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domingo, 27 de abril de 2025

O Erro da The Economist

 O erro da revista britânica The Economist nesta primeira página de ontem é achar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, irá a eleições novamente daqui por quatro anos. 


Mas as pessoas ouvem ao menos o que os políticos fascistas dizem?

sexta-feira, 18 de abril de 2025

25 Cêntimos



Nos Estados Unidos é legal as empresas pagarem 25 cêntimos, vou repetir, 25 cêntimos à hora, a um trabalhador com deficiência.

ChatGPT:

"A Seção 14(c) da Lei de Normas Justas de Trabalho (Fair Labor Standards Act - FLSA) autoriza empregadores, mediante certificação, a pagar salários inferiores ao mínimo federal a trabalhadores cuja capacidade produtiva esteja comprometida por uma deficiência.

Essa prática, implementada em 1938, visava inicialmente ampliar as oportunidades de emprego para pessoas com deficiência. No entanto, ao longo do tempo, tornou-se objeto de críticas por perpetuar a exploração e a pobreza entre esses trabalhadores".

E de repente lembrei-me do cenário português em que temos o partido mais extremista e mais perigoso - e não é o CH mas sim o Iniciativa Liberal - que é contra a existência de salário mínimo em Portugal, uma das conquistas do 25 de Abril, e que iria permitir destas aberrações. 

Iniciativa Liberal: Há cinco anos a lutar por mais dinheiro no bolso dos ricos. 

domingo, 9 de fevereiro de 2025

A Economia dos Ovos



Sim, desde 2009 que o salário mínimo não aumenta nos Estados Unidos, porque assim é melhor para os pobres. Não admira que estejamos a ser invadidos por americanos (ou estadunidenses como é mais correto dizer). E já estou a ver que não é nada por causa do Trump. Deve ser mas é por causa dos nossos ovos. 


sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

domingo, 1 de dezembro de 2024

O Deus Dólar

Eça de Queirós escreveu um artigo intitulado "O Miantonomah", inspirado pelo navio de guerra que fundeou em Lisboa em 1866 com o mesmo nome. E foi a desculpa para escrever sobre os Estados Unidos, um artigo publicado na Gazeta de Portugal, e que hoje pode ser encontrado no livro "Prosas Poéticas". Apesar de ter mais de 150 anos, olhando para os tempos atuais dos Estados Unidos, não poderia estar mais atual:




"(...) Tal é o Miantonomah, navio de guerra da América do Norte. 

Nós entrevemos a América como uma oficina sombria e resplandecente, perdida ao longe nos mares, cheia de vozes, de coloridos, de forças, de cintilações.

Entrevemo-la assim: movimentos imensos de capital: adoração exclusiva e única do deus Dólar; superabundância de vida; exageração de meios; violenta predominação do individualismo; grande senso prático; atmosfera pesada de positivismos estéreis; uma febre quase dolorosa do movimento industrial; aproveitamento avaro de todas as forças; extremo desprezo pelos territórios; preocupação exclusiva do útil e do económico; doutrinas de uma filosofia e uma moral egoísta e mercantil; todo o pensamento repassado dessa influência; uma fria liberdade de costumes; uma seriedade artificial e brusca; dominação terrível da burguesia; movimentos, construções, maquinismos, fábricas, colonizações, exportações colossais, forças extremas, acumulação imensa de indústrias, esquadras terríveis, uma estranha derramação de jornais, de panfletos, de gazetas, de revistas, um luxo excessivo; e por fim um profundo tédio pelo vazio que deixa na alma as adorações do deus Dólar: depois a mesma temperatura e a mesma geologia da Europa. 

Assim entrevemos a América, ao longe, como uma estação entre a Europa e a Ásia, aberta ao Atlântico e ao Pacífico, com uma bela costa de navegação cheia de enseadas, molhada de grandes lagos, com os seus grandes rios que escorrem entre as terras, as culturas, as fábricas, as plantações, os engenhos, levados pomposamente pelo Mississipi para o golfo do México: e depois uma Natureza vigorosa, fecunda, eleita, desaparecendo entre as indústrias, os fumos das fábricas, as construções, os maquinismos, todas as complicações mercantis da América – como uma pouca de erva de uma campina fértil que desaparece sob uma amontoação. nervosa de homens.

A vida da América do Norte é quase um paroxismo.
Isto é decididamente uma grande força, uma vida enorme, superabundante. Mas será vital, fecundo, cheio de futuro? Todos os dias dizem à Europa: «Olhai para os Estados Unidos, lá está o ideal liberal, democrático, e, sobretudo, a grande questão, o ideal económico.»
Mas a América consagra a doutrina egoísta e mercantil de Monroe, pela qual uma nacionalidade se encolhe na sua geografia e na sua vitalidade, longe das outras pátrias; esquece as suas antigas tradições democráticas e as ideias gerais para se perder no movimento das indústrias e das mercancias; alia-se com a Rússia; a raça saxónia vai desconhecendo os grandes lados do seu destino, enrodilha-se estreitamente nos egoísmos políticos e nas preocupações mercantis, cisma conquistas e extensões de territórios, subordina o elemento grandioso e divino ao elemento positivo e egoísta, e a grande figura sideral do Direito às fábricas, que fumegam negramente, nos arredores de Goetring. Isto dizem muitos.

Uma das inferioridades da América é a falta de ciências filosóficas, de ciências históricas e de ciências sociais. A nação que não tem sábios, grandes críticos, analisadores, filósofos, reconstruidores, ásperos buscadores do ideal, não pode pesar muito no mundo político, como não pode pesar muito no mundo moral.

Enquanto a superioridade foi daqueles que batalhavam, que lançavam grandes massas de cavalarias, que apareciam reluzentes entre as metralhas, o Oriente dominou, trigueiro e resplandecente. Quando a superioridade foi daqueles que pensavam, que descobriam sistemas, civilizações, que estudavam a Terra, os astros, o homem, e faziam a geologia, a astronomia, a filosofia, o Oriente caiu, miserável e rasteiro.

Há, sobretudo, na América um profundo desleixo nas ciências históricas. Inferioridade. As ciências históricas são a base fecunda das ciências sociais. É a superioridade da Europa: sob a mesma aparência de febre industrial há uma geração forte, grave, ideal, que está construindo a nova humanidade sobre o direito, a razão e a justiça. O nosso mundo europeu é também uma estranha amontoação de contrastes e de destinos; é uma época esta anormal em que se encontram todas as eflorescências fecundas e todas as velhas podridões; políticas superficiais; grandes fanatismos: e ao mesmo tempo um desafogo das livres consciências, expurgação dos velhos ritos, e a alma moderna ligada na sua moral e na sua justiça às almas primitivas com exclusão da

Idade Média; políticas pacificas e transigentes, e um espírito de guerra surdo, aceso e flamejante: territórios violentos e conquistados, e a aniquilação pela política, pela história e pela filosofia dos conquistadores e dos heróis: nem são as influências monárquicas, nem é o individualismo; nem é o humanitarismo, nem são os políticos egoístas, não é a importância das individualidades, nem a importância dos territórios; é uma confusão horrível de mundos, e, em cima, triunfal e soberba, está a indústria, entre as músicas dos metais, as arquitecturas das Bolsas, reluzente, cintilante, colorida, sonora, enquanto no vento passa o seu sonho eterno que são fortunas, impérios, festas, empresas, parques, serralhos.

Ora em baixo, sob a confusão, sereno, fecundo, forte, justo, bom, livre, move-se em germe um novo mundo económico. Este germe é que a América não tem, creio eu. Mas vê-se que todos a apontam como o ideal económico que é necessário que os pensadores meditem, e todos os que no vazio fecundo das filosofias riscam as sociedades. Ora toda a América económica se explica por esta palavra – feudalismo industrial..

Diz-se, na América há um constante aumento de tráfico, de receitas, de riquezas: não há aumento; há deslocação, deslocação em proveito da alta finança – com detrimento das pequenas indústrias produtoras. Logo que na ordem económica não haja um balanço exacto de forças, de produção, de salários, de trabalhos, de benefícios, de impostos, haverá uma aristocracia financeira, que cresce, reluz, engorda, incha, e ao mesmo tempo uma democracia de produtores que emagrece, definha e dissipa-se nos proletariados: e como o equilíbrio não cessa, não cessam estas terríveis desuniformidades.

Mas o grande mal da predominância exclusiva da indústria é este: o trabalho pela repugnância que excita, pela absorção completa de toda a vitalidade física, pela aniquilação e quebrantamento da seiva material, pela liberdade em que deixa as faculdades de concepção – por isso mesmo sobreexcita o espírito, estende os ideais, abre grandes vazios na alma, complica as precisões, torna insuportável a pobreza: nas grandes democracias industriais onde as posições são obtidas pela perseverança, conquistadas pela habilidade, onde há mil motores – a ambição, a inveja, a esperança, o desejo, o cérebro aquece-se, espiritualiza-se, cria sonhos, ambições, necessidades impossíveis; o querer chegar torna-se uma verdadeira doença de alma: exageram-se os meios: e toda a seiva moral se altera e se deforma.

É o que vai acontecendo na América: debaixo da frieza aparente, move-se todo um mundo terrível de desejos, de desesperanças, de vontades violentas, de aspirações nevrálgicas. Depois, como no meio das indústrias ruidosas e absorvedoras muitas amarguras ficam por adoçar, muitas angústias por serenar, muitas fomes por matar, muitas ignorâncias por alumiar, tudo isso se ergue terrível no meio da febre da vida social, e toma-a mais perigosa. Londres dá hoje o aspecto desta luta.

De maneira que o trabalho incessante, enorme, irrita e exagera o desejo das riquezas; aferventa o cérebro, sobreexcita a sensibilidade, a população cresce, a concorrência é áspera, as necessidades descomedidas, infinitas as complicações económicas, e aí está sempre entre riscos a vida social. Entre riscos, porque vem a luta dos interesses, a guerra das classes, o assalto das propriedades e por fim as revoluções políticas.

E todavia a liberdade da América parece tão serena, tão confiada, tão assente, tão satisfeita!
No entanto há muita força fecunda nos Estados Unidos! Ainda há pouco deram o exemplo glorioso de uma nação que deixa os seus positivismos, a sua indústria, os seus egoísmos, o seu profundo interesse, e arma exércitos, esquadras, dissipa milhões, e vai bater-se por uma ideia, por uma abstracção, por um princípio, pela justiça.

O Sul quis corrigir a liberdade pela escravatura; desune-se; o escravo que trabalhe, que cultive, que produza, que sue, que morra sob a força metálica, baça e sinistra do clima e do Sol

Pois bem. A América do Norte quer a liberdade, o amor das raças, e bate-se pela liberdade, pela legalidade, pela união, pelo princípio, pela metafísica! E dispersa os exércitos da Virgínia!
Eram estas as coisas que me lembravam há dias, no Tejo, estando a ver o
Miantonomah, navio dos Estados Unidos em viagem pelo Sul, comandante Beaumont, fundeado no nosso Tejo..

Eça de Queiroz, 2 de dezembro de 1866 

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Burrice Artificial (3)

Duvido que alguém saiba que nas eleições americanas há seis candidatos à presidência. Mas só se fala em dois e, curiosamente, ou talvez não, ambos são muito à direita. 

Vai daí decidi perguntar ao ChatGPT quantos candidatos presidenciais há nestas eleições de 2024 nos Estados Unidos. Ele muito rapidamente consulta os sites que quer e é verdade que acertar no número, porque de facto são seis, mas erra na resposta ao apontar um candidato que há meses desistiu (Kennedy) e esquece-se da Claudia de la Cruz:




E se eu votasse? Bom, não sei, não estou suficientemente informado sobre os programas eleitorais mas, ou na ambientalista Jill Stein, na socialista Claudia de la Cruz ou no professor catedrático Corel West que lê 
Dostoiévski. Qualquer um dos três parece-me bem. Os outros três, ou os dois que só se fala, democratas ou republicanos apoiados por bullshitionários, é tudo igual, tudo farinha do mesmo saco. 

sábado, 17 de agosto de 2024

Não é o que Dizes - É o que se Fazes pela classe Trabalhadora

Declaração de interesse: entre Donald Trump e um poio de merda, eu estou do lado do poio de merda. 

Mas isto não invalida que, ao contrário de tanta gente, eu não tenha ficado eufórico com a vitória de Biden há quatro anos, nem fique agora extremamente eufórico com Harris, que veio substituir o velho senil democrata na corrida pelas eleições americanas de novembro, por uma coisa muito simples: mais fachos ou menos fachos, conservadores e democratas, são todos de direita, e eu não morro propriamente de amores por políticas que aumentam as diferenças e as desigualdades entre as pessoas. 

Mas desde que Harris substitui Biden os democratas ganharam novo fôlego e, ao que parece, as coisas inverteram o rumo que vinha seguindo, de vitória certa de Trump (ainda que com menos votos porque, aquela coisa a que chamam democracia lá pelos States, é mais complicado de entender que um jogo de basebol!). 

E por estes dias, Kamala, tentando que a classe média se identificasse com ela, veio dizer que, como um em cada oito estadunidenses, trabalhou no Mcdonalds.  


Por cá já tivemos Paulo Portas a dizer que sabe o que custa a vida por ter ficado, sabe-se lá em que condições, em hotéis três estrelas, ou Assunção Cristas que, coitada, teve que calçar botas e vestir calças de ganga para visitar bairros sociais (não fosse apanhar alguma doença); Passos Coelho declarou que era o mais africanista de todos os candidatos e tinha uma sensibilidade diferente e entendia melhor os problemas das comunidades imigrantes, simplesmente por ter casado com uma mulher da Guiné-Bissau (mas foi pena que isso não o tivesse impedido recentemente de proferir mentiras afirmando que os imigrantes aumentam a criminalidade) e, mais recentemente, Pedro Nuno Santos veio lembrar que é neto de sapateiro.

Contudo, convém lembrar que Che Guevara nasceu numa família burguesa e era médico ou que o pai de Fidel Castro era rico. Karl Marx era de classe média e Engels era filho de empresário. Não é o que se diz de onde se veio que dá mais credibilidade para mostrar que se está ao lado da classe trabalhadora. É o que se faz pela classe trabalhadora e pelos mais desfavorecidos. Podes ser empresário e fazer mais pelos trabalhadores do que aqueles que querem passar por cordeiros mas que, assim que podem, metem o pé no pescoço dos mais carenciados, como está a fazer agora o Chega no governo dos Açores.

terça-feira, 23 de julho de 2024

Tu Que Acreditas Num Deus Intervencionista

Ricardo Araújo Pereira, este domingo, na sua crónica semanal, da Folha de São Paulo sobre o alegado atentado que Trump sofreu:

"Segundo Donald Trump, “foi Deus que impediu que o impensável acontecesse”, no atentado de que foi alvo. Ou seja, foi o Criador que evitou que a bala do atirador trespassasse Trump, o que seria impensável, fazendo com que ela fosse antes atingir um antigo bombeiro, cuja morte é bastante mais pensável...

 


A campanha que Ele concebeu é excelente — e, tendo em conta o que um bom marqueteiro político costuma auferir, barata. Ao permitir que a bala raspasse na orelha de Trump, o Senhor forneceu-lhe o máximo de martírio com o mínimo de dano.

Trump pode dizer que levou um tiro, que sobreviveu a uma tentativa de homicídio, que derramou o seu sangue. O preço a pagar por isso foi: uma feridinha na orelha.

Eu já tive lesões mais graves a jogar futebol com os amigos. Mas Deus quis fazer de Trump uma vítima sem lhe infligir sofrimento significativo. Curiosamente, este tem sido um procedimento habitual do Senhor.

Toda a vida de Donald Trump tem decorrido exatamente assim: ele obtém o maior benefício despendendo o menor esforço. Trump começou com uns milhões de dólares oferecidos pelo pai, e quase não paga impostos sobre os rendimentos que tem.

Os escândalos em que se envolve não o beliscam, e nem sequer as condenações em tribunal o afetam. Em princípio, Deus tem tido um papel crucial em todas essas peripécias. E agora esta extraordinária ação de campanha eleitoral.

Trump, fazendo jus à sua inclinação para afirmações categóricas, pode dizer que foi vítima do melhor atentado de sempre. Um centímetro mais para a esquerda e Trump teria sido tanto uma vítima de atentado como todos os espectadores ali presentes. Seria apenas uma pessoa junto da qual uma bala tinha passado. Um centímetro mais para a direita e teria morrido.

É como se o Senhor estivesse a protegê-lo por ter um plano para ele. Fico mais descansado. Talvez isso signifique que a eleição de Donald Trump seja, no entender de Deus, a maneira mais eficaz de evitar uma guerra nuclear.

Ou então faz tudo parte de uma estratégia para cumprir o que vem escrito no livro do Apocalipse. Seja como for, Deus parece saber o que está a fazer. Haja alguém".

domingo, 1 de janeiro de 2023

A Sede de Sangue

 


"Como a chuva, vem tudo a potes - ou não vem. Todo o continente é um imenso vulcão cuja cratera está temporariamente oculta por um panorama móvel, que é parte sonho, parte medo e parte desespero. Do Alaska ao Iacatão, a história é a mesma. A Natureza domina. A Natureza vence. Existe em toda a parte a mesma ânsia fundamental para chacinar, para destruir, para pilhar. Exteriormente, parece um povo excelente e honesto; saudável otimista e corajoso. Interiormente, está cheio de vermes. Um centelhazinha e explode. 

Acontecia muitas vezes, como na Rússia, um homem chegar amuado. Acordara assim, como que assarapantado por uma monção. Nove vez em dez era um bom tipo, toda a gente gostava dele. Mas quando a cólera irrompia nada o conseguia deter. Era como um cavalo com os vágados, e a melhor coisa que se poderia fazer por ele seria abatê-lo logo. Acontece sempre assim com as pessoas pacíficas. Um dia ficam amoque. 

Na América estão constantemente a ficar amoque. Do que precisam é de um escape para a sua energia, para a sua sede de sangue. A Europa é sangrada regularmente pela guerra. A América é pacifista e canibalista. Exteriormente parece um belo favo de mel, com os zangões a amarinharem uns por cima dos outros, num frenesi de trabalho; interiormente é um matadouro, com cada homem a matar o vizinho e a chupar-lhe o tutano dos ossos. 

Superficialmente, parece um mundo ousado, viril; na realidade, é um bordel dirigido por mulheres, com os nativos a atuarem como alcaiotes e os malditos estrangeiros a venderem a sua carne. Ninguém sabe o que é sentar o cu e estar satisfeito. Isso só acontece nos filmes, onde tudo é forjado, até os fogos do inferno. Todo o continente dorme profundamente, e nesse sono desenrola-se um grande pesadelo. 

Trópico de Capricórnio / Henry Miller (1939)

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Quanto Mais Burro, Melhor!

Não sei se já tinha contado aqui que foi por causa do Nonio (que me impedia de ler digitalmente os jornais nacionais) que passei a ler o The Guardian. Entretanto motivado pela vontade de ler os textos da Carmo Afonso no Público, registei-me numa plataforma que me permite ler cerca de sete mil jornais e revistas de todo o mundo. Infelizmente o Público não é um desses jornais, mas comecei a ler outras coisas muito interessantes como o jornal Folha de São Paulo, jornal de grande qualidade, onde escreve, ao domingo, o nosso Ricardo Araújo Pereira.

Um texto de Lúcia Guimarães, hoje, sobre a recente edição de um livro nos Estados Unidos chamou-me a atenção e resolvi partilhar aqui: 


"Quem pensava que América do Sul era o nome de um país?
Quem descreveu o continente africano como uma nação?
Quem disse que o aquecimento global era uma invenção da China para destruir a competitividade da indústria americana?

Foram três republicanos que tiveram o dedo no botão nuclear —pela ordem de asneira, Ronald Reagan, George W. Bush e Donald Trump.

Todos os países têm sua história de políticos palermas que divertem. Mas chega um momento em que a gargalhada é interrompida pelo medo do estrago que os poderosos e estúpidos são capazes de fazer. Um livro lançado nesta semana nos EUA examina a evolução da atual safra de governantes asininos. O humorista Andy Borowitz é o autor de “Profiles in Ignorance, How America’s Politicians Got Dumb and Dumber” (perfis em ignorância, como os políticos americanos se tornaram mais e mais estúpidos). O livro é um exame forense e 100% factual da versão recente da tradição antiintelectual, um aspecto conhecido da história americana.

Borowitz acha que o pioneiro moderno do boçal estelar, há 50 anos, foi Reagan, o ator de filmes B cuja ignorância era tão gritante que sua campanha para governador da Califórnia, em 1966, contratou psicólogos de uma universidade para treiná-lo como um animal de laboratório. Acostumado a decorar falas em filmes, Reagan aprendeu a repetir o que seus instrutores escreviam em fichas e venceu a eleição com uma vantagem de mais de 1 milhão de votos.

O assessor de campanha responsável pelo banho de fatos em Reagan fracassou quando foi convocado a fazer o mesmo pelo então senador Dan Quayle, em 1984. A colunista texana Molly Ivins acompanhou Quayle em campanha e concluiu que o vice escolhido para a chapa de George Bush pai era mais estúpido do que parecia. “Se você implantar o cérebro de Dan Quayle numa abelha, ela começa a voar em marcha à ré,” declarou.

Reagan e Quayle, escreve

Borowitz, representam o primeiro de três estágios da incultura na política: o ridículo, um saudoso período em que líderes podiam ficar envergonhados por dizer besteira.

O segundo estágio —a aceitação— tem como patrono George W. Bush. Ele achava que sua idiotice era benigna e o aproximava do povão. Bush se orgulhava de revelar que não abrira um livro quando estudava na Universidade Yale.

Em 2000, a campanha do republicano espalhou um slogan —“George Bush está concorrendo à Presidência, não a uma vaga em quiz show” — sugerindo que seu adversário, o relativamente pomposo ambientalista democrata Al Gore era quem ficava em desvantagem por ser culto.

Bush mostrou o poder do despreparo intelectual de provocar morte em massa. Dias depois de invadir o Iraque, ele recebeu uma delegação de iraquianos no Salão Oval e, pela primeira vez, ouviu falar que havia xiitas e sunitas no país. Perplexo, exclamou: “E eu pensava que os iraquianos eram muçulmanos!”.

O terceiro estágio da ignorância é a celebração, que assola tanto Washington quanto Brasília. Trump, conclui Borowitz, é profundamente ignorante, mas exibe, como o parvo capitão do Planalto, o que psicólogos chamam de “ilha de competência”: a capacidade de atrair a atenção proferindo estrumes verbais.

No atual estágio, um doutorado em Harvard, como o exibido por trumpistas republicanos, não é impedimento para tentarem convencer eleitores a tomar remédio de cavalo para combater a Covid.

O único antídoto para a nossa era de obscurantismo é votar.

domingo, 31 de janeiro de 2021

A Igreja Sempre do Lado do Capitalismo e Contra os Oprimidos



"A religião é o que impede os pobres de matar os ricos" (Napoleão)
"Os magnatas gostavam de se definir pela sua confissão religiosa (...) No conjunto, os magnatas ligavam-se às Igrejas presbiteriana, congregacionista e episcopal. No entanto, nos anos 1900, metade dos 75 multimilionários de Nova Iorque pertenciam à Igreja Episcopal. É que o ritual desta Igreja correspondia muito mais ao sentimento de dignidade e de grandiosidade de que os magnatas estavam impregnados. O caráter espetacular dos serviços episcopais, o sentido muito fortemente marcado pela hierarquia - tudo isso constituía, para os magnatas, o símbolo por excelência das suas aspirações e do seu poder. A este respeito, os exemplos de Henry Clay Frick e de John Pierpont Morgan são reveladores. Morgan, que cultivou sempre o estilo aristocrático, manifestou um grande zelo em favor da Igreja episcopal da qual se tornou um dos pilares laicos. Fez dotes generosos à Igreja Saint-George e deu 500 000 dóllars para a construção de Saint John Divine. O seu gosto pelo cerimonial e pela grandiosidade parece ter encontrado satisfações nas práticas do culto. "A Igreja não era para ele nem um símbolo de piedade, nem um símbolo de moralidade, mas o atributo da aristocracia. Neste sentido ele encarna perfeitamente o tipo do businessman da classe dominante tal como é descrito por Veblen: "Os fieis desta classe têm tendência para filiar-se nos cultos que ligam uma importância relativamente maior ao cerimonial e aos acessórios espetaculares".

Assim, as igrejas, prosperando graças aos donativos generosos dos Vanderbilt, dos Rockefeller, dos Morgan, etc, foram as auxiliares preciosas dos magnatas. Elas difundiram o evangelho da riqueza, concedendo uma sanção divina às empresas dos grandes homens de negócios e encorajando as massas à resignação. Os pastores nunca deixavam passar uma ocasião de citar os magnatas em exemplo, e de estigmatizar a ação dos que se insurgiam contra a ordem social, em particular os chefes sindicalistas. Os generosos doadores que permitiam às Igrejas beneficiar da sua filantropia sabiam o que faziam. Mas poucos eram tão francos como James Hill. Quando lhe perguntaram porque é que ele, protestante, tinha dado 500 000 dóllars à Igreja Católica para fundar um seminário de teologia em Saint Paul, Minesota, respondeu: "Olhai para estes milhões de estrangeiros chegando em massa a este país, para os quais a Igreja católica romana representa a única autoridade que eles temem ou respeitam; quais serão as suas ideias sociais, a sua acção política, o seu estatuto moral, se esta única força de controle fosse suprimida? "As igrejas - sobretudo as Igrejas poderosas de Chicago e de Nova Iorque - viviam quase da generosidade dos magnatas. Elas eram consideradas por eles como instituições necessárias à manutenção da ordem. E a Igrejas foram militantes, mas a favor do capitalismo e contra os oprimidos. Qualquer que fosse a sua "denominação", elas inculcavam uma verdade fundamental às massas: a submissão.

"O Capitalismo Selvagem nos Estados Unidos" (pág 250) / Marianne Debouzy (1972)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

O Admirável Neoliberalismo Americano Que Lucra com os Mortos da Pandemia

Esta história é tão deliciosa e tão pouco conhecida por cá que tinha que a contar aqui. 

Então é assim, como é sabido, o controlo do Senado dos Estados Unidos da América foi decidido agora a 5 de Janeiro numa disputa que deu a vitória aos democratas. Mas a história passa-se com os dois candidatos conservadores, o partido de Trump: David Perdue e Kelly Loeffler.

Posso-vos garantir que estes dois senadores são duas pessoas de "bem" e de boas famílias da direita americanas. Basta olhar para a fotos deles! David Perdue é um empresário que ganhou muitos milhões a importar produtos muito baratos vindos da China (dos tais que depois vêm dizer que a China é um papão). Já Kelly Loeffler é muito mais rica que o seu colega, aliás, segundo a Forbes, é mesmo uma das pessoas mais ricas do Capitólio, com uma fortuna avaliada em cerca de 660 milhões de euros. Para se ter uma ideia, conjuntamente com o seu marido, estima-se que tenha o quadruplo da riqueza do segundo membro do Congresso!

Mas vamos então perceber a maravilhosa história da especulação pandémica. 

Apesar de toda aquela conversa do ainda presidente Trump, que isto era só um "vírus chinês", que ninguém se tinha de preocupar, que era só uma "grizepinha" ou até uma "invenção dos média", a verdade é que em 24 de Janeiro de 2020 houve uma reunião para todo o Senado americano sobre o desastre iminente (lembrar que o primeiro infetado nos Estados Unidos surgiu a 21 de Janeiro de 2020) e então, munidos desta informação confidencial, o que é que estas duas pessoas de "bem" da direita americana resolveram fazer?

Se na saída desta reunião fizeram discursos tranquilizadores para as televisões, que as pessoas não precisavam de se preocupar, muito menos tomar medidas de proteção, nem pensar sequer em usar máscaras como os idiotas dos chineses. Mas o que fizeram em seguida foi um pouco diferente. De imediato começaram a movimentar milhões de dóllars em ações onde sabiam que iriam ter grandes benefícios, nomeadamente em software de teletrabalho. Mas há mais, muito mais, e a cena se calhar até é maravilhosamente macabra.

David Perdue achou por bem que, depois de dizer aos americanos que não se precisavam de preocupar com a pandemia, tratou mas foi de cuidar da sua vidinha - porque a vida custa a todos não é? - e começou a investir milhões numa empresa que se chama DuPont e que fabrica equipamentos de proteção individual, incluindo - veja-se o detalhe sórdido - sacos para embalamento de cadáveres! Não é maravilhoso? Porque não lucrar com a morte de quase trezentos mil americanos? Digam lá que não são tão nacionalistas e tão ferverosamente defensores da pátria esta gente de direita a querer lucrar com a morte dos seus concidadãos!

Quando confrontados com as investigações e o escândalo de corrupção e informações privilegiadas, parece que já os estou a ouvir dizer: "Para serem mais honestos do que eu têm que nascer duas vezes"!

E é esta promiscuidade entre política e negócios, sem qualquer controlo nem conflito de interesses que também em Portugal uma certa direita neoliberal quer. "Menos Estado" ou "Estado Mínimo" gritam eles. No ano passado, em campanha eleitoral até berravam ser contra o financiamento do Estado aos partidos - vejam lá tão honestos que eles são! - e que até abdicariam da subvenção, a que teriam direito, caso elegessem algum deputado. Mas depois de eleito o seu deputado a coisa, como se sabe, foi um bocadinho diferente!

E depois é uma pena criticarem tanto, por um lado o apoio que o Estado dá aos mais desfavorecidos (subsídio de desemprego, rendimento mínimo), por outro são contra o controlo do Estado porque ai-Jesus-que-mais-parece-que vivemos-na-China-e-esta-malta-parece-que-só-leu-o1984, mas depois vem uma "gripezinha" (como eles dizem) e vêm logo de mão estendida para o Estado lhes dar de comer. O que esta gente quer não é acabar com a corrupção, quer é rédea solta. Não quer nenhum controlo, nenhumas regras para voltarmos ao tempo da ditadura em que o trabalhador trabalhava doze horas por dias e ganhava uma bucha de pão e um gole de vinho até porque, como eles dizem, "o aumento do salário mínimo é muito mau para os pobres". Esta gente não quer acabar com a corupção, quer é o exclusivo da corrupção para si.

domingo, 4 de outubro de 2020

Debates Políticos: Nos Países Civilizados e no Terceiro Mundo


A Nova Zelândia e os Estados Unidos tiveram debates esta semana. Agora atentem no contraste de estilos entre um país civilizado liderado por duas mulheres de meia idade e um país de terceiro mundo liderado por dois velhotes com os pés para a cova.

sábado, 12 de setembro de 2020

Cenas Que os Europeus Não Entendem Nos Americanos



Estava aqui a vegetar no Youtube, e o site sugeriu-me este vídeo. Esta jovem europeia que vive em Los Angeles fez este vídeo, explicando de forma engraçada algumas coisas que para um europeu comum são completamente absurdas, tais como:

Preços

Os preços nos Estados Unidos não incluem os impostos! Ou seja ves uma peça de roupa que tem o preço de 15€, e depois chegas ao balcão para pagar e dizem-te que são 18€! Muito prático ir às compras assim!

Publicidade nos Medicamentos

"Tomar este medicamento pode fazer com que morras"!

Entregas Postais

Se te vão entregar uma encomenda e não estás em casa, a pessoa da transportadora simplesmente atira a encomenda para a tua porta e depois, logicamente, quando chegares a casa ela já não vai lá estar! Na Europa existe uma coisa que é deixar um papelinho a dizer onde a podes levantar!

Arrendar uma casa

Ao que parece nos Estados Unidos para arrendar uma casa até de uma análise à urina é preciso!

Gorjetas

Como os trabalhadores americanos ganham miseravelmente, institui-se a lei da gorjeta que basicamente tens que pagar mais 20 ou 30% acima do tabelado! Lembro-me do meu amigo que esteve recentemente lá e a primeira vez que pagou a conta no restaurante tal e qual estava no recibo e saiu porta fora vieram ter com ele como se fosse um criminoso!


Máquinas de Lavar

Eu não fazia ideia que quando se arrenda uma casa nos Estados Unidos esta não tem máquina de lavar. E de facto é muito mais prático pegar na roupa toda e ir a uma lavagem automática!


Saúde

Bem, sobre a saúde americana acho que todos sabemos um pouco, mas vejam o que ela diz.

Trânsito

Os americanos são muito organizados, então, todas as faixas de rodagem servem para ultrapassar! Pela esquerda, pela direita, ao que parece andar de carro por lá uma verdadeira aventura, ao que parece ainda mais que conduzir em Portugal!


quarta-feira, 3 de junho de 2020

O Racismo e a Polícia nos Estados Unidos

"Terras boas, diz você? E ninguém as cultiva?

- Não senhor. É assim mesmo. E quando vocês virem isso ficam danados. E ainda não viram nada. Aquela gente tem uma maneira de olhar para nós que até faz ferver o sangue. Olham para nós e dizem: "Não gosto de ti meu filho da puta". Depois vêm os delegados do sheriff e vocês são perseguidos. Acampamos em qualquer lugar à beira da estrada, e eles mandam-nos embora. Basta olhar para a cara deles; logo se vê a raiva que têm à gente. E... vou-lhes dizer uma coisa: eles têm-nos raiva porque têm medo. Sabem que, quando alguém tem fome, trata de arranjar comida, ainda que tenha de a roubar. Sabem que deixar as terras abandonadas é um pecado, e que alguém se dispõe logo a tomá-las . Diabo! Ainda ninguém vos chamou "Okies"?
Tom perguntou:
- "Okies"? Que quer isso dizer?
- Bem, antigamente, "Okie" era aquele que vinha de Oklahoma. Agora é o mesmo que chamar a um tipo filho da puta. "Okie" quer dizer que o sujeito é uma merda. A palavra, em si, não quer dizer nada; o que mete raiva é a maneira como eles a dizem. Mas não vale a pena dizer mais nada. Vocês têm que ver a coisa pessoalmente. Têm que ir para lá. Ouvi dizer que há por lá agora umas trezentas mil pessoas, da nossa região, gente que vive como porcos, porque tudo na California tem dono. Não sobra coisa nenhuma. E os donos disso tudo agarram-se às suas coisas que eu cá sei. Até são capazes de matar. Têm tanto medo que ficam doidos. Vocês vão ver, vão ouvir o que por lá se diz. É a mais linda terra do Mundo, mas o povo de lá é um bocado ruim. Tem tanto medo e tantos cuidados que até desconfia da sua própria gente. 
Tom olhou a água e enterrou os calcanhares na areia. 
- Mas, se alguém trabalhar e fizer economias, pode comprar um pedacinho de terra, não pode?
O homem mais idoso riu e olhou para o filho, e o rapaz, calado, arreganhou os dentes numa expressão quase triunfal. E o homem disse:
- Vocês não conseguirão nenhum trabalho certo. Terão de arranjar dia a dia o dinheiro para a comida. E vão precisar trabalhar para uma gente mesquinha como o Diabo. Se apanharem algodão, podem estar certos que a balança está viciada. Talvez não aconteça sempre, mas geralmente é o que se dá. Terão, por isso, de partir do princípio que todas as balanças estão viciadas, porque lhes é impossível saber quais é que estão certas. E não poderão fazer nada, mesmo nada. 
O pai perguntou em voz baixa:
- Então... então aquilo por lá não é nada bom, pois não?
- É bom, muito bonito tudo aquilo, mas a gente não consegue nada. Há, por exemplo, um pomar cheio de laranjas maduras... e um sujeito armado de revólver, que dá um tiro no primeiro que mexer nelas. E há um sujeito, dono de um jornal, lá perto da costa, que tem um milhão de acres de terra...
Casy ergueu vivamente a cabeça:
 - Um milhão de acres? Que diabo faz o homem com tanta terra?

(...)

- Vocês vão-se embora daqui?
- Não sei, disse Tom. Você acha melhor?
Floyd riu com azedume.
- Não ouviu o que o polícia disse? Se a gente não abalar deitam fogo a todo o acampamento. Se você pensa que esse delegado aguenta uma coisa daquelas sem mais nem menos e não vai tratar de se vingar, é porque não está bom da cabeça. Garanto que essa gente volta hoje mesmo à noite, para queimar tudo(...)
- O que eu não sou capaz de compreender é porque é que aquele polícia se armou se armou em teso. Parece que queria à viva força armar uma zaragata. O que ele queria era aquilo - disse Tom. 
- Nao sei como é a coisa por aqui, mas no norte conheci um polícia que era uma excelente criatura - afirmou Floyd. - Ele contou-me que, na zona dele, os polícias têm de caçar gente para meter no xadrez. O sheriff ganha 75 por dia por cada preso que meter na cadeia e só gasta 25 para lhe dar de comer. Não tendo presos deixa de ganhar dinheiro. O tal polícia disse-me que passou uma semana sem prender ninguém, e então o sheriff disse-lhe que tratasse de arranjar presos ou então que entregasse o emblema. Também esse gajo que esteve por aqui parecia disposto a prender gente de qualquer maneira. 

SIPNOPSE:
Na década de 1930, as grandes planícies do Texas e do Oklahoma foram assoladas por centenas de tempestades de poeira que causaram um desastre ecológico sem precedentes, agravaram os efeitos da Grande Depressão, deixaram cerca de meio milhão de americanos sem casa e provocaram o êxodo de muitos deles para oeste, rumo à Califórnia, em busca de trabalho. Quando os Joad perdem a quinta de que eram rendeiros no Oklahoma, juntam-se a milhares de outros ao longo das estradas, no sonho de conseguirem uma terra que possam considerar sua. E noite após noite, eles e os seus companheiros de desdita reinventam toda uma sociedade: escolhem-se líderes, redefinem-se códigos implícitos de generosidade, irrompem acessos de violência, de desejo brutal, de raiva assassina. Este romance que é universalmente considerado a obra-prima de John Steinbeck, publicado em 1939 e premiado com o Pulitzer em 1940, é o retrato épico do desapiedado conflito entre os poderosos e aqueles que nada têm, do modo como um homem pode reagir à injustiça, e também da força tranquila e estoica de uma mulher. As Vinhas da Ira é um marco da literatura mundial.

domingo, 31 de maio de 2020

Cinco Mil Negros Linchados Neste País

 " - Não posso crer que qualquer americano com dois dedos de testa possa acreditar que as tropas comunistas da Coreia do Norte se metam em barcos, atravessem dez mil quilómetros de mar e invadam os Estados Unidos. Mas é o que as pessoas andam por aí a dizer. "Cuidado com a ameaça comunista. Eles vão dominar este país". O Truman quer fazer uma exibição de força para os republicanos... é isso que ele quer. É disso que se trata. Fazer uma exibição de força à custa do inocente povo coreano. Nós vamos atacar e bombardear aqueles filhos da puta, 'tás a perceber? É tudo para apoiar esse fascista do Syngman Rhee. O maravilhoso presidente Truman. O maravilhoso General MacArthur. Os comunistas. Os comunistas. Não o fascismo deste país, não as iniquidades neste país. Não, o problema são os comunistas! Cinco mil negros linchados neste país e, por enquanto, nem um só linchador foi condenado. Isso é culpa dos comunistas? Noventa negros foram linchados desde que Truman veio para a Casa Branca com a boca cheia dos direitos dos cidadãos. Isso é culpa dos comunistas ou culpa do procurador geral do Truman, o maravilhoso Mr. Clark, que se lança numa vergonhosa perseguição judicial a doze líderes do Partido Comunista e lhes destrói a vida sem piedade por causa das suas ideias, mas que, quando se trata dos linchadores, se recusa a levantar um dedo! Guerra aos comunistas... e, para onde quer que a gente vá neste mundo, os primeiros a morrer na luta contra o fascismo são os comunistas! Os primeiros a lutar em defesa dos Negros, em defesa dos trabalhadores...
SINOPSE:
Casei com Um Comunista é a história da ascensão e queda de Iron Rinn, uma popular estrela da rádio, que vê a sua vida pessoal e profissional destruída na era da caça às bruxas de McCarthy. Nos seus dias de glória, casa com a famosa estrela de cinema mudo Eve Frame. O idílico romântico é breve e o seu casamento transforma-se num drama de lágrimas e traições, passando da esfera privada a escândalo nacional quando Eve faz revelações estrondosas a um colunista, denunciando o seu marido como espião comunista e sabotador. Uma história de crueldade, humilhação, traição e vingança, onde Philip Roth retrata de forma brilhante a conturbada época do pós-guerra, quando a febre do anticomunismo não só contaminava a política nacional mas também a intimidade das vidas de amigos e famílias, maridos e mulheres, pais e filhos.

"Casei com um comunista" / Philip Roth (1998)

sábado, 18 de abril de 2020

Sabias Que a Califórnia Foi Roubada aos Mexicanos?

"A Califórnia já pertenceu ao México, e as suas terras aos mexicanos; uma horda de americanos andrajosos e febris inundou a região. E tal era a sua fome de terra que as tomaram, roubaram as terras dos Suters e dos Guerreros, roubaram e destruíram as concessões e esses homens esfomeados e raivosos brigaram uns com os outros sobre a presa e guardaram de armas na mão as terras de que se tinham apoderado. Isto era a apropriação e a apropriação equivaleria a um título de posse. 
Os mexicanos eram moles por excesso de alimentação. Não puderam resistir porque nada se desejava no mundo como os americanos desejavam aquelas terras. 
Depois, com tempo, os acocorados deixaram de ser acocorados para passarem a proprietários; os seus filhos cresceram, e por sua vez tiveram filhos. E a fome acabou-se entre eles, essa fome animalesca, essa fome corroedora e lacerante da propriedade, da água e de um céu azul sobre ela, da relva fresca exuberante , das raízes entumecidas.
Tinham tudo isso, e com tal abundância que deixaram até de ver essa riqueza. Já não se sentiam corroídos pela ânsia de obterem um acre de terra fértil ou um arado brilhante para nela abrir sulcos, sementes ou um moinho agitando o ar com as pás. Já não acordavam nas madrugas escuras, para ouvir o primeiro chilrear dos pássaros ainda ensonados, ou o ruído do vento matinal em torno de casa enquanto aguardavam os primeiros clarões, à luz dos quais deveriam ir para os seus amados campos. Tudo isso fora esquecido, e as colheitas eram avaliadas em dóllars e as terras eram-no em capital mais juros e as colheitas compradas e vendidas mesmo antes de se fazer a plantação. Nessa altura, já o malogro das colheitas, as secas e as inundações haviam deixado de significar pequenas mortes dentro da vida, mas simplesmente perda de dinheiro. E todos os seus afetos eram medidos pelo dinheiro, e toda a sua impetuosidade se diluía, à medida que lhes aumentava o poder, até que finalmente eles deixaram de ser fazendeiros ou rendeiros, para se transformarem em homens de negócios dos produtos da terra, pequenos industriais que tinham de vender antes de terem produzido qualquer coisa. E os fazendeiros que não eram bons negociantes, perdiam as suas terras, em favor dos que eram bons negociantes. Não importava que fossem trabalhadores diligentes e que amassem a terra e tudo quanto nela crescia, desde que não fossem também bons negociantes. E, com o tempo, os bons negociantes apropriaram-se de todas as terras e as fazendas foram aumentando de tamanho, ao mesmo tempo que diminuam em quantidade....


sábado, 4 de abril de 2020

Estados Unidos: o Desprezo pela Vida Humana

Reuters
Vivemos um período complicado das nossas vidas e dos diferentes países por todo o mundo, sob a ameaça de um vírus invisível que causa uma doença, e que, nas pessoas de mais idade e nos mais fragilizados, pode levar à morte e tem sido a tragédia que se conhece. 

Apesar de por estes dias não andar a acompanhar grande coisa das notícias, até para a minha saúde mental, vou no entanto vendo o essencial; as capas dos jornais, dou uma vista de olhos, principalmente, no Público e no The Guardian e vou acompanhando o que os jornalistas que sigo no Twitter vão dizendo e partilhando. 

Mas houve uma coisa por estes dias que realmente me chocou, e que acho que deve chocar qualquer pessoa. Nos Estados Unidos, que é um país considerado rico, não é?, em Las Vegas (estado do Nevada mesmo ao lado da Califórnia) foi decidido uma coisa espantosa para ajudar os sem abrigo! Então, neste país rico, dos mais capitalistas e poderosos do mundo, que é que se lembraram de fazer?Decidiram usar um parque de estacionamento e pintar umas linhas de metro e meio, como mandam as regras da distância social, fazendo assim um parque de estacionamento isolado para os sem abrigo! Não é genial? De que mente brilhante terá saído esta ideia genial? É que isto merece um Nobel da economia!

Getty Images
Não, infelizmente não merece e eu estava a ser irónico. É desumano. Não tem outro nome, é desumano. É o desprezo pela vida humana levado ao extremo. Eu certamente teria vergonha de viver num país assim. Com tantos hotéis fechados, com tantos pavilhões desportivos fechados, com tantas outras infraestruturas fechadas e nos Estados Unidos, num dos ditos países mais ricos do mundo, é desta forma que tratam as pessoas? Por que é que, por exemplo, o presidente americano, conhecido empresário multimilionário não dá o exemplo e disponibiliza os seus hotéis e resorts de golfe para ajudar os sem abrigo? Não, tratam-se as pessoas como um monte de esterco.

Já eu vivo em Portugal, num país da Europa mas um país dito pobre. Não fomos à lua, não criamos guerras artificiais para explorar as riquezas dos outros países, vivemos com as nossas dificuldades de salários baixos e em que as pessoas muitas vezes têm que emigrar para terem melhores condições de vida. Mas no meu país pobre, que vive com as dificuldades que se conhece, vindos, ainda por cima, de uma grave crise económica mundial, que nos meteu o pé no pescoço, neste meu país tratam-se todas as pessoas doentes todas por igual, sejam ricos ou sejam pobres. No meu país dito pobre, um adolescente de 17 anos não é impedido de ser tratado num hospital porque não tem seguro de saúde. Nos Estados Unidos esse jovem morreu sem ser tratado. Em Portugal certamente que se tinha feito tudo para que isto não acontecesse. 

Mas veio agora esta pandemia e já nos está a mostrar muitas coisas. Mesmo em Portugal, com gente que defende o capitalismo selvagem americano a quase ter virado comunista!
Branko Milanovic,  um dos mais reconhecidos economistas da desigualdade e autor, por exemplo, dos livros "A desigualdade no Mundo" e  de 2019 "Capitalism, alone", escreveu no Twitter:

"The rich people in the US never thought that a broken health care system will ever matter to them. Now it does."

("Os americanos ricos nunca pensaram que um sistema de saúde falido lhes interessaria. Mas agora interessa)

E o que eu acho é que países ricos têm capacidade financeira para tratar dos seus doentes. Todos, sejam ricos ou pobres. Países ricos não têm 140 milhões e pobres e 41 milhões de sem abrigo como tem os Estados Unidos. Países ricos preocupam-se com todos os seus cidadãos, não se preocupam só com as contas bancárias dos mais ricos fazendo leis para que os mais ricos paguem cada vez menos impostos. Os Estados Unidos é um país rico, mas só para alguns. Muito poucos. 

sexta-feira, 27 de março de 2020

Os Jogos Olímpicos da Pandemia 2020 - Estados Unidos Sobe ao Primeiro Lugar

Os Estados Unidos são fortíssimos no desporto, e tal como havia referido, por certo não deixariam cair os seus créditos por mãos alheias. Em apenas três dias passaram a China e a Itália e estão agora em primeiro lugar nos Jogos Olímpicos da Pandemia 2020: