sexta-feira, 3 de setembro de 2021

E Se Eu Te Dissesse Porque é Que Toda a Gente Anda a Dizer "Top"?


Durante a tarde tinha apanhado na rádio a reposição do programa da Inês Menezes "O Baile das Palavras", que explorou as nuances das palavras entre duas pessoas que falam o mesmo português, mas em Portugal e no Brasil. Nuances como, por exemplo, dizermos em Portugal "partir uma perna" e os brasileiros "quebrar uma perna"; ou como aqui "aquecemos" o leite ao passo que lá eles dizem "esquentam" o leite; ou ainda aqui "magoaste" o braço e do lado de lá do Atlântico dizem "machucar" o braço.

À noite, estive à conversa com a minha amiga carioca, e acabei por lhe contar sobre o programa e manifestar o meu desagrado por, cada vez mais pessoas por aqui estar sempre a usar expressões em inglês, quando na nossa língua, que deveríamos defender, há outras para ser usadas. 

E lembrei-me do maior vírus que está a infestar a linguagem e as pessoas em Portugal, e, para o qual parece que ainda não existe vacina:

"Agora por aqui toda a gente diz "top". É top isto, top aquilo. É top o caralho que os foda! 

A minha amiga ri e responde: 

"Isso é daqui! Top é gíria de São Paulo"!

E caiu-me a ficha! porque não fazia ideia de onde é que isso do "top" tinha começado e, claro, faz todo o sentido porque cada vez mais, devido às redes sociais cada vez mais os portugueses se abrasileiraram sem se dar conta disso. 

E não deixa de ser muito curioso que, aquando do Acordo Ortográfico de 1990 que a maioria dos portugueses foi contra, e até se dizia que era uma subserviência ao Brasil (e curiosamente os brasileiros também estavam contra o mesmo acordo!) e era só gente revoltada por cá, porque tínhamos acabado com as consoantes mudas, mas é mesmo muito irónico agora constatar que, são os próprios portugueses a abdicar da sua língua, primeiro utilizar de forma parola o inglês, e depois a abdicar dos nossos regionalismos, da cultura e diferença das nossas cidades, a diferença entre dizer "estrugido" ou "refogado", para, voluntariamente e sem que ninguém os tenha obrigado, a adotar um linguajar com um estrangeirismo, que até é uma gíria de uma região do Brasil. 

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