O erro da revista britânica The Economist nesta primeira página de ontem é achar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, irá a eleições novamente daqui por quatro anos.
Mas as pessoas ouvem ao menos o que os políticos fascistas dizem?
"A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão."
O erro da revista britânica The Economist nesta primeira página de ontem é achar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, irá a eleições novamente daqui por quatro anos.
Mas as pessoas ouvem ao menos o que os políticos fascistas dizem?
Vai daí decidi perguntar ao ChatGPT quantos candidatos presidenciais há nestas eleições de 2024 nos Estados Unidos. Ele muito rapidamente consulta os sites que quer e é verdade que acertar no número, porque de facto são seis, mas erra na resposta ao apontar um candidato que há meses desistiu (Kennedy) e esquece-se da Claudia de la Cruz:
Declaração de interesse: entre Donald Trump e um poio de merda, eu estou do lado do poio de merda.
Mas isto não invalida que, ao contrário de tanta gente, eu não tenha ficado eufórico com a vitória de Biden há quatro anos, nem fique agora extremamente eufórico com Harris, que veio substituir o velho senil democrata na corrida pelas eleições americanas de novembro, por uma coisa muito simples: mais fachos ou menos fachos, conservadores e democratas, são todos de direita, e eu não morro propriamente de amores por políticas que aumentam as diferenças e as desigualdades entre as pessoas.
Mas desde que Harris substitui Biden os democratas ganharam novo fôlego e, ao que parece, as coisas inverteram o rumo que vinha seguindo, de vitória certa de Trump (ainda que com menos votos porque, aquela coisa a que chamam democracia lá pelos States, é mais complicado de entender que um jogo de basebol!).
E por estes dias, Kamala, tentando que a classe média se identificasse com ela, veio dizer que, como um em cada oito estadunidenses, trabalhou no Mcdonalds.
Por cá já tivemos Paulo Portas a dizer que sabe o que custa a vida por ter ficado, sabe-se lá em que condições, em hotéis três estrelas, ou Assunção Cristas que, coitada, teve que calçar botas e vestir calças de ganga para visitar bairros sociais (não fosse apanhar alguma doença); Passos Coelho declarou que era o mais africanista de todos os candidatos e tinha uma sensibilidade diferente e entendia melhor os problemas das comunidades imigrantes, simplesmente por ter casado com uma mulher da Guiné-Bissau (mas foi pena que isso não o tivesse impedido recentemente de proferir mentiras afirmando que os imigrantes aumentam a criminalidade) e, mais recentemente, Pedro Nuno Santos veio lembrar que é neto de sapateiro.
Contudo, convém lembrar que Che Guevara nasceu numa família burguesa e era médico ou que o pai de Fidel Castro era rico. Karl Marx era de classe média e Engels era filho de empresário. Não é o que se diz de onde se veio que dá mais credibilidade para mostrar que se está ao lado da classe trabalhadora. É o que se faz pela classe trabalhadora e pelos mais desfavorecidos. Podes ser empresário e fazer mais pelos trabalhadores do que aqueles que querem passar por cordeiros mas que, assim que podem, metem o pé no pescoço dos mais carenciados, como está a fazer agora o Chega no governo dos Açores.
Ricardo Araújo Pereira, este domingo, na sua crónica semanal, da Folha de São Paulo sobre o alegado atentado que Trump sofreu:
"Segundo Donald Trump, “foi Deus que impediu que o impensável acontecesse”, no atentado de que foi alvo. Ou seja, foi o Criador que evitou que a bala do atirador trespassasse Trump, o que seria impensável, fazendo com que ela fosse antes atingir um antigo bombeiro, cuja morte é bastante mais pensável...
"Como a chuva, vem tudo a potes - ou não vem. Todo o continente é um imenso vulcão cuja cratera está temporariamente oculta por um panorama móvel, que é parte sonho, parte medo e parte desespero. Do Alaska ao Iacatão, a história é a mesma. A Natureza domina. A Natureza vence. Existe em toda a parte a mesma ânsia fundamental para chacinar, para destruir, para pilhar. Exteriormente, parece um povo excelente e honesto; saudável otimista e corajoso. Interiormente, está cheio de vermes. Um centelhazinha e explode.
Acontecia muitas vezes, como na Rússia, um homem chegar amuado. Acordara assim, como que assarapantado por uma monção. Nove vez em dez era um bom tipo, toda a gente gostava dele. Mas quando a cólera irrompia nada o conseguia deter. Era como um cavalo com os vágados, e a melhor coisa que se poderia fazer por ele seria abatê-lo logo. Acontece sempre assim com as pessoas pacíficas. Um dia ficam amoque.
Na América estão constantemente a ficar amoque. Do que precisam é de um escape para a sua energia, para a sua sede de sangue. A Europa é sangrada regularmente pela guerra. A América é pacifista e canibalista. Exteriormente parece um belo favo de mel, com os zangões a amarinharem uns por cima dos outros, num frenesi de trabalho; interiormente é um matadouro, com cada homem a matar o vizinho e a chupar-lhe o tutano dos ossos.
Superficialmente, parece um mundo ousado, viril; na realidade, é um bordel dirigido por mulheres, com os nativos a atuarem como alcaiotes e os malditos estrangeiros a venderem a sua carne. Ninguém sabe o que é sentar o cu e estar satisfeito. Isso só acontece nos filmes, onde tudo é forjado, até os fogos do inferno. Todo o continente dorme profundamente, e nesse sono desenrola-se um grande pesadelo.
Trópico de Capricórnio / Henry Miller (1939)
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