai dar! Até o senhor nazi, sempre muito simpático comigo, e que, por estes dias, no último telefonema até me disse que sou uma pessoa culta, com quem se pode conversar, até ele já me quis oferecer a sua piscina insuflável, que tinha no terraço do último piso onde vive no seu prédio! (Sempre que se quer desfazer de alguma coisa lembra-se de mim!)

Eu deixo aqui um sentido apelo. Se querem mesmo comprar uma piscina tratem-na bem. Não as abandonem como a todas as bugigangas que compram Tv Shop e depois as deixam encostadas. As piscinas também têm sentimentos! E depois ainda por cima são de plástico e vocês sabem bem do grave problema que temos com o plástico, não sabem? Então pronto.

O Tónhónhó Propaga o Vírus

 


A minha mãe chega com o saco do pão indignada:
- "Sabes que multaram o padeiro por ele buzinar"?
De imediato eu disse que o código da estrada não permite buzinadelas, só em caso de perigo, ou antes duma curva perigosa, e que até a malta dos casamentos que se põe a buzinar pode ser toda multada... 
Mas afinal a questão não tinha que ver com o código da estrada, mas sim com o confinamento e a pandemia!

O que o senhor tinha acabado de dizer à minha mãe foi que, foi multado em 60€ pela GNR com a alegação que, ao buzinar está a chamar pessoas que se vão juntar. Tem que tocar na campainha das casas uma a uma. O senhor entretanto ligou ao patrão a reportar a situação, se pagava ou não, mas se não pagasse ficava sem carta.

A minha mãe colocou de imediato uma questão pertinente:
- "Será que também multaram a Igreja por tocar o sino para juntar as pessoas nos funerais e para a missa?

A mim parece-me uma alegação absurda. A polícia, ou a guarda neste caso, deve sim multar se vir ajuntamentos que não cumpram a lei, não deve multar só porque o padeiro sinaliza a sua chegada pelas ruas da aldeia com uma buzinadela e sem que haja ajuntamentos. E assim sempre foi, até nas cidades com a gaita do amolador, e aqui na aldeia com o peixeiro, a carrinha da fruta, o padeiro ou até o tónhónhó da carrinha da Family Frost.

Se entretanto estes profissionais não podem emitir sinais sonoros, pois então que não digam que é por causa da pandemia, porque isso é só parvo. Mas então que também levem isso à letra e que seja para todos: que vão para os casamentos multar em 60€ cada convidado que se põe a buzinar, que vão para o Túnel da Ribeira no Porto multar todos os idiotas que decidem buzinar lá dentro. Se é proibido buzinar por causa do confinamento, então que multem também, por exemplo, as empresas que têm toques de entrada e saída, e que multem as igrejas que tocam o sino para os funerais e para as missas. Que haja coerência, ainda que neste caso me pareça que tenha sido falta de sensibilidade.

Nota: Em Portugal a Family Frost entrou em insolvência em 2012

Conversas Improváveis (58) - Dar Sangue



A minha mãe vem ter comigo ao quarto, depois de ter visto qualquer  coisa no Telejornal, e pergunta-me muito intrigada:
- Então agora os homossexuais não podem dar sangue? 
Respondo que, infelizmente, esse absurdo não é de agora e se colocam por vezes entraves não sei bem porquê.
Pergunta imediata, e extremamente pertinente da minha mãe:
 - Mas porquê? Eles têm medo que quem leve o sangue fique paneleiro?

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

O Que é Que Isso Interessa? Nada


Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpor o limiar da porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro por descobrir"
Eu disse "..."
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"

"Tu disseste" / Mão Morta (2001)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Then We Take Berlim


Nestas presidenciais de 2021, a sensatez mental dos 40% de portugueses que votaram está situada na Alemanha, mais concretamente em Berlim. 


domingo, 24 de janeiro de 2021

Por Todo o Mundo Falam de Portugal Por Causa da Pandemia mas Mostram a Fotografia Deste Café?


Ontem passava os olhos por notícias no estrangeiro até para perceber o que se dizia de Portugal e deparamo-me com esta fotografia. Olhei melhor e pensei "Espera lá, mas isto não é um Hospital! Isto é a montra de um café"! Num hospital não há montras com lanches e croissants! 

Agora com certeza que os diferentes sites de informação não se lembraram todos de pegar nesta imagem do nada. Esta foto é da Associated Press, uma agência de notícias independente, que lança as notícias e depois muitos outros pontos de informação vão lá bebê-las. 

Movido pela curiosidade decidi tentar investigar e com recurso ao Google Maps consegui mesmo chegar à identificação! Isto é na rua Silva Carvalho em Lisboa, e está sinalizado com sendo um edifício da Sociedade Filarmónica Aluno de Apolo. 

Alguém precisa de um detetive?

sábado, 23 de janeiro de 2021

A Pandemia por um Especialista em Senso Comum


"A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões é estatística"

Neste dia em que estou a escrever, Portugal tornou-se no pior país do mundo da pandemia. Em nenhum outro sítio do mundo se morre tanto como em Portugal. E de março até agora, quem por aqui passa mais frequentemente sabe que eu nunca escrevi aqui no blogue sobre a pandemia no que se refere à análise da situação. Bem sei que o que não falta agora são especialistas ou treinadores de bancada do coronavírus e da COVID-19. Gente que mais parece que fez um doutoramento em epidemiologia ou saúde pública, mas não é o meu caso.

Agora há pessoas que sabem tudo sobre os testes, como funcionam, se são fiáveis ou não e as percentagens de erro; pessoas que até nunca meteram os pés dentro de um hospital público mas sabem de tudo que se passa lá dentro, e até são capazes de discutir comigo, porque acham que sabem melhor do que eu, que há trinta anos frequento hospitais público. Pessoas que sabem que não faz sentido fechar as escolas e outras pessoas que sabem muito o porquê da aberração que é deixá-las abertas. Pessoas que sabem tudo sobre as vacinas, quais as marcas, as percentagens da eficácia de cada; enquanto outras pessoas sabem que tudo isto não passa de um plano para nos injetar um chip para nos tornar em zombies e controlar o mundo, criando uma nova ordem mundial liderada pelo Bill Gates.

Eu não sou médico, não sou político, não sou especialista de coisa alguma. Sou um cidadão comum, que tem que cumprir as regras que mandam. Contudo tenho opinião e tenho mantido a mesma desde o início da pandemia: se quisermos, estamos sempre a quinze dias de acabar com a pandemia. Eu informo-me o suficiente, consumo a informação que considero suficiente, sem excessos, muito menos sem televisão, no entanto vejo as coisas de modo empírico, com aquilo que o senso comum me dotou.

E eu sei que lidar com uma pandemia não é uma coisa nada fácil. Por cá nunca ninguém lidou, apesar dos historiadores saberem o que se passou há cem anos. E é sempre mais fácil estar na posição de esperar para depois criticar. Mas nessa tarefa eu também me sinto muito confortável porque desde a primeira hora elogiei e disse que, se calhar, tivemos o governo mais competente no momento em que mais precisávamos. E elogiei a forma rápida como confinamos porque evitou todos aqueles milhares de mortos que, infelizmente, se verificaram nos países aqui ao lado e, nem quero imaginar se ainda estivéssemos a ser governados por Passos e Portas. Não quero mesmo imaginar. 

Mas o tempo foi passando e a pandemia para nós tornou-se naquela espécie de gripe mal curada, que nunca desaparece. Passamos o verão com mais casos que a média europeia e fomos até excluídos do corredor aéreo do Reino Unido. 

Acabamos também por perceber aquilo que o senso comum nos dizia, e dizia-me pelo menos a mim, que no verão as coisas melhorariam, até porque no verão também quase não há gripe. E assim foi. Apesar de tudo ter reaberto em Junho, com centros comerciais, teatros e cinemas, mas verdade é os números andaram sempre abaixo dos 400 novos casos diários, mas não esquecer que as escolas e universidades também estavam fechadas.

E até que as escolas e as universidades reabriram a meio de setembro e a verdade é que foi a partir daí que os números começaram a disparar. No início de outubro os novos casos tinham já subido para 750 e, no fim do mês eram 3500 novos casos. Apontava-se na altura que tinham sido as festas universitárias e festas familiares as responsáveis pelo disparar de novos casos. 

E foi por esta altura, em meados de Outubro, que resolvi encerrar temporariamente com os treinos de ténis-de-mesa. Ninguém me disse que tinha de confinar obrigatoriamente, ninguém me proibiu nem me senti coartado na minha liberdade individual. Não, fui eu mesmo que decidi fazê-lo, voluntariamente, quer para me proteger, quer para proteger os meus pais que têm setenta anos. Chama-se a isto "senso comum", não é?


Em meados de outubro morriam cerca de 11 pessoas por dia em Portugal de COVID-19. Os casos disparavam e o primeiro-ministro achava que a salvação disto tudo - mesmo indo contra as indicações da Organização Mundial de Saúde - era que uma aplicação no telemóvel que ia resolver o problema, e meteu mesmo na cabeça que ia obrigar a polícia a pegar nos telemóveis das pessoas e multar quem não tivesse a aplicação instalada no telemóvel. Felizmente que a proposta (ridícula) foi chumbada no parlamento. 


Mas, curiosamente, dias antes, Rui Rio, líder da oposição, queixava-se no Twitter, mostrando a sua ignorância sobre o funcionamento da aplicação. E se o líder da oposição, economista e que até fala alemão e tudo, não sabe como funciona uma aplicação, será que a maioria dos portugueses iria saber? Não me parece.

Os números foram escalando por toda a Europa e, enquanto por cá discutíamos uma APP e a constitucionalidade da lei, nos outros países tomaram-se medidas a sério. Deixo só um exemplo de um país que tem mais ou menos o mesmo número de habitantes que nós: a Bélgica. A Bélgica confinou com medidas a sério em Outubro, quando estava com oito mil novos casos por dia. A Bélgica teve o número máximo de novos casos em 31 de Outubro e os resultados estão à vista: hoje tem cinco vezes menos mortos que Portugal. 

Entretanto chegamos à festa americana do Dia de Ação de Graças que nos dias seguintes resultou num escalar absurdo de novos infetados e milhares de mortos e, mesmo não percebendo um cu de saúde pública, mas já antevendo o que iria acontecer no final do ano se deixássemos as pessoas todas à solta, escrevi no Twitter, quando já tínhamos um recorde de 70 mortos por dia:



Entretanto chegamos ao Dia de Todos os Santos e Dia de Finados, 1 e 2 de Novembro e o governo decidiu proibir as viagens e os cemitérios tiveram regras apertadas. Os Estados de emergência sucederam-se e os partidos da oposição começaram-se a manifestar contra! Ou seja, eu criticava o governo por deixar toda a gente à solta, e olhava para a oposição e via todos os partidos, da esquerda à extrema-direita a maniffestar-se contra regras mais apertadas! Se os partidos de esquerda quase só falavam no reforço de meios para o SNS, já os partidos de direita, sempre ao lado do patronato, mostraram-se sempre contra os confinamentos, não percebendo esta coisa simples: enquanto não debelarmos a pandemia e a confiança não for recuperada, a economia não se levanta. 

Entretanto as coisas começaram a piorar e, aqueles que gritavam contra os confinamentos, gritam agora que a culpa dos mortos é do governo! Já tardava a demagogia da direita. O candidato neoliberal às presidenciais, Tiago Mayen (o tal que trabalha no ISMAI mas declarou que ganha menos do que o calceteiro Vitorino Silva) que sempre se mostrou contra confinamentos, teve mesmo a lata de afirmar que a culpa dos mostos é da ministra Marta Temido! 

Eu acho que não era preciso ser-se médico ou comentador-tudólogo, para perceber o que iria acontecer no Natal e passagem de ano. Se elogiei o governo no início da pandemia pelas rápidas medidas de ataque ao vírus, agora não posso deixar de criticar este deixa andar e decretar sucessivos Estados de Emergência com medidas que mais parece que são para chatear as pessoas, tal como criticar a oposição que não exigiu medidas para conter o vírus e proteger as pessoas. Se é para atacar o vírus, então que se feche, mas que se feche tudo de uma vez, que se fecham as fronteiras e que nenhum avião levante ou aterre. Que se esmaguem os números de novos infetados e que se pare com esta mortandade. Se estamos a pensar na economia, pois então esperem por um 2021 exatamente igual a 2020 e ainda teremos muito que penar  nesta pandemia. Ainda assim, independentemente do que os governos decidam, nós temos sempre uma grande vantagem: é protegermo-nos e evitar contactos desnecessários. Protejam-se, que isto não está fácil. 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Eleitor do PS: Temos que Falar



Hei, tu aí! Sim, tu aí que votas sempre no Partido Socialista, chega aqui num instantinho.  

Que é que se passa?

Passa-se que ouvi dizer que tu e a maioria dos teus camaradas vai votar no Marcelo. Isso é verdade? 

- Ah, sim, é verdade. Porquê? Queres-me agora tu dizer-me em quem é que eu devo votar?

Não, eu não te quero dizer em deves votar, quero-te é pôr a pensar. Se preferires quero-te dizer em quem, se calhar, não deverias votar, para mal dos próprios interesses do teu partido. Mas diz-me lá, queres votar no Marcelo afinal porquê?

Oh pá, porque é o candidato preferido do António Costa, o nosso grande líder. E olha que o Costa é o político com os olhos mais abertos que anda por aí...

Sim, nesse ponto tens razão. O Costa quer que o Marcelo continue. Aliás, já o tínhamos percebido há cinco anos, quando o Marcelo (que foi professor de Costa na universidade) se candidatou pela primeira vez. O António Costa não queria nem a Maria de Belém nem o Nóbrega, queria sim o Marcelo do PSD/CDS, o que não deixa de ser muito curioso. Tu não achas estranho que o Partido Socialista, um dos maiores partidos portugueses abdique de apoiar um seu candidato natural, uma pessoa com um passado histórico e impoluto como a Ana Gomes para apoiar o candidato da direita?

Se calhar é... 

E digo-te já, que foi graças a essas trapalhadas do PS, guerras internas e más escolhas, que acabamos por levar com o Cavaco dez anos e vamos agora ter de levar com o ex-comentador mais dez. Antes o Presidente da República era sempre uma figura do PS (Mário Soares, Jorge Sampaio) e com alguma simpatia das pessoas de esquerda, agora vamos completar vinte anos com presidentes de direita.
Sim, mas o Marcelo até nem tem estado muito mal...

Depende do que tu consideras mal. Se comparares com o Cavaco Silva, qualquer outro presidente da república é excelente! Mas então porque não votas tu na candidata do teu partido?

Oh pá, porque se calhar o Marcelo é o que vai complicar menos a vida ao governo. Menos até do que a Ana Gomes que faz muito barulho.

Muito bem, é um argumento. Mas eu relembro-te que a direita saída das legislativas foi um ninho de gatos, quer com as guerras internas do PSD tentando atingir Rio, quer com a implosão do CDS com a saída de Cristas em 2019. Competia ao Marcelo, que já tinha herdado a coligação de esquerda, gerir as coisas e a verdade é que o Governo do Costa foi um sucesso que se calhar ninguém estava à espera.
Mas achas mesmo que a Ana Gomes, socialista, se identifica menos com as ideias do teu próprio partido do que o Marcelo, candidato natural apoiado por PSD e CDS?

Não, mas... Ela vem com aqueles discursos exaltados da corrupção...

Mas tu defendes a corrupção?

Não mas...

Mas o quê? Tens uma candidata do PS a concorrer e vais votar no candidato da direita? Tu já pensaste na merda que vais fazer?

Mas porquê? Até agora correu bem, ou não?

Ainda perguntas porquê? O Marcelo deu posse a um governo de uma aliança com a extrema-direita nos Açores! Já viste o que aconteceu por lá depois do Rui Rio se coligar com os fascistas? Tu achas isso bem?

Não. Aquela malta do Chega é tudo uma cambada de grandes fascistas, são uns filhos da puta da pior espécie, que só mentem, apoiados por grandes empresários, corruptos, e apoiados pelas igrejas evangélicas e do reino de Deus, mais ou menos como o Trump e o Bolsonaro. Aquilo é gente que não interessa nem ao Diabo. Eu vi a reportagem do Pedro Coelho na SIC e fiquei abismado com aquela máfia..

Ainda por cima sabes o que aquela corja é! E tu ouviste o que o Marcelo disse sobre esse partido ilegal que se formou com assinaturas falsas que está inclusive a ser investigado pelo Ministério Público? Disse que não impediria uma coligação de direita com esses nazis!

Pois...

Então, meu caro eleitor do PS, pensa comigo. O governo do António Costa já vai com mais de cinco anos. Começou com uma coligação no papel, porque o Cavaco assim o quis, mas houve em 2019 novas eleições legislativas e saiu reforçado (ao contrário dos partidos de esquerda que perderam votos) mas já não quis aliança escrita nenhuma. Mas entretanto já viste a dificuldade que houve para fazer passar o Orçamento do Estado. E tu achas que o PS estará no governo durante mais quanto tempo?

Para já continuamos destacados nas sondagens...

Pois continuam, mas as sondagens valem o que valem e estamos em plena pandemia com o desgaste inerente da governação e do cansaço que isto tudo provoca.

Por isso mesmo, o Marcelo por estes dias até disse que não devíamos mudar de presidente a meio de uma pandemia e eu se calhar até concordo com ele.

Mas ouve lá, a presidência da república por acaso agora é uma monarquia? Não! Um presidente ou um governo merece continuar se tiver desempenhado bem o seu papel. Só. Isso que ele disse é mais uma laracha sem qualquer sentido. Um presidente da Junta ou de Câmara é que ainda pode dizer que tem obra para acabar. O Marcelo quanto muito pode ter é ainda muitas selfies e viagens por fazer - ou mais uns telefonemas para fazer para os programas da manhã!, mas agora com a pandemia não há-de tirar muitas selfies! E a verdade é que estamos em plena pandemia, por isso mesmo não sabemos quais as implicações disto tudo. Agora imagina que o PS cai nas intenções de voto. Eu vi o governo do Cavaco cair, principalmente por coisas tão "insignificantes" como as portagens na Ponte 25 de Abril e as gravuras rupestres de Vila Nova de Foz Côa! Agora imagina que os partidos de direita, conjuntamente com o partido fascista a crescer (porque lhes está a roubar votos) tira o PS do governo numas próximas legislativas. O que é tu achas que vai acontecer?

Olha, que não tinha pensado nisso.

Pois, pelas sondagens eu já tinha percebido que no eleitorado do PS ninguém pensado nisso, e sois vós do PS que ides eleger o Marcelo. Nunca te esqueças disso, nem que esqueças que, um primeiro mandato de presidente é para garantir o segundo, e depois no segundo é que tu lhe vais conhecer a face. O que vai acontecer é que o Marcelo, candidato natural de direita (apesar de querer passar por equidistante entre esquerda e direita pois é aí que está o grosso dos votos), não se vai opor (como já disse) a uma coligação do PSD com o partido fascista, coligação essa que Rui Rio já colocou no papel (para mal dos seus pecados). E, de um dia para o outro, quase cinquenta anos depois do 25 de Abril, teremos um partido, sem vergonha de se assumir como fascista, no governo. O Marcelo, como Presidente da República, deveria ser o garante máximo da Constituição, mas já disse que vai cagar no juramento que vai fazer - de defender a Constituição, que não permite ideologias fascistas - e dar posse a esse governo! E nesse momento tu vais-te arrepender de ter votado nele, mas aí, meu amigo, já será muito tarde! Quando ainda por cima tu tinhas uma mulher, candidata pelo teu Partido Socialista,  que, perentoriamente, já disse que não o faria ou que usaria todos os seus poderes para não o permitir. Mulher e candidata essa que tu ignoras e decides votar no candidato de direita que fecha os olhos ao fascista! Não te esqueças e tem isso bem presente: vamos ter que levar com o Marcelo durante cinco anos! E em cinco anos muitas coisas acontecem! 

Estou a ver onde queres chegar.. Mas tu vais votar na Ana Gomes?

Para ser politicamente correto, diria que, entre a Marisa, o João Ferreira, que é o pregador da Constituição e que deve ser o candidato que melhor campanha está a afazer, e a própria Ana Gomes, mulher de coragem e de pensamento livre, diria que tens aí três excelentes candidaturas que em poderia votar... 

Não querer é dizer em quem vais votar!

Bem, até domingo, e vê se refletes bem!

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

A Absoluta Liberdade de Pensamento

"Mas o Murray disse, por fim, rindo de mansinho: - Aquilo mexeu comigo.
- A sério? Porquê?
- Saudades da minha filha.
- Onde está ela?
- A Lorraine morreu.
- Quando foi isso?
- A Lorraine morreu há vinte e seis anos. Em 1971. Morreu com trinta anos e deixou dois filhos e um marido. Uma meningite, morreu de um dia para o outro.
- E a Doris já morreu?
- A Doris? Claro.
Fui ao quarto levantar a agulha e repô-la no descanso. - Quer ouvir mais? - perguntei lá de dentro ao Murray.
Ele riu-se, desta vez abertamente, e disse: - Estás a ver até onde aguento? A ideia que tens da minha força, Nathan, é um bocadinho exagerada. A "Dubinuchka" já me chegou.
- Não sei, não - disse eu, saindo outra vez lá para fora e voltando a sentar-me na minha cadeira. - Estava a dizer-me...? 
- Estava a dizer-te... estava a dizer-te... já sei... que, quando o Ira levou um pontapé no traseiro, a Lorraine ficou furiosa. Depois de o Ira ser despedido da rádio por ser comunista, ela recusou-se a fazer a saudação à bandeira.
- À bandeira americana? Onde?
- Na escola - disse o Murray. - Onde é que achas que se faz a saudação à bandeira? A professora tentou protegê-la, puxou-a para o lado e disse-lhe que tinha de saudar a bandeira. Mas a miúda recusou-se terminantemente. A raiva era muita. A verdadeira raiva dos Ringolds. Adorava o tio. Parecia-se imenso com ele.
- E depois?
- Tive uma longa conversa com ela e ela voltou a fazer a saudação à bandeira.
- O que foi que lhe  disse?
- Disse-lhe que também amava o meu irmão. Que também não achava que nada daquilo era correto. Disse-lhe que pensava como ela, que era muito mal feito despedir uma pessoa por causa das suas ideias políticas. Que acreditava na liberdade de pensamento. Na absoluta liberdade de pensamento. Mas disse-lhe que aquela não era a maneira certa de lutar. Que a verdadeira questão não era essa. O que conseguia ela com isso? O que ganhava ela com isso? Disse-lhe: não entres numa luta que sabes que não podes vencer, uma luta que nem te interessa vencer. Disse-lhe o que costumava tentar dizer ao meu irmão a respeito dos discursos inflamados... o que tentava dizer-lhe desde que ele era pequeno mas que nunca serviu de nada. O que importa não é estarmos zangados, é estarmos zangados com as coisas certas. Disse-lhe: Vê a questão pelo prisma darwinano. A raiva deve-nos tornar eficientes. É essa a função da sobrevivência. É por isso que ela nos é dada. Se te torna ineficiente, larga-a como uma batata a escaldar.

"Casei com um comunista" / Philip Roth (1998)

Casei com Um Comunista é a história da ascensão e queda de Iron Rinn, uma popular estrela da rádio, que vê a sua vida pessoal e profissional destruída na era da caça às bruxas de McCarthy. Nos seus dias de glória, casa com a famosa estrela de cinema mudo Eve Frame. O idílio romântico é breve e o seu casamento transforma-se num drama de lágrimas e traições, passando da esfera privada a escândalo nacional quando Eve faz revelações estrondosas a um colunista, denunciando o seu marido como espião comunista e sabotador. Uma história de crueldade, humilhação, traição e vingança, onde Philip Roth retrata de forma brilhante a conturbada época do pós-guerra, quando a febre do anticomunismo não só contaminava a política nacional mas também a intimidade das vidas de amigos e famílias, maridos e mulheres, pais e filhos.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

As Pessoas Enganam-se Tanto


Primeiro fim-de-semana de novo pseudo-confinamento. Mais uma camada de geada a deixar tudo branco no monte e nas ruas, mas também um belo dia de sol, antes da chegada da chuva, amanhã. Decidi ir fazer o meu "passeio higiénico", neologismo que dá para as pessoas justificarem tudo aquilo que não seja o seu dever de estar em casa confinadas e, logicamente que neste caso contra mim falo porque também saí, ainda que, em minha defesa, possa dizer que quase não me cruzei com viva alma. 

Peguei na bicicleta e fui fazer um pouco de exercício, não que já esteja propriamente redondo, mas, principalmente, arejar um pouco em véspera de mais uma semana de "trabalho". Resolvi ir para montante do rio Douro, aldeia vizinha e freguesa anexada e fui explorar uns caminhos ali pela beira do rio. 

Saí de mochila às costas e roupa comum, botas e caças de ganga justas e elásticas, porque não sou daqueles que para andar de bicicleta têm que vestir o equipamento desportivo todo, como se fossem fazer a volta a Portugal. Saí agasalhado, com gorro preto na cabeça e óculos de sol. Cabelos esvoaçantes e barba de duas semanas. 

Por onde passava e se me cruzava com alguém, educadamente dizia "boa tarde". Imagino que para quem me leia e que viva na cidade isto pareça estranho, mas nas aldeias, quer as pessoas se conheçam, ou não, sempre foi normal cumprimentarem-se, e não vergarem simplesmente os cornos ao chão, fazendo de conta que não vêem ninguém. Até me estou a lembrar, dos sítios onde fui fazendo caminhadas, sempre vi o bom hábito das pessoas se cumprimentarem. Em Espanha, por exemplo, sempre que me cruzava com alguém, quer na Senda Del Cares ou nos Lagos de Covadonga ouvia sempre um "Holla!". 

Então sempre me pareceu natural e instintivo cumprimentar quem passa. Ontem, infelizmente, várias vezes do outro lado respondia-me o silêncio. Numa das ruas, de boas vivendas (a aldeia vizinha não é como a minha, pobre, até porque em tempos até já foi sede de concelho) mas entretanto chego a um cais onde estavam dois pescadores a pescar e, minutos depois, no regresso, cruzo-me de novo com o senhor, um dos que não me respondeu e vi-o a fechar o portão da sua bela vivenda, não fosse eu decidir, sei lá, assaltar-lhe a casa, em pleno fim-de-semana de confinamento com toda a gente em casa!

Pedalar calmamente também é bom para pensar. E eu refletia como há coisas que não mudam. Há uns anos lembro-me (já não sei se contei esta história aqui no blogue) que uns emigrantes radicados em França, numa altura em que estavam de novo cá na aldeia, ficaram estupefactos a olhar para mim quando passei por eles na rua. E eu não vi essa surpresa, mas ouvi ao longe uma vizinha, que seguia no carreiro do campo de carro-de-mão carregado: "Não tenhais medo, é o filho da Rosa Maria"!

E, não deixa de ser muito curioso que, ainda por estes dias em conversa com a minha amiga carioca dizia-lhe que nunca me senti muito discriminado em Portugal por causa deste meu aspeto mais "exótico". E exótico talvez seja uma bela palavra quando tantas vezes sou interpelado em inglês no meu próprio país. Mas, para o bem ou para o mal, nós somos sempre vítimas ou reféns da forma como nos apresentamos e do nosso aspeto físico. No entanto eu sempre arranjei empregos e nunca senti propriamente que o meu aspeto fosse um entrave a fazer a minha vida normalmente. Há sempre reserva e medo com aquilo que não se conhece, ainda que, digo eu, eu não devesse ser motivo para que sejam mal educados quando passo.

Por outro lado, não deixa de ser irónico, que, se um qualquer meliante se vestir bem, como qualquer "pessoa de bem" (expressão muito em voga pelo candidato fascista) e usar um fato e gravata, e for por aí pelas aldeias dizer que vem trocar as notas de Euro, porque como agora o Reino Unido saiu da União Europeia, tem que se retirar do mapa aquele país, aposto que as pessoas os recebem quase de braços abertos. É assim a sociedade, sempre a julgar pelas aparências, e, como diz a minha mãe: "as pessoas enganam-se tanto". 

domingo, 17 de janeiro de 2021

Crónicas da Pandemia: Quando os Média Mentem por Ocultação

https://www.manipalthetalk.org/

As pessoas continuam-me a dizer que tenho que usar máscara na rua porque é proibido andar fora de casa sem máscara. Por estes dias fui dar uma caminhada com o meu padrasto, e ele, a medo perguntou: é melhor levar máscara não é? Mas se nós somos do mesmo agregado familiar, e vamos andar pelo meio do monte, qual seria o sentido de andar com a máscara colocada? O que lhe disse foi que, se prefere, leva a mascara consigo que, caso nos encontremos com alguém, podemos colocar, mas mesmo assim não seria necessário, porque estamos a falar de uma aldeia, onde facilmente, na rua, podemos ficar a dois metros uns dos outros!

Esta foi das coisas que mais me irritou nos média. Ainda me lembro muito bem. A minha colega chega ao trabalho e diz-me "amanhã já vai ser obrigatório andar de máscara na rua". Ao que eu lhe respondi "isso não pode ser verdade", e ela contrapõe "mas eu ainda agora ouvi na Rádio Comercial". Não interessava onde ela tivesse ouvido! Se nesse mesmo dia a lei estava a ser votada no parlamento como é que no dia seguinte já seria obrigatório o uso de máscaras na rua? Era uma impossibilidade! Se a lei é discutida no parlamento, primeiro tem que ser aprovada pelos deputados, depois tem que ser aprovada pelo presidente da república, mas depois ainda tem que ser publicada em Diário da República, e só a partir daí é então lei e alguém pode ser multado pelo seu incumprimento.

Curiosamente logo no dia seguinte fui a uma consulta no hospital e a verdade é que constatei que as pessoas andavam generalizadamente de máscara nas ruas ainda que, em bom rigor a maioria não tivesse que o fazer. Porquê? Porque os média não informaram corretamente. Os média focaram o "obrigatório" mas não leram a lei até ao fim, acabando por semear o medo pela fata da máscara e não informaram corretamente. 


E a correta informação é que SIM, o uso de máscara é OBRIGATÓRIO por lei, mas, sempre que não seja possível o distanciamento de dois metros. E claro que ninguém vai andar com uma fita métrica no bolso para medir se está, ou não, a dois metros de distância dos outros. É uma questão de sensatez. Se eu vou ao Porto e vou passar pela rua Santa Catarina que está com centenas de pessoas, pois com certeza que vou colocar a minha máscara para me proteger e, principalmente proteger os outros. Se estou a caminhar sozinho não faz sentido colocar a máscara se não a estava a usar antes.

Que as pessoas confundam o que ouvem é normal. Mas que sejam os jornalistas, profissionais da comunicação, em que a sua vida é informar os outros, a não o fazer convenientemente e espalhem a desinformação é que já não se admite. 

Outra questão noutro sentido. É sabido que o valor das coimas para o não uso da máscara duplicou. Então e qual é, pergunto eu, a multa para, publicamente, apelar ou difundir ideias de que a máscara e o distanciamento não protege nada? Aquela malta dos Mentirosos pela Verdade foi multada? E a médica que andou a explicar como falsear os resultados dos testes, foi impedida de exercer medicina?

sábado, 16 de janeiro de 2021

Diários de Motocicleta

Em 1952, Ernesto Guevara (Gael García Bernal) tem 23 anos e estuda medicina. Quase no fim do curso, deixa a sua casa em Buenos Aires para seguir numa viagem com o amigo Alberto Granado (Rodrigo de la Serna). Os dois partem na temperamental Norton 500, a mota de Alberto a que chamam "La Poderosa", para realizar um sonho comum: explorar a América Latina. O mapa de viagem que desenham é ambicioso: leva-os de Buenos Aires à Venezuela, passando pelos Andes, pelas costas do Chile e pelas ruínas de Machu Picchu até Caracas, onde tencionam chegar a tempo do 30º aniversário de Alberto. Mas a viagem torna-se mais do que uma descoberta geográfica e conduz os dois amigos numa grande odisseia de descoberta interior. Os dois começam a questionar o valor do progresso dos sistemas da época, que exclui tantas pessoas, e ganham uma consciência de justiça e uma vontade de mudar o mundo para melhor. Enquanto Alberto regressa ao seu trabalho, agora com diferentes objectivos e perspectivas, Ernesto "Che" Guevara tornar-se-á num dos mais importantes líderes revolucionários do século XX.

Há filmes, livros (até pessoas) que nos passam pelas mãos e que rapidamente nos esquecemos. Outros livros e filmes há que nos deixam a pensar dias seguidos. Foi o que me aconteceu com este último filme que vi "Diários de Motocicleta" (The Motorcycle Diaries) filme de 2004 que por estas bandas decidiram, e mal, traduzir para "Diários de Che Guevara" porque, certamente venderia bem melhor. Contudo eu sou da opinião que uma tradução deve ser o mais fiel possível e, neste caso, ainda por cima o filme é de um realizador brasileiro e aborda a história de dois jovens: Ernesto e Alberto, e o filme baseia-se nos diários de ambos. Este edição especial em DVD que tenho, além do filme tem ainda o documentário "A viagem de Che Guevara" (Gianni Miná) em podemos ver as filmagens do filme e os comentários do próprio Alberto Granado ainda vivo e com oitenta anos na altura e que vai relembrando como tudo aconteceu.

Argentina, 1952. Alberto Granado, de 29 anos, bioquímico, planeia uma verdadeira odisseia pela América Latina na sua moto "la poderosa" que tinha comprado em 1946 por 3600 pesos, qualquer coisa como mil euros nos dias de hoje. De Buenos Aires à Venezuela, passando pelos Andes, pelas costas do Chile e pelas ruínas de Machu Picchu até Caracas, onde tenciona chegar a tempo do seu trigésimo aniversário. Mas tem que escolher um companheiro para a desafiante e perigosa viagem, e a escolha recai num finalista de medicina, de 23 anos, chamado Ernesto Guevara, que era conhecido por todos como "Fúser". Ernesto, ou Fúser, como Granado lhe chama, era um grande desportista, porém, sofre de uma doença crónica e tem severos ataques de asma e tem que fazer inalações com a bomba.

A longa viagem iniciática destes dois médicos, irá mudar-lhes radicalmente as vidas ao serem confrontados com tantas injustiças e repressão. Ernesto tinha um grande conhecimento da América Latina pelos livros, mas queria conhecê-la ao vivo. E esta será uma viagem espiritual, de descobrimento e do desejo de transformação do mundo. Transformar o utópico em realidade. Ernesto superará a barreira da dificuldade da doença, e a barreira social, e decidiu a margem do rio que quis ficar. 

Na casa de Ernesto habitava uma família numerosa, além dos pais, cinco filhos, em que "Fúser" era o mais velho. Pela casa podíamos encontrar estantes repletas de livros, bons discos e muitos amigos. Era uma família de intelectuais, onde se conversava e discutia todos os assuntos. O Pai, de origem irlandesa era diretor da companhia de petróleo do Estado argentino e a mãe era uma mulher culta e desde cedo incentivou o filho Ernesto a ler. No livro do pai de Ernesto, este escreveu:
Um dia o meu filho, Che, disse-me: 
"Vou para a Venezuela". 
Fiquei muito surpreendido e perguntei-lhe por quanto tempo e ele respondeu-me por um ano. Quando lhe perguntei pela namorada, respondeu-me que se gostasse dele, esperaria. A namorada chamava-se Chichina. Ernesto e Alberto passariam por Miramar para se despedirem no início da viagem.

Antes da partida, a mãe de Ernesto recomendou Alberto, que era o mais velho, que ele fizesse tudo para que Ernesto acabasse o curso de medicina, porque um curso superior dá sempre jeito. Já o pai pergunta-se, o que é que lhe poderia dizer para impedir o filho de fazer esta viagem, se ele mesmo a quis ter feito?


Alberto refere que ninguém acreditava que eles conseguissem fazer tal viagem, mas diz que que Ernesto era um teimoso duro, ao passo que ele era um teimoso brando. Mas eram os dois teimosos e seria muito difícil desistirem. Contudo "la poderosa" acabaria por chegar ao fim de vida em Los Angeles, perto de Temuco (Chile) e a partir daí a expedição como que passa a ser liderada por Ernesto. 

"A mota mostrou-me um outro lado da vida. Eu nunca fui tímido, mas a mota tornou-me mais destemido, capaz de de fazer qualquer coisa. É algo que devo à mota. E para mim deixá-la custou-me muito. Era como deixar uma velha amiga". 

Depois de terem apanhado um camião até Valparaíso, é aqui que se dá uma grande revelação para o jovem Ernesto. Foi aqui que, depois de terem sido bem recebidos por pessoas bastante acolhedoras que até lhes pagaram o almoço, descobrem uma senhora bastante doente que Ernesto resolve visitar. E o que a senhora tinha era uma pneumonia grave e, ainda por cima havia uma grande falta de higiene. Quando Ernesto chegou até junto de Granado disse-lhe que a mulher estava muito mal, que era empregada e que tinha sido despedida, e que a família a olhava como uma intrusa. Este acontecimento foi tão marcante que Ernesto escreveu no seu diário:

"Está na hora dos políticos se ocuparem mais das pessoas e dos doentes e deixarem de lado a propaganda política". 

Granado conta que, já naquela época, sem ser um revolucionário, Che, tinha essa sensibidade, que fez dele o que fez. Na carta que escreveu à mãe:

"Querida mamã, eu sabia que não poderia ajudar aquela pobre mulher, que até há um mês tinha servido à mesa, ofegando como eu, tentando de viver com dignidade. Havia naqueles olhos moribundos um humilde pedido de desculpas e uma desesperada súplica de consolo, que se perdia no vazio, como se perderá em breve o seu corpo". 

Outro dos momentos importantes no filme é a passagem dos nossos aventureiros pela minas de Chuquicamata, de exploração de cobre, que se dizia serem as minas mais ricas do mundo e que estavam sob o domínio da empresa americana Anaconda Company. Foi em Chuquicamata que despertou o desejo de justiça social. Granado diz que aprenderam muitas coisas nas poucas horas que estiveram lá. Perceberam como a indústria estava muito avançada tecnologicamente. Depois como os operários de uma zona não sabiam o que os outros faziam. Foi por causa destas minas que foram nacionalizas pelo governo eleito democraticamente, que em 1973 os americanos, num golpe organizado pela CIA, assassinam Salvador Allende e lá colocam Augusto Pinochet, um seu fantoche, que impõe uma feroz ditadura que assassinou cerca de quarenta mil chilenos. 

O momento mais marcante do filme é quando os dois jovens são colocados a trabalhar na leprosaria de San Pablo no Peru. De um lado dum braço do Amazonas ficavam as instalações das pessoas saudáveis, do outro, a leprosaria. Os doentes de lepra ou com suspeitas de terem lepra eram alvo de grande descriminação por parte da administração do hospital, porque os médicos usavam máscaras, toucas e  luvas, e quando deixavam os doentes e regressavam de barco desinfestavam-se completamente. E foram estes dois médicos estrangeiros, Ernesto e Alberto, que romperam com todas essas normas instituídas apesar de serem muito criticados porque se misturavam com eles, comiam a comida deles e jogavam futebol com eles, cumprimentavam-nos com um aperto de mão, sem luvas. E isso fez com que se criasse uma espécie de mística sobre eles. 

No documentário, uma senhora leprosa, que tinha 18 anos quando Ernesto e Alberto chegaram a San Pablo refere-se a Ernesto (futuro Che Guevara) como "muito culto e extremamente honesto". 

Até que chega o dia de aniverário de Ernesto, e já de noite, este decide atravessar o rio e ir festejar o seu 24º aniversário com os leprosos. Alberto bem tentou demovê-lo, prevenindo-o que o rio tinha piranhas e bastaria arranhar-se e sangrar para que viesse um monte de piranhas, além disso também há crocodilos e a corrente é muito forte... Mas nada o demoveu. Atirou-se ao rio e conseguiu chegar ao outro lado para gáudio de todos. 

Para o realizar Walter esta é a cena mais emblemática do filme e foi um dos motivos porque quis fazer o filme. No dia do seu aniversário, no dia em que nós fazemos um balanço da nossa vida, Ernesto deseja ir para a outra margem do rio, deixando a margem sã, das freiras católicas e de rituais desnecessários e discriminatórios, e ir para o outro lado onde estão os deserdados, aqueles que são colocados à margem da sociedade.. 

O filme deixou-me a pensar em como os pequenos pormenores podem mudar vidas. A vida destes dois médicos teria sido igual se não tivessem feito esta viagem? E Ernesto teria-se transformado no grande revolucionário do século XX, Che Guevara, se não tivesse feito esta viagem? E estes pequenos acasos, estas pequenas revelações, são coincidências ou é o destino? No documentário, Granado, depois de ter sabido que no local em que estavam a filmar, era onde vivia a viúva de Luna (uma das peripécias que o filme retrata) quando param na cidade de Temuco, disse:
"Julgo que é a força de Che. No ano passado tive um enfarte. Salvaram-me no dia 8 de Outubro, o dia em que morreu o Che. Penso que isto tem tudo a ver com tudo, e ele está metido nisto tudo". 

Independentemente do que possamos acreditar, livre arbítrio, coincidências ou destino, a verdade é que há pequenas decisões que mudam vidas. 

Diários de Motocicleta / Walter Salles (2004)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Ler é como ir ao Cinema Sozinho

The Book Of Secrets by ShaynART

 Foi quando estava a ler Memórias Íntimas e Confissões de um Pecador Justificado que, ao sentir a falta de ter alguém com quem trocar ideias sobre o enredo que estava a ler e do que tudo aquilo poderia poderia ser, que me lembrei precisamente disto: o ato de ler um livro é  mais ou menos como ir ao cinema sozinho, só que, mas ainda mais solitário.

Quando vamos ao cinema sozinhos não temos ninguém ao nosso lado para falar sobre as expectativas do filme. Quando lemos um livro quanto muito alguém já nos pode ter falado do livro, que é muito bom, que a história prende o leitor, que é muto interessante para conhecer determinados factos da História, etc. Por exemplo, comecei a ler o primeiro livro de Murakami porque coloquei uma fotografia no Instagram de vários livros que tinha recebido e uma pessoa comentou que "Murakami é muito bom". Quando vemos um filme, se formos daquelas pessoas que olham primeiro para o nome do realizador do que dos atores, também já dará para ter algumas informação, ainda que, no meu caso, tal como acredito que seja a larga maioria, as pessoas olham sim para os nomes dos atores e não propriamente para o nome do realizador. Se calhar nem os conhecem, se calhar ninguém sabe quem é o realizador do "Sozinho em Casa" que deu passou mais vezes na televisão do que o número de testes à COVID-19 que o Marcelo fez no último ano! O que não deixa de ser algo injusto para o realizador, porque o artista, a obra, o filme neste caso é do realizador e quem tem quase sempre « os louros da fama são os atores, ainda que todos os realizadores precisem de bons atores  para terem uma boa obra. 

No que aos livros diz respeito, também já podemos conhecer o escritor de uma obra anterior e saber, mais ou menos, ao que vamos. Mas, por mais livros que tenhamos lido, uma obra de ficção é sempre algo novo e diferente. Temos que ser nós, ao contrário, por exemplo, da televisão ou do cinema, a criar os nossos cenários com as descrições que nos vão sendo feitas. E, tal como no cinema, se lá estivermos sozinhos na sala, quando o livro acaba e as luzes se acendem enquanto passam os créditos finais, não temos ninguém ao lado com quem trocar impressões sobre o livro que acabamos de ler como quem pergunta: "então, gostaste do filme"?

Enquanto li "Memórias íntima e confissões de um pecador justificado" senti essa falta de ter alguém alguém com quem conversar sobre o livro. Naquela alegoria, afinal, o homem estaria possuído por espíritos malignos; era o próprio chifrudo do "Balha-me Deuz"; era tudo fruto da sua imaginação e sofria de perturbações mentais, ou sofria de dupla-personalidade? O que é que outra pessoa pensaria daquilo? Se calhar até teria precisamente as mesmas dúvidas que eu, porque o livro foi precisamente escrito desta forma para não dar a papinha toda feira ao leitor, mas para o deixar a pensar.  

Contudo, talvez essa seja a vantagem dos clubes de leitura. Colocar várias pessoas a ler o mesmo livro e a opinar sobre ele. Sei que existem mas nunca estive em nenhum e duvido que venha a estar. Conheço também dos filmes e séries americanas. Em Lost, por exemplo, existia um "Book Club", e ao longo da série muitos livros iam sendo sugeridos sub-repticiamente. Eu não sei se os clubes de leitura funcionam bem ou nem por isso. Mas, na falta de um clube de leitura, cabe-nos conversar connosco próprios e tirar as nossas próprias conclusões. E, quem sabe, sugerir, ou não, um determinado livro aos amigos e colegas. Como quem sugere, ou não, um bom filme. 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

O Admirável Neoliberalismo Americano Que Lucra com os Mortos da Pandemia

Esta história é tão deliciosa e tão pouco conhecida por cá que tinha que a contar aqui. 

Então é assim, como é sabido, o controlo do Senado dos Estados Unidos da América foi decidido agora a 5 de Janeiro numa disputa que deu a vitória aos democratas. Mas a história passa-se com os dois candidatos conservadores, o partido de Trump: David Perdue e Kelly Loeffler.

Posso-vos garantir que estes dois senadores são duas pessoas de "bem" e de boas famílias da direita americanas. Basta olhar para a fotos deles! David Perdue é um empresário que ganhou muitos milhões a importar produtos muito baratos vindos da China (dos tais que depois vêm dizer que a China é um papão). Já Kelly Loeffler é muito mais rica que o seu colega, aliás, segundo a Forbes, é mesmo uma das pessoas mais ricas do Capitólio, com uma fortuna avaliada em cerca de 660 milhões de euros. Para se ter uma ideia, conjuntamente com o seu marido, estima-se que tenha o quadruplo da riqueza do segundo membro do Congresso!

Mas vamos então perceber a maravilhosa história da especulação pandémica. 

Apesar de toda aquela conversa do ainda presidente Trump, que isto era só um "vírus chinês", que ninguém se tinha de preocupar, que era só uma "grizepinha" ou até uma "invenção dos média", a verdade é que em 24 de Janeiro de 2020 houve uma reunião para todo o Senado americano sobre o desastre iminente (lembrar que o primeiro infetado nos Estados Unidos surgiu a 21 de Janeiro de 2020) e então, munidos desta informação confidencial, o que é que estas duas pessoas de "bem" da direita americana resolveram fazer?

Se na saída desta reunião fizeram discursos tranquilizadores para as televisões, que as pessoas não precisavam de se preocupar, muito menos tomar medidas de proteção, nem pensar sequer em usar máscaras como os idiotas dos chineses. Mas o que fizeram em seguida foi um pouco diferente. De imediato começaram a movimentar milhões de dóllars em ações onde sabiam que iriam ter grandes benefícios, nomeadamente em software de teletrabalho. Mas há mais, muito mais, e a cena se calhar até é maravilhosamente macabra.

David Perdue achou por bem que, depois de dizer aos americanos que não se precisavam de preocupar com a pandemia, tratou mas foi de cuidar da sua vidinha - porque a vida custa a todos não é? - e começou a investir milhões numa empresa que se chama DuPont e que fabrica equipamentos de proteção individual, incluindo - veja-se o detalhe sórdido - sacos para embalamento de cadáveres! Não é maravilhoso? Porque não lucrar com a morte de quase trezentos mil americanos? Digam lá que não são tão nacionalistas e tão ferverosamente defensores da pátria esta gente de direita a querer lucrar com a morte dos seus concidadãos!

Quando confrontados com as investigações e o escândalo de corrupção e informações privilegiadas, parece que já os estou a ouvir dizer: "Para serem mais honestos do que eu têm que nascer duas vezes"!

E é esta promiscuidade entre política e negócios, sem qualquer controlo nem conflito de interesses que também em Portugal uma certa direita neoliberal quer. "Menos Estado" ou "Estado Mínimo" gritam eles. No ano passado, em campanha eleitoral até berravam ser contra o financiamento do Estado aos partidos - vejam lá tão honestos que eles são! - e que até abdicariam da subvenção, a que teriam direito, caso elegessem algum deputado. Mas depois de eleito o seu deputado a coisa, como se sabe, foi um bocadinho diferente!

E depois é uma pena criticarem tanto, por um lado o apoio que o Estado dá aos mais desfavorecidos (subsídio de desemprego, rendimento mínimo), por outro são contra o controlo do Estado porque ai-Jesus-que-mais-parece-que vivemos-na-China-e-esta-malta-parece-que-só-leu-o1984, mas depois vem uma "gripezinha" (como eles dizem) e vêm logo de mão estendida para o Estado lhes dar de comer. O que esta gente quer não é acabar com a corrupção, quer é rédea solta. Não quer nenhum controlo, nenhumas regras para voltarmos ao tempo da ditadura em que o trabalhador trabalhava doze horas por dias e ganhava uma bucha de pão e um gole de vinho até porque, como eles dizem, "o aumento do salário mínimo é muito mau para os pobres". Esta gente não quer acabar com a corupção, quer é o exclusivo da corrupção para si.

Sim, Já Tomei a Vacina

https://www.distractify.com/

 Logo às 9h a notícia já tinha corrido. A colega irrompe pelo armazém adentro e pergunta-me:
- Então ouvi dizer que já tomaste a vacina?
- Sim é verdade. 
- Tu és um privilegiado! Nem os médicos todos já tomaram a vacina e tu já tomaste?

Na 6a feira tinha deixado a vacina na frigorífico para que, depois, quando saísse do trabalho, fosse ao centro de saúde tomar a terceira dose da vacina. E  antes de vir embora para fim-de-semana, disse à colega do escritório "bem, vou-me lá tomar a vacina".  
O que se passou depois da minha saída vim a saber depois. Aproveitando esta deixa da vacina a colega que trabalha comigo lembra-se de dizer que, sim, ele vai tomar a vacina da COVID-19!
Logo na segunda-feira, entro na empresa, e, quase como todos os dias, entro  bem disposto e a colega do escritório vendo-me acelerado comentou logo que "são efeitos da vacina"!

- Mas qual vacina, perguntei à colega que falou em privilégio?
Eu tomei foi a terceira dose da vacina da hepatite A e B! 

Desde que cá estou nesta empresa já fui conhecido por ler o futuro nas borras do café; por ter sido presidiário; agora por ter sido uma das primeiras pessoas em Portugal a tomar a vacina da COVID-19!

Sabem o que vos digo? Pró que lhe havia de dar!!

domingo, 10 de janeiro de 2021

Palavra do Ano é Saudade de 2020


Eu, conjuntamente com mais quarenta mil pessoas, participei na eleição da palavra do ano e, apesar do voto ser secreto posso-vos assegurar que votei na palavra pandemia. Faz sentido, não? Eu pelo menos achei que sim, que em ano de pandemia, palavras como "pandemia", "confinamento", "zaragatoa", "COVID-19", todas estas palavras fariam sentido. E tive até pena que, incompreensivelmente, palavras como "vacina" ou "negacionista" não estivessem a concurso. 

Mas para os senhores da Porto Editora, "saudade" era uma palavra que fazia todo o sentido estar ali metida! E vai daí, 25% dos votantes, apesar de ali terem tantas palavras que adjetivariam bem o ano que passou, acharam por bem ignorá-las e votar precisamente na palavra que estava completamente deslocada. Em "pandemia" votaram comigo 17% das pessoas e "COVID-19" ficou em segundo lugar. 

Se a pandemia tivesse acabado a 31 de dezembro de 2020, e daqui a uns anos nos dissessem que  a palavra do ano de 2020 foi "saudade" por certo que, de imediato, saberíamos que foi ano de pandemia! Não, não saberíamos! Tal como não saberemos porque é que "violência doméstica" foi a palavra do ano de 2019 ou "enfermeiro" foi a palavra do ano em 2018. 

Mas certamente que se eu vos disser que a palavra do ano de 2017 foi "incêndios"; ou que a palavra do ano de 2010 foi "vuvuzela" ou a palavra do ano de 2011 foi "austeridade", certamente que todos saberão de imediato que anos tivemos. 

Mas a pandemia não acabou a 31 de dezembro de 2020. Nem acabará a 31 de dezembro de 2021. Se calhar em a 31 de dezembro de 2022. Ah, já percebi. As pessoas que participaram na iniciativa palavra do ano da Porto Editora, votaram na palavra "saudade" porque já estavam com saudades de 2020. Foi isso.

Um Mundo e Aparências e Marketing


 Vivemos num mundo de aparências. Pobres com grandes carros; casamentos que são perfeitos da porta de casa para fora; mamas perfeitas; narizes perfeitos; cus perfeitos; empregos perfeitos. Tudo é perfeito. Aparentemente. Nas vendas também tudo é perfeito, ainda que, aparentemente! 

Para vender mais os fabricantes de pasta de dentes abriram estudamente o buraco por onde passa a pasta, para que os clientes desperdicem mais, afinal, não há tantas refeições assim e quanto muito só se poderia lavar os dentes três vezes ao dia. As marcas de gelados não querendo aumentar ao preço dos gelados que já são elevados, resolveram então diminuir ao produto, aumentando assim o seu lucro disfarçando-o de preocupações com a linha dos clientes. 

E agora veja-se esta embalagem de Super Cola 3 que comprei para colar uma borda partida do prato de um vaso de bonsai. Tanta cola que trás, aparentemente. Ena! Mas quando vamos a observar de lado já não é bem assim. O marketing, tal como a vida em geral, promete muito mas depois a realidade é sempre muito diferente e frustrante. 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Posts nos Blogues ao Longo dos Anos


Analisando a minha produtividade, o número de publicações dos blogues ao longo dos anos - até parece que ganho alguma coisa com isto! - e não incluí o Plastrão porque tem estado em modo hibernação, há algumas coisas interessantes que posso retirar.
Desde logo a primeira delas é que ainda estou cá! Comecei em 2013, ainda apanhei aquela fase de novo crescimento em que parece que todos achavam que iam ficar ricos com os blogues, mas entretanto, e posso estar enganado, mas parece-me que a curva da blogosfera tem entrado de novo em declínio, até pelo fim do Blogs de Portugal que pode servir de indicador, em que agora todos acham que vão é ficar ricos sendo influenciadores ou abanado o cu nas novas redes sociais.  

Olhando ali para as linhas do gráfico, percebo que o pico da minha produção de publicações foi em 2017 (Bucólico-Anónimo) e 2018 (Multi-Resistente). De 2018 em adiante as coisas caíram um pouco que eu poderei explicar com a entrada para o ténis-de-mesa e com os treinos à noite (que agora suspendi) mas também não será alheio o facto de ter chegado às redes sociais que acabam por me consumir tempo (desperdiçado) que antes provavelmente ocupava a escrever. Ainda assim não deixa de ser interessante que o Bucólico-Anónimo teve uma boa recuperação de 2019 para 2020, mesmo tendo em consideração que 2020 foi um ano de pandemia, sem direito a caminhadas ou novos trilhos em Ecopistas. 

Veremos daqui para a frente a minha disposição, mas inicio mais um novo ano com vontade de continuar a cuidar o melhor possível dos meus diários abertos ao público, porque no fundo é isso mesmo que são os blogues.

domingo, 3 de janeiro de 2021

Memórias Íntimas e Confissões de um Pecador Justificado

"Há livros que nos escolhem" disse-me aqui certa vez a Ceres. Talvez tenha sido este o caso. Olhei para a estante e este livro fez-me um sinal e disse para lhe ler a contracapa que dizia o seguinte:

As profundezas de uma alma pervertida pela deturpação da fé, eis o tema deste grande romance. Escrito com simplicidade é bastante contundente pelo sentido alegórico do contexto: a luta entre o bem e o mal, tratada com ironia e representada pelo ódio entre dois irmãos.Deste conflito surge uma trama de raro vigor, onde os dogmas são postos são postos em dúvida, e onde se verificam antecipações notáveis sobre o problema da dupla personalidade, o que situa o autor como um dos precursores do romance psicológico.
James High foi redescoberto no nosso século, voltando à cena literária graças a este estranho livro que mostra a que extremos o fanatismo pode conduzir.


E quando começo a ler na introdução que Hogg era filho de gerações de pastores de ovelhas e ele mesmo se transformou pastor e que só quase com trinta anos é que começou a ler e a escrever interessou-me ainda mais. Fiquei a saber que este autor escocês que nasceu em 1770 era completamente ignorado nos meados do século vinte, mesmo na própria Inglaterra. Até que este livro "Memórias e confissões de um pecador justificado" foi lido por André Gide (escritor francês que venceu o Nobel em 47) que o achou muito bom e quis saber mais e verificou isso mesmo, que na própria Inglaterra ninguém tinha lido este livro e quis então promovê-lo e reeditá-lo. 

Este livro de 1824 começa por ser a história de dois irmãos, filhos de uma mãe extremamente devota e de um pai rico, senhor de Dalcastle, não tão religioso assim. Os pais acabam por viver de forma separada na própria casa, porque a senhora impede a concretização normal do casamento (logo na noite de núpcias). E se o primeiro filho fica a viver com eles, o segundo, por suspeitas de infidelidade, acaba por ir viver com o protegido da mãe, o revendo Wringham. Os irmãos crescem separados e não se conhecem até um certo dia. Mas o livro é muito mais do que a história da vingança de um irmão sobre o outro... mas agora para o saberem agora terão que o ler! O que vos posso dizer é que, este é um livro dos diabos! Literalmente! 


sábado, 2 de janeiro de 2021

O Brasil de Bolsonaro está no Ano de 1973



Bolsonaro é hoje o corrupto prefeito Odorico que chefiava os destinos se Sucupira. 

Os mais novos não conhecerão. Mas em 1973 na novela "O Bem Amado" de Dias Gomes e depois na série que passou no inícios dos anos oitenta (onde entrava o famoso Zeca Diabo interpretado por Lima Duarte) a cidade de Sucupira era governada por Odorico um prefeito corrupto que não olhava a meios para atingir os seus fins. Sucupira também passou por uma epidemia e Odorico também manipulou a questão das vacinas para sair beneficiado politicamente. A semelhança é assustadora: a forma como foi eleito, as falsas promessas e as mentiras. Eu revi o primeiro episódio e logo aí Odorico "ressuscita" milagrosamente depois de um ataque do cangaceiro! Isto não vos faz lembrar de nada? Acho que nem Orwell escrevia algo tão distópico e profético.

Infelizmente, para os brasileiros, Bolsonaro não é um mero prefeito corrupto, mas sim é o presidente corrupto e genocida do país. Mas no gozemos com os nossos irmãos brasileiros, pois também por cá temos muitos Odoricos, mentirosos compulsivos e financiados por grandes grupos económicos, que se dizem querer combater a corrupção mas o que eles querer é, tal como Odorico e Bolsonaro, o monopólio da corrupção.


PAREIDOLIA


 Em crianças a maioria de nós em algum momento olhou para as nuvens e viu ou imaginou formas. Paridolia é isso, um fenómeno psicológico, a perceção de ver caras em nuvens ou em objetos, porque segundo dizem os especialistas o nosso cérebro foi programado desde há muito e desde pequenos para identificar muito rapidamente caras em todo o lado. Entretanto crescemos mas há pessoas já bem adultas que se dedicam a colecionar essas imagens. Ontem, numa caminhada aqui pela aldeia, ao passar por esta casa abandonada olhando para ela lembrei-me disso porque parece-me evidente que podemos ver uma cara (uma espécie de smile) .