Excerto da entrevista do Jornal de Negócios ao escritor brasileiros Jefferson Tenório, publicada no dia 1 de agosto de 2025
Contou numa conversa literária que ter um livro na mão quando ia na rua o livrou várias vezes de abordagens policiais mais violentas. Tornou-se uma espécie de escudo?
Com 17 anos eu comecei a sair à noite com os meus amigos. E, sendo um jovem da periferia, as abordagens policiais começaram a ficar mais frequentes. Percebi que quando carregava um livro era dispensado da abordagem ou recebia uma abordagem menos violenta. Era como se o livro me protegesse e mostrasse para aqueles policiais que eu era uma pessoa de bem, não era uma pessoa perigosa. Então, passei a andar com um livro para todo o lado.
Essas abordagens tinham a ver com a cor da sua pele?
Eram pelo facto de ser jovem e negro. Aconteceu estar num grupo com três amigos, sendo que um deles era branco e foi o único que não foi revistado. Estamos a falar de uma realidade quotidiana no Brasil. Se eu ficar parado numa esquina durante 30 minutos, provavelmente vai parar um carro da polícia e vai-me revistar. Ainda hoje. Vão perguntar o que eu estou fazendo ali, para onde vou. O que não aconteceria com uma pessoa branca.
Há um racismo estrutural no Brasil?
Não é assumido. Mas há um racismo estrutural que entrou no inconsciente das pessoas. É como se fosse uma espécie de vírus que se instalou no inconsciente coletivo social e que enxerga pessoas negras como pessoas perigosas. Isso já vem de muitos séculos.
O racismo tem-se sofisticado, tem encontrado novas formas de exercer a sua violência nas pessoas.
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