domingo, 29 de abril de 2018

Arte Contemporânea

Se hoje em dia a arte contemporânea pode ser qualquer coisa...



... então certamente este cagalhão faz da cadela que o fez uma grande artista. Agora é só recolhê-lo e colocá-lo num museu para poder ser apreciado devidamente por todos. 

sábado, 28 de abril de 2018

Palavras em Desuso: "Tarraçada"

"Agora bebia era uma estarraçada d'água", disse-me a minha colega na semana passada. 

Imagem Via Google Images
Na verdade eu gosto muito destas palavras tão carregadas de história e significado e que, infelizmente, vão quase entrando em vias de extinção porque deixamos de as ouvir. E mais uma vez lhe disse, que acho muito curioso que ela, quinze anos mais nova que eu, ainda use muitas palavras que eu cresci a ouvir da boca dos meus avós e da minha mãe. E eu cresci a ouvir esta palavra dita precisamente nesta forma : "estarraçada", mas trata-se já de uma adulteração popular. 

Como não podia deixar de ser, fui investigar, e na verdade a palavra correta é tarraçada, que como se percebe significa "grande quantidade de bebida".

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Português: inventem-se novas palavras!

Antigamente, sempre que surgia algo de novo, que não existia antes, depressa se criava uma nova palavra adaptada da língua estrangeira para o português. Na escola até aprendemos que esse tipo de palavras se chamavam neologismos. 

Mas entretanto o tipo que fazia esse trabalho de inventar novas palavras deve ter  morrido ou então foi para a reforma ou foi despedido por extinção do posto de trabalho porque, de repente, tudo que aparece de novo na sociedade quase não tem nenhum equivalente no português, e rapidamente impinjem-nos para usarmos o inglês. E então passamos a vida a dizer wi-fismarthphone, tablet, etc. 

Mas não é só neste tipo de tradução para o português que deveriam ser criadas novas palavras. Há também novas coisas a acontecer na sociedade que depois não têm uma palavra apropriada e as pessoas até ficam constrangidas sem saber muito bem o que dizer.

Até há não muito tempo o casamento era para a vida e até era mesmo proibido o divórcio. E até então era fácil: ou se era solteiro, ou se namorava ou se estava casado ou viúvo. Mas hoje em dia temos uma nova categoria para a qual não há palavra e isso cria na cabeça das pessoas alguma confusão e até descriminação. 
Grande parte das pessoas, e não estamos a falar de uma minoria deixaram de casar. Segundo o INE, em dez anos houve menos 39% de casamentos, e os casamentos católicos diminuíram 61%! E de 2001 para 2011 as pessoas que viviam em união de facto passaram de 381 mil para 730 mil. Ou seja, cada vez os casais vão viver juntos mas estão-se a cagar para o papel assinado.

Só que há um probleminha: não existem palavras em português, tanto para designar o seu estado civil - ninguém diz "a minha união de facto está nas ruas da amargura" pois não? porque "união de facto" foi o rótulo legal que os políticos arranjaram, tal como, por exemplo, para o corte cego de freguesias que o anterior governo procedeu e chamaram-se "união de freguesias" que fica lindo que que fode! Ninguém diz que vai à União de freguesias de Santa Cona do Assobio e de Arrebimba o Malho tal como ninguém diz que um amigo vai-se unir de facto com a namorada, pois não? E depois ainda sobra outra questão de português mais complexa. Marido e mulher (ou marido e marido/ esposa e esposa no caso homossexual) designa duas pessoas que são casadas de papel passado. Mas e quem não assinou o papel? São o quê? Companheiros? Camaradas? Unidos? Namorados? Igualmente marido e mulher? Como é que vamos uniformizar isto tudo?

A verdade é que ainda há muito preconceito, principalmente nas mentes mais velhas ou pouco arejadas para este tipo de situação. E eu ainda me lembro muito bem de ouvir referir-me a este tipo de situação de "mal casada" e tenho o exemplo da minha própria mãe, que abdicou (e mal a meu ver) da sua pensão de viuvez e quis casar, precisamente para ter um título maior de importância. Porque não estando casada parece que é uma galdéria qualquer. 

Infelizmente as pessoas não se atualizam e têm muitos preconceitos nas suas cabecinhas . Ainda hoje, parece que quem decide fazer um contrato e jurar que vai ficar com aquela pessoa para a vida toda, mesmo apesar de existirem 70% de divórcios! parece que tem sempre mais importância do que quem decide estar junto da pessoa que gosta de livre vontade, sem nenhuma formalidade.

E depois é o constrangimento que cria. Quem está casado diz "a minha mulher/marido", quem vive junto nem sabe muito bem o que dizer... Por norma ouço dizer "o meu namorado(a)", mas namoro no meu entender é o estado antes de se viver junto. É diferente. Há quem use também "o meu companheiro", mas companheiros, camaradas, colegas, e tipos com quem se dá umas fodas também há muitos. 

Quem me conhece sabe que eu não diferencio, e trato de igual forma quem está casado como quem vive junto. Por exemplo, à minha colega engenheira lá do trabalho falo no "marido". E eu ajo assim pois parece-me a melhor forma de não discriminar, de dar igual importância. 

A este propósito, uma amiga minha, que recentemente foi viver com o namorado, até me disse por estes dias que está mesmo a pensar casar, precisamente pela pouca importância que os outros dão quando menciona o "namorado". Mas neste ponto já não estou de acordo. Nós temos que fazer a nossa vida em função do que nós acreditamos. A importância e o valor que realmente importa é o que nós damos. E temos de fazer a nossa vida pela nossa cabeça, não em função do que os outros pensam de nós. 
Se queremos casar porque era uma ambição e fazer uma festa e gastar uma pipa de massa para mostrar aos outros; se queremos casar porque poderemos ter vantagens fiscais; se queremos casar por questões religiosas? Sim. Ir casar forçado, quando nem sequer se acredita na instituição, e só porque os outros torcem o nariz e não nos valorizam? Não. 

Ainda assim, o que acho é que é mesmo preciso, é que se inventem novas palavras para a língua portuguesa. 


segunda-feira, 23 de abril de 2018

Com Que Então os Atores Porno Têm Ciúmes!

É muito curioso pois, mal publiquei "Cenas das próximas publicações" em que escrevi "entrevista a uma mulher viciada em pornografia", por artes mágicas, vem logo o Youtube (grupo Google) "recomendar-me" dois vídeos: "Nos bastidores dos filmes pornográficos "e "Interview with Porn Star Dani Daniels". 

De facto foi uma grande coincidência pois eu nunca pesquisei nada sobre este assunto no Youtube, e mal escrevi as palavras entrevista+pornografia no Blogger, de imediato tenho estas sugestões no no Youtube. 

E eu nem sequer sou de aceitar grandes sugestões, tirando quando uso o Youtube para ouvir música, e então sim, é normal que ouça e descubra uma ou outra banda na sequência de ter estado a ouvir uma outra. Mas tirando isso é raro, e não, não vou abrir o videozinho que toda a gente está a ver. Mas pronto, lá fui dar uma vista de olhos na entrevista que fizeram e ouvir o que senhora tinha a dizer. 

E então a senhora começa por dizer que na "indústria" (o putedo todo que se prostituiu para todos os outros verem e bateram umas),  chamam às outras pessoas de "civis". Já dá para perceber que este putedo acha que está acima dos comuns mortais. É mais ou menos como se fossem bombeiros ou militares! Gente de nível pois claro! E no entanto a única coisa que fazem na vida é foder, e acham-se especiais. Os outros são comuns civis. 

Depois a entrevistadora pergunta-lhe como é arranjar namorado e ela diz que é complicado porque os companheiros(as) sentem-se desconfortáveis porque ela passam o dia a foder com pirocas do tamanho do antebraço dela... e então parece que é normal que se sintam inseguros.  No entanto diz que é irritante ouvir isso deles(as). E depois ainda há o facto dos amigos todos dele(a) já a terem visto nua e que isso não vai desaparecer da internet. Os buracos dela estarão sempre na internet, preenchidos com pilas ou com outras coisas. E depois fala na questão técnica de um namorado ter que ser também ele testado, porque se ele a "trair" - curiosa palavra! nesta situação não é? - isso pode-lhe custar o emprego. E quando ela "tenta ser responsável e obriga o namorado(a) a fazer testes, leva com um "tu não confias em mim", em cima. Então, mesmo que ela confie, um companheiro também tem de ser testado (se calhar isto deveria ser válido para toda a gente e para todas as relações, não será?)

Dani Daniels
E então a senhora diz, bom se calhar o melhor será não namorar com um "civil" porque é uma complicação. Se calhar o melhor será andar com alguém da "indústria", não acham?. Mas ela responde: Não, não, não! Mas então por que é que não resulta?

Porque têm .... ciúmes!! Espetacular! Isto nunca me tinha ocorrido! Atores e atrizes porno, que passam o dia a foder com um monte de gente, todo o santo dia, depois têm ciúmes se namorarem com alguém dentro da mesma profissão!!

Ela dá um exemplo:

"Imagina que andas numa escola e fodes toda a gente da escola, e depois tentas namorar com alguém dessa escola, mas ele fodeu a tua amiga no dia anterior. Vamos todos jantar, mas o meu namorado enrabou-te na noite passada. Não importa o quão sério levas o teu trabalho porque vão haver sempre ciúmes". 

Não! Não consigo compreender! Namorar com alguém que também passa o dia todo a foder outras pessoas, e que está no mesmo barco que tu, não funciona. Mas depois acha que é "irritante" ouvir as inseguranças de alguém, que ainda por cima tem de passar a vida a ser testado (mesmo que ela diga que até confia). Não miúda, não entendo que raio de ciúmes são esses. Não mesmo, e para mim quase parece piada. 

(Entretanto já fiquei a saber que se um dia virar estrela porno, chamar-me-ão Koni Konigvs! Qualquer coisa assim "Koni Konigvs analise Dani Daniels"!) 

domingo, 22 de abril de 2018

Química

Tinha acabado de estacionar e dirigia-me para o hospital. Uma dezena de metros mais à frente, do mesmo lado do passeio, um grupo de jovens mulheres caminhava na minha direção, provavelmente estudantes de medicina. Numa pequeníssima fração de segundos os meus olhos identificaram e fixaram-se exclusivamente numa delas e, mais ou menos como os olhos de um felino faz quando seleciona uma presa, não mais olharam para outra coisa. À medida que todos caminhávamos e a distância do grupo diminuía para mim, percebi que, de igual forma, os olhos dela se fixaram nos meus durante todo aquele tempo que demorou até que passássemos um pelo outro e os nossos olhos tivessem de olhar para outra coisa qualquer. 

Este tipo de eventos acontece frequentemente com toda a gente. Contudo, estou em crer que a ocorrência diminui a pique a partir do momento que começamos a conduzir, deixamos de caminhar livremente pelas ruas, deixamos de usar transportes públicos, no fundo, deixamos de nos cruzar tantas vezes com desconhecidos e, assim sendo, é normal que este tipo de ocorrências deixe de acontecer.  E também estou em crer que, como a maioria das pessoas agora caminha pela rua olhando para o telemóvel, ainda mais este tipo de ocorrência será cada vez mais rara. 

Assim que os nossos olhares tiveram que cessar, continuei a caminhar, sorrindo, porque evidentemente achei graça ao momento. E segui a pensar que este tipo de coisa não é "amor à primeira vista", é mesmo só química. Provavelmente a mesma química que leva uma abelha a preferir primeiro o pólen de uma flor em detrimento de outra flor qualquer. 

Via Pinterest

sábado, 21 de abril de 2018

Conversas Improváveis (26) - Aviões

"Os aviões agora passam aqui por cima todos os dias.  Devem ter aberto uma nova auto-estrada lá em cima"!




As Dúvidas que o Google Acha que Só o Multi-Resistente Esclarece!

De facto há pessoas muito curiosas que perguntam coisas ao Google. E o Google acha que só mesmo o meu blogue sabe verdadeiramente responder à pergunta "qual a melhor cona do mundo"!  Fantástico!



Quem Não Sabe Estacionar Não Compra Carrinhas Grandes

No carro a fazer tempo para ir ao hospital. Entretanto chega uma carrinha Ford Focus azul, que vai estacionar à frente do carro que está estacionado à minha frente. Por ali andava um arrumador, qual abelha atarefada para um lado e para o outro como que à procura de pólen. De repente assusto-me pois a carrinha Audi A4 que está à minha frente dá um salto da trombada que levou da pessoa que tentava estacionar. Começo a prestar mais atenção ao que se está a passar, e vejo de novo a pessoa que está a estacionar a malhar, de novo, desta feita no carro da frente. E não satisfeito ainda, volta a malhar com a traseira na Audi. 
Há gente assim, muito despachada! Não precisa de arrumador de carros muito menos de sensores de estacionamento! Malha-se no carro detrás, depois no da frente, volta~se a malhar no detrás, as vezes que for preciso, até que o carro fica bem estacionado e vai-se a vidinha tranquilo da vida. 

Wikipedia
E quem de lá de dentro é que ia sair? Conversei comigo mesmo. Eu ainda sou do tempo do "mulher ao volante é um perigo constante". No meu trabalho até há quem advogue que as mulheres não têm consciência do que fazem na estrada. E então, quem seria? Seria um homem ou uma mulher? Uma pessoa muito jovem ou alguém já bastante experiente. Quem seria? 

Pois lá de dentro sai um homem. De cabelos brancos e bigode. Certamente com mais de sessenta anos! 

E de imediato criei um novo provérbio: "Quem não sabe estacionar não compra carrinhas grandes". 

domingo, 15 de abril de 2018

Pagar a Fatura da Água sem Gastar uma Gota de Água há Meses!

O capitalismo tem destas coisas fantásticas. Uma pequena minoria alimenta-se e engorda cada vez mais, como uma verdadeira sanguessuga na teta do Estado, à custa de todos os outros. Todos temos que fazer sacrifícios e pagar todos os meses, para que outros, muito poucos, embolsem milhões. 


Alguém que me responda: como é possível aceitar que eu esteja há meses sem consumir uma gota de água que seja, e a Câmara Municipal de Gondomar, ainda assim, me cobre, só em dois meses 16,99€

Mais estranho ainda, destes 16,99€, 11,99€ são destinados a "outras entidades", outras sanguessugas portanto! Mas que "outras sanguessugas" afinal são essas que nem nome precisam de ter na fatura?

Mais absurdo ainda. O próprio Estado português consegue-me cobrar 0,72€ de IVA (6%) sem eu nada ter consumido! Como é que isto é possível pagar IVA por algo que não comprei, nem gastei?

E depois lá vem a cantilena que se calhar é preciso aumentar o custo da água para as pessoas pouparem, como se nós fôssemos todos muito parvos. Como aqui se prova, nós pagamos (e muito!) mesmo sem consumir uma gota de água que seja.

E as sanguessugas continuam a engordar à nossa custa.

A Minha Nova Menina e o Meu Novo Pau

Por vezes cometem-se algumas pequenas loucuras, como por exemplo, eu, um mero jogador amador, dar tanto dinheiro por uma raquete profissional de ténis-de-mesa. Mas agora tenho uma nova menina com um pau novo, uma Stiga Allround Classic (com borrachas Neos Sound) e é bom que os adversários tenham muito medo! 

Ou então não, pois como eu costumo dizer, o que interessa é o que tu fazes com o teu pau, até porque, também no que ao ténis-de-mesa diz respeito, não é o teu pau que que vale por si, mas sim o que tu jogas com ele! Mas certamente que eu voltarei, de novo, a este interessantíssimo assunto, mas dessa feita com uma reflexão bem mais elaborada. Estejam atentos... ou então não!

Prefiro Ser Eu Mesmo

"Estanho, estranho, muito estranho", tal era a opinião de Lenina acerca de Bernard Marx. De tal maneira estranho que durante as semanas que se sucederam ela perguntou a si mesma, mais de uma vez, se não faria melhor em mudar a ideia das suas férias no Novo México e ir antes para o Polo Norte com Benito Hoover. (...)

A ideia de voar de novo para oeste era deveras sedutora. E, depois, passariam pelo menos três dias, dos sete da viagem, na Reserva de Selvagens. Em todo o centro não havia mais de meia dúzia de pessoas que já tivessem penetrado no interior de uma Reserva de Selvagens. Na sua qualidade de psicólogo Alfa-Mais, Bernard era um dos raros homens, entre os seus conhecimentos, que tinham direito a uma autorização. Para Lenina a ocasião era única. E, no entanto, as bizarrias de Bernard eram também de tal maneira únicas que hesitava em aproveitá-la e por mais de uma vez tinha pensado em arriscar uma outra ida ao Pólo com esse bravo e divertido Benito. Pelo menos Benito era normal, ao passo que Bernard...

"Foi o álcool no seu pseudo-sangue, tal era a explicação que Fanny dava de cada uma dessas excentricidades. Mas Henry, com quem, numa noite em que estavam deitados juntos, Lenina tinha falado, não sem uma certa inquietação do seu novo amante, Henry tinha comparado o pobre Bernard a um rinoceronte. 
- Não se pode ensinar um rinoceronte a fazer habilidades - tinha ele explicado, no seu estilo breve e vigoroso. - Há indivíduos que são quase rinocerontes; não reagem convenientemente ao condicionamento. Pobres diabos! Bernard é um deles. Felizmente para ele, é bastante competente na sua especialidade. Sem isso, o Diretor já o teria posto na rua. No entanto - acrescentou num tom consolador -, creio que é completamente inofensivo.

Completamente inofensivo, talvez. Mas igualmente muito inquietante. Em primeiro lugar, essa mania de fazer as coisas na intimidade. O que equivaleria, na prática, a nada fazer. Que se pode fazer na intimidade? (À parte bem entendido, ir para a cama; mas não se pode fazer isso continuadamente.) Sim, que se pode fazer? Muito poucas coisas. (...)

- Mas então para que serve o tempo? - perguntou Lenina, admirada.
Aparentemente, para dar passeios na Região dos Lagos, pois era isso que ele propunha. Aterrar no cume do Skeddaw e fazer uma caminhada de duas horas entre as urzes.
- Sozinho consigo, Lenina.
- Mas Bernard, nós ficaremos sozinhos toda a noite.
Bernard corou e desviou o olhar.
- Eu queria dizer...sós para conversar murmurou.
Para conversar? Mas a respeito de quê? - Andar e conversar parecia-lhe uma estranha maneira de passar a tarde.
Por fim ela persuadiu-o, embora contra a sua vontade, a voarem até Amesterdão para verem a final do Campeonato Feminino de luta (pesos-pesados).
- Entre uma multidão - resmungou -, como e costume.
Conservou-se obstinadamente amuado toda a tarde; recusou-se a falar aos amigos de Lenina (que encontraram às dúzias no bar onde se bebiam gelados de soma nos intervalos das lutas), e, apesar do seu miserável estado de espírito, recusou-se terminantemente a tomar a dose de meio grama de sundae de framboesas que ela insistia que tomasse.

- Prefiro ser eu mesmo - disse - eu mesmo e desagradável.
E não qualquer outro, por mais alegre que seja.


Admirável Mundo Novo / Aldous Huxley / 1932

Capitalismo Sim, mas Não para Todos!

Vivemos em pleno capitalismo selvagem. Tudo se compra e tudo se vende. Não interessa que tipo de negócio seja, não há moralismos, o que interessa é o máximo lucro. Desde que haja alguém interessado em comprar e pague por isso, tudo é lícito, nem que seja comprar um trabalhador que dá uns chutos numa bola por quatrocentos milhões de euros. É o mercado a funcionar dizem alguns.

Mas depois, quando alguma pessoa, um qualquer particular compra um ingresso para um espetáculo por vinte ou trinta euros, seja um concerto de música ou um jogo de futebol, e tenta rentabilizar a sua compra, aí já vem logo a ASAE e prende as pessoas que muito rapidamente são julgadas de imediato tal como acabo de ouvir na rádio, que foram detidas duas pessoas por venda ilegal de bilhetes para o SL Benfica - FC Porto e já sabem que têm de entregar uma quantia de dinheiro a instuiçoes de solidariedade social ou fazer trabalho comunitário. 

O capitalismo é selvagem e tudo vale, mas é só para alguns, os grandes que muito roubam como os banqueiros. Os peixinhos pequeninos que se fodam. São sempre engolidos.


Só Valorizamos o Nosso País quando estamos Fora

"A gentileza. Nós portugueses, enquanto moramos em Portugal, não temos noção de quanto somos gentis, e eu dava isso um bocado por adquirido, mas não é assim em todo o lado. Poder contar com o outro ainda que o outro seja um estranho, na rua, poder entrar num café nem que seja para ir à casa de banho ou pedir um copo de água, que em Portugal é olhado com normalidade. Noutros sítios do mundo isso não é assim. E aqui não é assim. Eu acho que a forma como as pessoas se tratam umas às outras foi talvez o que mais me chocou ao vir para cá morar.

- De que e que sente mais falta de Portugal estando aí em Itália?

Meu Deus. Vou tentar não chorar, ok? 

As Lojas do Cidadão. São invenções fantásticas, e eu acho que ao mundo inteiro só fazia bem importar esse modelo. 

De funcionários dos serviços públicos que sejam de confiança. Nós não temos noção, eu não tinha noção de quanto são competentes os nossos funcionários dos serviços até vir para Itália. Também sei junto de amigos e conhecidos que moram noutros países que de facto em Portugal há uma confiança que nós temos nos funcionários, naquilo que nos dizem que noutros países não podemos ter. Não podemos porque hoje é uma coisa, amanhã já é outra, o horário dos serviços muda quase mensalmente...

Portugueses no Mundo - Antena 1



sexta-feira, 13 de abril de 2018

Cenas das Próximas Publicações

Via Google Images
Não faço imposições a mim mesmo. Escrevo quanto e quando me apetecer. Ainda por cima quando quase ninguém nos lê, ainda menos pressão se sente. Uma coisa é certa, não sofro do síndrome da página em branco. Quanto muito sofro do síndrome da página demasiado cheia. Haveria sempre tantos temas sobre os quais poderia escrever e opinar. Só que muitas vezes não há disponibilidade mental. Outras vezes não há inspiração, as coisas não fluem ou, simplesmente, por vezes não me apetece e não tem de apetecer sempre, apesar de, no meu entender, na escrita, tal como no sexo, quanto menos se faz, menos apetece.

Só para dar um cheirinho, muitos destes títulos podem muito bem ser futuras novas entradas no blogue: 

- A minha nova menina

- E a tua religião que heróis tem?

- O meu primeiro computador portátil chinês

- Quando o carro é como ter uma relação desgastada de muitos anos

- Há um vento que sopra do norte

- Entrevista a uma mulher viciada em pornografia

- Sem ninguém para proteger...

- Que se pode fazer na intimidade?

- Portugal Lda.

- Nunca mais meto ninguém da minha família na minha empresa

- As pessoas não gostam de ser corrigidas

- Módulos que o Passos Coelho vai ensinar na universidade

- Uma raquete tal como uma mulher

- Todos gostam da Anabela

- Ganhei o Euromilhões. E agora?

- Cristas, sabias que o PSD é um partido de Esquerda?

- A namorada da minha namorada é minha namorada também

- Os comentadores políticos da bola

- Dúvidas existenciais: Cupido

- Quando não era suposto ter nascido

- O outro lado dos provérbios: Maomé

- Carta aberta ao meu corpo

- Quem não sabe estacionar...

- O sexo e a fidelidade

- Como é ser uma figura pública

- O outro lado dos provérbios: conversas

.... ou então não, e se assim for ficam só os títulos.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Constatações Às 5 da Manhã

O presente é sempre o momento mais próximo que já estiveste da morte.

Não é no futuro que estás próximo da morte, é no presente. Então, vive o presente. E não faças grandes planos para viver no futuro. Porquê? Porque no futuro estás morto.



segunda-feira, 2 de abril de 2018

Há Não Muitos Anos o Português Escrevia-se Assim:

Christo / Satanaz / christã / catholicos / peccados / chonica / metter / symphatico / affeição / mezes / alfandega / flôr / d'estas / emquanto o commendador / elle / cabellos / um livro cahido /caricia promettedora / cadellinha / sete annos / já tinham seccado / um candieiro / no quarto de engommar / janella / sêdas claras / a ingleza / bemdita / velha egreja / as arvores / caldo de gallinha / os nossos bahús / sobre o hombro / pôz no chão / muito sêcca / columnas d'um altar / homemzinho / syllabas / fallou /Alemtejo /dôce / chásinho / hombros / d'ahi / velludo / donzella / bahús / ao ouvil-o narrar / philosophia / deshonesta / á sahida / effeito / occupamos / chammas / commover / accendeu / ingleza / mãosinha / Vizeu / Marianna / Rocio / idéa / desappareceu / utilisei / civilisação / aza / anarchia / orgão / logares /  tumulo / fórma / sympathia / Allemanha / Athenas / Egypto / Syria / Lybia / Hespanha / auctoridade / cincoenta / mordel-a / Jeoronymo / scientifico / tranquillisado / jornaes / heroe / fluctuavam / olhos azues-claros / succulenta / musulmanas / flaccidos / sósinho / signal / dou-t'a / collocal-a / creatura / quasi / columnas / Affonso / divan / panthera / arripiada / portuguezes....

(do livro "A relíquia" /  edição de 1945)

Via Google Images

domingo, 1 de abril de 2018

Um Anjo como Tu


# Jardim das Virtudes

Não Posso Tolerar a Tua Tristeza...



I can't tolerate your sadness
Cause it's me you are drowning
I won't allow any happiness
Cause everytime you laugh, I feel so guilty, I feel so guilty

Am I forced to have any regret
I've become the lie, Beautiful and free
In my righteous own mind
I adore and preach the insanity you gave to me

Sell me the infection, it is only for the weak
No need for sympathy, the misery that is me

I've lost the ability to paint the clouds
Cause it's me you're draining
I'm stuck in this slow-motion dark day
Cause everytime you run, I fall.. Behind, I fall behind

And so I hear my voice again
The tale of the bitter man here I am
Shake the silence and hear what it says
The tranquil pride that become the lie

Sell me to infection, it is only for the weak
No need for sympathy, the misery that is me

Sell me to infection, it is only for the weak
On bleeding knees, I accept my fate


"Only for The Weak" / Clayman / In Flames / 2000


Saldo Satânico


Conversas Improváveis (25)

Caminhávamos tranquilamente por um passadiço junto ao rio e passamos por um homem que fazia flexões vigorosamente. Suava como um boi e emitia uns sopros barulhentos. Observação dela:

"Não sei por que é que os homens se esforçam tanto para ter músculos quando uma boa língua fazia mais por eles."



Tristão, Isolda e o Filtro do Amor

Lembram-se da história de Tristão e Isolda? O enredo gira em torno da transformação da relação entre os dois protagonistas. Isolda pede à criada, Brangena, que lhe prepare uma poção letal, mas em vez disso, ela prepara-lhe um "filtro de amor", que tanto Tristão como Isolda bebem sem saberem o efeito que irá produzir. A misteriosa bebida liberta neles a mais profunda das paixões e arrasta cada um deles para um êxtase que nada consegue dissipar - nem sequer o facto de ambos estarem a trair infamemente o bondoso rei Mark. Na sua opera Tristão e Isolda, Richard Wagner captou a força da ligação entre os amantes numa das passagens mais exaltantes e desesperadas da história da música. Devemos interrogar-nos sobre o que atraiu para esta história e por que motivos milhões de pessoas, durante mais de um século, têm partilhado o fascínio de Wagner.

A resposta à primeira pergunta reside no facto de a composição celebrar uma paixão semelhante a uma outra real que ocorreu a vida de Wagner. Wagner e Mathilde Wesendonk tinham-se apaixonado de forma não menos insensata, se considerarmos que Mathilde era a mulher do generoso benfeitor de Wagner e que Wagner era um homem casado. Wagner tinha sentido as forças ocultas e insondáveis que por vezes se conseguem sobrepor à vontade própria e que, na ausência de explicações mais adequadas, têm sido atribuídas à magia ou ao destino.

A resposta à segunda questão é um desafio mais atraente. Existem, de facto, poções nos nossos organismos e cérebros capazes de nos impor comportamentos que podemos ser capazes, ou não, de eliminar através da chamada força de vontade. Um exemplo elementar é a substância química oxitocina. No caso dos mamíferos, seres humanos incluídos, esta substância é produzida tanto no cérebro como no corpo (nos ovários ou nos testículos). Pode ser libertada pelo cérebro a fim de participar, por exemplo, diretamente ou por interpostas hormonas, na regulação do metabolismo; ou pode ser libertada pelo corpo, durante o parto, durante a estimulação sexual dos órgãos genitais ou dos mamilos ou ainda durante o orgasmo, quando atua não só sobre o próprio corpo mas também sobre o cérebro. O seu efeito não fica nada atrás do efeitos dos elixires lendários. De um modo geral, influencia toda uma série de comportamentos higiénicos, locomotores, sexuais e maternos. 

Mais importante ainda para a minha tese, facilita as interações sociais e induz a ligação entre os parceiros amorosos. Um bom exemplo encontra-se nos estudos de Thomas Insel sobre o arganaz, um roedor com uma belíssima pelagem. Após um namoro fulminante e um primeiro dia de copulação repetida e apaixonada, o macho e a fêmea tornam-se inseparáveis até à morte. O macho adquire uma disposição hostil e quesilenta em relação a qualquer outra criatura que não seja a sua amada e mostra-se habitualmente muito prestável em torno do ninho. Uma ligação deste género não é apenas uma adaptação agradável, é também uma adaptação que trás muitas vantagens em muitas espécies, uma vez que mantém unidos aqueles que têm de cuidar da prole e contribui ainda para outros aspetos da organização social. Não há dúvida que os seres humanos estão constantemente a usar muitos dos efeitos da oxitocina, conquanto tenham aprendido a evitar, em determinadas circunstâncias, aqueles efeitos que podem vir a não ser bons. Não se deve esquecer que o filtro do amor não trouxe bons resultados para o Tristão e a Isolda de Wagner. Ao fim de três horas de espetáculo, sem contar com os intervalos, eles encontram uma morte desoladora.

O erro de Descartes / António Damásio / 1994