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quarta-feira, 7 de junho de 2023

ChatGPT - Risco de Extinção da Humanidade

Tenho lido dezenas de artigos de opinião sobre a Inteligência Artificial, quer artigos nacionais quer estrangeiros. Já ouvi também um ou outro programa sobre o assunto. Até fui rever o filme I.A. do Spielberg. Mas esta reportagem "A Próxima Palavra" de Isabel Meira na Antena 1 acho que é obrigatório ouvir.



"Agora poderia perguntar ao Chat GPT como fazer uma reportagem sobre o Chat GPT. Mas não o vou fazer.

"Quantas mais palavras conhecemos mais somos capazes de dizer o que pensamos e o que sentimos" (Saramago)

O silêncio quase absoluto aconteceu na vida de Catarina durante dez dias. 
"Quando a pessoa fica sem nada, ou seja, fico só eu comigo própria, sem qualquer outro estímulo. Catarina tem 26 anos, acaba de regressar de um retiro de silêncio em Espanha. 
"Uma pessoa entrega o telemóvel, não pode ler, não pode falar com os outros. São dez dias de meditação em silêncio, não é aceite sequer trazer cadernos para escrever. A pessoa tem que acordar às 4, 4 e meia começa a primeira meditação, depois duas horas de meditação e pequeno-almoço, um bocadinho de descanço, três horas de meditação, almoço, quatro horas de meditação lanche, não tínhamos jantar, eram duas peças de fruta, mais três horas dormimos. Esta rotina tem que ser mantida. Foi muito duro. 

Escolho falar sobre o silêncio e penso: "porquê falar do silêncio numa reportagem sobre o Chat GPT? A rádio não lida bem com o silêncio. O Chat GPT nunca fica em silêncio. Qual é o lugar do silêncio na vida?

Pequeno-almoço, almoço, jantar. Estava sempre com um livro ou um filme. Não podia estar comigo própria com os meus pensamentos no silêncio. Não para mim não existia. Tinha de ocupar a minha mente sempre com informação. Precisava de estar constantemente a consumir este tipo de informação.

O Chat GPT em particular foi treinado para uma coisa muito simples, que é prever a próxima palavra numa sequência de palavras. 

O que é que é diferente nestes modelos de linguagem? Eles foram treinados com grandes volumes de dados, quase com a internet toda, não é exatamente coma  internet toda mas com grande parte. Só para ter uma ideia o ChatGPT foi treinado com dados que, se um de nós fosse a ler durante 24 horas por dia demoraria cerca de 5 mil anos a ler. 

Esta noção da abrangência não é consensual. A investigadora Joana Gonçalves de Sá, um dos nomes mais destacados no estudo sobre enviesamentos e desinformação fala sobre desertos de dados e desconstrói a ideia de que o mundo está todo representado na internet. 

"Por exemplo, quando se diz "toda a internet" uma pessoa pensa logo em todas as redes sociais. Não é verdade. Tem uma grande preponderância duma rede social em particular, que se chama Reddit que se sabe que tem uma muito maior participação de jovens dos Estados Unidos. Portanto há uma grande sub representação da forma como pensam e falam e agem, esses jovens que estão nessa rede social. Que é uma minoria da população. Porque a internet também é enviesada e porque os sítios da internet escolhidos para treinar o modelo muitas vezes só porque os dados são disponíveis também são enviesados, estes modelos são naturalmente enviesados. Estes vão transmitir uma cultura particular, uma ideia particular, valores particulares e é muito mais fácil pensarmos que, se toda a gente está a usar esta ferramenta vai haver uma uniformização do tipo de informação a que eu tenho acesso e até quase do tipo de estrutura de pensamento e de comunicação a que eu posso chegar

A partir do momento que nós criamos um modelo de linguagem que fala como nós que faz o discurso estruturado que até pode usar vocabulário ou mais académico ou mais cuidado ao que nós tipicamente vemos na discussão do café, ainda mais credibilidade pode ter a informação que lá está. E existe muitas vezes a ideia que é muito difícil de combater que as coisas que são mais intuitivas ou que parece que fazem sentido, que é lógico, são erradas. Mas é fácil usar esse tipo de enviesamento de nós pensarmos "ah faz sentido" ou é provável para nós acharmos que é real. O que estes modelos de linguagem é provável. Portanto nós com facilidade podemos pensar que é real

E agora com o ChatGPT, escrevemos mais ou menos?
O filósofo e linguista norte-americano Noam Chomsky tem sido uma das vozes mais críticas considerando, numa das muitas entrevistas em que falou sobre o tema, que o ChatGPT serve apenas para evitar aprender e é basicamente uma forma de plágio de alta tecnologia

No senado norte-americano o presidente executivo da Open Ai foi questionado sobre o impacto do ChatGPT no mercado de trabalho. Aconteceu em todas as revoluções tecnológicas, normalizou-se diz Altman. O argumento é: muitas tarefas vão ser automatizadas com ganhos para os seres humanos. É uma espécie de mantra que tem acompanhado o norte-americano de 38 anos em digressão mundial. Sam Altman diz-se otimista mas pede aos governos que avancem com a regulação. Admite, por exemplo, que os modelos podem ser usados para manipular resultados eleitorais. O maior receio, diz, é que as tecnológicas causem um dano significativo ao mundo

Quatro meses depois de ter lançado o ChatGPT a Open IA apresentou o GPT4 e fez outra coisa para mostrar que já é tão bom ou melhor que os humanos em algumas profissões: passou o exame de admissão à Ordem dos Advogados norte-americana. 

A grande maioria destas revoluções que nós estamos a viver na era digital estão a ser lideradas por empresas privadas quase sem controlo nenhum dos Estados. 

Eu acho que é a primeira vez da era moderna em que nós estamos a desresponsabilizar-nos, nós cientistas e nós os Estados de ser atores muito participativos muito ativos em algo que é uma revolução científica e tecnológica. Portanto, estas empresas estão a conseguir fazer isto porque podem porque têm financiamento para ter acesso a estes dados, para ter capacidade computacional para os fazer e, eventualmente, até para toda a parte da curadoria humana. O ChapGPT depois tem humanos a corrigir não é? E eu não conheço centro de investigação nenhum que tenha este tipo de recursos. 

Para ilustrar o impacto que o fenómeno ChatGPT pode ter na sociedade a investigadora faz uma comparação simples: Nós lançarmos produtos destes para o mercado sem estarem regulados é quase como nós lançarmos medicamentos sem os testarmos antes. 

Eu tenho dado muitas vezes o exemplo da revolução industrial. Entre a descoberta da máquina a vapor e a primeira legislação a limitar o trabalho infantil nas fábricas passaram 70 anos. E esta primeira legislação ainda dizia coisas do tipo "crianças de 9 anos não devem trabalhar mais de 12 horas por dia. Coisas que para a nossa sensibilidade de agora são chocantes. E eu acho que quase sempre que aparece uma destas tecnologias e uma revolução tão grande nós temos um período que eu vou chamar a "idade negra" do desenvolvimento dessa tecnologia. Nós vamos fazer todas as coisas que nos vamos arrepender agora. E estamos a fazê-las muito rapidamente. Mas agora é a altura em que estamos a ter as crianças a morrer nas minas de carvão

Sam Altman avisa: se correr mal pode correr muito mal. E a tradução pode ser "risco de extinção da humanidade"

sábado, 7 de janeiro de 2023

A Americanização dos Serviços de Saúde Europeus em Curso


 Os governos conservadores sucedem-se no Reino Unido, a descapitalização dos serviços de saúde avança e o caos instala-se com centenas de mortos todas as semanas. As pessoas não conseguem consultas, automedicam-se, recorrem à internet e começaram as greves dos profissionais como nunca se viram. 

Nesta mesma semana em que saem notícias do caos da saúde britânica (esta notícia li-a no La Vanguardia)  abordou-se também no primeiro Old Friends do ano da Antena 1 a temática da saúde e, relembrar que os dois intervenientes são Júlio Machado Vaz e Sobrinho Simões são dois médicos e, como tal, com opiniões avalizadas sobre o tema. Aqui ficam alguns excertos bastante reveladores:

"Os serviços nacionais de saúde na Europa estão em risco de colapsar e não é por causa da Covid. É por questões de subfinanciamento e falta de pessoal. Nós não podemos dizer à malta: "não envelheçam"!


Em Inglaterra é caótico.
Há numerosas organizações a dizer que os governos conservadores têm tido um sistemático subfinanciamento. Depois a questão dos salários e de fuga de profissionais.

Está a acontecer uma americanização dos serviços de saúde na Europa?
É verdade. Está a acontecer isso que é péssimo pq o sistema americano do ponto de vista da eficiência é péssimo. O sistema é mais caro e muito pior que a Europa. Qualquer país da Europa, mesmo nestes fraquinhos, são melhor que os americanos em termos do custo-benefício. A América é extraordinariamente cara e é obsceno.

Todos nós portugueses ficamos espantados como é que há tantos hospitais privados e continuam a fazer hospitais privados num país pobre. Grande parte da medicina privada portuguesa é paga pelo contribuinte, por exemplo a ADSE.Sou a favor de manter a medicina privada e social mas não pode é ser à nossa custa.

Se há um tipo que tem um cancro e vai para uma instituição privada e nós já sabemos que se demorar mais de X semanas ele vai chegar ao teto e eles mandam-no para casa para um hospital público. Eles ganharam durante muito tempo com medicamentos caríssimos e ganharam uma vantagem económica enorme para os privados e depois os chaços vão para o público.

Acontece o mesmo com os partos. Se as crianças nascem bem é um sucesso e foi por cesariana e toda a gente fica felicíssima. Se por ventura ao terceiro dia a criança está mal, é pá chama-se o INEM e eles levam para o hospital público. E estes custos caem depois só no público.

sábado, 17 de dezembro de 2022

Um País Deveria Ser uma Mãe


Testemunho de uma mulher a viver há 19 anos na Alemanha. Talvez ilumine algumas mentes e explique como é que um país que ficou sob escombros na década de quarenta e que ainda por cima foi divido em dois, seja, de novo e há muitos anos, o motor da Europa. 

E também sirva de lição a muitos portugueses de mente muito pequenina, de pensamento salazarista que ficam muito revoltados quando o Estado português ajuda os mais carenciados, nomeadamente com apoios como o rendimento mínimo. 

"Eu não sei se vou utilizar a palavra correta mas a Alemanha foi uma mãe para mim. A Alemanha é uma mãe. Eu perdi a minha mãe muito jovem, tinha 20 anos. A Alemanha é uma mãe. Quando eu fiquei sem trabalho a Alemanha vem-me perguntar a mim o que é que eu precisava. Não fui eu que fui à procura de ajuda. Foram ele que mandaram uma carta para casa. A Alemanha é um país sério, muito sério. As pessoas não riem. Não são como os portugueses. O alemão não ri. Quando o alemão diz não é não, quando diz sim é sim. E a Alemanha deu-me um apoio enorme. 

A Alemanha disse: "Estás sozinha? Não tens dinheiro suficiente? Nós vamos-te ajudar. Precisas da língua? Nós pagamos-te um curso". Eu em Portugal trabalhei em contabilidade, "ai é? então nós pagamos-te um curso nessa área. Estás a passar frio? Então damos-te aquecimento".

Eu senti um conforto muito grande aqui. Eu tive vontade de voltar, claro. Só que o que me fez ficar foi "bom, já que aqui estou aprendo a língua e, já que estão-me a oferecer esta ajuda toda, então eu vou-lhes dar alguma coisa". 

Agradeço imenso porque Portugal nunca me perguntou nada".  

Toda a conversa pode ser ouvida aqui.

domingo, 9 de outubro de 2022

A Realidade do Brasil em 2022 - A Fome, Todos os Dias


Quem quiser conhecer a realidade do que é o Brasil em 2022 ouça a reportagem da Antena 1 "A Fome, Todos os Dias" de Isabel Meira.

Deixo aqui algumas frases soltas da reportagem.

"Ninguém escolhe ser pobre. Alguém escolheu ser pobre?
Muita gente diz: "está na rua porque quer". Vocês acreditam nisso? E então cai em cima da pessoa a culpa. Ele está na rua porque é culpa dele, porque quer".

"Só na cidade de São Paulo mais de quarenta mil pessoas vivem na rua".

"Há uma grande exploração da mão-de-obra da população de rua. Todos os shows do Rock in Rio, por exemplo, quem monta as estruturas duras do show é a população de rua. E muito explorada. (Recebem 1€ por hora, trabalhando 12 horas por dia)

"No Brasil 33 milhões de pessoas passam fome". (não têm uma única refeição para comer ao longo do dia e dependem de apoios)

"Com a destituição de Dilma a partir de 2016 houve um retrocesso na lei do trabalho. A maior parte dos trabalhadores hoje no Brasil está sem contrato".

"Quem está passando fome é também quem trabalha mas sem contrato de trabalho".

"Segundo a FAO tudo que nos tirou do mapa da fome foi destruído".


"A fome tem vários rostos mas há um que se destaca: mulheres, monoparentais, com crianças, negras"

"Quase 120 Milhões de brasileiros vivem hoje com algum grau de insegurança alimentar" (mais de metade da população)

"O paradoxo do neoliberalismo brasileiro: mais uma vez este ano vamos bater recordes de produção de alimentos; vamos bater recordes de fome no Brasil; recordes de desmatamento; e recordes de obesidade".

"Os quatro problemas estão ligados que tem na sua raiz o sistema alimentar que consegue gerar e ser responsável por um PIB e pelas nossas exportações e ao mesmo tempo gera fome, gera miséria e gera má alimentação".

"No Brasil a esperança média de vida das pessoas trans é de 35 anos. Metade da média nacional".

"Os pobres vão morrer. A fome n é uma sensação passageira. É uma privação contínua. A lógica do capitalismo neoliberal é o descarte. O capitalismo neoliberal n funciona sem o descarte. A população que vc viu ela é descartável. Dificilmente eles vão ter saída".

"Tudo é política. Mas tem uma política que é predatória e que atua para produzir fome e miséria no mundo. É política".

"Não tem um lugar no mundo em que eu deixaria uma flor brotar com a confiança que ela não será esmagada".

terça-feira, 14 de junho de 2022

Tratamos bem os Nossos Artistas? Ou Agora que Morreu Podemos Elogiar?

Camões, Zeca Afonso, Saramago. Só para citar estes três exemplos.

Esta semana, quando vi o enorme destaque, meia primeira página dado pelo The Guardian à morte de Paula Rego, refleti se, de facto, tratamos bem os nossos artistas. E a verdade acho que tratamos muito mal os nossos artistas. Muito bem tratados, como se fossem heróis, tratamos quem dá uns pontapés numa bola, esses sim, até lhes erguem estátuas em vida.

Camões, como se sabe, foi preso várias vezes e enterrado como um indigente numa vala comum. 

Saramago basicamente foi expulso do país pelo governo de Cavaco, Santana Lopes e Sousa Lara. Foi viver para Espanha e por lá sempre foi bem tratado. Entretanto vence o Nobel e as críticas em Portugal calaram-se e passou a ser o maior porque, infelizmente, muitas vezes os artistas só são reconhecidos quando têm grande destaque lá fora.  

Mas sobre a forma como tratamos os artistas, de como é o portuguesinho e dando o exemplo de como foi tratado Zeca Afonso tem a palavra Júlio Pereira no programa da Antena 1 "Encontros Imediatos":

"Nós somos um país estranho. Os portugueses são mais ligados a dar importância a alguém que já morreu do que alguém enquanto é vivo. É uma realidade diferente dos ingleses, enquanto os ingleses têm, por exemplo, um sentido de comunidade maior, por exemplo, até as empresas têm prazer em dar dinheiro, em dar uma verba qualquer para qualquer coisa cultural, etc. Há um prazer relacionado com comunidade. E eu acho que nós cá não temos. 

José Afonso morreu de uma forma muito triste, porque os últimos anos dele (ele sabia porque via e não era tolo, era um homem muito inteligente) mas via, de facto, toda a gente a afastar-se dele. A comunicação social dizia coisas absurdas dele (terem classificado um disco dele como o pior quando hoje sabemos que são temas que se tornaram intemporais), mas repara que hoje, todos são amigos de José Afonso. Nós temos esta capacidade que é muito absurda, parece que toda a gente não gosta que o vizinho seja melhor ou tenha mais: Há uma espécie de virar costas, há uma espécie de insegurança na nossa maneira de ser". 

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

O Candidato Mais Velho das Autárquicas 2021

Não tenho acompanhado grande coisa da campanha eleitoral nem sequer me interessam os debates do Porto ou Lisboa, afinal, não voto em nenhuma dessas autarquias. Interessa-me acompanhar minimamente o que se passa na minha freguesia e no meu concelho. Fui acompanhando algumas candidaturas, mas em consciência sei que só tenho uma opção de voto na freguesia, e duas para a câmara. 

Sei que a cobertura jornalística tem sido miserável e parcial. Contudo há exceções. Ontem, por exemplo, fiquei maravilhado com a reportagem da Antena 1 que acompanhei no carro. 

Na aldeia dos Cortiços em Macedo de Cavaleiros a Antena 1 encontrou um candidato com 101 anos, Mário Cardoso, nas listas da CDU, que é mais velho que o partido, o PCP (que tem 100 anos) e assume-se comunista desde sempre (apesar de também ter chegado a votar nos socialistas).

"Não íamos votar porque não nos deixavam falar. Os PIDE logo nos abafavam. Uma vez eu estava com o meu pai numa feira (o meu pai já era revolucionário naquele tempo) e estávamos a falar a respeito de política e vieram logo prender o meu pai e o compadre. Eram preso e nunca mais se viam. 

"Eu sou comunista sim senhor por causa que detesto aquele homem que come o pão e não trabalha, porque um comunista quer o que é direito, não quer o que é dos outros". 

"A gente agora queixa-se com mimo. Agora não falta nada. Agora come melhor a minha cadela do que comia a gente antigamente". 

Na reportagem da Antena 1 ficamos também a saber que Adriano Correia de Oliveira, cantor de intervenção, dedicou a Mário Cardoso a música "Em Trás-os-Montes à tarde":

 


"Um homem nunca devia
Mandar noutro homem
Todos juntos é que vamos
Mandar na terra.
Assim falou um pastor 
Por entre matos e urzes 
Nas cercanias da herdade 
Onde a esperança se faz vida 
Onde o trigo é testemunha 
Da vontade colectiva 
Em Trás-os-Montes à tarde 
Na Herdade dos Cortiços. 
Trigo que nasce da terra 
No fim de muita canseira 
Como um filho é gerado 
No ventre da companheira 
E se o trigo é um filho 
Da terra que o fez medrar 
Não pode mandar na terra 
Quem a terra não amar.

Assim falou um pastor 
Na tarde que adormecia 
Assim falou acordado 
Com muita sabedoria 
Da terra nasce o centeio 
Nasce o vinho nasce o grão 
Com o trabalho do homem 
A terra se faz em pão. 
Homem que manda no homem 
Como quem manda no gado 
Não cabe aqui entre a gente 
Terá de ir pra outro lado 
Aqui quem manda na terra 
É vontade colectiva 
Em Trás-os-Montes erguida 
Na Herdade dos Cortiços.


A reportagem da Antena 1 com Mário Cardoso pode ser ouvida aqui.

domingo, 25 de outubro de 2020

O Que É Isso dos "Médicos pela Verdade"?

"Fui ver a página dos Médicos pela Verdade e virologistas lá não há. Há anestesistas o que é muito bom, porque isto é para anestesiar o cérebro, não é? (Cyntia de Benito)

"Uma pessoa que não acredita em Deus não pode ser padre. Uma pessoa que acredita que a terra é plana não pode ser astronauta; e uma pessoa que diz que não se pode testar uma pessoa e que é contra o uso das máscaras, pode ser presidente dos Estados Unidos, mas não tem o direito de exercer medicina".

"Existe uma politização da doença e esse movimento (Médicos pela Verdade) faz parte desse movimento, da negação das evidências científicas por uma crença irracional contra tudo que já foi descoberto. (Jair Ratner)



sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Ao Cuidado do Provedor da RTP

Semana passada. Saio do trabalho e vou na viagem para casa. Às 18 horas ouço o noticiário da rádio pública na Antena 1. Chamou-me a atenção a notícia que, apesar da enorme quantidade de pobres que o país tem, o risco de pobreza tem vindo de forma sustentável sempre a descer nos últimos anos.  

Pouco depois já em casa dos pais, a televisão depois 19 horas costuma estar sempre sintonizada na RTP e aquela hora o Fernando Mendes é senhor das audiências. Até que, de repente, entra o Telejornal, e eis se não quando, entra José Rodrigues dos Santos, extremamente exaltado e  em tom sensacionalista abre o noticiário dizendo: "Risco de pobreza em Portugal aumentou"!


Foda-se! Espera lá! Mas isto não é o mesmo que ler o escarro do Correio da Manhã e depois ler algo diferente no Diário de Notícias! Estamos a falar do mesmo órgão de comunicação social que foi beber a informação ao INE! E o mais engraçado de tudo é que, no próprio site da RTP de 26 de Novembro, consta lá que, de facto o risco de pobreza em Portugal diminuiu! 

Isto é um facto tão interessante que eu acabei de questionar o senhor provedor da RTP, se afinal as notícias na RTP são dadas em função da ideologia do senhor apresentador. Porque se não é parece!

domingo, 9 de dezembro de 2018

Por Que é Que os Políticos Estão Cada Vez Mais Medíocres?

"A condução de uma luta destas, deste teor, exige uma coisa que o senhor Macron não tem: que é saber de política. 
- E ter um partido de preferência.... 
- e uma guarda organizada...
- e consciente...
O Vladimir Ilitch dizia sempre que isso fazia muita falta. 
Eles não leram isso.
Eles não lêem nada. 
Só lêem em transcrições. Que é pior que do não ler de todo. Lêem sempre transcrições, às vezes até de jornalistas que ainda é pior.
- O que ainda é pior. E traduzidas em russo. 

(...)

E sobretudo, os políticos tradicionais, deste sistema, são os que não leram coisa nenhuma. Sabem de uma coisa normalmente, são financeiros. Mas não sabem mais nada pá. Não sabem História, não as coisas que apesar de tudo são possíveis para nós conhecermos os homens e a natureza humana. Não lerem os clássicos, não leram nunca a bíblia de fio a pavio (que também ajuda muito). Quer dizer, estas coisas tradicionais, não sabem nada. E portanto, vivem de uns spin doctors não é?, de uns conselheiros que lhes metem umas coisas, umas frases resumidas na cabeça antes de fazerem um discurso, e portanto estas situações para eles são muito complicadas. E gostam de ser espertos também. 
- E há um charme, uma busca... e ainda por cima isso nota-se que não joga a bota com a perdigota. Ou seja, preciso de um spin off qualquer, duma boutade não é, mas essa boutade não tem nada a ver e muitas vezes deslocada com o essencial e com a realidade. 




quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Conhecer Melhor os Portugueses na Europa

O relatório da PORDATA que faz o retrato de Portugal na Europa foi apresentado ontem e creio que apresentará alguns dados surpreendentes para muitas pessoas. Afinal, será que nos conhecemos assim tão bem?

Antes de mais parem de dizer que Portugal é um país pequeno! Esse é mais um mito que se repete erradamente, mas que não corresponde minimamente à verdade. Portugal é hoje o 12º mais populoso da União Europeia. Existem dez países na União Europeia que têm menos de cinco milhões de habitantes! Não temos que ter nenhum complexo de inferioridade, nós fazemos parte, sublinho, dos maiores países da Europa. 

Depois, o dado que achei mais interessante e surpreendente: a maioria das crianças que nasce em Portugal, nascem fora do casamento e parecidos connosco só os países do norte da Europa, como os suecos e dinamarqueses. No oposto estão estão os italianos e os gregos. Ou seja, nós não somos o país tipicamente do sul da Europa. Interpretação minha, que acho que não será abusiva, dizer que isto significa a completa falência da instituição casamento e da Igreja Católica. 

Depois, puxar o ego para cima - já basta os jornais e televisões para nos enterrar - e nos aspetos positivos dizer que, nós somos o país que, desde os anos sessenta até hoje, mais reduziu a mortalidade infantil quer da Europa como no Mundo. 

No que se refere à saúde, por vezes muito se fala pelos piores motivos, mas na verdade a Esperança Média de Vida dos portugueses é superior à média europeia.

Estes e outros dados podem ser ouvidos na entrevista da Antena 1 à diretora da Pordata, Maria Valente Rosa aqui.



sábado, 22 de setembro de 2018

Nos Estados Unidos Paga-se por ir para a Cadeia e se Não se Pagar Vai-se Preso de Novo!

"O que me fez perder a cabeça esta semana...

Os Estados Unidos tem uma das maiores populações carcerárias do mundo, perto de um milhão de pessoas e, em quarenta e nove dos cinquenta Estados norte-americanos, quem sustenta os prisioneiros não é a sociedade mas sim os próprios prisioneiros. No final de cumprir a pena eles levam para casa uma conta para pagar. Se não pagarem perdem os bens, perdem a casa, perdem tudo o que têm, e em alguns Estados, se eles não conseguirem pagar ainda vão para a prisão de novo

Na Florida por exemplo, depois de três anos de prisão, num caso, um senhor saiu com uma dívida de 55 mil dóllars. Bom, e ele trabalhou na prisão. Só que o problema é que o salário na prisão é 55 centavos de dóllar por hora. O salário mínimo nos Estados Unidos é de 8,45 dóllars por hora. Ou seja, se ele trabalhasse onze anos, sem tirar dinheiro nenhum dentro da prisão, ele talvez conseguisse pagar a dívida de três anos de prisão. Mas ele não estava mais na prisão para pagar. Com o salário mínimo da Florida ele precisaria de três anos sem gastar nada, sem comer, sem pagar aluguer, sem pagar nada, com o salário mínimo para poder o tempo de prisão que ele teve. 

Quer dizer, como é que eles querem reabilitar os criminosos...?

Jair Rattner / O Esplendor de Portugal / Antena 1


domingo, 15 de abril de 2018

Só Valorizamos o Nosso País quando estamos Fora

"A gentileza. Nós portugueses, enquanto moramos em Portugal, não temos noção de quanto somos gentis, e eu dava isso um bocado por adquirido, mas não é assim em todo o lado. Poder contar com o outro ainda que o outro seja um estranho, na rua, poder entrar num café nem que seja para ir à casa de banho ou pedir um copo de água, que em Portugal é olhado com normalidade. Noutros sítios do mundo isso não é assim. E aqui não é assim. Eu acho que a forma como as pessoas se tratam umas às outras foi talvez o que mais me chocou ao vir para cá morar.

- De que e que sente mais falta de Portugal estando aí em Itália?

Meu Deus. Vou tentar não chorar, ok? 

As Lojas do Cidadão. São invenções fantásticas, e eu acho que ao mundo inteiro só fazia bem importar esse modelo. 

De funcionários dos serviços públicos que sejam de confiança. Nós não temos noção, eu não tinha noção de quanto são competentes os nossos funcionários dos serviços até vir para Itália. Também sei junto de amigos e conhecidos que moram noutros países que de facto em Portugal há uma confiança que nós temos nos funcionários, naquilo que nos dizem que noutros países não podemos ter. Não podemos porque hoje é uma coisa, amanhã já é outra, o horário dos serviços muda quase mensalmente...

Portugueses no Mundo - Antena 1



sábado, 27 de maio de 2017

Como é que se pode dizer a uma pessoa que é demasiado feliz?

Quase todos os dias, de manhã, na viagem de casa para o trabalho, ouço o programa da Antena 1 "Portugueses no Mundo", em que ouvimos as experiências de diferentes portugueses que decidiram emigrar para estudar ou trabalhar noutros países do mundo. Aprende-se muito sobre as diferentes culturas, e muitas vezes retenho algumas coisas, como neste episódio:


- Como é que foi quando chegou a Colónia?

Cheguei à Alemanha em Janeiro, estava frio, frio, frio. E além do tempo frio, as pessoas também são frias e Portugal era uma coisa praticamente desconhecida. Portanto nós eramos uma província de Espanha, nós falávamos todos espanhol, com jeitinho também falávamos francês, e foi todo um processo de explicar que isso não é verdade. Nós somos um país, e somos um grande país, apesar de estarmos na pontinha da Europa... E uma das coisas que me disseram e que me deixou profundamente chocada foi que eu sorria muito e que eu não podia ser tão feliz. Quando eu ouvi isto eu fiquei como assim? Como é que se pode dizer a uma pessoa que é demasiado feliz? Eles são pessoas muito frias, os alemães em geral, mas depois de um processo de adaptação corre bem, só que temos de nos adaptar.

Mafalda Pereira, 24 anos,  há um ano e meio na Alemanha

O programa pode ser ouvido aqui.