sábado, 31 de dezembro de 2022

Não lhe Dava Mais de 36

 A minha mãe pergunta-me que idade tinha a cantora (Cláudia Isabel) que morreu há dias de acidente de viação. Googlei mas o mais engraçado é que, os dois primeiros resultados, e estamos a falar de sites de jornais (Jornal de Notícias e Diário de Notícias), supostamente fontes de informação fidedigna, e surpreendentemente dão-me resultados bem diferentes:


Que 2023 nos continue a brindar com informação rigorosa!

Pista Sobre uma Morte Inesperada

 

fineartamerica.com

Foi no verão de 2018 que acordei morto num quarto de Hotel. E, não sei como é com o resto das outras pessoas e se têm a mesma sensação do que eu, mas na minha vida parece que tudo se repete e volta a repetir - e é curioso que ainda hoje fiquei a saber que aquela cantora Claudisabel, que recentemente morreu de acidente de viação, já tinha dito que havia tido um outro no passado, e que lhe deixou sequelas - e também eu, lá voltei a morrer da mesma forma absolutamente estúpida. 

Tinha acabado de chegar ao quarto com a cabeça aberta e toda ensanguentada. Trouxe gelo. Mas mais importante, ainda me lembrei de escrever um bilhete a explicar o sucedido: "bati na mala e abri a cabeça". 

Já sabia que havia a possibilidade de acordar morto e depois como é que ia ser? Iam dar comigo com a cabeça toda ensanguentada. Ia ter que vir a polícia judiciária e chatear os meus pais e os meus colegas do ténis-de-mesa iam ser suspeitos, afinal, tinham sido as últimas pessoas que me viram vivo. E quem é que iria ser suspeito de me ter dado uma bordoada na cabeça? E porque motivo? Nunca ninguém iria desvendar o mistério! Isto ia ser pior do que o filme da Madeline McCann! Assim o mistério estava já desfeito numa folha branca com letras maiúsculas. Uma pessoa assim morre descansada!

Já era quase meia noite quando me lembrei que no dia seguinte tinha combinado de ir entregar as rodas do meu Scarlet. E ainda por cima ia trabalhar no dia seguinte, o último dia de trabalho de 2022, depois de uns dias de férias meio compulsivas, porque, voluntariamente, nunca me lembraria de gastar os poucos dias de férias que temos, ali entre o Natal e o ano novo. E lá as fui buscar aquela hora para não o ter que fazer na manhã seguinte antes de ir para o trabalho.

O impacto foi tão violento que percebi de imediato que a situação era grave. Meti a mão na cabeça e esta veio pintada de vermelho. Tinha aberto a cabeça e feito um belo dum hematoma, Enfiei a cabeça debaixo da caleira, e ali fiquei, durante uns minutos, a lavar a cabeça com água da chuva a jorrar por cima da cabeça tentando estancar a hemorragia.

Fui para casa, não incomodei ninguém. Meti-me na cama e esperei pelo sono profundo.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Demência: O Tema Tabu do Futebol

É curioso que, ainda por estes dias, aquando da morte do grande goleador e cabeceador do FC Porto, Fernando Gomes, falava precisamente que jogador da bola não morre de velho.

Estou em crer que o maior tabu do futebol é que não existe homossexualidade na modalidade. "O futebol é para homens de barba rija", "o futebol não é para meninas", dizia-se. Infelizmente os homens que hoje jogam à bola transformaram-se numas meninas teatrais e o futebol feminino envergonha-os jogando um futebol muito mais limpo e com mais tempo útil de jogo. 

Mas o outro tabu de que não se fala é, e que encontrei este bom artigo no jornal espanhol El País é a demência no futebol:


O facto de as doenças neurodegenerativas serem pouco faladas em Espanha no vasto universo do futebol não torna o assunto menos ou inexistente. Acostumado à chuva massiva de publicidade positiva, o futebol tem pavor de enfrentar desafios incómodos.

"Dos 11 titulares da seleção inglesa que venceu a Copa do Mundo de 1966, só sobreviveram o atacante Geoff Hurst e Bobby Charlton, diagnosticados com demência em 2020. Quatro outros jogadores -Jack Charlton, Ramon Wilson, Nobby Stiles e Martin Peters- morreram depois de muito tempo processos de demência. É uma desproporção assustadora.

Em 2002, morreu com 59 anos Jeff Astle, antigo avançado do West Bromwich e da selecção inglesa. Uma autopsia realizada em 2014 revelou que sofria de encefalopatía crónica traumática, conhecida anteriormente como demência pugilística

Fidel Uriarte e Txetxu Rojo, dois jogadores extraordinários, rapidamente forjaram a lendária ala esquerda do Athletic nos anos 1960, novamente na memória dos adeptos após a recente morte de Rojo, aos 75 anos. Em 2016, Fidel Uriarte morreu, aos 71 anos. Ambos eram afetados por doenças neurodegenerativas, muito comuns no futebol para enterrar sua importância".

Toda a gente sabe disto mas não se fala. Enterra-se a cabeça na areia e fazermos de conta que o problema não existe. E os papás? que metem os filhinhos nas escolas de futebol? Gostam assim tanto deles, ou acham que é mais importante que possam vir a ganhar muito dinheiro a ter uma vida com saúde?

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Quando Portugal Ardeu - O Livro Que Deveria Ser Obrigatório Ler


Estou em crer, e não acho que estou a ser pessimista, que a larga maioria dos portugueses não percebe um cu de política e nem se interessa em querer saber. E a metade que ainda vota é mais ou menos como o Fernando, aquele sujeito que se mete à frente das câmaras e que o apelidam de Emplasto: um dia é do Benfica no outro é do FC Porto, consoante aquilo que lhe dá mais jeito, ainda que a ele dá-lhe jeito porque a vida dele é ir assistir aos jogos de futebol e cobrar 2€ por uma fotografia. "Olha, estudásses"! Os portugueses também são do Benfica (PS) ou do FC Porto (PSD), ou doutro clube qualquer emergente, consoante aquilo que as televisões lhe dão a comer, mas que, na verdade, raramente é aquilo que melhor satisfaria os seus interesses, porque, infelizmente, a maior parte da população não tem qualquer consciência de classe. E na eleição seguinte deixa de ser do Benfica e passa a ser do FC Porto e tudo continuará sempre assim indefinidamente. 

Se perguntarmos à maioria dos eleitores o porquê de votar neste ou naquilo partido, será que nos darão uma resposta minimamente válida? Será que sabem o que diz o programa dos diversos partidos ou votam por mera simpatia, pela carinha mais laroca ou aquele artista que aparece mais vezes nas televisões?

Para se saber de política portuguesa é preciso saber de onde vieram os partidos. É preciso conhecer o seu passado,  saber o que foram os 48 anos de ditadura e saber quem lutou e pagou com própria vida o preço da liberdade; é preciso saber em que moldes se deu o 25 de Abril, e quem depois lutou, com atentados à bomba e dezenas de mortos e tudo para que, novamente, se instaurasse uma ditadura de extrema-direita; é preciso saber que posições tomaram os diferentes partidos; quem era a esquerda e de extrema-esquerda, quem era de esquerda e "pelo socialismo" e agora foge dele como o Diabo da cruz; é preciso saber de que lado estiveram os diferentes partidos, quem defendem, que os financia. Para se saber de política, bem mais até que saber de ideologias, é preciso ter memória, é preciso saber o que andaram a fazer no seu passado para facilmente podermos antecipar o que farão no presente apesar de toda a propaganda demagógica que nos querem vender. 

É preciso também ter memória, que, como sabemos, infelizmente anda pelas ruas da amargura. Mas, se não vivemos esse tempo, esses acontecimentos - tal como eu não os vivi - então é preciso querer saber, é preciso interessar-se, é preciso estudar e ler. 

E há muito que queria ler "Quando Portugal Ardeu" de Miguel Carvalho. Foi este verão. Aconselho a todos que, como eu, queiram abrir um bocadinho os olhos sobre o pós 25 de abril e sobre como se comportaram os diversos intervenientes. Mas advirto desde já que se podem escandalizar todos aqueles que comeram a cartilha oficial. 

Sinopse:

"Quem foram as primeiras vítimas mortais da democracia? Por que razão foram assassinados Padre Max, Rosinda Teixeira e Joaquim Ferreira Torres? Quem protegia e que segredos escondia a rede bombista de extrema-direita? Como enfrentou o cônsul dos EUA no Porto o PREC? O que relatam os diários do norueguês baleado no Verão Quente de 1975? Como é que a Igreja mobilizou e abençoou a luta contra o comunismo? O que sabia a PJ sobre o terrorismo político e tudo o que nunca chegou a julgamento? Com recurso a centenas de documentos, entrevistas e testemunhos inéditos, esta investigação jornalística traz à luz do dia histórias secretas ou esquecidas do pós-25 de Abril. Quando Portugal ardeu e esteve à beira da guerra civil."

Introdução:

"Este livro é jornalismo, não é História. 
Fala do "lado B" da revolução. Retrata personagens, recupera relatos e desvenda segredos de uma época de inusitada violência política, entretanto apagada da memória histórica ou das "memórias consensuais" do regime saído da revolução de abril de 1974.
Este apagão não é inocente.
A versão dos vencedores de um determinado período histórico guarda sempre esqueletos no armário com receio de que possam deslustrar o retrato público, os consensos políticos e sociais, e o unanimismo sobre os factos trabalhado ao longo de décadas.
A imposição dessa memória concordante, sem grandes fissuras, sobre a época de maior confronto ideológico, político e social da democracia insere-se, pois, numa estratégia de domínio. "O controlo da memória de uma sociedade condiciona largamente a hierarquia do poder", escreveu o antropólogo social Paul Connerton, no famoso ensaio Como as Sociedades Recordam (...)

Este livro pretendo, por fim, iluminar as trevas de uma época irrepetível, obedecendo a um ponto de vista jornalístico e a um conceito moral de de ver e de memória que recusa as "estratégias do esquecimento" teorizadas por Paul Ricoeur. 
No conjunto dos 18 capítulos, este livro é, na esmagadora maioria, inédito e original, mas também recupera e atualiza relatos, memórias e episódios trazidos a público, em primeira instância na revista Visão. O que vão ler é, pois, a outra história da revolução. Uma narativa que foi sendo obstruída, reciclada ou sujeita a demasiados esquecimentos, mas que sobreviveu até aos nossos dias e se oferece enquanto escrutínio e contraste de versões canonizadas. A construção da democracia não foi apenas isto? É verdade. Mas foi também isto. A História, essa, será sempre o que fizermos dela". 

Só para aliciar algum internauta que por aqui passe, vou transcrevendo algumas das muitas coisas que me chamaram a atenção e tomei nota. Mas o ideal é comprarem o livro e tirarem as vossas próprias conclusões. 
pág.22

"João entrara com nove anos no Seminário de Angra do Heroísmo, desejo dos pais que o queriam ver padre. "Não era apenas por devoção. Era a única maneira das famílias pobres darem estudos aos rapazes e encaminhar o seu futuro", conta a irmã Esmeralda. 

pág.68

"O comparsa "Morgan" era também um dos nomes fictícios usados por Yves Guillou, aliás Guérin-Sérac. Oficial de carreira das Forças Armadas Francesas, o veterano das guerras da Coreia, Indochina e Argélia aperfeiçoara as técnicas de subversão, sabotagem e ação psicológica. Condecorado inclusive pelos EUA, este ex-membro da organização militar secreta francesa OAS seria uma das pontas soltas da CIA na Europa, ocultada na operação multinacional secreta intitulada Stay-behind, composta por células clandestinas ligadas aos interesses da NATO e do Vaticano. Na época da "Guerra Fria" a ordem era proteger - a tiro, à bomba, se preciso fosse - os regimes de direita liderados por forças tradicionalistas, conservadoras e extremistas, e organizar pequenos exércitos para travar o avanço do comunismo.  

pág. 71

"Seria estranho que assim fosse: John Morgan, tarimbado homem dos serviços de inteligência dos EUA, passara pelo Brasil e pelo Uruguai entre 1966 e 1973. No Rio de Janeiro, em plena ditadura militar, trabalhara com o conselheiro de assuntos políticos Frank Carlucci, que em Janeiro de 1975 ocuparia o lugar de embaixador dos EUA em Lisboa. John Morgan defendia para Portugal a receita aplicada na América Latina, sobretudo no Chile, com outros temperos: uma campanha mediática contra a esquerda radical, o regresso de Spínola ao poder, a manutenção do País na NATO e a sucessão dos Açores, estratégicos para os EUA, por causa da Base das Lages.
Fora naquele arquipélago que Spínola se encontrara, em junho de 1974, com o Presidente norte americano Richard Nixon. O chefe de Estado português esteve acompanhado, entre outros, pelo conservador João Hall Themido. Antigo servidor do governo da ditadura no Ministério dos Negócios Estrangeiros - e, nessa condição, a par das atividades da Aginter Press  -, Themido mantinha-se no cargo de embaixador dos EUA graças a Mário Soares, titular daquela pasta, pouco interessado em afrontar Washinghton (...)
Quando a embaixada americana em Portugal mudou de rosto, no início de 1975, mais de 80 agentes dos serviços de informação brasileiros liderados por Celso Telles, velha raposa da polícia política, aterraram em Lisboa para "continuar a trabalhar diretamente com Carlucci", que conheciam do Brasil. À sua espera tinham, segundo a revista Cambio 16, outro amigo: John Morgan. O chefe da CIA na capital era "quem andava a movimentar aqueles grupos nortenhos contra os comunistas", revelou o coronel Manuel Bernardo, um dos homens do 25 de Novembro. Ora, para aplicar a receita latino-americana de John Morgan era preciso colocar Portugal ao lume.    

pág. 73

A ideia era desencadear um ambiente de alta voltagem no País para justificar uma inversão do processo revolucionário através de um golpe de força. A 25 de novembro desse ano, grande parte dos intentos deste "exército" seria cumprido. Um dos heróis desse dia, Jaime Neves, conhecia elementos do ELP e do MDLP e concordava, "na generalidade", com eles. "Era amigo de muitos oficiais ligados a esses movimentos... Na altura houve muito contacto do género "estamos contigo!". E eu sabia que o seu patriotismo era puro. Se disserem que os elementos do MDLP fizeram ações no País que iam ao encontro daquilo que nós pensávamos, pois com certeza...", assumiu o major-general, antigo comandante do Regimento de Comandos da Amadora.

pág. 75

O MDLP seria formalmente constituído em maio de 1975, quando o ELP desencadeou a sua primeira ação, em Bragança, na sede do MDP/CDE. Para trás ficara nova tentativa de golpe, no 11 de Março. Este segundo malogro spinolista refinara os métodos: para culpar a esquerda e extremar posições, incluiu assaltos a sedes dos partidos, movimentos de direita e organizações ligadas ao patronato, entre os quais o PDC, o PPD, o CDS e a CIP.
Falhando o objetivo, chegaram então a Espanha, para integrar o MDLP, antigos dirigentes do Partido do Progresso, entre os quais José Miguel Júdice, José Valle de Figueiredo, Marques Bessa e Fernando Pacheco de Amorim. Ramalho Eanes foi outra das pessoas contactadas para aderir ao movimento, mas, em meados de 1975, preferiu continuar as conspirações com os "moderados" do Grupo dos Nove.

pág.76

Numa fase inicial, ELP e MDLP pretenderam instalar dois emissores na zona nortenha da raia, do lado espanhol, com o objetivo de produzir programas para os portugueses. O plano incluía provocar uma interferência que permitisse sobrepor imagens da Virgem de Fátima sempre que a RTP transmitisse noticiários ou reportagens sobre o primeiro-ministro Vasco Gonçalves, de modo a "chamar a atenção do povo português para os perigos do comunismo". Para isso, recorreram a apoios de personalidades portuguesas das finanças e dos negócios. Parte desse dinheiro, 700 contos (quase 100 mil euros no câmbio atual), terá sido encaminhado pelo milionário Lúcio Tomé Feteira através de Alpoim Calvão, como o próprio reconhecera em 1996.

pág. 77

Estes movimentos dispuseram ainda de uma avioneta paga por um industrial nortenho e usada para propagar fogos florestais junto à raia, cuja origem foi investigada pela PJ militar. Só na zona de Figueira de Castro Rodrigo detetaram-se 65 incêndios criminosos num ano. Um tal de D. Pepe, de Fuentes de Onõro, seria o intermediário para os pagamentos. "Concluiu-se (...) que este tipo de ação terrorista não está desligada dos atentados bombistas, pelo que as "cabeças" destes tipos de atuação serão necessariamente as mesmas", anotou a Judiciária Militar. 
Um opúsculo de Carlos Dugos, travestido de ensaio jornalístico e publicado em 1975 - Comunismo? O povo é quem mais ordena -, garantia serem os elementos do PCP os responsáveis por tais incêndios. "Conta-se e ouve-se mesmo falar mesmo à boca cheia, por aí, que é uma avioneta dos comunistas que anda a queimar os montes", afirmara um habitante de Braga, dando conta da "voz corrente" no Norte do País.  

pág. 90

Qual era a ligação do MDLP com o ELP?
Primeiro existiu o ELP, que juntou antigos elementos da PIDE-DGS, legionários, saudosistas do anterior regime, retornados, gente com ligações à Internacional Fascista. Também já se falava do MDLP, mas esse movimento só nasce depois, a partir da ida do Spínola para Madrid. O MDLP congrega pessoas diferentes: uma série de oficiais da Marinha, o Alpoim Calvão - que já conspirava também, mas que depois passa a conspirar a full-time -, o Nuno Barbieri, o Carlos Rolo, mais dois ou três fulanos que eram fuzileiros da Reserva Naval - com quem joguei râbegui. Conhecia-os todos. O único com o qual não tinha relação de amizade era com o Alpoim Calvão. 

pág. 93

Quem financiava o ELP e o MDLP?
Eram os gajos da banca, o Champalimaud e outros, como o José de Almeida Araújo, do Partido Liberal Não eram poucos, atenção. E no Norte também havia bastantes.

Mais de 40 anos depois desses acontecimentos, há alguma coisa para a qual ainda não tenha resposta?
A mais pertinente das perguntas já não pode ser respondida: era saber se o Mário Soaress também teve ligações ao MDLP, se teve ou não reuniões com o Alpoim Calvão. De qualquer modo, parte da resposta está no livro do Alpoim, De Conakry ao MDLP.

pág. 97

Filho do médico Daniel Serrão, saneado após o 25 de Abril e depois reintegrado, o empresário das feiras e desfiles de moda era então um adolescente de 15 anos, de físico razoável, com aspeto de quem "batia em toda a gente".
Aluno do Liceu António Nobre, Manuel Serrão é, nesse tempo,  referido nos jornais por causa das suas atividades extra-curriculares (...) dizem-no ativo junto de movimentos radicais, entre os quais uma denominada "Juventude Hitleriana", que ansiava pelo "regresso do fascismo".

pág. 145

Mais de um ano transcorrido, a generalidade das autoridades eclesiásticas concordava: o processo democrático respeitara as convicções religiosas e não dera motivos para a Igreja se sentir ameaçada. Grupos de católicos, esses sim, denunciavam, incansáveis, a "cumplicidade" a hierarquia da Igreja com o regime deposto, sem esquecer os padres que se haviam tornado bufos da PIDE, mesmo que para tal fossem quebrados os segredos da confissão. 

pág. 147

O PCP vinha tratando o tema com pinças, e não era apenas manobra tática. "Lutamos contra o sectarismo e incompreensão de muitos os nossos militantes e da generalidade dos antifascistas portugueses", dissera Álvaro Cunhal, em 1946, no IV Congresso, realizado na Lousã, em plena clandestinidade. "Houve erros de intolerância em 1910 que não devem repetir-se", sugeria o líder histórico dos comunistas. E nem uma vírgula se alterava com a democracia: "Somos firmemente contrários, para hoje e para amanhã, a quaisquer perseguições ou discriminações sociais por motivos religiosos", insistira Cunhal em Braga, em finais de 1974, assegurando: "Opomo-nos às atitudes que possam ferir os sentimentos religiosos."

pág. 149

O "Plano Maria da Fonte" não deixará nada ao acaso. 
Beberá até inspiração nas sebentas vermelhas das ideologias que se propõe combater. Seguindo a lição de Mao, o "exército" de cunho religioso vai comportar-se como "peixe na água" em relação ao povo, ocultando-se e diluindo-se neste (...)
"O povo anónimo já era um barril de pólvora e bastava acender um simples fósforo". Mas será acima do Douro que o movimento vai sentir-se em casa. "Entre julho e novembro de 1975 as cidades e as vilas nortenhas eram, à noite, povoações-fantasma", descreve o operacional. "E era durante a noite que circulavam, por todas as estradas do Norte, os grupos da Maria da Fonte que iam contactar, mentalizar e ensinar. Em três meses, o Norte ficou preparado para a guerra", elucida Paradela de Abreu.
Cada paróquia uma "base".
Cada igreja de "granito ancestral", um reduto. 
Cada sino, um rádio transmissor".
Cada quinta perdida nas serras, "um apoio logístico".
Para conquistas grandes aglomerações nas missas, "os próprios padres locais incitavam as pessoas para atuar contra os comunistas. 

pág. 152

O movimento integra, entre outros, o fadista João Braga, que irá sublimar, numa entrevista, a fogueira que devorou a revolução: "Incendiamos 317 sedes de partidos. Lembro-me de o jornal espanhol Ya ter escrito na capa "Portugal esta que arde!".
Há ordens para não matar, mas são meras intenções. Os comunistas ou saíam pela porta da frente com um pano branco hasteado num pau, como aconteceu em São João da Madeira, ou fugiam pela porta das traseiras", dirá Paradela. No terreno a narrativa tem consequências: atos bárbaros de gente cega pela ira ou viciada na excitação da pirotecnia resulta em tiroteios e balas perdidas que não escolhem credos nem convicções, provocando dezenas de mortos e feridos. "Uns entravam pelo rés do chão e outros saíam a voar pelo primeiro andar", gabara-se Alpoim Calvão, chefe operacional do MDLP, movimento do qual o "Plano Maria da Fonte" seria uma espécie de desdobramento. 

pág 163

Segundo Kissinger, se os "moderados" do MFA atuassem "de modo a diminuir a influência dos comunistas" teriam "o apoio dos Estados Unidos", podendo este "revestir-se de várias formas, tais como ajuda económica". Dias depois é divulgada a lista, com nomes, moradas e telefones, dos homens da embaixada norte-americana e da CIA em Portugal. O autor assumido da fuga é Philip Agee, um ex-agente da "central" arrependido, que mais tarde revelará outras informações: "Tenho por certo que a CIA financia direta ou indiretamente os dois partidos cristãos-democratas, e ainda o PPD e o Partido Socialista. Financia também as organizações dependentes da Igreja Católica, tal como fez no Chile. As grandes manifestações no Norte de Portugal, onde se transportaram populações inteiras em carros e camiões, necessitam de enormes quantias de dinheiro. 
Agee responsabilizava a CIA pelo incitamento dos católicos à violência no Norte do País e pelo facto de promover cisões no MFA. Sugeria ainda tere sido disponibilizadas grandes quantias de dinheiro destinadas à Igreja Católica. 

pág. 167

O ano de 1976, pelo menos até à primavera, continuaria "animado". Os atentados mortais mais violentos ocorreram nessa altura (padre Max, São Martinho do Campo, Avenida da Liberdade e embaixada de Cuba, quando o MDLP tentava fazer crer que anunciara o fim das hostilidades (...)
Quanto ao cónego Melo, foi encontrado sem vida, a 19 de abril de 2008, no quarto de um instituição religiosa em Fátima (...) Em 1998, recebera de Mário Soares, Presidente da República, a Comenda de da Ordem do Mérito. O próprio agraciado atribuía a distinção ao seu "combate" no "Verão Quente" de 1975 para proteger Portugal da incultura, de imoralidade, da droga e das filosofias erradas" e ajudar o MDLP a "regenerar" o País. "Fiquei contente por terem, finalmente, reconhecido que servi a pátria", afirmou. 
Simbolicamente, a 24 de novembro de 2003, Frank Carlucci foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante por "serviços relevantes" prestados a Portugal, no País e no estrangeiro. O primeiro-ministro Santana Lopes entregou-lhe nos Estados Unidos em 2004. 

pág. 184

Nesse tempo a FLAMA sonhou alto.
A febre independentista incluiu a criação de um banco e uma moeda própria, o zarco, que chegou a circular em notas de 20, 50, 100, 200, 500, 1000. A temperatura subiu a níveis nunca antes imaginados. 
A FLAMA teve várias caras, entre as quais um denominado Esquadrão da Morte que, em vários comunicados, apelou aos madeirenses para que combatessem, sem medo, "as drogas, os comunistas e os socialistas" (...)
Duas figuras terão um papel decisivo no alastrar do clima incendiário: D. Francisco Santana, bispo do Funchal, e Alberto João Jardim, futuro líder do PSD

pág. 212

Um enorme clarão iluminava o breu. "Mataram o padre Max!, gritava a irmã.
Lurdes jazia no meio da estrada ao quilómetro 71.
(...)
Ela chegou já se vida ao hospital. Vestia três camisolas leves de várias cores. 
Max entrou com grande dificuldade em falar.
Perguntaram-lhe o que se passara.
"Colocaram-me uma bomba no carro e agora está a arder, mas não faz mal. É esta a democracia portuguesa."

pág. 215

Em Almendra, as mulheres lamentaram que um rapaz "tão bonito" se inclinasse para sacerdócio. Ele, porém, não iria ser mais um. Da passagem pela cidade histórica duriense deixará, de resto, pasto para lendas. Jura-se ainda por ali, a pés juntos, que Maximino gravou nas paredes da casa ds condes de Almendra uma inscrição que o guiará até o último suspiro:
"Aprendi a servir o povo no nojo da burguesia".

pág. 217

Pelo caminho, o amigo, já então militante do PS, não deixava de refletir no que ouvira e ambos comentaram as incidências daquela manhã:
"Ele queria pregar, a todo custo, a versão humanista que a Igreja deve ter na sociedade, mas na altura essas ainda eram perversas e perniciosas. E houve gente que não gostou". Dito isto, desafio-o: "Eh pá, tu tens um ótimo palco, podes pregar a visão cristã e humana da Igreja, dar a volta aos direitos dos cidadãos por que é que tinhas de ir logo para a UDP"? Ao volante, Maximino replicou: "Eu sou da UDP porque a UDP é pela classe operária e pelos direitos dos explorados."

pág. 219 

Max era, por esta altura, candidato a deputado nas listas da UDP nas primeiras eleições livres para a Assembleia da República. Num comício na sede dos bombeiros, atiçaria ainda mais os altares e a beatice: "Se há tantos padres de direita, por que é que um não há-de ser de esquerda?" desafiara. Para o sacerdote, aquela era uma "luta de morte" para evitar que uns tivessem "pão de primeira" e os outros nem o vissem. E perguntava, quase em súplica: "Como é que um capitalista pode celebrar ou dizer todos os dias "o pão nosso" quando o tipo tem o celeiro de todos?

pág. 227

Hoje na Cumieira, quase não há vestígios desses tempo.
E ao quilómetro 71só uns dizeres desbotados inscritos numa paragem de autocarro velha e enferrujada insistem em preservar a memória que não perdeu validade: "Padre Max, assassinos à solta".
No cemitério de Santa Iria, o jazigo de Maria de Lurdes é a cara do desleixo.
A campa de Maximino de Sousa é a 1240, a dois passos. 
"Le Temps Passe, le Souvenir Reste", lê-se. 
As flores são de plástico, mas o craveiro ao fundo da laje preta tem cravos a florir, em rebeldia. Apenas uma funcionária da Segurança Social de Vila Real lá vai, às vezes.
Todos os anos, Maria Augusta, feliz zeladora do cemitério a meias com o marido recebe chamadas do estrangeiro. São emigrantes pedindo que enfeite a última morada dos familiares. 
Pelo padre Max e Maria de Lurdes ninguém telefona. 
Para eles, já não há velas nem flores. 

(continua...)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

O Preço das Agendas


Eu ainda sou do tempo de haver por casa agendas, com publicidade a uma outra empresa, mais ou menos como com os calendários de parede ou de bolso,ou as canetas com publicidade dos partidos. Hoje em dia continuo a ter canetas dos partidos e os meus pais têm o calendário de parede lá com a santinha do barro oco, mas agendas é que nunca mais apareceram. 

No ano passado lá andei atrás de agendas e não encontrava nada de jeito muito menos a um preço que me interessasse! No entanto, já quase em desespero, acabei por comprar uma e gastei, se não me engano, quase dez euros. Um absurdo. E o pior é que mal a usei! 

Entretanto este fim de semana passava os olhos pela Notícias Magazine e fiquei boquiaberto. Agendas a 22€? É um roubo! Mas depois pensei melhor e acho que percebi o porquê das agendas serem mais caras do que os já de si caros livros. 

É preciso ver que é preciso pagar a um tradutor para traduzir o nome dos doze meses e outro tradutor para traduzir o nome dos sete dias das semanas. Fica muito caro, pá!

Mas eu já me decidi: vou reutilizar as agendas que mal tenha utilizado. No fundo os dias do ano são os mesmos, porque o 1ºdia do ano continua a ser o primeiro de janeiro que é feriado e, como tal, serve muito bem! O planeta e santa Greta Thunberg agradece!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Antes da Ceia de Natal Fazer o Teste de Despiste do CHEGA!

"Neste Natal já não é preciso fazer o teste da COVID mas é aconselhável fazer a despistagem do CHEGA antes de reunir os familiares. Para detetar aquele tio que é secretamente apoiante do André Ventura antes que ele, já com um copito comece a dizer que a culpa da guerra na Ucrânia, da morte da rainha Isabel II e das cheias é dos ciganos que recebem o RSI.







sábado, 17 de dezembro de 2022

Mas, Enfim, Esqueçamos Isso...

"Em 2021 a Amazon produziu embalagens plásticas suficientes para envolver a Terra mais de 800 vezes em plástico almofadado e isso é um grave problema para os oceanos..."


Mas enfim (vem aí o Natal e tudo) esqueçamos lá isso agora que nós queremos é mandar vir paletes de chinesices para oferecer à família e fazer bonito. 

A notícia pode ser lida na íntegra aqui.

Um País Deveria Ser uma Mãe


Testemunho de uma mulher a viver há 19 anos na Alemanha. Talvez ilumine algumas mentes e explique como é que um país que ficou sob escombros na década de quarenta e que ainda por cima foi divido em dois, seja, de novo e há muitos anos, o motor da Europa. 

E também sirva de lição a muitos portugueses de mente muito pequenina, de pensamento salazarista que ficam muito revoltados quando o Estado português ajuda os mais carenciados, nomeadamente com apoios como o rendimento mínimo. 

"Eu não sei se vou utilizar a palavra correta mas a Alemanha foi uma mãe para mim. A Alemanha é uma mãe. Eu perdi a minha mãe muito jovem, tinha 20 anos. A Alemanha é uma mãe. Quando eu fiquei sem trabalho a Alemanha vem-me perguntar a mim o que é que eu precisava. Não fui eu que fui à procura de ajuda. Foram ele que mandaram uma carta para casa. A Alemanha é um país sério, muito sério. As pessoas não riem. Não são como os portugueses. O alemão não ri. Quando o alemão diz não é não, quando diz sim é sim. E a Alemanha deu-me um apoio enorme. 

A Alemanha disse: "Estás sozinha? Não tens dinheiro suficiente? Nós vamos-te ajudar. Precisas da língua? Nós pagamos-te um curso". Eu em Portugal trabalhei em contabilidade, "ai é? então nós pagamos-te um curso nessa área. Estás a passar frio? Então damos-te aquecimento".

Eu senti um conforto muito grande aqui. Eu tive vontade de voltar, claro. Só que o que me fez ficar foi "bom, já que aqui estou aprendo a língua e, já que estão-me a oferecer esta ajuda toda, então eu vou-lhes dar alguma coisa". 

Agradeço imenso porque Portugal nunca me perguntou nada".  

Toda a conversa pode ser ouvida aqui.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Gostar & Ter

 

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar".

domingo, 11 de dezembro de 2022

Para Já Só Quero é Mesmo Ter-te Cá

 

Diz depressa que eu não tenho mais moedas para falar
Vens ou não? Se sim eu passo em Campanhã para te ir buscar
Depois decides até quando ficas
Para já só tens mesmo é que cá chegar
Vou-te apresentar todos os meus amigos e o Gerês
Traz é roupa a mais não vás tu querer ficar por cá de vez
Depois decides se era isso que querias
Para já só quero é mesmo ter-te cá
Que um dia nos lembremos de nós
Quando a vida adormecer
Sem ter planos plantámos em nós
A ilusão que basta querer
E quando a razão volta, volta a querer
Estou nervoso até parece a primeira vez que eu te vi
Sei que estás também mas prometo estar por cá só para ti
Depois decides se era isso que querias
Para já só quero é mesmo ter-te cá
Que um dia nos lembremos de nós
Quando a vida adormecer
Sem ter planos plantámos em nós
A ilusão que basta querer
E quando a razão volta, volta a querer


"Campanhã" - São Pedro (2022)

Resumo do Mundial 2022 por quem Não Vê Futebol


Ai os Direitos Humanos... 
Ai que morreram milhares de trabalhadores sem condições no Qatar. 
Ai a discriminação das mulheres e dos LGBT...
Ai que não pode ser e estamos todos muito revoltados apesar do Qatar ter vencido a organização do mundial em 2010 e ninguém na altura se preocupou muito com isso e em 2013 rebentou o escândalo de corrupção. 

O Qatar garantiu a organização do Mundial em 2010. Na altura, Nicolas Sarkozy era presidente de França e lobista do violento regime Qatari. A UEFA, fundamental na escolha do Qatar, era liderada por Platini. E Platini foi um dos convidados para uma célebre reunião na residência oficial de Sarkozy, juntamente com o Vladimir do Qatar, Tamim bin Hamad al Thani. A reunião terminou com duas certezas: que o Mundial de 2022 seria no Qatar e que o Qatar encomendaria 14 mil milhões de dólares à indústria francesa do armamento. Pelo caminho, com os trocos que sobraram, ainda compraram o PSG. (daqui)

Sobre os direitos humanos bem prega Frei Tomás: a Europa trata os direitos humanos abaixo de cão. A UE criou e paga milícias líbias para gerir um campo de concentração para todos os desgraçados dos imigrantes apanhados no meio do mar. E muitos morrem. (Pedro Tadeu / Os comentadores)

A minha indignação com esta Copa vergonhosa é tal que não tenho alternativa: serei obrigado a tomar medidas drásticas. Vou colocar uma fotografia do símbolo da Fifa de pernas para o ar nas minhas redes sociais. E talvez uma bandeira do arco-íris, para eles aprenderem(Ricardo Araújo Pereira)

O que eu comentei na empresa foi: "se eu sou judeu e der uma festa, faz algum sentido as pessoas virem comer à minha pala mas, em protesto, trazerem braçadeiras com suásticas no braço"? Acho que não. E, como tal, quem está revoltado com a organização do Mundial no Qatar deveria simplesmente não ir! E não ir para lá protestar, porque o Mundial tem que se fazer porque há muito dinheiro para meter ao bolso. 

Mas assim que a bola começou a rolar de imediato se esqueceu os direitos humanos, tal como tinha pedido o nosso presidente-comentador "mas enfim, esqueçamos isto" e todos se viraram para a bola.

Nós tínhamos os melhores, e o melhor do mundo, que para muitos com cinquenta anos há-de ser sempre o melhor do mundo!, e, portanto, como é lógico, iríamos vencer facilmente o torneio, mesmo que até hoje nunca tenhamos vencido um campeonato do mundo e a melhor prestação que obtivemos foi um terceiro lugar no mundial de 1966. E estaríamos a jogar com duas equipas, a seleção propriamente dita, e a equipa das ronaldetes, que está mais interessada nos seus recordes, no seu ego, do que, propriamente, nos interesses da seleção

... como já se tinha visto contra a Nigéria, a equipa joga infinitamente melhor sem ele, liberta da escravidão de ter de servir os seus interesses pessoais, os seus recordes, o seu egoísmo, o seu ego. É, de facto, uma tristeza ver terminar assim uma carreira verdadeiramente notável (Miguel Sousa Tavares)"

Eu, apesar de não ver nem ligar minimamente a futebol, acabei a ver os jogos da seleção, porque o chefe instalou uma televisão na empresa e sempre que dava um jogo nós parávamos de trabalhar e íamos ver e conversar e é fixe para o espírito de grupo. Além disso ainda apostamos! E cinco pessoas, a apostar no resultado dos jogos, e nem uma só pessoa sequer acertou num único resultado! E ainda bem que saímos nos quartos-de-final, caso contrário ainda ia à falência! Não, estou a brincar, foi so 1€ por jogo!

O cúmulo do ego chega a ponto tal do capitão da seleção (que nunca o deveria ter sido pois é mais do que evidente que não tem perfil para tal) de querer retirar um golo a um colega só para que, qual criança, seja ele a ter o protagonismo e bater o seu recorde de golos. O importante não é que seja golo de Portugal e que Portugal ganhe, não!, o importante é que o Cristiano brilhe!


Primeiro, Ronaldo ficou furioso por ser substituído no jogo frente à Coreia e insultou o treinador. Depois, ficou furioso por não ser titular contra a Suíça e terá ameaçado abandonar a seleção portuguesa. É uma pena. Cristiano Ronaldo está convencido de que é Cristiano Ronaldo —um erro que nunca tinha cometido. Essa era, aliás, a razão do seu sucesso: Cristiano Ronaldo recusava-se a acreditar que fosse Cristiano Ronaldo. Todo o mundo se espantava: você é Cristiano Ronaldo, por que treinar tanto? E, no entanto, ele continuava a ser o primeiro a chegar e o último a sair do treino. Você é Cristiano Ronaldo, por que não relaxar um pouco? E ele mantinha uma vida de monge: comida saudável, água, cama às 21h30. Você é Cristiano Ronaldo, vale a pena tanto esforço? E ele não desistia de tentar correr mais depressa, saltar mais alto, chutar com mais força, sempre acreditando que ser Cristiano Ronaldo era um objetivo que estaria ao seu alcance, desde que ele não julgasse já o ter alcançado.

Em 2015, perseguindo o propósito de ser Cristiano Ronaldo, Cristiano Ronaldo fez 48 gols e 16 assistências em 35 jogos pelo Real Madrid, no campeonato espanhol.

Quando algum outro jogador, com uma produção muito menor, se dava ares de estrela, alguém lhe fazia a pergunta fatal, que o punha imediatamente na ordem. “Quem é que você pensa que é? Cristiano Ronaldo?”

Nesta época, Ronaldo marcou um gol e fez zero assistências em dez jogos da liga inglesa pelo Manchester United. Desses dez jogos, foi titular em apenas quatro.

Agora chega à seleção e, ao verificar que fica no banco de suplentes, pergunta pela primeira vez: “Como assim, não jogo? Eu sou Cristiano Ronaldo”. Creio que Cristiano Ronaldo não concordaria com esta alegação extravagante. (Ricardo Araújo Pereira)

Mas o triste fado cumpriu-se e perdemos com uma seleção considerada inferir, seleção africana, a primeira seleção africana a estar presente nas meias-finais de um mundial de futebol, mas que antes, e não de somenos importância, já tinha despachado a campeã do mundo Espanha. 


Este jogo fez-me lembrar o que vi em Braga contra a Espanha. Os nossos andaram a passear as camisolas e a bola durante toda a 1a parte, ignorando olimpicamente a baliza adversária, a brincar com o tempo como se de um treino se tratasse. Marrocos deu-nos uma lição de humildade (Felisberta Lopes)

Daqui por quatro anos há mais. E o Cristiano pode de novo tentar bater o recorde de nove golos num mundial que pertence a Eusébio, e seremos de novo candidatos a vencer o mundial apesar de ainda não termos ganho um para amostra.

Reencontros com Desconhecidos


Ao longo da minha vida estive sempre muito ativo nas idas aos Correios. 
Esta 6a feira, dia seguinte ao feriado, acabei por sair um pouco mais tarde do trabalho e ainda queria passar no hipermercado para trazer uma coisa para a minha mãe. E como o posto dos correios que utilizo é um daqueles em que só lá está uma pessoa e que até está fechado nas pontes, acabei a perguntar ao segurança do centro comercial se por aí havia uma loja dos CTT e havia e até me vai dar muito jeito porque só fecha às 20h.

Antes de ir aos correios ainda passei por uma cena a destilar testosterona, ou melhor, estrogénio com duas mulheres pegadas no acesso às caixas de auto-pagamento. Gerou-se uma confusão e discussão e fiquei sem perceber se afinal aquilo é fila única para todas as caixas ou fila individual para cada caixa. Percebi no entanto que as pessoas andam sempre com muita pressa. Pressa para chegar a algum lado.

Cheio de pressa fui eu ao parque de estacionamento buscar dois embrulhos ao carro, que mais parecem pacotes droga, mas na verdade são livros. Continuo a comprar muitos livros mas também vou vendendo alguns. Se calhar um dia destes 

E afinal não precisava de pressa pois como referi a loja dos CTT no centro comercial só fecha às 20h. Tinha seis pessoas à minha frente, estavam duas a atender, um homem e uma mulher, ainda que, passado poucos minutos o senhor tenha abandonado o seu lugar. 

Ali fiquei a fazer tempo, não saquei do telecrã e com isso pude, por exemplo, consolar a vista nas curvas do corpo de uma jovem que acabava de chegar. Calças justinhas a salientar a proeminência dumas nádegas, que, atendendo à juventude presumi firmes. E um casaco igualmente preto, tal como as calças, mas ao contrário destas bastante enfolipado, quase parecendo uma boneca da Michelin. Cabelos curtos, escuros, tal como os olhos e um rosto largo, bem delineado pelo artista que a desenhou.

Pude também reparar melhor na senhora da caixa. "Mas eu reconheço aquela cara", pensei. "Será que era da Areosa ou ainda antes, já no final dos anos noventa do Freixieiro? 
E devo-lhe dizer que a reconheço ou será impróprio? Fiquei ali a debater-me, tentando-me lembrar até que o sinal sonoro chamou por mim. 

"Eu sei que devia ter atado com um fio porque são livros, mas se quiser pode abrir para confirmar..."
Ela foi simpática, e, conversa vai, conversa vem, acabei a dizer-lhe que a estava a reconhecer e, na verdade ela esteve, como suspeitei, em ambos os sítios!

"Nós rodamos muito!..."

No final dos anos noventa ela deveria receber as minhas cartas para a minha correspondente da altura, que anos depois se tornaria na primeira namorada, pelo menos a primeira oficial. E anos depois receberia os meus envios desde que me tornei numa espécie de "cigano cibernético" em que importava cenas lá fora e revendia cá. Tempos em que ainda não havia Amazon, AliExpress, Paypal...

"Está tudo bem contigo"?

Sim, "vai-se andando", "nunca pior"! E consigo tudo bem?

sábado, 10 de dezembro de 2022

A Idolatria Cega Mais do que a Luz do Sol

Um fascista que de manhã diz uma coisa e outra ao meio-dia, e ainda outra coisa diferente à noite, que pretende destruir a Constituição e a democracia como a conhecemos até aqui é, para muitos, o político que "diz as verdades".

Empresários que vão ao espaço mas obrigam os trabalhadores a mijar para dentro de garrafas são os empreendedores venerados como exemplos a seguir. 

Jogador da bola, narcisista, mal educado, acusado de violação e condenado por fuga ao fisco, que tem o maior ego jamais alguma vez visto, que coloca os seus interesses pessoais acima dos interesses das equipas onde joga, é que é apontado como ser humano extraordinário e como exemplo a seguir, e quem ousar comentar que a seguir ao Verão vem o Outono ou é invejoso ou ingrato!

Antigamente, como disse Bernard Shaw, o ser humano adorava ídolos de madeira ou de pedra; hoje em dia curva-se perante autênticos deuses de carne e osso por piores que eles sejam.

É caso para dizer que, de facto, a idolatria cega mais do que a luz do sol. 


quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

As Personalidades do Ano da Time


Em 1927, ano em que nasceu o meu avô, a revista estado-unidense Time começou a publicar quem, no seu entender deveria ser o "Man of the Year" posteriormente designado de "Person of the Year.

Em 1938 Adolf Hitler foi considerado "Man of the Year".

Em 2007 Vladimir Putin foi "Person of the Year" e já neste ano de 2022 foi a vez de Zelensky a personalidade do ano.

Tudo pessoas de bem. 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Conversas Improváveis (73) - Pretos & Brasileiros

imagem roubada da net

Rua Santa Catarina no Porto acompanhado e a conversar. Metido no meio dum enorme maralhal de gente que me deixa desconfortável porque não gosto de multidões, e não é nenhuma fobia, simplesmente não gosto de muita gente junta. 

No meio de toda aquela massa humana os meus ouvidos captam a seguinte frase:

"Em Lisboa é só pretos, aqui é só brasileiros. Prefiro os pretos aos brasileiros". 

Obviamente que percebo o jovem, é que os brasileiros são todos branquinhos e como toda a gente sabe nem há brasileiros pretos!

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

A Indiferença É a Maior Forma de Violência


Há milhares de padres a abusar de crianças

“Mas, enfim, esqueçamos isto”

Há pessoas a passar fome...

“Mas, enfim, esqueçamos isto”

Há pessoas a ser escravizadas...

“Mas, enfim, esqueçamos isto”

Há pessoas que não conseguem comprar ou arrendar casa; universitários que desistem de estudar porque não conseguem pagar um quarto...

“Mas, enfim, esqueçamos isto”

Há patrões a explorar os trabalhadores e a pagar salários miseráveis...

“Mas, enfim, esqueçamos isto”

Há empresas a especular e aumentar artificialmente os preços e a ganhar milhões e os salários das pessoas a acabar cada vez mais cedo...

“Mas, enfim, esqueçamos isto”

Sim, senhor comentador e rei das selfies Marcelo Rebelo de Sousa: “esqueçamos lá isso”. Deixemos sempre tudo como está. Não mexamos nem uma palha sequer! E deixe-mo-lo ir de cu tremido no aviãozinho ver o futebol porque o que o povo precisa é de pão e circo e enquanto está ocupado com a entrevista do Cristianinho, que coitado ou está sempre triste ou ocupado a mandar vir mais filhos pela Amazon, não se fala do que se deve, olhe, por exemplo, não se fala do escândalo da Federação Portuguesa de Futebol, que, conjuntamente com o selecionador Fernando Santos, burlou o Estado português, em vários milhões de euros. 

Mas já agora recordo-lhe uma célebre frase de Gandhi:

"A indiferença é a maior forma de violência”.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Semana Negra de Compras

 Portátil HP em Outubro custava 529€

Na mesma loja, e nesta semana negra de compras, o mesmíssimo computador está com uma promoção fantástica de 549€! Aproveitem já antes que esgote!!



segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Enquanto os Teus Lábios Estão Vermelhos...

"Vivemos tempos difíceis e tudo o que ouvimos é mau. Então, se têm pessoas de quem gostam, namorada(o), marido, esposa, crianças, cães, gatos, seja o que for. Beijem.

 

 While Your Lips Are Still Red / Nightwish  (2007)

Não é Linda a Puta da Caridade?

Temos que reaproveitar e ser mais sustentáveis e dar a nossa roupa que ainda está em bom estado a quem, infelizmente, não tem o que vestir. Devemos colocar a roupa e calçado que já não usamos nos ecopontos. 

A realidade:

A gestão desses ecopontos têxteis é privada e enviada para exportação para ser vendida a países carenciados. 

Não é Linda a Puta da Caridade?



Hoje, no Jornal de Notícias:

"A Ultriplo, que tem três mil contentores, refere que, após responder “a todos os pedidos recebidos” dos parceiros sociais, o excedente é comercializado para países como os Camarões, a Gâmbia, a Síria e a Índia. “Não obstante o viés comercial desta operação, estas roupas visam responder às necessidades de populações com um poder de compra extremamente reduzido”, explica a empresa ao JN.

Algo semelhante faz a H Sarah Trading que, com mais de 2500 equipamentos, exporta para países como o Líbano e o Iraque, “permitindo prolongar o ciclo de vida de muitos artigos que em território nacional não seriam reutilizados”, referem.

Confrontados com as críticas que apontam que estão a criar um problema ambiental noutros países, as empresas afirmam que são uma solução para impedir que milhares de roupas utilizáveis vão parar ao lixo e aos aterros.

domingo, 20 de novembro de 2022

Torneio de Ténis-de-Mesa Bombeiros de Melres


 Três meses e meio depois de ter organizado com um colega um torneio de ténis-de-mesa, eis que nos propusemos a organizar outro mas desta feita para os Bombeiros aqui da terra. Ou seja, iria estar a trabalhar pro bono e todo o dinheiro angariado nas inscrições seria entregue a esta associação humanitária. E se no torneio de 31 de Julho estiveram presentes 21 pessoas, neste a expectativa seria para um número bastante superior o que implicaria uma maior logística. 

A ideia foi do meu colega que até já foi da direção dos bombeiros. Reunimos com o responsável que foi extremamente acessível e pusemos o plano em marcha. Pedi ao ao meu colega da empresa se me fazia o cartar, e percebi que para um especialista é coisa para estar pronto em vinte minutos, que, depois de pronto, foi aprovado pelo responsável.

Fase da promoção. Cartazes imprimidos toca a afixar por aí, ainda que tivesse sido uma quase formalidade. Já sabia perfeitamente que poucas pessoas aqui da terra se iriam inscrever e que o grosso das inscrições viria dos interessados das redes sociais. 

Seguidamente reunir com a edilidade local, expor o que estávamos a fazer e solicitar ajuda para oferecer uns troféus aos melhores.

Acho que me revelei um razoável relações públicas e cultivador de amizades desportivas e rapidamente já tinha trinta pessoas inscritas. Se primeiro estava ansioso por poder ter poucas pessoas, depois, comecei a ficar ansioso e a entrar em paranoia porque começava a ter pessoas a mais e mesas a menos. 

Cartaz, promoção, troféus, material. Mais uma vez a associação, simpaticamente, emprestou-me tudo o que precisava e aquilo ficou com um ar extremamente profissional. E ainda conseguimos duas extra, cortesia da central aqui da EDP.

Era chegado o dia do sorteio e eu acordei a pensar que não iria jogar. Porque era preciso alguém estar na mesa a controlar o que iria acontecer, porque assim poderia tirar todas as fotografias que me apetecesse, porque assim não estaria dividido entre a organização e ainda me preocupar com ter que ir jogar.  

Mas ao fim da tarde falei com uma amiga que me chamou à razão. Que não fazia sentido todo o trabalho que tive para depois nem sequer ir jogar. E assim foi. Ainda por cima porque, comigo, éramos precisamente 44 atletas, o que era perfeito, pois dava onze grupos de quatro cada. 


Mais uma vez, tal como em Julho elaborei um sorteio quase mais complexo do que a Liga dos Campeões! E, no dia seguinte, véspera de torneio, reunimos para os últimos pormenores. Um dos meus colegas foi de grande ajuda pois tratou de fazer no Excell tudo muito organizado e de forma muito profissional. Ainda por cima trouxe um conhecido, a quem deu uma breve formação de como aquilo iria decorrer, para que ele, da parte da manhã ficasse na mesa da organização a receber o dinheiro e a chamar pelo microfone os atletas dos diferetes grupos. Os atletas iriam chegam, pagar inscrição e, assim que o seu grupo estivesse completo começavam a competir para que todo o processo fosse rápido e fluído. Deixou lá um computador e impressora, afixamos uma folha com os grupos e estávamos preparados.

Chegado o dia do torneio acordei por volta das quatro da manhã e já não dormi mais com a ansiedade. Cheguei à sede dos bombeiros cinquenta minutos antes da hora de começar e já lá estava a equipa de Braga para começar o aquecimento! E é assim que tem que ser, chegar sempre cedo, ao contrário do que nós temos feito quando nos deslocamos a outros torneios. 

Aos poucos e poucos as pessoas foram chegando e eu fazia o papel de anfitrião e, assim que via alguém chegar, ia ter com essa pessoa, perguntava quem era e de onde vinha e dizia que foi comigo que falou e dava-lhe alguns detalhes de como se ia realizar a competição. 

Eu tinha calhado no penúltimo grupo e pensei que só iria entrar em ação por volta das 10:30, mas os planos saíram-me furados. O meu grupo foi dos primeiros a estar completos e lá fui à pressa buscar a raquete e o pano para  cabelo e digo para o meu colega de trabalho, que também veio jogar: "é hora de entrar em ação"!

De repente um enorme colorido formou-se no pavilhão e as seis mesas estavam todas ocupadas com atletas a competir. Tudo foi decorrendo de forma muito fluída e conseguimos mesmo, antes de irmos todos almoçar, realizar a eliminatória dos 16 avos de final.

Eu tinha previsto que nenhum atleta nosso ficaria nos oito primeiros lugares, os classificados para os quais tínhamos troféu simbólico. 

Recebemos inscrições de clubes de Vila Nova de Cerveira, Viana do Castelo, Braga, Porto e claro, Gondomar. E o raciocínio lógico era: "ninguém vem fazer tantos quilómetros para chegar aqui e não dar uma para caixa"! 

Por outro lado tenho a noção que, mesmo sem termos treinador e nenhum nunca ter sido federado, parece-me que estamos ao nível de algumas equipas dos distritais ou challenge. 

Os atletas mais fracos fariam sempre, no mínimo, três jogos contra outros três atletas. Mas, ainda assim replicamos uma ideia que vimos noutro torneio e que nos pareceu interessante: fazer uma Liga B em que os atletas eliminados poderiam continuar a competir e ninguém teria que se ir embora. E isto tinha ainda outra utilidade. O bar estaria aberto com petiscos para o pessoal comer, e, quantas mais pessoas por ali andassem, mas consumiriam e mais dinheiro se angariaria para a campanha da compra de uma ambulância. 

Ao contrário de vários outros grupos tive sorte e calhei num grupo acessível e fiquei em primeiro lugar evitando assim, a seguir, jogar contra primeiros classificados de outros grupos. Nos 1/16 de final  defrontei um colega do meu clube, que tinha ficado em terceiro lugar noutro grupo, vencendo e avançando na competição. Estava nos dezasseis melhores e iria agora tentar nos oito melhores.


Calhou-me um atleta brasileiro de Braga, de boa técnica e de imediato comecei, vá lá saber-se porquê, a tremer. Venci o primeiro jogo e o segundo, e  recordo que entre jogos troquei umas palavras com um atleta de São Pedro da Cova que estava a arbitrar e que me disse mesmo "estás a tremer, até se nota daqui! tem calma que jogas melhor do que ele". Ele também também está nervoso mas tu estás todo a temer". E era verdade. Eu mesmo sentia-me a tremer e já tinha acontecido recentemente, no torneio de Ovar. Achei que os muitos torneios que tenho disputado me tinham deixado muito mais solto, mas, vá lá saber-se porquê, nestes dois últimos voltei a ficar muito ansioso. 

Nos oitavos de final deparei-me com outro atleta de Braga com quem já tinha jogado em Ovar no torneio por equipas e que tinha vendido e fiquei com o seu contacto para os convidar para este torneios que estávamos a organizar. "Desta vez vou-te ganhar, vai ser a minha desforra", disse-me! Mas apesar de também ser bom tecnicamente, talvez o seu estilo de jogo não encaixe bem no meu, e voltei a vencê-lo. Até aqui tinha defrontado seis atletas e todos vendi por 3-0. 

E assim em pezinhos de lã estava nos quatro melhores, o que para mim, era um excelente resultado!

E na meia-final, e pela terceira vez este ano, calhou-me em sorte o meu camarada comunista. E pela terceira vez venceu-me, e, desta vez, ao contrário das duas anteriores, com alguma facilidade. Eu caí para o jogo de atribuição de terceiro e quarto lugar e ele avançou para a final. 

Eu perdi o terceiro lugar por um triz (3-2) e o meu camarada na final também não conseguiu farinha do atleta de Braga que venceu com todo o mérito o torneio. 


Estava completada a parte desportiva falta a cerimónia protocolar. Eu tenho pedido que precisávamos de um pódio e os senhores dos bombeiros trataram disso. Primeiro pensou-se em ficar no exterior mas, depois de um sábado de sol, a meteorologia previa chuva a partir das três da tarde. E, contrariamente ao que alguns achavam, não falhou. Trouxe-se então o pódio para dentro e colocamo-lo no cima das escadas, numa parte nobre do edifício. O meu colega disse que fazia as honras e ficava com o microfone, e, de forma muito organizada delineou as pessoas que iriam entregar os troféus aos atletas. Ah, pois! Isto é amador mas tem que ter tudo como nos profissionais!

O que eu não previa era que ele, depois de um breve introito, me ia passar o microfone "ao organizador" e eu lá tive que falar de improviso, mas nem acho que tenha corrido mal. De seguida também os responsáveis quer dos bombeiros, quer da junta de freguesia tiveram breves palavras de elogio para com o evento e procedeu-se à entrega dos prémios. 

Eu posso dizer que, mesmo que tivesse ficado no último lugar, fiquei muito contente com a organização. Estivemos mesmo de parabéns. Tudo decorreu como planeado e toda a gente foi muito elogiosa connosco. Tudo decorreu com enorme desportivismo, e depois de toda a trabalheira que tive, em que durante uma semana andei a correr para a associação, a transportar mesas, separadores, e a montar o espetáculo, no fim, valeu mesmo a pena. Correu tudo muito bem. Promovemos a nossa terra, promovemos o ténis-de-mesa e competimos em sã convivência. 

Um dos colegas que comigo ajudou na organização disse-me mesmo que lhe disseram: "já fomos a torneios oficiais que não tinham este nível de organização" e não há dinheiro que pague ouvir uma coisa destas.  

O Reencontro 25 Anos Depois



O Torrejon ligou-me e vinte e cinco anos depois continua a chamar-me Satan. 

Parece que ia haver um convívio em casa de um deles. E como dias antes eu até me tinha registado no Whatsapp, então, ele lá acabou por me adicionar ao meu primeiro grupo que depois comecei a ter um cheirinho do que serão os tais grupos de Whatsap que sempre ouvi falar mas que não conhecia. 

Da primeira turma de Electronica Industrial de 1997 éramos dezoito. Nessa altura eu ainda não tinha e-mail nem sequer computador! Haveria de comprar o primeiro computador por duzentos e cinquenta contos com o dinheiro da bolsa de estudo que recebia. Por outro lado em 97-98 eu deveria ser dos melhores clientes dos Correios de Portugal - "onde é que está o Königvs? Deve ter ido aos correios -  isto num tempo em que os CTT eram dos melhores correios do mundo porque ainda pertenciam ao Estado.

Estivemos juntos cerca de três anos. Oito horas por dia em regime de Big Brother com direito a dormirmos, tomarmos banho e pequeno-almoço juntos, durante dois ou três meses na cidade de Lisboa. As nossas idades andariam entre os dezoito e os vinte e cinco anos.

Talvez isto tenha sido uma espécie de recruta, uma tropa, uma guerra colonial sem o uso de armas mas que deixou na memória um tempo em que tivemos que conviver, todos, uns com os outros. E essa ligação fica para sempre. Nomes como Satan, Piri, Pintas, Baguim, Foca Cabeluda, Porca, o Puto,  Barbosa, Casquilho, ou expressões como "eu sento-me onde quiser", ficarão para sempre no arquivo de nostalgia da nossa memória, passe o tempo que passar, ou então, até que o Alzheimer nos separe. 

Em 1997 eu vestia-me de preto da cabeça aos pés. Calçava Doc Martens 365 dias por ano quer fizesse chuva ou calor, usava anéis cavernosos da Alchemy nos dedos, cruzes invertidas ao pescoço e casacos com pentagramas. Gostava muito de futebol e sofria com as derrotas do Benfica e, politicamente, admirava Francisco Louçã. Hoje em dia uso mais alguma corzinha, calço Camport ou Skechers, não vejo futebol, deixei até de ser benfiquista e só tenho olhos para o ténis-de-mesa. Politicamente, continuo sempre a olhar para quem tem menos e para os excluídos, e esses só são defendidos pela esquerda (a sério e não só de nome!) ainda que, tantos anos depois continue a achar que esta democracia que nos rege é uma valente treta que não me representa. Nem sequer é uma democracia de verdade.  

Estou em crer que foi passado dez anos (2012?) que nos juntamos pela primeira vez e jantamos num restaurante do Porto. Ou pelo menos foi a minha primeira vez. E, por acaso não creio que um restaurante seja o melhor evento para se conviver, mas os portugueses dão o cu e três vinténs para comer fora. Ficamos ali emparedados entre um e outro colega, a conversar com o da frente e outro do lado, isto se houver afinidade nas conversas. Depois fazem-se as contas e vai cada um para sua casa. Reunir na casa de uma pessoa ou noutro sítio qualquer aberto, é, sem qualquer dúvida, muito melhor.  

Nesse jantar deu no entanto para saber que o Paulo - que dividiu quarto comigo em Lisboa - tinha estado nas plataformas petrolíferas durante algum tempo e ganho bom dinheiro. Casou com uma tradutora russa e montou a sua própria empresa de recrutamento. Nessa altura, em 2012, eu estava desempregado e não teria muitas coisas interessantes para contar... excluindo, se calhar, a minha vida sexual. Mas isso também não era para eles saberem!
 
Este encontro de 2022 aconteceu na tal casa de um dos colegas, ali junto ao mar, com solzinho ao almoço e ter que vestir o casaquinho a meio da tarde. Ainda perguntei se era para levar alguma coisa, mas só responderam que era para levar fome, ainda que eu ache que se deve sempre dividir as despesas, porque, com mais ou menos, a vidinha custa a todos. Então, para não aparecer de mãos a abanar, resolvi passar numa pastelaria do Olival e levei um bolo para sobremesa e, claro, disse logo que fui eu que fiz!

Cheguei cedo, cumprimentei quem estava e fui conversando com eles. Outros foram chegando depois, com bebidas, claro, enquanto o anfitrião ia andando de volta da churrasqueia e das carnes. 

Folguei em saber que os meus camaradas de curso profissional estão todos bem sucedidos. Todos casados ou juntos e alguns já vão na versão 2 ou 3.0 e a maioria com sucessores ao trono. E quão irónico é pensar que eu, há vinte e cinco anos, era sempre apontado como sendo o primeiro a casar, e devo ser o único ainda solteiro e sem filhos?! 

Outra coisa que notei foi que, apesar do evidente sucesso profissional, que é sempre importante, foi uma certa amargura de alguns perante a vida. Estão muito bem profissionalmente, parecem-me cheios de saúde e têm com quem dormir de conchinha na cama (e há quem não tenha conchinha nem saúde) mas depois senti-os mais revoltados do que eu quando estava na adolescência. Estranho isso. Talvez seja um problema da sociedade, cada vez mais acelerada, e sem tempo para o que é verdadeiramente importante, que raras vezes é aquilo que as pessoas dão mais importância. 

A vida é feita de opções. Depois do 12ºano eu tinha uma proposta de trabalho aqui para a central da freguesia. Na verdade não sei se ficaria, provavelmente talvez ficasse. E talvez hoje ganhasse bem mais dinheiro ao fim do mês ou talvez não me adaptasse e já estivesse a fazer outra coisa qualquer. Mas não tenho dúvidas, se tivesse optado por ter ido logo trabalhar, não teria conhecido as pessoas que conheci, não teria o melhor amigo que tenho nem todas as outras pessoas com quem me relacionei desta ou daquela maneira. Tudo seria diferente. Muito provavelmente não teria os blogues e não estaria agora a escrever. 

Mas como já me tinha comprometido com esta formação técnica de três anos, que, no meu entender, foi de muito boa qualidade, optei mesmo por fazê-la. Fi-la e durante três anos vivi com estas pessoas. E foi muito bom voltar a revê-los (ainda que nem todos tenham estado presentes).