quarta-feira, 22 de setembro de 2021

O Candidato Mais Velho das Autárquicas 2021

Não tenho acompanhado grande coisa da campanha eleitoral nem sequer me interessam os debates do Porto ou Lisboa, afinal, não voto em nenhuma dessas autarquias. Interessa-me acompanhar minimamente o que se passa na minha freguesia e no meu concelho. Fui acompanhando algumas candidaturas, mas em consciência sei que só tenho uma opção de voto na freguesia, e duas para a câmara. 

Sei que a cobertura jornalística tem sido miserável e parcial. Contudo há exceções. Ontem, por exemplo, fiquei maravilhado com a reportagem da Antena 1 que acompanhei no carro. 

Na aldeia dos Cortiços em Macedo de Cavaleiros a Antena 1 encontrou um candidato com 101 anos, Mário Cardoso, nas listas da CDU, que é mais velho que o partido, o PCP (que tem 100 anos) e assume-se comunista desde sempre (apesar de também ter chegado a votar nos socialistas).

"Não íamos votar porque não nos deixavam falar. Os PIDE logo nos abafavam. Uma vez eu estava com o meu pai numa feira (o meu pai já era revolucionário naquele tempo) e estávamos a falar a respeito de política e vieram logo prender o meu pai e o compadre. Eram preso e nunca mais se viam. 

"Eu sou comunista sim senhor por causa que detesto aquele homem que come o pão e não trabalha, porque um comunista quer o que é direito, não quer o que é dos outros". 

"A gente agora queixa-se com mimo. Agora não falta nada. Agora come melhor a minha cadela do que comia a gente antigamente". 

Na reportagem da Antena 1 ficamos também a saber que Adriano Correia de Oliveira, cantor de intervenção, dedicou a Mário Cardoso a música "Em Trás-os-Montes à tarde":

 


"Um homem nunca devia
Mandar noutro homem
Todos juntos é que vamos
Mandar na terra.
Assim falou um pastor 
Por entre matos e urzes 
Nas cercanias da herdade 
Onde a esperança se faz vida 
Onde o trigo é testemunha 
Da vontade colectiva 
Em Trás-os-Montes à tarde 
Na Herdade dos Cortiços. 
Trigo que nasce da terra 
No fim de muita canseira 
Como um filho é gerado 
No ventre da companheira 
E se o trigo é um filho 
Da terra que o fez medrar 
Não pode mandar na terra 
Quem a terra não amar.

Assim falou um pastor 
Na tarde que adormecia 
Assim falou acordado 
Com muita sabedoria 
Da terra nasce o centeio 
Nasce o vinho nasce o grão 
Com o trabalho do homem 
A terra se faz em pão. 
Homem que manda no homem 
Como quem manda no gado 
Não cabe aqui entre a gente 
Terá de ir pra outro lado 
Aqui quem manda na terra 
É vontade colectiva 
Em Trás-os-Montes erguida 
Na Herdade dos Cortiços.


A reportagem da Antena 1 com Mário Cardoso pode ser ouvida aqui.

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