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terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Quando Portugal Ardeu - O Livro Que Deveria Ser Obrigatório Ler


Estou em crer, e não acho que estou a ser pessimista, que a larga maioria dos portugueses não percebe um cu de política e nem se interessa em querer saber. E a metade que ainda vota é mais ou menos como o Fernando, aquele sujeito que se mete à frente das câmaras e que o apelidam de Emplasto: um dia é do Benfica no outro é do FC Porto, consoante aquilo que lhe dá mais jeito, ainda que a ele dá-lhe jeito porque a vida dele é ir assistir aos jogos de futebol e cobrar 2€ por uma fotografia. "Olha, estudásses"! Os portugueses também são do Benfica (PS) ou do FC Porto (PSD), ou doutro clube qualquer emergente, consoante aquilo que as televisões lhe dão a comer, mas que, na verdade, raramente é aquilo que melhor satisfaria os seus interesses, porque, infelizmente, a maior parte da população não tem qualquer consciência de classe. E na eleição seguinte deixa de ser do Benfica e passa a ser do FC Porto e tudo continuará sempre assim indefinidamente. 

Se perguntarmos à maioria dos eleitores o porquê de votar neste ou naquilo partido, será que nos darão uma resposta minimamente válida? Será que sabem o que diz o programa dos diversos partidos ou votam por mera simpatia, pela carinha mais laroca ou aquele artista que aparece mais vezes nas televisões?

Para se saber de política portuguesa é preciso saber de onde vieram os partidos. É preciso conhecer o seu passado,  saber o que foram os 48 anos de ditadura e saber quem lutou e pagou com própria vida o preço da liberdade; é preciso saber em que moldes se deu o 25 de Abril, e quem depois lutou, com atentados à bomba e dezenas de mortos e tudo para que, novamente, se instaurasse uma ditadura de extrema-direita; é preciso saber que posições tomaram os diferentes partidos; quem era a esquerda e de extrema-esquerda, quem era de esquerda e "pelo socialismo" e agora foge dele como o Diabo da cruz; é preciso saber de que lado estiveram os diferentes partidos, quem defendem, que os financia. Para se saber de política, bem mais até que saber de ideologias, é preciso ter memória, é preciso saber o que andaram a fazer no seu passado para facilmente podermos antecipar o que farão no presente apesar de toda a propaganda demagógica que nos querem vender. 

É preciso também ter memória, que, como sabemos, infelizmente anda pelas ruas da amargura. Mas, se não vivemos esse tempo, esses acontecimentos - tal como eu não os vivi - então é preciso querer saber, é preciso interessar-se, é preciso estudar e ler. 

E há muito que queria ler "Quando Portugal Ardeu" de Miguel Carvalho. Foi este verão. Aconselho a todos que, como eu, queiram abrir um bocadinho os olhos sobre o pós 25 de abril e sobre como se comportaram os diversos intervenientes. Mas advirto desde já que se podem escandalizar todos aqueles que comeram a cartilha oficial. 

Sinopse:

"Quem foram as primeiras vítimas mortais da democracia? Por que razão foram assassinados Padre Max, Rosinda Teixeira e Joaquim Ferreira Torres? Quem protegia e que segredos escondia a rede bombista de extrema-direita? Como enfrentou o cônsul dos EUA no Porto o PREC? O que relatam os diários do norueguês baleado no Verão Quente de 1975? Como é que a Igreja mobilizou e abençoou a luta contra o comunismo? O que sabia a PJ sobre o terrorismo político e tudo o que nunca chegou a julgamento? Com recurso a centenas de documentos, entrevistas e testemunhos inéditos, esta investigação jornalística traz à luz do dia histórias secretas ou esquecidas do pós-25 de Abril. Quando Portugal ardeu e esteve à beira da guerra civil."

Introdução:

"Este livro é jornalismo, não é História. 
Fala do "lado B" da revolução. Retrata personagens, recupera relatos e desvenda segredos de uma época de inusitada violência política, entretanto apagada da memória histórica ou das "memórias consensuais" do regime saído da revolução de abril de 1974.
Este apagão não é inocente.
A versão dos vencedores de um determinado período histórico guarda sempre esqueletos no armário com receio de que possam deslustrar o retrato público, os consensos políticos e sociais, e o unanimismo sobre os factos trabalhado ao longo de décadas.
A imposição dessa memória concordante, sem grandes fissuras, sobre a época de maior confronto ideológico, político e social da democracia insere-se, pois, numa estratégia de domínio. "O controlo da memória de uma sociedade condiciona largamente a hierarquia do poder", escreveu o antropólogo social Paul Connerton, no famoso ensaio Como as Sociedades Recordam (...)

Este livro pretendo, por fim, iluminar as trevas de uma época irrepetível, obedecendo a um ponto de vista jornalístico e a um conceito moral de de ver e de memória que recusa as "estratégias do esquecimento" teorizadas por Paul Ricoeur. 
No conjunto dos 18 capítulos, este livro é, na esmagadora maioria, inédito e original, mas também recupera e atualiza relatos, memórias e episódios trazidos a público, em primeira instância na revista Visão. O que vão ler é, pois, a outra história da revolução. Uma narativa que foi sendo obstruída, reciclada ou sujeita a demasiados esquecimentos, mas que sobreviveu até aos nossos dias e se oferece enquanto escrutínio e contraste de versões canonizadas. A construção da democracia não foi apenas isto? É verdade. Mas foi também isto. A História, essa, será sempre o que fizermos dela". 

Só para aliciar algum internauta que por aqui passe, vou transcrevendo algumas das muitas coisas que me chamaram a atenção e tomei nota. Mas o ideal é comprarem o livro e tirarem as vossas próprias conclusões. 
pág.22

"João entrara com nove anos no Seminário de Angra do Heroísmo, desejo dos pais que o queriam ver padre. "Não era apenas por devoção. Era a única maneira das famílias pobres darem estudos aos rapazes e encaminhar o seu futuro", conta a irmã Esmeralda. 

pág.68

"O comparsa "Morgan" era também um dos nomes fictícios usados por Yves Guillou, aliás Guérin-Sérac. Oficial de carreira das Forças Armadas Francesas, o veterano das guerras da Coreia, Indochina e Argélia aperfeiçoara as técnicas de subversão, sabotagem e ação psicológica. Condecorado inclusive pelos EUA, este ex-membro da organização militar secreta francesa OAS seria uma das pontas soltas da CIA na Europa, ocultada na operação multinacional secreta intitulada Stay-behind, composta por células clandestinas ligadas aos interesses da NATO e do Vaticano. Na época da "Guerra Fria" a ordem era proteger - a tiro, à bomba, se preciso fosse - os regimes de direita liderados por forças tradicionalistas, conservadoras e extremistas, e organizar pequenos exércitos para travar o avanço do comunismo.  

pág. 71

"Seria estranho que assim fosse: John Morgan, tarimbado homem dos serviços de inteligência dos EUA, passara pelo Brasil e pelo Uruguai entre 1966 e 1973. No Rio de Janeiro, em plena ditadura militar, trabalhara com o conselheiro de assuntos políticos Frank Carlucci, que em Janeiro de 1975 ocuparia o lugar de embaixador dos EUA em Lisboa. John Morgan defendia para Portugal a receita aplicada na América Latina, sobretudo no Chile, com outros temperos: uma campanha mediática contra a esquerda radical, o regresso de Spínola ao poder, a manutenção do País na NATO e a sucessão dos Açores, estratégicos para os EUA, por causa da Base das Lages.
Fora naquele arquipélago que Spínola se encontrara, em junho de 1974, com o Presidente norte americano Richard Nixon. O chefe de Estado português esteve acompanhado, entre outros, pelo conservador João Hall Themido. Antigo servidor do governo da ditadura no Ministério dos Negócios Estrangeiros - e, nessa condição, a par das atividades da Aginter Press  -, Themido mantinha-se no cargo de embaixador dos EUA graças a Mário Soares, titular daquela pasta, pouco interessado em afrontar Washinghton (...)
Quando a embaixada americana em Portugal mudou de rosto, no início de 1975, mais de 80 agentes dos serviços de informação brasileiros liderados por Celso Telles, velha raposa da polícia política, aterraram em Lisboa para "continuar a trabalhar diretamente com Carlucci", que conheciam do Brasil. À sua espera tinham, segundo a revista Cambio 16, outro amigo: John Morgan. O chefe da CIA na capital era "quem andava a movimentar aqueles grupos nortenhos contra os comunistas", revelou o coronel Manuel Bernardo, um dos homens do 25 de Novembro. Ora, para aplicar a receita latino-americana de John Morgan era preciso colocar Portugal ao lume.    

pág. 73

A ideia era desencadear um ambiente de alta voltagem no País para justificar uma inversão do processo revolucionário através de um golpe de força. A 25 de novembro desse ano, grande parte dos intentos deste "exército" seria cumprido. Um dos heróis desse dia, Jaime Neves, conhecia elementos do ELP e do MDLP e concordava, "na generalidade", com eles. "Era amigo de muitos oficiais ligados a esses movimentos... Na altura houve muito contacto do género "estamos contigo!". E eu sabia que o seu patriotismo era puro. Se disserem que os elementos do MDLP fizeram ações no País que iam ao encontro daquilo que nós pensávamos, pois com certeza...", assumiu o major-general, antigo comandante do Regimento de Comandos da Amadora.

pág. 75

O MDLP seria formalmente constituído em maio de 1975, quando o ELP desencadeou a sua primeira ação, em Bragança, na sede do MDP/CDE. Para trás ficara nova tentativa de golpe, no 11 de Março. Este segundo malogro spinolista refinara os métodos: para culpar a esquerda e extremar posições, incluiu assaltos a sedes dos partidos, movimentos de direita e organizações ligadas ao patronato, entre os quais o PDC, o PPD, o CDS e a CIP.
Falhando o objetivo, chegaram então a Espanha, para integrar o MDLP, antigos dirigentes do Partido do Progresso, entre os quais José Miguel Júdice, José Valle de Figueiredo, Marques Bessa e Fernando Pacheco de Amorim. Ramalho Eanes foi outra das pessoas contactadas para aderir ao movimento, mas, em meados de 1975, preferiu continuar as conspirações com os "moderados" do Grupo dos Nove.

pág.76

Numa fase inicial, ELP e MDLP pretenderam instalar dois emissores na zona nortenha da raia, do lado espanhol, com o objetivo de produzir programas para os portugueses. O plano incluía provocar uma interferência que permitisse sobrepor imagens da Virgem de Fátima sempre que a RTP transmitisse noticiários ou reportagens sobre o primeiro-ministro Vasco Gonçalves, de modo a "chamar a atenção do povo português para os perigos do comunismo". Para isso, recorreram a apoios de personalidades portuguesas das finanças e dos negócios. Parte desse dinheiro, 700 contos (quase 100 mil euros no câmbio atual), terá sido encaminhado pelo milionário Lúcio Tomé Feteira através de Alpoim Calvão, como o próprio reconhecera em 1996.

pág. 77

Estes movimentos dispuseram ainda de uma avioneta paga por um industrial nortenho e usada para propagar fogos florestais junto à raia, cuja origem foi investigada pela PJ militar. Só na zona de Figueira de Castro Rodrigo detetaram-se 65 incêndios criminosos num ano. Um tal de D. Pepe, de Fuentes de Onõro, seria o intermediário para os pagamentos. "Concluiu-se (...) que este tipo de ação terrorista não está desligada dos atentados bombistas, pelo que as "cabeças" destes tipos de atuação serão necessariamente as mesmas", anotou a Judiciária Militar. 
Um opúsculo de Carlos Dugos, travestido de ensaio jornalístico e publicado em 1975 - Comunismo? O povo é quem mais ordena -, garantia serem os elementos do PCP os responsáveis por tais incêndios. "Conta-se e ouve-se mesmo falar mesmo à boca cheia, por aí, que é uma avioneta dos comunistas que anda a queimar os montes", afirmara um habitante de Braga, dando conta da "voz corrente" no Norte do País.  

pág. 90

Qual era a ligação do MDLP com o ELP?
Primeiro existiu o ELP, que juntou antigos elementos da PIDE-DGS, legionários, saudosistas do anterior regime, retornados, gente com ligações à Internacional Fascista. Também já se falava do MDLP, mas esse movimento só nasce depois, a partir da ida do Spínola para Madrid. O MDLP congrega pessoas diferentes: uma série de oficiais da Marinha, o Alpoim Calvão - que já conspirava também, mas que depois passa a conspirar a full-time -, o Nuno Barbieri, o Carlos Rolo, mais dois ou três fulanos que eram fuzileiros da Reserva Naval - com quem joguei râbegui. Conhecia-os todos. O único com o qual não tinha relação de amizade era com o Alpoim Calvão. 

pág. 93

Quem financiava o ELP e o MDLP?
Eram os gajos da banca, o Champalimaud e outros, como o José de Almeida Araújo, do Partido Liberal Não eram poucos, atenção. E no Norte também havia bastantes.

Mais de 40 anos depois desses acontecimentos, há alguma coisa para a qual ainda não tenha resposta?
A mais pertinente das perguntas já não pode ser respondida: era saber se o Mário Soaress também teve ligações ao MDLP, se teve ou não reuniões com o Alpoim Calvão. De qualquer modo, parte da resposta está no livro do Alpoim, De Conakry ao MDLP.

pág. 97

Filho do médico Daniel Serrão, saneado após o 25 de Abril e depois reintegrado, o empresário das feiras e desfiles de moda era então um adolescente de 15 anos, de físico razoável, com aspeto de quem "batia em toda a gente".
Aluno do Liceu António Nobre, Manuel Serrão é, nesse tempo,  referido nos jornais por causa das suas atividades extra-curriculares (...) dizem-no ativo junto de movimentos radicais, entre os quais uma denominada "Juventude Hitleriana", que ansiava pelo "regresso do fascismo".

pág. 145

Mais de um ano transcorrido, a generalidade das autoridades eclesiásticas concordava: o processo democrático respeitara as convicções religiosas e não dera motivos para a Igreja se sentir ameaçada. Grupos de católicos, esses sim, denunciavam, incansáveis, a "cumplicidade" a hierarquia da Igreja com o regime deposto, sem esquecer os padres que se haviam tornado bufos da PIDE, mesmo que para tal fossem quebrados os segredos da confissão. 

pág. 147

O PCP vinha tratando o tema com pinças, e não era apenas manobra tática. "Lutamos contra o sectarismo e incompreensão de muitos os nossos militantes e da generalidade dos antifascistas portugueses", dissera Álvaro Cunhal, em 1946, no IV Congresso, realizado na Lousã, em plena clandestinidade. "Houve erros de intolerância em 1910 que não devem repetir-se", sugeria o líder histórico dos comunistas. E nem uma vírgula se alterava com a democracia: "Somos firmemente contrários, para hoje e para amanhã, a quaisquer perseguições ou discriminações sociais por motivos religiosos", insistira Cunhal em Braga, em finais de 1974, assegurando: "Opomo-nos às atitudes que possam ferir os sentimentos religiosos."

pág. 149

O "Plano Maria da Fonte" não deixará nada ao acaso. 
Beberá até inspiração nas sebentas vermelhas das ideologias que se propõe combater. Seguindo a lição de Mao, o "exército" de cunho religioso vai comportar-se como "peixe na água" em relação ao povo, ocultando-se e diluindo-se neste (...)
"O povo anónimo já era um barril de pólvora e bastava acender um simples fósforo". Mas será acima do Douro que o movimento vai sentir-se em casa. "Entre julho e novembro de 1975 as cidades e as vilas nortenhas eram, à noite, povoações-fantasma", descreve o operacional. "E era durante a noite que circulavam, por todas as estradas do Norte, os grupos da Maria da Fonte que iam contactar, mentalizar e ensinar. Em três meses, o Norte ficou preparado para a guerra", elucida Paradela de Abreu.
Cada paróquia uma "base".
Cada igreja de "granito ancestral", um reduto. 
Cada sino, um rádio transmissor".
Cada quinta perdida nas serras, "um apoio logístico".
Para conquistas grandes aglomerações nas missas, "os próprios padres locais incitavam as pessoas para atuar contra os comunistas. 

pág. 152

O movimento integra, entre outros, o fadista João Braga, que irá sublimar, numa entrevista, a fogueira que devorou a revolução: "Incendiamos 317 sedes de partidos. Lembro-me de o jornal espanhol Ya ter escrito na capa "Portugal esta que arde!".
Há ordens para não matar, mas são meras intenções. Os comunistas ou saíam pela porta da frente com um pano branco hasteado num pau, como aconteceu em São João da Madeira, ou fugiam pela porta das traseiras", dirá Paradela. No terreno a narrativa tem consequências: atos bárbaros de gente cega pela ira ou viciada na excitação da pirotecnia resulta em tiroteios e balas perdidas que não escolhem credos nem convicções, provocando dezenas de mortos e feridos. "Uns entravam pelo rés do chão e outros saíam a voar pelo primeiro andar", gabara-se Alpoim Calvão, chefe operacional do MDLP, movimento do qual o "Plano Maria da Fonte" seria uma espécie de desdobramento. 

pág 163

Segundo Kissinger, se os "moderados" do MFA atuassem "de modo a diminuir a influência dos comunistas" teriam "o apoio dos Estados Unidos", podendo este "revestir-se de várias formas, tais como ajuda económica". Dias depois é divulgada a lista, com nomes, moradas e telefones, dos homens da embaixada norte-americana e da CIA em Portugal. O autor assumido da fuga é Philip Agee, um ex-agente da "central" arrependido, que mais tarde revelará outras informações: "Tenho por certo que a CIA financia direta ou indiretamente os dois partidos cristãos-democratas, e ainda o PPD e o Partido Socialista. Financia também as organizações dependentes da Igreja Católica, tal como fez no Chile. As grandes manifestações no Norte de Portugal, onde se transportaram populações inteiras em carros e camiões, necessitam de enormes quantias de dinheiro. 
Agee responsabilizava a CIA pelo incitamento dos católicos à violência no Norte do País e pelo facto de promover cisões no MFA. Sugeria ainda tere sido disponibilizadas grandes quantias de dinheiro destinadas à Igreja Católica. 

pág. 167

O ano de 1976, pelo menos até à primavera, continuaria "animado". Os atentados mortais mais violentos ocorreram nessa altura (padre Max, São Martinho do Campo, Avenida da Liberdade e embaixada de Cuba, quando o MDLP tentava fazer crer que anunciara o fim das hostilidades (...)
Quanto ao cónego Melo, foi encontrado sem vida, a 19 de abril de 2008, no quarto de um instituição religiosa em Fátima (...) Em 1998, recebera de Mário Soares, Presidente da República, a Comenda de da Ordem do Mérito. O próprio agraciado atribuía a distinção ao seu "combate" no "Verão Quente" de 1975 para proteger Portugal da incultura, de imoralidade, da droga e das filosofias erradas" e ajudar o MDLP a "regenerar" o País. "Fiquei contente por terem, finalmente, reconhecido que servi a pátria", afirmou. 
Simbolicamente, a 24 de novembro de 2003, Frank Carlucci foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante por "serviços relevantes" prestados a Portugal, no País e no estrangeiro. O primeiro-ministro Santana Lopes entregou-lhe nos Estados Unidos em 2004. 

pág. 184

Nesse tempo a FLAMA sonhou alto.
A febre independentista incluiu a criação de um banco e uma moeda própria, o zarco, que chegou a circular em notas de 20, 50, 100, 200, 500, 1000. A temperatura subiu a níveis nunca antes imaginados. 
A FLAMA teve várias caras, entre as quais um denominado Esquadrão da Morte que, em vários comunicados, apelou aos madeirenses para que combatessem, sem medo, "as drogas, os comunistas e os socialistas" (...)
Duas figuras terão um papel decisivo no alastrar do clima incendiário: D. Francisco Santana, bispo do Funchal, e Alberto João Jardim, futuro líder do PSD

pág. 212

Um enorme clarão iluminava o breu. "Mataram o padre Max!, gritava a irmã.
Lurdes jazia no meio da estrada ao quilómetro 71.
(...)
Ela chegou já se vida ao hospital. Vestia três camisolas leves de várias cores. 
Max entrou com grande dificuldade em falar.
Perguntaram-lhe o que se passara.
"Colocaram-me uma bomba no carro e agora está a arder, mas não faz mal. É esta a democracia portuguesa."

pág. 215

Em Almendra, as mulheres lamentaram que um rapaz "tão bonito" se inclinasse para sacerdócio. Ele, porém, não iria ser mais um. Da passagem pela cidade histórica duriense deixará, de resto, pasto para lendas. Jura-se ainda por ali, a pés juntos, que Maximino gravou nas paredes da casa ds condes de Almendra uma inscrição que o guiará até o último suspiro:
"Aprendi a servir o povo no nojo da burguesia".

pág. 217

Pelo caminho, o amigo, já então militante do PS, não deixava de refletir no que ouvira e ambos comentaram as incidências daquela manhã:
"Ele queria pregar, a todo custo, a versão humanista que a Igreja deve ter na sociedade, mas na altura essas ainda eram perversas e perniciosas. E houve gente que não gostou". Dito isto, desafio-o: "Eh pá, tu tens um ótimo palco, podes pregar a visão cristã e humana da Igreja, dar a volta aos direitos dos cidadãos por que é que tinhas de ir logo para a UDP"? Ao volante, Maximino replicou: "Eu sou da UDP porque a UDP é pela classe operária e pelos direitos dos explorados."

pág. 219 

Max era, por esta altura, candidato a deputado nas listas da UDP nas primeiras eleições livres para a Assembleia da República. Num comício na sede dos bombeiros, atiçaria ainda mais os altares e a beatice: "Se há tantos padres de direita, por que é que um não há-de ser de esquerda?" desafiara. Para o sacerdote, aquela era uma "luta de morte" para evitar que uns tivessem "pão de primeira" e os outros nem o vissem. E perguntava, quase em súplica: "Como é que um capitalista pode celebrar ou dizer todos os dias "o pão nosso" quando o tipo tem o celeiro de todos?

pág. 227

Hoje na Cumieira, quase não há vestígios desses tempo.
E ao quilómetro 71só uns dizeres desbotados inscritos numa paragem de autocarro velha e enferrujada insistem em preservar a memória que não perdeu validade: "Padre Max, assassinos à solta".
No cemitério de Santa Iria, o jazigo de Maria de Lurdes é a cara do desleixo.
A campa de Maximino de Sousa é a 1240, a dois passos. 
"Le Temps Passe, le Souvenir Reste", lê-se. 
As flores são de plástico, mas o craveiro ao fundo da laje preta tem cravos a florir, em rebeldia. Apenas uma funcionária da Segurança Social de Vila Real lá vai, às vezes.
Todos os anos, Maria Augusta, feliz zeladora do cemitério a meias com o marido recebe chamadas do estrangeiro. São emigrantes pedindo que enfeite a última morada dos familiares. 
Pelo padre Max e Maria de Lurdes ninguém telefona. 
Para eles, já não há velas nem flores. 

(continua...)

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

O Presidente dos Afetos Pedófilos


Numa altura em que os portugueses sofriam cortes salariais e de pensões, Cavaco Silva, então Presidente da República em 2012, com 73 anos, veio queixar-se que com os 15 mil euros que recebia mal dava  para pagar despesas. 

Marcelo Rebelo de Sousa, com os mesmos 73 anos disse há dias que quatrocentos abusos sexuais na Igreja (que são muitos mais) nem é muito!

Não, não vou avançar com a teoria que é a partir dos 73 anos que os políticos começam a dizer e a fazer disparates! Até porque hoje mesmo, dia 20 de Outubro de 2022, demitiu-se Liz Truss, a senhora primeira-ministra do Reino Desunido que era contra a monarquia e depois a favor, que era contra o Brexit e depois foi a favor, que ia revolucionar a economia britânica baixando os impostos aos mais ricos, ou talvez não, e demitiu-se! 

Perguntaram-me se este seria o ponto de viragem na popularidade de Marcelo. Não creio. Se  Trump e Bolsonaro podem dizer e fazer o que querem que não perdem eleitorado, também não me parece que o comentador-presidente e rei das sefies vá perder popularidade por dizer esta enorme aberração. 

E depois as indignações das pessoas (e principalmente dos media) são muito seletivas. Na mesma semana que ficamos a saber da podridão da Igreja Católica portuguesa, que no fundo não é nada diferente do resto do mundo e, na mesma semana em que soubemos do esquema da Federação Portuguesa de Futebol que fugiu ao fisco em milhões de euros no pagamento do salário do selecionador, as pessoas indignam-se com o facto da Catarina Furtado cortar as pontas dos cabelos ou o Casillas dizer no Twitter que é gay. 

Voltando ao nosso comentador-presidente, relembrar que o senhor telefonou para um programa de televisão para desejar boa sorte a uma apresentadora de televisão. Agora, antes que a bronca rebentasse, ele mesmo serviu a vichyssoise e veio dizer que avisou o bispo, desculpando-se, que tinha encaminhado o processo para o Ministério Público. 

Só foi pena que Marcelo não tenha ligado à viúva do ucraniano assassinado pelo SEF para "não abrir uma exceção" quando estava "uma investigação criminal em curso"!

Como disse, não creio que Marcelo vá perder muita popularidade com o caso da pedofilia na igreja, contudo, considero que o presidente dos afetos pedófilos começa a meter-se num caminho muito apertado.

domingo, 27 de setembro de 2020

A Igreja Sentada à Extrema-Direita do Pai

 "A burguesia portuguesa não dorme tranquila. Tem a intuição do inevitável. Sabe que está condenada, vencida pelo progresso, pela evolução lenta mas segura da civilização mundial, caminhando decididamente, seguramente, para a democracia socialista que não é, afinal, contra ninguém, nem mesmo contra a própria burguesia, mas em que pretender tornar felizes todos os habitantes da Terra, não à força, mas garantindo tão-só a todos os cidadãos o direito ao Trabalho dignamente remunerado e à liberdade codificada pela lei justa, discutida e aprovada pelo Parlamento nacional, eleito pelo povo - isto é: na convergência dos interesses e na fraternidade das intenções. 

Manuel Francisco Rodrigues ia assistindo à morte dos companheiros e elaborando no seu espírito o que seria o grande livro a sair em 74, três década depois:

Sabemos que estamos manietados, que o nosso fim é a cova do cemitério, sob a terra africana, longe da nossa família e da nossa Pátria. Porém, sabemos também que venceremos. Perderemos talvez no temppo; mas ganharemos com certeza no espaço. Cada um de nós sabe que é um pioneiro de uma casa justa e tem a certeza que essa causa triunfará no futuro. E, asism, sentimo-nos ligados por esse porvir que, de quaquer modo, também será obra nossa. E essa certeza, enche-nos de orgulho e de força, a força que anima os estóicos, os santos e os heróis... Por isso sofremos, em silêncio, curvados para a terra, mas os nossos espíritos pairam muito alto... Até os mortos, mesmo amarelos, têm a nobreza imaculada e pura de tudo que é santo... Sim... Todos os nossos mortos pertencem já à História... deram entrada no Panteão dos Heróis... santificados pelo martírio... São os dignos descendentes dos gloriosos bravos das Catacumbas...

E não há uma voz generosa que se levante, um padre, um juiz, um ministro, um homem bom, que esteja em liberdade e que tenha influência moral e social para exigir, pedir ou suplicar, em nome de Cristo, da Lei, da Humanidade, por humanidade ou por piedade, por qualquer coisa e de qualquer modo, que se termine com este horrível sepulcro, onde mais de duzentos homens esperam a hora da morte, entre os quais há, talvez, quem tivesse cometido algum delito, mas onde há, também, com certeza, absolutamente, indiscutivelmente, muitos inocentes...

Aquele horror não podia continuar. Era preciso condenar os delinquentes se os havia, mas acabar com aqueles matadouro indigno da terra lusitana ("os portugueses são tenros" - reconheceu recentemente Leopold Senghor, ao ser entrevistado pela TV italiana). Manuel Francisco Rodrigues escreveu ao cardeal Patriarca de Lisboa de então, a fim de que enfrentasse a prepotência, em nome da liberdade e da consciência humana. Mas foi em vão... Ninguém lhe respondeu. A sua voz clamava no deserto do medo... no pântano da indiferença, conforme explica. 

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Cristianismo Cultural

Hoje fui vítima de Cristianismo Cultural. Não é para todos. Quando passava de bicicleta por um pequeno grupo de miúdos, um deles (claro que o ser humano desde cedo tem comportamentos em matilha que sozinho nunca teria) e diz bem alto: "Cristo desceu à Terra". 

Bom, acho que vou já criar uma petição para que a Igreja Católica pinte o seu Cristo de acordo com a sua etnia, da região onde terá nascido e não todo higienizado, de pele clara, cabelos compridos claros e olhos claros.

sábado, 16 de novembro de 2019

dos Lugares no Céu aos Laiques nas Redes Sociais

"Assim que uma moeda tilinta no cofre, uma alma sai do purgatório".

Tenho para mim, e ninguém me tira mesmo da cabeça, que foi a Igreja Católica, de forma pioneira, que inventou o capitalismo selvagem tal como o conhecemos hoje. A basílica de São Pedro não se construía sozinha e era preciso muito dinheiro, e vai daí surgiu a ideia: e se começássemos a permitir que as pessoas cometessem pecados mortais e cobrássemos uma taxa para meter uma cunha a Deus? Todos aprendemos na escolinha sobre a bula das indulgências, no fundo como o pobre endinheirado pecador poderia comprar a sua salvação desde que, claro, pagasse a quantia certa!  

BBC
Entretanto a Idade Média já lá vai à uns tempitos, mas também hoje, em pleno século XXI as pessoas compram a entrada no céu, a sua vida perfeita através das redes sociais. Vem isto a propósito de eu ter estado a ler sobre o Instagram estar já a estudar a possibilidade de banir os gostos e isso estar a deixar muita malta apreensiva porque seria o mesmo que a Igreja da Idade Média passasse a não aceitar avultadas quantias de dinheiro para conduzir à salvação eterna! Porque tudo se compra e tudo se vende. Hoje os utilizadores das redes sociais compram a sua entrada no reino dos céus dos que têm mais laiques e seguidores, comprando gostos e seguidores! Fiquei a saber que cerca de 64% dos influenciadores admitiram que compram gostos!, e dei-me conta também como é que a senhora Dolores é a personalidade portuguesa mais seguida nas redes sociais. Basta comprar não é?, e tendo em conta que o seu filho não recebe o salário mínimo e até pagou a sua própria estátua para se auto-homenagear, ficou claro como água como é que a senhora é a rainha das redes sociais em Portugal, apesar de não lhe ser conhecida qualquer vocação ou especial capacidade física ou intelectual.  

Frequentemente digo que a nossa vida hoje não é assim tão diferente da Idade Média. E a verdade é que as novas Igrejas são agora as redes sociais, onde até um gajo que nem saiba falar pode ser eleito presidente com recurso a exércitos de bots, desde que, obviamente, os possa comprar!

Cada Gosto que cai no perfil, é mais uma vida perfeita que se constrói na rede social. 

sábado, 9 de novembro de 2019

O que é que Haveria de ser dos Ricos e da Religião sem os Pobrezinhos?

"O "pobrezinho"era uma entidade que povoou a minha infância e que recolhia o amparo e o carinho de todos (...) Em todas as "boas" casas da minha meninice meiga e temente cultivavam-se os pobrezinhos, regavam-se com bocadinhos de pão com conduto, com pequenas moedas de cobre, e cultivava-se sobretudo a sua pobreza. Havia a comida dos pobres, a esmola dos pobres, as visitas dos pobres e a sexta-feira, sobre ser diz aziago, era também o dia dos pobres (...) As coisas para os pobres eram objetos intermédios entre o uso e o lixo. Estavam pré-determinadas e correspondiam ainda à dificuldade do desapossamento das coisas, mesmo as que já não servem, que está na base da civilização em que vivemos.

(...) Sinto que, se não houvesse pobrezinhos, a vida espiritual da minha infância teria sofrido uma lacuna tão grave como se não tivesse havido missa (...) Os ricos deliravam com estes pobrezinhos assim cordatos, submissos e respeitadores. Havia muitas espécies de pobres. Quanto ao modo como adquiriam os meios de subsistência, havia os pedintes, os necessitados e os envergonhados (...) quanto à sua conformação psíquica, havia os preguiçosos, os bêbados e os mmaluquinhos propriamente ditos.
Alguns atrasados mentais davam muito jeito numa casa. Faziam pequenos serviços: regar as flores, ir a uma loja certa buscar isto e aquilo. Acomodavam-se aos trabalhos de uma certa estrutura doméstico-provinciana, ganhavam menos, ficava-se muito bem visto (...) Quem não viveu como eu vivi a monotonia dos anos trinta não pode imaginar como estas coisas eram importantes e divertidas. De resto, com alguma razão a avó do Otto Lara dizia: "Boa criada só meio retardada".

(...) Entre o pessoal efetivo das casas e os pobres de pedir havia uma zona intermédia de seres que viviam da esmola mas não eram tratados, nem gostariam, de ser profissionais propriamente ditos. Eram normalmente mulheres, e eram chamadas "meninas" até à decrepitude. Faziam pequenos trabalhos de costura, algumas tinham jeito para bordados, outras faziam bolos (...) Vestiam do vestir que sobejava dos guarda-fatos quando já estava no fio, comiam do comer que sobejava da mesa quando já estava frio.

(...) Toda a minha infância ficou assim povoada de pobres de que estes eram os mais valiosos, porque mais autónomos, alguns mesmo marginais às estruturas, mas havia outros que estavam completamente integrados no nosso status comum em conluiado contraponto.
Todos os que faziam parte do chamado "mundo do trabalho" também eram pobres se se mantinham submissos e respeitadores. Caso contrário eram "bolchevistas". Quando aprendi a palavra  "bolchevista", longe estava de saber que eles tinham tido coisas lá na Rússia com os "menchevistas".

(...) Todo este clima justificava a filosofia do velho Meneses:
"Nosso Senhor acuda aos ricos, que os pobres com qualquer coisa se governam". E era.

Como o mundo dos ricos tinha grandes contestações ao nível da ética tradicional e porque, evidentemente, havia pessoas muito mais ricas que nós, isso dava-nos alguma margem de manobra para singrar entre a riqueza, que implicaria uma série de imprecações em relação aos preceitos evangélicos e não justificava o ritmo de poupança em que estávamos sendo criados e que era o nosso estilo de viver, e a pobreza, que não era manifestamente o nosso estado.
Recorria-se então a um truque  de linguagem: "éramos remediados". A situação de "remedido" era extremamente cómoda porque, sem as dificuldades da pobreza e sem o odioso da riqueza, permitia que vivêssemos de boa consciência o nosso quotidiano privilegiado, sendo certo também que os pobres, desconhecedores destas subtilezas  linguísticas, nos enquadrava, muito justamente no mundo dos ricos, mas nunca nos trouxeram por isso qualquer espécie de dificuldades (...)

Mansos, cordatos, "òmildes", respeitadores, obedientes ao senhor e ao Senhor, por eles não vinha ao mundo qualquer espécie de males. Pretendiam só que lhes fosse permitido viver o seu dia-a-dia da miséria e que lhes assegurassem aquele mínimo que os deixasse subsistir. Em troca, forneciam a boa consciência aos ricos e deixavam até que os poetas os tomassem para pretexto do seu lirismo barato.
A cariente disso. Não, de maneira dosa burguesia tradicional cultivou por tudo isto a pobreza dos outros com um carinho enternecedor. Nunca lhes passou pela cabeça que cabeça que talvez fosse possível acaba com ela ou, pelo menos, tratar muito seriamnenhuma. A pobreza fazia parte integrante do universo económico, religioso e moral dos ricos que encontraram sempre nos pobres a mais devotada das colaborações (...)

Logo que a classe operária teve, nos tais países desenvolvidos, teve acesso aos benefícios do capitalismo, passou a incomodar-se menos com a transcendente missão de que os outros a tinha encarregado e, muito naturalmente, passou a preocupar-se mais com o frigorífico, a televisão e o automovelzinho, que são coisas que dão muito jeito e só quem as tem é que sabe a falta que isso faz (...)

Acresce que as pessoas talvez não se tivessem dado bem conta de que uma sociedade capitalista cria, muito naturalmente, um proletariado de mentalidade capitalista porque os processos, as motivações, os valores, são exatamente os mesmos. Por essa razão, natural é também que tudo assim aconteça: o condicionamento global em que a sociedade capitalista vive não é de molde a dar ao problema uma solução adequada (...)

Foram quase sempre "traidores" da burguesia que criaram as motivações capazes de mobilizar as forças que originaram as grandes mutações sociais (...)

Este tipo de situação que aparece de forma clara na sociedade em geral tem muito naturalmente os seus reflexos na sociologia duma religião que enfiou como uma luva a sociedade burguesa com as suas grandezas e misérias. Em vez de, como esperava, a religião ter modificado as estruturas, foram as estruturas que modificaram a religião. A conveniência dos pobres dos ricos corresponde exatamente à conveniência dos pobres da Igreja. Os mesmos sinais de perigo iminente soltam-se, simultaneamente, dos senhores da burguesia e dos senhores da Igreja, preocupados com "a agitação e a subversão que se pode provocar nos seus queridos pobrezinhos".

domingo, 11 de agosto de 2019

Cruzes Canhoto!

Dicionário Porto Editora

Acordei, liguei o computador, e, como é habitual, fui ler as capas dos jornais. Choque e pavor: "Dragão entra com o pé esquerdo no campeonato" lia-se n'A Bola!

Que significa isto? Que o FCP entrou no campeonato a ganhar qual melhor jogador de futebol de sempre, o esquerdino Maradona? Não! porque afinal fiquei a saber que a equipa das Antas perdeu 2-1 em Barcelos. 

Historicamente, e vá lá saber-se desde quando, os canhotos sempre foram perseguidos, descriminados, e até mortos. Mas ainda hoje, em pleno século XXI, em muitos países, continuam a ser vítimas de estigma social, porque, lá está, são uma minoria e como todas as minorias, são descriminados pela maioria. 

Naquele livro que "nunca mente" Jesus senta-se "à direita do pai", e o lado direito é sempre referido como o lado bom, ao passo que, além de ser referido muito menos vezes, o lado esquerdo é sempre referido de forma negativa. E foi por causa da Bíblia que se iniciou esta cruzada contra as pessoas que usavam naturalmente a mão esquerda para fazer as coisas, até porque, por exemplo, os Celtas (povo tão à frente do seu tempo, mesmo à frente deste nosso tempo do século XXI) valorizavam os canhotos porque tinham clara vantagem em combate. E também os Maias e os Incas olhavam para os canhotos de forma favorável. 

Mas por causa dessa interpretação bíblica fundamentalista, a Igreja Católica começou a perseguir quem é diferente, quem usa a mão esquerda para fazer as coisas, e quem o fazia começou a ser conotado com o Diabo! Para a Igreja, ser homossexual, ruivo, preto, ou conhoto é a mesma coisa! Fogueira com eles! E certamente que também muitos conhotos fizeram-se passar por dextros para que sobre si não fossem levantadas suspeitas. Certamente que muito canhoto viveu dentro do armário. 

E muitos outros, mesmo em pleno século XX, como eu por exemplo, foram forçados a ser dextros porque em pleno século XX os professores puniam os canhotos, como se tivessem uma doença venérea! E eu nem sequer nunca soube que era canhoto de origem, até ao dia em que olhei para a forma como descascava uma laranja e perguntei... e sim "quando eras bebé pegavas em tudo com a mão esquerda, mas nós púnhamos-te na mão direita". 

Mas apesar disso ter acontecido na Idade Média!, ainda hoje, gente que até faz da comunicação a sua profissão, como os jornalistas por exemplo, continuam a atribuir a conotação negativa ao lado Esquerdo. Uuuhh cuidado, o Dragão entrou de pé Esquerdo e o Benfica entrou com o "pé direito" no campeonato!

E anda muita gente traumatizada, especialmente aquela malta urbana que vota no PAN e tem cães dentro de apartamentos, que ai-jesus-que-não-se-podem-usar-expressões como "a porca torce o rabo" ou "pegar o touro pelos cornos" mas depois não vejo literalmente ninguém a insurgir-se contra estas descriminações bacocas, que estão tão enraizadas que as próprias pessoas nem notam que estão a descriminar ao usá-las. É mais ou menos como a história de chamar "encarnados" ao Benfica porque o ditador Salazar não queria que se associasse a palavra "Vermelho" à palavra "Vencedor", e o lápis da censura era azul. Mas ainda hoje, os jornalistazinhos, não vá o ditador levantar-se da tumba, referem-se ao Benfica como "encarnados". Pois como disse um certo senhor:


Também não vejo ninguém incomodado com a própria definição que vem nos dicionários. E, se muito se falou em alterar a definição da palavra "Mulher" que estava associada (também por causa da merda da religião católica) ao "sexo fraco", até porque o Deus inventado pelos católicos é machista e misógino, pergunto: não seria também já tempo de retirar a conotação negativa e religiosa da palavra canhoto? 


terça-feira, 11 de junho de 2019

O que Deus Uniu Descola Mais Rápido?



Números oficiais PORDATA, hoje, na primeira página do Jornal I:

"Quem casa pela Igreja divorcia-se mais do que quem casa pelo civil".

E temos que ter em conta que, pessoas do mesmo sexo não podem casar (nem divorciar-se) pela Igreja, pelo que vão para o bolo dos casamentos e consequentemente divórcios civis. 

O que eu me pergunto, e seria certamente uma reportagem interessante, era perguntar aos responsáveis da Igreja Católica - o que acham destes resultados?, afinal, segundo julgo saber, pelo menos por aqui na aldeia que há uns anos, quem queria casar pela Igreja Católica, até tinha que fazer um curso de preparação e tudo!, ainda que, esse curso fosse ministrado - ironicamente! - por alguém que nunca soube o que são os desafios de estar casado!

O que é que isto poderá querer dizer? 

Na minha opinião que quem casa pela Igreja, se calhar fá-lo de forma menos esclarecida, se calhar querendo corresponder e ir de encontro a determinadas expectativas, dogmas e pressões familiares, não fosse até corrente que o casamento é a cerimónia dos pais (que muitas vezes a pagam) e não dos dois principais interessados. Mas para mim quer também dizer outra coisa: a completa falência da instituição casamento, até porque, e já aqui falei do assunto: mais de 50% das crianças que nascem em Portugal, nascem fora do casamento.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Como Comprovar um Milagre?

Ora bem, daqui por dois dias, no 13 de Maio de 2017 faz cem anos que a Igreja anda a enganar os crentes - por alguma coisa se diz "és mesmo crente!" - e então, para se comemorar a efeméride, nada melhor que arranjar assim à pressão um milagre qualquer para canonizar dois pastorinhos (logo os que nada viram! e as voltas que a Lúcia deve estar a dar na campa!) e vai daí, dizem que há uma criança brasileira! (quão conveniente!) que se curou graças a um milagre dos pastorinhos. 



Mas eu tenho um método muito mais eficaz para comprovar realmente que a criança brasileira está a dizer a verdade, e se de facto está protegida pelos santos!

Pega-se no puto e leva-se lá acima da basílica, que nem é muito alta (só tem 18 metros) e manda-se o puto lá de cima. Se perante o grande malho que ele vai dar, chegar cá abaixo, e se levantar pelo próprio pé e fizer um quatro, está comprovado! É milagre!! Caso o puto se esbardalhe todo ao comprido no chão, como é previsível que aconteça, e morra ou vá para o hospital, então, é por demais evidente que estamos perante mais uma, das muitas aldrabices da Igreja Católica. 

domingo, 4 de setembro de 2016

A Canonização da Sádica Fascista

Hoje, domingo, dia 4 de setembro de 2016, os católicos têm mais um santinho a quem pedir milagres: a velha fanática albanesa que em vida era amiga dos ricos, corruptos e ditadores, e que se serviu dos doentes e moribundos que acolhia e os deixava morrer sem quaisquer condições e que com isso granjeou fama e proveito, chegando mesmo a prémio Nobel,  e que no seu discurso disse esta aberração: "o maior destruidor da paz hoje é o choro da criança inocente não nascida"!

Via Pinterest

Recebeu milhões e milhões, e podia ter ajudado os doentes, mas não, deixava-os morrer e nem analgésicos lhes dava, porque pregava o culto do sofrimento, parece que era para estarem mais perto de Deus! 

Mas curiosamente quando foi ela mesma que ficou doente, a puta, (sem querer ofender as putas a sério que trabalham para ganhar a vida) a puta foi internada numa clínica moderna e cara! Ela já não quis morrer sem condições, nem quis estar perto de Deus! 

Quem não lhe conhecer a santidade, pode sempre ver o documentário dos anos noventa Hell's Angel (Anjo do Inferno) que é bastante elucidativo das suas santas façanhas:


Mas a verdade não interessa para nada. O que importa é o que parece que é, e as pessoas comem o que lhes dão a comer sem questionar. Mesmo que hoje exista uma coisa chamada internet! E se o Vaticano e o Papa dizem que esta velha sádica era uma santa então deve mesmo ser verdade, afinal é o santo Papa! E é tão bom este Papa, este é que é fixe!

E o que fica para a história é isto, uma velha sádica, corrupta, fascista, que não prestava qualquer auxílio aos doentes e os deixava morrer ao desmazelo sem qualquer assistência médica, vai passar a ser uma santa, e certamente vai ser fazer muitos milagres. É para isso que os santos servem não é? Para lhes fazerem promessas que eles fazem milagres certo?

Posto isto, eu deixava também algumas sugestões de canonizações futuras ao cuidado do Vaticano: 
Hitler, Estaline, sei lá, por que não Salazar por exemplo? Ah, e esperem que a Isabel Xoné do Banco Alimentar morra e canonizam-na também. Que exemplo de mulher que faz a caridade, que santa mulher.

terça-feira, 21 de junho de 2016

O Placebo Espiritual

Ao longe, ouvia o senhor, com mais de setenta anos, que já percorreu grande parte das freguesias aqui do concelho, e que já me falou do que é isso de ser realmente amigo, falar disso do benzer dentro da igreja. 

Eu entro numa igreja romana, maior ou mais pequena, riquíssima ou mais modesta, como entro em qualquer outro sítio. Tenho no entanto algum pudor na forma como me comporto. Não acho de bom tom pôr-me a rir e a dizer graçolas e caralhadas, como vi alguém fazer no dia anterior, quando ali ao lado, a dois passos, decorria um batizado. 

Eu não sou crente na igreja do império romano, que ao contrário do que ensina nas escolas ainda não ruiu e continua a dominar o mundo através da igreja que inventou para o efeito, e sou muito corrosivo quando falo desse bando de ladrões e pedófilos que são os padres e a restante corja, mas acho que se lá entro dentro então devo comportar-me com algum respeito, com o mesmo respeito que entraria noutro templo de outra religião qualquer. 

Mas entro como turista, e tenho entrado sempre porque estou com outras pessoas que querem entrar para ver (como se as igrejas não fossem todas iguais!) e então entro também para admirar a ostentação religiosa, vinda dos tais que apregoam o despojamento dos bens materiais e que dizem que é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus, mas que aplicam o "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço"! E como é lógico, não me benzo, muito menos faço a genuflexão quando cruzo o altar e bem que os meus joelhos agradecem. 

Mas este senhor, talvez fruto da idade, sentiu-se à vontade para proferir umas observações bem ao jeito multi-resistente:

"Essa coisa do benzer..." ouvia-o ao longe, e comecei logo a prestar atenção. 

Certo dia, a Guilhermina, a minha vizinha, sabendo que eu ia a Fátima, veio pedir-me se lhe trazia água de lá para beber... Na volta, estava já a uns dez quilómetros de Fátima, quando me lembrei da água para a mulher. Então lá enchi numa torneira qualquer a água  para lha dar. Dias mais tarde, veio-me lá a senhora agradecer. Ai que a água fez-me tão bem....

quinta-feira, 31 de março de 2016

Deus: O Pai de todos os Misóginos

Ultimamente muita gente se tem insurgido contra algumas pessoas que, em pleno século XXI, continuam a achar que a mulher é, basicamente, um monte de merda. Ainda por estes dias, lia a revolta de algumas pessoas, quer contra um troglodita comentador do Porto Canal. quer contra um tipo americano que também escreve umas barbaridades no seu blogue, afirmando, entre outras coisas, que a mulher basicamente serve para ser tratada como algo descartável, que se usa e deita fora, e depois vai-se pegar noutra mulher qualquer quando se precisar.

E ultimamente muito se tem falado de misogenia. Ainda há minutos, quando folheava virtualmente a imprensa estrangeira, lia de relance a palavra em inglês, associada a um qualquer candidato troglodita às presidenciais americanas.

Mas sinceramente eu não percebo esse tipo de indignação. Ou melhor, eu indigno-me é, como é possível que, em pleno século XXI, continuemos a ter mais de 90% da população que se diz católica apostólica Romana, ou cristã, e existe uma imensidão de diferentes religiões cristãs, e muita gente, ainda que seja só "pelo-sim-pelo-não" e  não vejo ninguém que se insurja contra o Deus que os romanos inventaram à sua imagem.

Sim, o Deus que os romanos inventaram à sua imagem, mas venderam a ideia oposta, de que "Ele" é que nos fez à sua imagem! Mas não. Os Romanos é que inventaram um novo Deus, à imagem das suas conveniências políticas. Lá está, sempre a política.
Os gaijos tinham deuses para todos os gostos. Até tinham um Deus só para os bacanais! E de repente (supostamente) mataram um criminoso que até foi crucificado, e mais à frente, renunciam a todos os deuses em que acreditavam, e passaram a acreditar na palavra do criminoso que condenaram à morte! Se não é estranho para 90% da população, para mim é mesmo muito estranho!

E esse Deus que grande parte da população mundial come, sem se questionar, porque lhes foi dado a comer pelos romanos desde há dois mil anos, e porque as pessoas nascem, crescem, e acreditam naquilo que passa de boca em boca durante milénios, e depois porque pensar pela própria cabeça é uma chatice!

E para mim é esse Deus, o pai de todos os misóginos. O pai de todos aqueles que odeiam as mulheres, que acham que as mulheres são inferiores, que na verdade são um monte de merda, e que devem ser tratadas com tal.



E é revelador o que este Deus feito à imagem dos Romanos pensa sobre a mulher, e revela-o logo no Génesis, o primeiro livro da Bíblia, e que continua por aí adiante, com aberrações para todos os gostos:

Deus disse à mulher: ‘Multiplicarei grandemente os teus sofrimentos e a tua gravidez; darás à luz teus filhos entre dores; contudo, sentir-te-ás atraída para o teu marido, e ele te dominará’. (Génesis 3:16)

Quando um homem se casa com uma mulher e consuma o matrimónio, se depois ele não gostar mais dela, por ter visto nela alguma coisa inconveniente, escreva para ela um documento de divórcio e o entregue a ela, deixando-a sair de casa em liberdade. (Deuterónimo 24,1)

Como em todas as igrejas dos santos, as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus próprios maridos; porque é indecoroso para a mulher o falar na igreja . (Coríntios 14, 33-35)

É melhor a maldade do homem do que a bondade da mulher: a mulher cobre de vergonha e chega a expor ao insulto. (Eclesiastes 42, 14)

Pois eu respeito tanto ou mais as mulheres que os homens. Não acho que os homens são melhores ou piores, mais inteligente ou mais burros. São diferentes. Nunca um homem será uma mulher, tal como uma mulher será um homem (e claro que não estou a contar com as mudanças de sexo que hoje em dia permitem quase o impossível!)

E este Deus não é "amor", tal como é a ideia que as religiões cristãs vendem. E não é certamente o meu Deus. Se eu algum dia decidisse acreditar num Deus qualquer, nunca que acreditaria num que acha que mulher é um monte de merda, e que só serve para ser submissa ao homem. Até porque às vezes sou eu que gosto de ser submisso para elas. Fetiches condenados ao fogo do Inferno.(Inferno que há pouco a Igreja Católica decidiu que deixou de existir!)

E depois não deixa de ser irónico, termos uma religião Católica que abomina as mulheres, que as trata, à semelhança deste Deus, como um monte de merda, e no entanto são elas que ainda vão correndo para as igrejas, e muitas vezes, se não fossem elas, essas igrejas, construídas graças à fome que se dava ao povo, estariam ainda mais vazias. E eu juro que não entendo. Como é possível, que uma só mulher possa acreditar nesse Deus? Tal como acho incrível que um só homossexual (ou bissexual) possa seguir este Deus. Ou que um só preto possa ser Católico. Não entendo. 
Porque Eu, eu não corro atrás de quem acha que eu sou uma aberração. Ou que sou um monte de merda. 

E é este Deus, machista, misógino, racista, hipócrita, calaceiro e vingativo, o culpado de todo este atraso de vida em que vivemos. É a palavras deste Deus, que legitima todos os trogloditas que ainda hoje em dia maltratam as mulheres, pois estão a coberto da "palavra sagrada" d'Ele.

Eu amo a mulher. Não amo este Deus inventado à semelhança dos Romanos. 

Seja Feita a Minha Vontade. 
Amén. 



sexta-feira, 25 de março de 2016

Quando a Igreja é um Problema de Saúde Pública

Hoje é feriado. Não se trabalha. É por isso ainda estou aqui, no quentinho da cama, a ver se começo a escrever alguma coisa em vez de estar a tomar o pequeno-almoço e a preparar-me para mais uma sexta-feira de trabalho.

Na verdade até foi uma colega de trabalho que me deu a boa nova (expressão mesmo apropriada!) no início da semana, porque eu nem sequer tinha antecipado este feriado do 25 de Março. E eu que até conheço muito bem todos os feriados. Parece que é um dia "santo", um daqueles feriados religiosos, daqueles que não deveriam existir, porque para quem não saiba, vivemos num Estado Laico, que significa que não tem religião, logo não deveriam existir feriados religiosos.  Mas a discussão dos feriados religiosos ficará para outra altura. Para mim, todos os feriados são dias "santos", sejam religiosos ou não. 

Falou-se em Páscoa, e de imediato me assaltaram duas ideias. A primeira é a de que, se não houvesse Páscoa,  os católicos - que apesar destes não fazerem a mínima ideia do que é a Páscoa! - nunca que lavariam as suas casas e passeios, tal é a azáfama em que andam nestes dias, como não se vê em mais nenhuns dias do ano!  A segunda questão, e essa que me preocupa verdadeiramente, é o facto da visita pascal ser um verdadeiro atentado à saúde pública, e não vejo nenhuma autoridade, seja política ou policial a fazer o que quer que seja. 

Via Pinterest

No próximo domingo lá vem o compasso de casa em casa, entrando pelas casas adentro com a ladainha do costume:

"Cristo ressuscitou, Aleluia Aleluia 
Passa mas é para cá o dinheirinho
Aleluia Aleluia"

Mas eu não tenho absolutamente nada contra com as tradições católicas, muito menos com questões de fé. Cada um acredita no que quer, que faça o que muito bem o que entender, tal como que eu faço. Mas o que eu não posso tolerar, é que se continue a perpetuar um comportamento grave, e atentatório da saúde pública. 

Já não estamos na Idade Média, em que as pessoas, mesmo as ricas, cagavam e mijavam dentro dos palácios, fosse diretamente para as paredes ou para o chão, tal como os animais, e em que as doenças proliferaram e se transmitiam rapidamente pela evidente falta de higiene. 

Vivemos felizmente outros tempos. Tempos em que se alerta constantemente a população, para que se lave muito bem as mãos, principalmente quem trabalha nos hospitais, para que não se contagie doentes e outras pessoas. Então, como é possível, que ano após ano, as visitas pascais continuem alegremente por esse país fora, em que se dá um boneco a beijar às pessoas, permitindo que se transmitam toda uma série de doenças, e como é possível que as autoridades, nomeadamente a ASAE nada faça?

Este não é um problema da Igreja Católica, é um problema de todos nós. Uma qualquer pessoa, com uma doença, que pode ainda nem saber que a tem, pode muito bem ao beijar o boneco, deixar ali uma fonte de contágio para todas as outras pessoas, nomeadamente pessoas (como é o meu caso) mais fragilizadas por serem doentes crónicos e sem defesas. Como é possível, que em pleno século XXI as autoridades não tenham ainda proibido este ritual aberrante? 

Mais!! E a água benta nas igrejas? 
Como é possível que esta ainda não tenha sido proibida pela ASAE? 
A água está ali, parada, não sei quantos dias, a ficar choca e toda a gente lá vai e mete a mão. Mão esta que pode antes ter andado sabe-se lá onde. E todos metem a mão. E a água benta ali fica parada, porca, de todas as mãos. Como é possível que nada se faça? 
Por que é que a ASAE não obriga as igrejas a ter, sei lá, por exemplo dispensadores de água benta? Ou então, por que é que não engarrafam a água benta? Até me parece que acabei de deixar aqui dois ótimos modelos de negócio para a Igreja Católica! Até podiam vender água benta nos supermercados! Mas acabem é de uma vez por todas com estes comportamentos medievais. 

Por último, dizer que é muito interessante verificar o pouco poder de encaixe dos católicos face às críticas que faço. Perante os meus argumentos, que são mais do que evidentes e que não dão qualquer hipótese de defesa, as pessoas defendem-se dizendo que também há outros problemas de higiene a que ninguém liga. Muito visto esse argumento, usa-se muito quando se fala, por exemplo, de política. Quando eu digo que este político é ladrão, não dizem que o homem é um santo! Não, defendem-se dizendo que há outros que também o são!

Mas ainda mais interessante é observar como rapidamente cai o véu a todas as pessoas que se dizem em favor da liberdade de expressão e de pensamento. No trabalho, e perante estas minhas chamadas de atenção, houve alguém, já muito exaltado, que se vira para mim e diz: "Vê lá como falas. Estás a desrespeitar as pessoas". 

Interessante! E eu respondi: "Então não éramos todos Charlie Hebdo? Então não andavam por aí todos solidários, afirmando-se Charlies, em defesa da liberdade de expressão"? Quando alguém satiriza Maomé e fazem dele um palhaço qualquer, temos de respeitar, agora eu, só porque chamo a atenção para um problema sério, já tenho de ter cuidado como falo? Mas era o que havia de faltar!
Mas vão quê? Queimar-me na fogueira por pensar pela própria cabeça? Ou amarrar-me de pés e mãos e atirar-me ao rio como se fazia com as supostas bruxas nos tempos da Inquisição? 

Meus caros, eu estou-me a cagar para a fé de cada um. Respeito todas as religiões por igual, não tenho nada a ver com isso, é uma questão pessoal, até está consagrada na Constituição. Mas a visita pascal não é uma questão de fé, é uma questão de saúde pública. 

E já agora, e só para esclarecer, porque 99,9% dos católicos nem sequer sabe o que é a Páscoa:
Páscoa é a festa que comemora (muito antes de Cristo ter sequer nascido!) a libertação e condução do povo judeu, por Moisés, do Egito à Terra Prometida. Nada tem a ver com os cristãos (Cristo nem era cristão sabiam disso certo?) nem tem a ver com católicos, nem com chocolates ou com ovos e coelhos, muito menos com envelopes cheios de dinheiro para dar ao padreco da freguesia.