tag:blogger.com,1999:blog-43242515440014956642024-03-29T00:26:23.662+00:00Multi Ω Resistente"A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão."Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.comBlogger1707125tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-72519831885841863622024-03-20T20:50:00.001+00:002024-03-20T20:50:10.061+00:00Conversas Improváveis (82) - Problemas com o Tamanho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://thepinknews.com/wp-content/uploads/2021/04/lovenseproduct.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="676" data-original-width="647" height="400" src="https://thepinknews.com/wp-content/uploads/2021/04/lovenseproduct.png" width="383" /></a></div><br /><div>Depois de almoço cai-me a seguinte mensagem:</div><div><br /></div>"Sabes aquelas pessoas que compram vibradores enormes a pensar "Isto é que vai ser!" e depois percebem que não o conseguem fazer entrar todo?<br /><br />Cheguei à conclusão que tenho um problema idêntico com o telemóvel. Não me cabe na mão. Se o estiver a usar só com uma mão não consigo chegar a todo o ecrã".<div><br /></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-52863639503886678402024-03-10T09:03:00.004+00:002024-03-10T09:03:49.347+00:00Se Eu Estou Bem, Também Quero que os Outros Estejam Bem<div style="text-align: justify;">"Eu sou de esquerda. Acredito no Estado social. Jamais votaria num partido que promete baixar os impostos. Assim como eu vivo bem, quero que os outros também vivam bem. Se existe alguma coisa que jamais faria na minha vida, é votar na direita» (Jürgen Klopp)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnw1b8KpkANZpi0HC0eyMxuJpTfkFUTXRwCRmXiYLcSCMIOCUUViI1xZIFLJUQJxSB15CPtGjxcPNDLbWGo_bP2LQWS9fF6qk9QBR17-0bqXFDUYzccai83ucE9Eeb8gUi2GYEvQKBPHvCboVkCIOcpL_QrBd_VHCNdiXi6ADxiDwKishyphenhyphenLUFGNQbXZaer/s1000/430284126_1165343884830385_4393907725249155990_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="750" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnw1b8KpkANZpi0HC0eyMxuJpTfkFUTXRwCRmXiYLcSCMIOCUUViI1xZIFLJUQJxSB15CPtGjxcPNDLbWGo_bP2LQWS9fF6qk9QBR17-0bqXFDUYzccai83ucE9Eeb8gUi2GYEvQKBPHvCboVkCIOcpL_QrBd_VHCNdiXi6ADxiDwKishyphenhyphenLUFGNQbXZaer/w480-h640/430284126_1165343884830385_4393907725249155990_n.jpg" width="480" /></a></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-82517783314825123722024-03-10T00:16:00.001+00:002024-03-10T00:16:31.393+00:00No Meu Coração e na Minha Cabeça<p> <b>"</b>Estás... </p><p>No meu coração e</p><p>Na minha cabeça...</p><p>Eu sei que estás aqui comigo </p><p>Como faço para fingir com outra mulher</p><p>Como faço para sair ao fim de semana?</p><p>Estás</p><p>No meu coração e</p><p>Na minha cabeça...</p>
<div style="text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/Xvh_0CuMMtM?si=9Q396b8RM9ZPNfhJ" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div><div><div><br /></div><div><div><br /></div><div style="text-align: center;"><b>
<iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/oOZBp8zASs0?si=4er0q9dLbGkRPuwV" title="YouTube video player" width="560"></iframe> </b></div><div style="text-align: center;"><b><br /></b></div><div style="text-align: left;"><b> Heart Heart Head | Meg Meyers | 2014</b></div></div></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-42035272831288998572024-03-03T09:14:00.004+00:002024-03-03T09:14:37.962+00:00Conversas Improváveis (81) - Sabes Como se Acaba com a Pedofilia na Igreja?<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi187ICJ7FSFw0S0Ysism1bdrM-3FtXyLVV1y8TYfS4br1y_iZ52kFubBUJcbCFGOX2SK20pbYB5Ahz58AjRHeG1UoMDf8EcvmyZOT2zUjYyIs4QUTqX5OQQfGCY6RLHlMFGbgfM36d11cUpl7fI01hWrvNn-KAkA0Syb2c_6NGilQTKqz4TjMHuKGkSTG4/s1272/pedofilia%20igreja.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="835" data-original-width="1272" height="420" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi187ICJ7FSFw0S0Ysism1bdrM-3FtXyLVV1y8TYfS4br1y_iZ52kFubBUJcbCFGOX2SK20pbYB5Ahz58AjRHeG1UoMDf8EcvmyZOT2zUjYyIs4QUTqX5OQQfGCY6RLHlMFGbgfM36d11cUpl7fI01hWrvNn-KAkA0Syb2c_6NGilQTKqz4TjMHuKGkSTG4/w640-h420/pedofilia%20igreja.jpg" width="640" /></a></div><br /> Não raras vezes saímos do treino e depois ficamos, de forma muito inteligente, na rua, suados ao frio (ainda que este inverno de 2024 esteja a ser - mais uma vez - o mais quente de sempre) a conversar, seja dos nossos projetos futuros para o clube - pois é, acho que ainda não contei aqui que mudei de clube há coisa de um mês e pico - ou então a conversar de outros assuntos que estão na ordem no dia, como a detenção do Macaco e a máfia no FC Porto ou o estado da Justiça em Portugal. <p></p><p style="text-align: justify;">Desta vez falava-se do estado da justiça e eu lembrei o caso desta semana em que, um GNR que se apropriou de um papagaio estimado em 250€ e apanhou 26 meses de prisão. Já o padre que estava acusado de tentativa de coação sexual de menor foi condenado a 23 meses de prisão. Para a justiça portuguesa, é mais grave um passarinho de 250€ do que um padre aliciar um menor para sexo. </p><p style="text-align: justify;">E, apesar de há já algum tempo ir convivendo com estes colegas, com todos pelo menos há mais de um ano, mas a verdade é que não sei tanto assim deles. Vamos aos treinos, vamos aos torneios e organizamos torneios mas, basicamente, é isso.</p><p style="text-align: justify;">O meu colega, que tem mais de cinquenta anos, ainda acrescentou que em jovem, ainda andou a estudar para padre, uns dois ou três anos, mas que para além de não ter qualquer vocação para aquilo, depois que se interessou rapidamente por uma namorada, desistiu logo daquilo! </p><div><span style="text-align: justify;">A conversa vai-se desenrolando e, de repente, quando falo na aberração do celibato dos padres o meu colega pergunta: tu sabes quando é que os padres deixaram de poder casar e ter as mulheres que lhes apetecesse? </span></div><p style="text-align: justify;">Bom, já não tenho isso bem presente esse momento na História, respondi. </p><p style="text-align: justify;">"O meu filho está a estudar isso agora, e toda a gente sabe porque estudou na escola. Os padres sabem-no mas não mudam. O protestantismo estava a avançar na Europa por causa dos escândalos da Igreja (e eu bem me lembro de ter estudado, talvez no 8ºano sobre Lutero, Calvino e a Bula das Indulgências) e então, para travar esse avanço dos protestantes fez-se a Contra Reforma e apareceu a Inquisição".</p><p style="text-align: justify;">Bom, a verdade é que, daquilo que eu estudei na escola (e tenho que ir pegar no livro certo em que estudei essa matéria) mas não me lembro de o celibato ter sido uma imposição por alturas da Contra Reforma contra o Protestantismo. E, de facto, é uns séculos anterior. Este movimento da Contra Reforma é do século XVI, ao passo que a obrigatoriedade do celibato na Igreja passou a ser obrigatória a partir do século XII. Até aí os padres podiam casar e ter as mulheres todas que quisessem. E o argumento que dei ao meu colega foi que, deixaram de poder casar para manter as posses na Igreja e não as transmitir por herança.</p><p style="text-align: justify;">É sabido que os homens fodem o dinheiro todo com as mulheres, ora, se pudessem casar, ainda iriam ter que deixar tudo o que amealharam durante toda uma vida, por herança, aos filhos! Vamos mas é obrigar os padres à aberração do celibato - nem se podem aproximar das mulheres! - que assim a riqueza fica toda na Igreja! </p><p style="text-align: justify;">A conversa concluiu-se depois com a pergunta: tu sabes como é que se acaba com a pedofilia na Igreja?</p><p style="text-align: justify;">Fazendo com que toda a gente abandone a Igreja. </p><p style="text-align: justify;">Tem razão o meu colega. Se ninguém permitir que os filhos vão à Igreja, acabam-se num instante os abusos sexuais dos padres. </p>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-75493846313180424852024-02-29T20:39:00.001+00:002024-02-29T20:46:30.477+00:00100% Multirresistente ao Populismo de Extrema-Direita<p></p>Completamente imune às ideias populistas da extrema-direita.<div><br /><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqTo5LV4JHwVLplNSgI3irZO4cfed-H-N03dIALQEn2ZJqHQ_qHTuwvgmRey2x4FMOZdad1Bx38gXwJ9FXCMKXs3HPl-3QvoPWLNYDM3dVBBzVJJZddRnvBY6Bq-KOs5bPmjIktgcjqwbk4mWijqWC3kgmdwKg6WYVKsSJSEF4ODRyvXEePQL4lxPbK0Pc/s741/Zero%20Chunga.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="741" data-original-width="741" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqTo5LV4JHwVLplNSgI3irZO4cfed-H-N03dIALQEn2ZJqHQ_qHTuwvgmRey2x4FMOZdad1Bx38gXwJ9FXCMKXs3HPl-3QvoPWLNYDM3dVBBzVJJZddRnvBY6Bq-KOs5bPmjIktgcjqwbk4mWijqWC3kgmdwKg6WYVKsSJSEF4ODRyvXEePQL4lxPbK0Pc/s16000/Zero%20Chunga.jpg" /></a></div><br /> <p></p><p><br /></p></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-70233930804034692432024-02-19T21:58:00.002+00:002024-02-19T21:58:52.660+00:00A Maldição do Skincare<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://esteticabeauty.com/wp-content/uploads/2021/10/01-1-optimized.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="270" data-original-width="480" height="360" src="https://esteticabeauty.com/wp-content/uploads/2021/10/01-1-optimized.jpg" width="640" /></a></div><br /><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjirROp3eNCVWuKUK_TfYnYn5UAkuDSd0slTqHsdzCNMF23lvn-4E1wgGNDUe-BTlrMDlA5l2M1GryTEKv0dkdi2WHROxOHdTTq-gzseBUwTnZfwRfgPiHVsnlS4yR65hs17AnZwToQSv2-iZwTwpFlsAbsSNHetPGIu9VmUDfC6Jm-2kTXp-WGnQTLPeqD/s1000/skin_care.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="817" data-original-width="1000" height="261" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjirROp3eNCVWuKUK_TfYnYn5UAkuDSd0slTqHsdzCNMF23lvn-4E1wgGNDUe-BTlrMDlA5l2M1GryTEKv0dkdi2WHROxOHdTTq-gzseBUwTnZfwRfgPiHVsnlS4yR65hs17AnZwToQSv2-iZwTwpFlsAbsSNHetPGIu9VmUDfC6Jm-2kTXp-WGnQTLPeqD/s320/skin_care.jpg" width="320" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: medium;">"</span></b>A cultura da dieta é algo que conhecemos há décadas. Refiro-me a essa norma higiénica que associa a magreza à boa saúde e que faz com que todas as pessoas que habitamos este século já tenham feito dieta alguma vez. Que todas tenhamos relacionado o nosso peso com a nossa autoestima em algum momento e que tenhamos distorcido a imagem da comida, chegando ao ponto de transformar o alimento em inimigo do corpo. <b>Hoje sabemos que a cultura da dieta não só não é saudável, como também é perigosa para a saúde mental.</b> Pois bem, agora que começávamos a condenar o <i>bodyshaming</i> [gozar alguém por causa da sua figura], chega a maldição do <i>skincare</i> [cuidado facial] para nos amargar a vida e o gesto.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Se a cultura da dieta desencadeou a anorexia, uma doença com clara inclinação de género, a cultura do skincare impôs-se entre as mulheres mais jovens, que já começam a sofrer de cosmeticorexia, o novo distúrbio que associa a compra de cosméticos à ansiedade.</b> Atualmente, milhões de meninas seguem uma rotina de "cuidado facial" - conhecida como skincare - a partir dos nove anos de idade. A hashtag #SephoraKids acumula 400 milhões de visualizações no TikTok e mostra meninas a prescrever cosméticos como se fossem brinquedos. No entanto, o pior de tudo é que as mulheres adultas caíram na armadilha. Pensamos que algo que começa com a palavra "cuidado" não pode ser mau.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Que começar a "cuidar da pele cedo" poderia ser uma boa ideia para as nossas filhas. Por isso, quando pisas na Primor da Gran Vía ou na Sephora da rua Fuencarral em Madrid, tens que abrir caminho entre o frenesim consumista das adolescentes, pobres meninas entregues ao sacrifício facial, patrocinado pelos seus pais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assim, passamos de esculpir o corpo para esculpir o gesto, um exercício destinado ao fracasso e à deceção que temos maquilhado com a palavra cuidado. Para além da acne, das linhas de expressão, dos poros dilatados e dos dezenas de novos fantasmas que nos assombram a alma, a skincare é a última promessa de exteriorizar quem cada uma deseja ser. Por consequência, a cultura da dieta relaxou um pouco. Agora é possível que uma adolescente possa comer quando tem fome sem culpa, mas terá de conseguir adaptar o seu rosto ao ideal que tem de si mesma. Uma ambição condenada ao fracasso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Porque quando uma adolescente (ou uma pessoa adulta) se olha ao espelho, não se está a ver a si mesma, mas sim como pensamos que os outros nos veem. O problema é que o que o nosso rosto e gesto dizem de nós é um poço psicológico sem fundo, já que as pessoas, nem quando crianças nem quando adultas, sabemos totalmente quem somos. E a pior forma de descobrir é olhar para o espelho. O problema da cosmética é que está a deixar de ser um disfarce para conter a promessa de uma revelação. O rosto, já sabem, é o espelho da alma. Mas que essa descoberta tenha de ser concedida por um produto cosmético ou por hábitos estéticos é uma loucura. <b>A skincare é, portanto, na minha opinião, sinónimo de doença. A desgraça é que, mais uma vez, caímos na armadilha. Pensávamos que era uma forma de cuidado, mas era uma maldição, típico de nós.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>Nuria Labari | El País</b></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-90283150441396607752024-02-18T23:49:00.005+00:002024-02-19T00:17:00.000+00:00Achei Mas Não Quis Ver<p style="text-align: justify;"> Estávamos como que meio entediados. Talvez mais ela do que eu, porque é da geração-estímulos-constantes. E vai daí lembramo-nos, ou melhor, ela lembrou-se de procurar pessoas do passado no telecrã. Procura este e aquele, e até encontrou um ex colega de trabalho, mas, já agora, já que estamos numa de procurar, vê se encontras aí a senhora minha ex...</p><p style="text-align: justify;">E quem procura acha...</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://image.tensorartassets.com/cdn-cgi/image/w=2560,f=jpeg/posts/images/624252279607931451/862478bf-f657-406a-b8ac-1c9fff3434d8.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="800" height="640" src="https://image.tensorartassets.com/cdn-cgi/image/w=2560,f=jpeg/posts/images/624252279607931451/862478bf-f657-406a-b8ac-1c9fff3434d8.jpg" width="640" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;">Não é de agora que, de vez em quando, pergunto-me o que terá sido feito da vida dela. E não é só dela, é de quase todas as pessoas que me foram próximas e que, por este ou aquele motivo, acabaram por seguir outros caminhos, bem distantes dos meus. </p><p style="text-align: justify;">Soube que casou, que teve filhos, e que, ao que parece (como a larga maioria das pessoas que casa) que se terá divorciado e, provavelmente passou a estar com outra(s) pesssoa(s), tal como eu fui estando ao longo destes anos todos.</p><p style="text-align: justify;">Mas e da vida profissional, o que terá feito? Uma das frustrações na altura era, depois de ter sido a primeira pessoa da família a ir para a universidade, não estar a conseguir encontrar uma oportunidade de trabalhar na área em que se formou. É verdade que nunca baixou os braços, ia-se mexendo bem (e respondendo aos anúncios que eu lhe selecionava de jornais como Expresso, que comprava quase especificamente para o efeito) e antes até foi trabalhando e estudando, mas simplesmente as coisas não estavam a acontecer. </p><p style="text-align: justify;">Quem procura acha e a minha colega achou-a.</p><p style="text-align: justify;">A profissão dela agora tem um nome todo pomposo, em estrangeiro e tudo que é para parecer mais moderno, e ainda por cima porque hoje em dia ninguém sabe inglês nem nada e assim impressiona mais, e ao que parece ela é chefia em empresa da área que estudou. E fiquei, sinceramente, contente que tenha atingido os seus objetivos profissionais.</p><p style="text-align: justify;">A minha colega achou-a e vinha já para me mostrar mas eu não quis ver. Ainda deu para ver que tinha o cabelo curto (quer-me parecer que a única fase da sua vida em que teve os cabelos compridos foi enquanto namorou comigo) mas eu não quis ver mais do que esse vislumbre distante. Talvez porque vê-la agora num telecrã seria matar definitivamente a pessoa que eu conheci há quase trinta anos... </p><p style="text-align: justify;">Meses depois destas linhas que estavam aqui guardadas nos rascunhos (e eu devo confessar que tenho mais de 400 rascunhos guardados!) a minha colega recebeu novamente uma notificação da senhora em questão - sim, porque passou a seguir o seu perfil privado - e ainda que me tenha mostrado novamente a alguma distância, a verdade é que aquilo depois acabou por mexer comigo, mais do que deveria. </p><p style="text-align: justify;">Eu certamente não sou o Florentino Ariza nem ela é Fermina Daza, as personagens de Amor em Tempos de Cólera, que esperaram 51 anos para se acertar definitivamente, isto depois dela ter sido uma cabra e ter casado com outro. </p><p style="text-align: justify;">As coisas não se esquecem, estão simplesmente adormecidas e, por vezes, basta uma pequena ignição para trazer de novo tudo à tona. Nesse mesmo dia fui para casa, no carro, a remoer novamente esse passado já tão distante. E, de noite, e logo eu que quase nunca me consigo lembrar dos meus sonhos, acordei por volta das 4 e meia de um sonho, e apercebi-me que antes tinha estado a sonhar com ela, de novo, com os mesmos longos cabelos...</p><p style="text-align: justify;">Ainda assim, se me perguntassem (e acho que a minha colega perguntou e acho também que outra pessoa próxima já me perguntou): se quisesses reencontrar alguém do passado, que ex namorada seria?</p><p style="text-align: justify;">Bom, seguramente, não seria uma ex-namorada.</p><p style="text-align: justify;">Seria certamente uma outra pessoa...</p><p style="text-align: justify;">... que eu cá sei. </p>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-60630332037592133032024-02-18T18:49:00.000+00:002024-02-18T18:49:01.878+00:00Dia dos Namorados do Poliamor<p style="text-align: justify;"> Esta semana que passou tivemos novamente a praga do dia dos namorados que, ainda por cima, calhou na mesma semana da outra praga que é o Carnaval.</p><p style="text-align: justify;">Escusado será escrever (porque quem aqui me lê já conhece a minha opinião) que, por todos os motivos e mais alguns, acho o Dia dos Namorados uma verdadeira palermice e uma enorme falta de gosto e de originalidade. Cinquenta dias após a hipocrisia do Natal temos mais um dia dedicado ao comércio, para faturar prendinhas e jantares a rodos. É como se todos os casais do mundo fizessem anos nesse mesmo dia, tivessem que trocar prendas, ir jantar fora e dar a trancada da misericórdia. </p><p style="text-align: justify;">Mas porque me interesso por todas as formas diferentes que as pessoas têm de se relacionar, ocorreu-me a pergunta: e como funcionará nas relações poliamorosas? Como é o lado prático da coisa?</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF8imvLa0Sb3vUf2yBv0niCuUnDHcW1mjfczT_MomwpfrdDs2Y25qhvewcPir5OUitWifitRzzGRoCqML9ribBOccO-vzRpnPSjzqfYUaYKd0NRLbbbftSA5QtVU_a1ot-uHtB9lQkpxrX0mjUCtc0u55l2LLtSNN977bXiO7ptVhkFWAWZjrqaR8yolhQ/s746/poliamor.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="746" data-original-width="680" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF8imvLa0Sb3vUf2yBv0niCuUnDHcW1mjfczT_MomwpfrdDs2Y25qhvewcPir5OUitWifitRzzGRoCqML9ribBOccO-vzRpnPSjzqfYUaYKd0NRLbbbftSA5QtVU_a1ot-uHtB9lQkpxrX0mjUCtc0u55l2LLtSNN977bXiO7ptVhkFWAWZjrqaR8yolhQ/w365-h400/poliamor.jpg" width="365" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;">Para não complicar muito, vamos supor que eu tenho duas namoradas. Uma dessas namoradas tem outros dois namorados e a outra tem mais. Mas, como é lógico, estes três namorados das minhas namoradas também têm outras namoradas e, certamente também quererão jantar com elas... Muito facilmente temos dez ou vinte pessoas a namorar umas com as outras! </p><p style="text-align: justify;">E depois como é faz? Não dá para marcar dois ou três jantares na mesma noite com várias pessoas, primeiro porque não haveria tempo e depois porque só se janta uma vez! Então quê, marca-se um jantar para todos, estilo jantar da empresa? Acaba também por ser chato, porque depois eu quereria ficar junto das minhas duas namoradas, mas os namorados delas também quererão o mesmo. E depois da troca de prendas e do jantar? Faz-se uma orgia para todos ficarem satisfeitos? Mas e se algumas pessoas estão numa cena de sexo exclusivo só com uma pessoa, como é que é?</p><p style="text-align: justify;">Ou é como nas famílias por altura do Natal e Passagem de Ano em que este ano passo o Dia dos Namorados com a namorada A e depois para o ano troco e passo com a namorada B? </p><p style="text-align: justify;">Admiro estas novas formas de amar mas, talvez por ser um gajo muito prático, intriga-me sobre como será que se faz a gestão destas pequenas coisa numa sociedade que está organizada de forma diferente e que, parece que o tempo é cada vez menor. </p>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-63815177595817280822024-02-18T17:42:00.004+00:002024-02-18T17:42:55.531+00:00O Problema deste País São os Ricos<div style="text-align: justify;">O problema deste país não são os ciganos nem o Rendimento Mínimo. Nem os africanos ou os brasileiros que vêm para cá ser explorados na agricultura ou que por aí andam a transportar comida e dão milhões à Segurança Social para pagar os nossos subsídios de desemprego e as reformas de país mais envelhecido da Europa. O problema deste país são os ricos que, apesar de serem ricos, roubam o pouco que está destinado, exclusivamente, a todos aqueles que são verdadeiramente carenciados.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Jornal de Notícias | 2011</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBIhmUcjPijeI7dbwkanQYiruP1-9Kb2b-zc4_xw-3d1kDz9qoDH1-UbaWCWmhx_jgKxzTEK1DUoyF75aca-FgXdl404gAfVKhWuJNjtYXoQUGBA4-tAc8rpfuR_ftyMzGNKbAXbAR4wqrrHI28eAnFnmYV7Q-cg5ULAsZ1IDYa-YTe_NkuM2Ea5FNWRLQ/s1225/Bolsas%20Alunos%20Ricos.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="919" data-original-width="1225" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBIhmUcjPijeI7dbwkanQYiruP1-9Kb2b-zc4_xw-3d1kDz9qoDH1-UbaWCWmhx_jgKxzTEK1DUoyF75aca-FgXdl404gAfVKhWuJNjtYXoQUGBA4-tAc8rpfuR_ftyMzGNKbAXbAR4wqrrHI28eAnFnmYV7Q-cg5ULAsZ1IDYa-YTe_NkuM2Ea5FNWRLQ/w640-h480/Bolsas%20Alunos%20Ricos.jpg" width="640" /></a></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-52595516292629651162024-02-14T22:20:00.001+00:002024-02-14T22:26:51.188+00:00Bem-Vindos ao Tecnofeudalismo<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">A propósito do lançamento que acontece hoje em Espanha do livro "Tecnofeudalismo", o seu autor, Yanis Varoufakis, escreveu um texto para o El País, que saiu no domingo passado para abrir o apetite para o livro e que nos deve fazer refletir a todos.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD8pDyRc5KBqHNWkTAsa7_Q_x8K9gtX6MC3T2p5UYgz4UHyms9NybfyP5vQKvm8j5SOfSff1KxwpFf2ccL-0k23jSpSCV_vhsVaLhFDIACNQ0LQhcjl2FLeBGVLkZJm9se7c1Xo8oAodmlHFgpkW7fRYCvwxWFnRGrasgYyl2LwSWPlJB328eSjbQpcWtt/s654/servos%20da%20nuven.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="654" data-original-width="631" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD8pDyRc5KBqHNWkTAsa7_Q_x8K9gtX6MC3T2p5UYgz4UHyms9NybfyP5vQKvm8j5SOfSff1KxwpFf2ccL-0k23jSpSCV_vhsVaLhFDIACNQ0LQhcjl2FLeBGVLkZJm9se7c1Xo8oAodmlHFgpkW7fRYCvwxWFnRGrasgYyl2LwSWPlJB328eSjbQpcWtt/s16000/servos%20da%20nuven.jpg" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;">"</span></b>Olhemos para onde olharmos, estamos a presenciar o triunfo do capital. Em armazéns, fábricas, escritórios, universidades, hospitais públicos, meios de comunicação, até mesmo no espaço, mas também no microcosmo das sementes patenteadas. Como ousaria, então, afirmar que o capitalismo morreu assassinado? Quem o matou? A resposta é deliciosamente irónica: <b>o capitalismo morreu assassinado pela sua própria mão: pelo capital.</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se estiver correto, o preocupante não é o que a Inteligência Artificial (IA) nos fará no futuro, mas o que já fez: o capital tornou-se tão dominante e mutou para uma variante tão tóxica que, como um vírus estúpido, acabou por matar o seu hospedeiro, o capitalismo, para substituí-lo por algo muito pior.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Este novo capital mutante que matou o capitalismo reside na famosa nuvem, portanto chamemo-lo de capital na nuvem.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O capital na nuvem, claro, não reside verdadeiramente na nuvem, mas sim na Terra; reside em equipamentos ligados em rede, centros de dados, torres de telemóvel, programas, algoritmos baseados em inteligência artificial e no fundo dos nossos oceanos, onde se estendem inúmeros quilómetros de cabos de fibra ótica.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ao contrário do que acontece com os meios de produção do capital tradicional, como motores a vapor ou robôs industriais modernos, que são meios fabricados, <b>o capital na nuvem não fabrica coisas, mas é composto por dispositivos concebidos para modificar o comportamento humano</b>. É isso que são a Alexa da Amazon ou o Assistente do Google: um meio de modificação de comportamento construído precisamente para isso. É uma máquina, uma peça do capital, que treinamos para nos treinar para treiná-la para decidir o que queremos. E, uma vez decidido o que queremos, a mesma máquina vende-nos diretamente, sem passar pelos mercados.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para piorar, essa mesma máquina consegue que sustentemos a enorme rede de modificação de comportamento à qual pertence com o nosso próprio esforço, de forma voluntária e gratuita. <b>Quando publicamos avaliações, valorizamos produtos ou partilhamos vídeos, diatribes e fotos online, estamos a ajudar a reproduzir o capital na nuvem sem receber um cêntimo pelo nosso trabalho.</b> Em última análise, <b>a máquina transformou-nos em servos da nuvem</b>. Entretanto, nas fábricas e armazéns, os mesmos algoritmos que modificam o nosso comportamento e nos vendem produtos usados — geralmente, através de dispositivos digitais no pulso do trabalhador — para fazê-los trabalhar mais rapidamente, dirigindo-os e monitorizando-os minuto a minuto.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Impressiona ver como o capital na nuvem consegue desempenhar cinco funções que antes estavam fora do alcance do capital tradicional.</b> Captura a nossa atenção. Fabrica os nossos desejos. Vende-nos diretamente, sem passar pelos mercados tradicionais, aquilo que nos fez desejar. Fomenta o trabalho proletário nos locais de trabalho. <b>E cria uma enorme mão de obra gratuita (os servos da nuvem).</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Alguém se surpreende que os proprietários deste capital na nuvem — chamemo-los de <i>nuvelistas</i> — tenham um poder até agora inimaginável para obter uma mais-valia gigantesca dos proletários, um volume incalculável de trabalho não remunerado de quase todo o mundo e, dos capitalistas vassalos, umas rendas da nuvem inconcebíveis? Como é que não seriam muito mais poderosos do que jamais poderiam ter sido Henry Ford ou Rupert Murdoch?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Um momento", dirão vocês. "Como é que Jeff Bezos é diferente de Henry Ford? Não são todos monopolistas?". Não. A Amazon.com não é uma empresa capitalista monopolista. <b>No momento em que entramos na amazon.com, saímos do capitalismo.</b> É verdade que é um local cheio de compradores e vendedores, então é uma enorme plataforma comercial, mas não é um mercado. O dono de tudo é um homem chamado Jeff, que é muito mais do que um monopolista.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Jeff não possui as fábricas onde são produzidos os artigos que os capitalistas tradicionais não têm outra opção senão vender na sua plataforma. <b>O que ele possui é o algoritmo que decide quais produtos vemos, o mesmo algoritmo que nós treinamos para nos conhecer perfeitamente e nos combinar com um vendedor — que também conhece perfeitamente — de forma a que cada combinação tenha as maiores probabilidades de permitir a Jeff extrair a maior margem possível do vendedor por cada coisa que é comprada: até 40% do que pagamos.</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A mente revolta-se perante uma exploração de tal dimensão e tão radicalmente nova. O mesmo algoritmo que ajudamos a treinar em tempo real para nos conhecer de alto a baixo modifica as nossas preferências e gere a seleção e entrega dos produtos que vão satisfazer essas preferências. <b>Se duas pessoas escreverem "bicicletas elétricas" na amazon.com, obterão recomendações totalmente diferentes. É como se, num mercado ou centro comercial tradicional, as duas pessoas estivessem a andar uma ao lado da outra, olhando na mesma direção, mas vendo coisas diferentes com base no que o algoritmo de Jeff quer que cada uma veja.</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Todos os que entram na amazon.com navegam num isolamento construído pelo algoritmo</b>, como se estivéssemos num panóptico onde não podemos ver uns aos outros, <b>apenas o algoritmo que tudo vê</b> ou, para ser mais exatos, <b>o que o algoritmo nos permite ver</b> para tirar o máximo dividendo da nuvem, a versão atual da renda que os senhores feudais cobravam pelas terras aos seus vassalos e camponeses.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Isto não é capitalismo. Senhoras e senhores, bem-vindos ao tecnofeudalismo.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAZzIhH13zXs4ykUh_-WD-_5Iv7t9ZtNbCdpGVNV7wk_U6Sn3kiQTUsFlq3jMYGL-L692Q8OvbmQg_Nzkej3OeejZaVKyrWwB4yhCNcHOWyAzGI6j6vNtVMjnW7e-JsoIGUQK4i3wwtRh6t9PKQYLLTuNzTCO9r_EaoJqqI4_RXUBBzjkZ_bnqLVuEUGjI/s771/tecno%20feudalismo.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="771" data-original-width="500" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAZzIhH13zXs4ykUh_-WD-_5Iv7t9ZtNbCdpGVNV7wk_U6Sn3kiQTUsFlq3jMYGL-L692Q8OvbmQg_Nzkej3OeejZaVKyrWwB4yhCNcHOWyAzGI6j6vNtVMjnW7e-JsoIGUQK4i3wwtRh6t9PKQYLLTuNzTCO9r_EaoJqqI4_RXUBBzjkZ_bnqLVuEUGjI/w260-h400/tecno%20feudalismo.jpg" width="260" /></a></div><div style="text-align: justify;">O capitalismo, não nos esqueçamos, tinha dois pilares: os mercados e os lucros. Claro, os mercados e os lucros continuam omnipresentes. Mas o capital na nuvem deslocou-os do centro do nosso sistema socioeconómico, empurrou-os para as margens e substituiu-os.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os mercados, o meio onde o capitalismo se desenvolve, foram substituídos por feudos na nuvem, plataformas de comércio digital como a amazon.com ou Alibaba que, como vimos, parecem mercados, mas não o são.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>E os lucros, que são o combustível do capitalismo? Bem, foram substituídos pelas suas antecessoras feudais: as rendas.</b> Especificamente, as rendas da nuvem, uma nova forma de aluguer que se paga pelo acesso a esses feudos ou plataformas digitais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Como surgiu o capital na nuvem?</b> Nasceu no final dos anos noventa, quando a internet original, que era um bem comum — funcionava como uma zona livre de capitalismo —, essa internet 1.0, por assim dizer, caiu nas mãos das grandes empresas tecnológicas que estavam a surgir, as quais a privatizaram.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quem pagou os trilhões de dólares que custou fabricar e acumular o capital da nuvem tão rapidamente nas mãos de alguns poucos <i>nuvelistas</i>? O surpreendente é que foram, sobretudo, os bancos centrais dos países do G-7. Como é possível? Bem, por acidente, ou, para ser mais exato, por culpa da crise.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Após o colapso do setor financeiro em 2008, os banqueiros centrais imprimiram nada menos que 35 trilhões de dólares para resgatar os bancos enquanto os nossos governos sujeitavam o povo a duras medidas de austeridade. Os capitalistas foram suficientemente astutos para prever que as pessoas não teriam um centavo e não poderiam comprar os seus produtos. Então, em vez de investir, levaram o dinheiro do banco central para a bolsa de valores e para os mercados de títulos, onde compraram ações, títulos e, de passagem, iates, arte, bitcoins, NFTs e qualquer "ativo" que conseguiram encontrar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os únicos capitalistas que realmente investiram em capital foram os donos das grandes tecnológicas. Por exemplo, nove em cada dez dólares investidos na criação do Facebook vieram desse dinheiro dos bancos centrais. Assim foi financiado o capital na nuvem e assim os <i>nuvelistas</i> se tornaram na nossa nova classe dominante.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como resultado, o verdadeiro poder hoje não está nas mãos dos donos de maquinaria, edifícios, ferrovias, companhias telefônicas ou robôs industriais. Estes capitalistas terrestres ultrapassados ainda estão a obter mais-valias do trabalho assalariado, mas já não são os que mandam. Tornaram-se vassalos dos donos do capital na nuvem, dos nuvelistas. Quanto aos outros, voltámos à nossa antiga condição de servos e contribuímos para a riqueza e poder da nova classe dominante com o nosso esforço não remunerado, que se soma ao trabalho assalariado que fazemos quando temos a oportunidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ainda não estão convencidos? <b>Sim, é difícil abandonar a palavra capitalismo.</b> Os liberais não são os únicos para quem é como a água para os peixes. Nós, socialistas, também precisamos sentir que o nosso propósito na vida é derrubar o capitalismo. É difícil aceitar que o capital nos ultrapassou e o substituiu por algo pior. De facto, os meus amigos de esquerda são os que mais tentam dissuadir-me e convencer-me de que sim, talvez o capital na nuvem seja importante, mas "isto continua a ser capitalismo, camarada".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Chamemos-lhe capitalismo rentista ou capitalismo monopolista, sugerem-me. Mas não é suficiente. O aluguer da nuvem não é como o aluguer do solo, porque exige um enorme investimento em novas tecnologias. E também não são rendas provenientes de um monopólio, porque Bezos e Zuckerberg não monopolizam mercados para vender o que produzem (como faziam Ford e Edison), mas sim substituíram os mercados e não estão interessados em produzir nada (ao contrário de Ford e Edison).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Que tal capitalismo de vigilância? Também não. Os nuvelistas não se limitam a utilizar algoritmos para nos lavar o cérebro em nome dos anunciantes num ambiente capitalista. <b>Não, o capital na nuvem reproduz-se graças ao nosso trabalho gratuito, explora diretamente o trabalho assalariado e espreme as rendas da nuvem dos capitalistas vassalos em plataformas comerciais que não são mercados. Isto não é capitalismo, senhores.</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas e a afirmação de que o tecnofeudalismo é parasitário do setor capitalista integrado nele? É verdade. Se os capitalistas convencionais se extinguirem, os <i>nuvelistas</i> desapareceriam, incapazes de cobrar rendas da nuvem aos fabricantes. E daí? <b>Quando o capitalismo acabou com o feudalismo, os capitalistas passaram a ser parasitas dos senhores feudais, no sentido de que, sem terras privadas que produzissem alimentos, o capitalismo teria desaparecido.</b> Agora, o setor capitalista tradicional também alimenta o tecnofeudalismo, mas os que dominam são o capital e as rendas da nuvem.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O conceito de tecnofeudalismo demonstra que o facto de os trabalhadores automobilísticos e enfermeiros se organizarem, embora continue a ser essencial, é insuficiente. Explica o que vai custar mobilizar-se contra o cartel dos combustíveis fósseis quando os nossos meios de comunicação funcionam graças a um capital na nuvem preparado para envenenar a opinião pública. <b>Explica por que a transição para carros elétricos causou a desindustrialização da Alemanha, à medida que os lucros da engenharia mecânica de precisão são substituídos pelos dividendos que os proprietários do capital na nuvem obtêm ao observar as rotas e hábitos dos condutores.</b> De repente, faz muito mais sentido a decisão de Elon Musk de comprar o Twitter, como interface entre suas ações de capital mecânico na Tesla e SpaceX e o capital na nuvem. <b>A nova guerra fria entre os Estados Unidos e a China, especialmente desde o início da guerra na Ucrânia, é explicada como o reflexo de um confronto de fundo entre dois tecnofeudalismos com rendas da nuvem, um em dólares e outro em yuanes.</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não é alucinante? Todos esses avanços científicos incríveis, essas redes neuronais fantásticas e esses programas de inteligência artificial inimagináveis, para conseguir o quê? <b>Para criar um mundo onde, enquanto a privatização e o capital de risco esvaziam o nosso ambiente de toda a riqueza física, o capital na nuvem dedica-se a esvaziar os nossos cérebros.</b> Para que possamos ser donos individuais da nossa mente, devemos ser donos coletivos do capital na nuvem. Quando recuperarmos a nossa mente, poderemos trabalhar todos juntos para encontrar a maneira de criar um novo capital comum na nuvem. Será extremamente difícil, mas é a única forma de fazer com que os nossos dispositivos baseados na nuvem deixem de ser um meio fabricado para modificar o comportamento e se tornem um meio para a colaboração e emancipação humanas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Bem-vindos ao Tecnofeudalismo | Varoufakis | El País | 11 de Fevereiro de 2024</b></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-55474645473689811132024-02-11T19:35:00.008+00:002024-02-11T19:39:39.810+00:00Conversas Improváveis (80) - Quando a Geringonça do PSD-CH€GA Vier Isso Acaba<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://fotos.web.sapo.io/i/o521762d1/21847582_SL4Jm.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="800" height="640" src="https://fotos.web.sapo.io/i/o521762d1/21847582_SL4Jm.gif" width="640" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;">Há uns meses uma amiga perguntou-me se tinha interesse em ir ver um determinado concerto em meados deste ano. Como não sou muito de fazer fretes digo que não, mas, se precisar de companhia, é uma questão a ver-se, ainda que até lá, em meio ano, muita coisa possa acontecer!</p><p>"Daqui até Maio tem tempo... De qualquer forma é preciso arranjar bilhete. Isso é que não vai ser fácil. Deve ser o caos no site, como habitual. Vou ver...</p><p>Sim, está tudo em crise mas há uma classe média que esgota tudo que é evento!</p><p><b>Deixa lá. Quando vier a geringonça PSD-CH€GA isso acaba"</b>.</p>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-25952889134614395592024-02-07T19:36:00.007+00:002024-02-09T20:03:55.224+00:00Conversas Improváveis (79) - Como se Cura uma Neura?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh05EQZSpgNHt85fTi5Sz-soC3KhqZmXCVg57McEU6hkYJp0xmlDCLtQH3-sd4OiQJTdv3fElZshAPTaysuRF8bE863qoS4FuAa6YqkYagbzeHWRqpevoDMdIPK1lokVu7rHCLBpMkoZTl9Y9Mca7fXoUNPXmMSSSYVvZflYQHlkN-dyb2HRsTWuUmIud8y/s850/what-is-remote-vibrator-how-to-use.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="478" data-original-width="850" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh05EQZSpgNHt85fTi5Sz-soC3KhqZmXCVg57McEU6hkYJp0xmlDCLtQH3-sd4OiQJTdv3fElZshAPTaysuRF8bE863qoS4FuAa6YqkYagbzeHWRqpevoDMdIPK1lokVu7rHCLBpMkoZTl9Y9Mca7fXoUNPXmMSSSYVvZflYQHlkN-dyb2HRsTWuUmIud8y/w640-h360/what-is-remote-vibrator-how-to-use.jpg" width="640" /></a></div><br /><p>No refeitório da empresa noto que uma colega, em silêncio, está metida nos seus pensamentos e pergunto:</p><p>Que se passa Marisa? Estás bem?</p><p>Estou com a neura.</p><p>- Estás com a neura? </p><p>Sim!</p><p>- "Como se cura uma neura?", pergunta a Juliette. </p><p>"Fácil", respondo eu. "Com um vibrador"!</p>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-36470186543206198322024-02-04T21:54:00.004+00:002024-02-05T19:09:06.213+00:00Danças Comigo Novamente?<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://img.freepik.com/premium-photo/figure-delicate-ballerina-dancing-among-explosion-colours-white-background-generative-ai_58409-31422.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="358" data-original-width="626" height="358" src="https://img.freepik.com/premium-photo/figure-delicate-ballerina-dancing-among-explosion-colours-white-background-generative-ai_58409-31422.jpg" width="626" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> Jantar com os cães-grandes, que é como quem diz, com todas as chefias da empresa. Durante a tarde já tinham passado pela nossa loja. Ninguém deve ter reparado mas o meu apurado radar detetou imediatamente. Lá fora, ainda na rua, vi a trespassar o cabelo da N. a rodar, com um volume diferente do que eu tinha visto quando a conheci. "Mmm, cortaste o cabelo", pensei para com a minha braguilha. E por acaso foi logo algo que não pude deixar de reparar quando a conheci, aquele cabelão preto, pelo fundo das costas, ancorado pela curva das nádegas. </div><p></p><p style="text-align: justify;">Entretanto lá nos vieram cumprimentar: o diretor geral austríaco, o alemão responsável da logística, o húngaro cara-pálida com cabelo à Tintin, que, agora que penso nem sei bem o que é que ele faz na empresa!, bem como a sul americana de aspeto doce que está em Paris e que o meu colega acha que tem uma voz sexy. Todos vestidos de forma muito descontraída. </p><p style="text-align: justify;">E depois lá veio ela, que vive na Madeira. Não creio que eu tenha sido inconveniente, quando lhe disse: "deu um belo corte de cabelo" e, como é óbvio, ela não estava à espera de ouvi-lo. Na verdade nem foi assim um corte de cabelo tão grande. ela simplesmente escadeou o cabelo e dá a sensação de ter ficado com um pouco mais de volume. Mas eu acho que as mulheres gostam que reparemos nelas. Bom, e foi só isso. </p><p style="text-align: justify;">Mas, para dizer a verdade, a nossa vontade nem era muita de ir ao jantar. Os meus colegas até tinham cenas lá da religião deles e, no meu caso é sempre chato nem poder ir a casa e tomar banho. Tenho que me limitar a trazer uma muda de roupa e a lavar-me como um gato e a fazer tempo por ali até à hora combinada do jantar. E depois porque são sempre situações forçadas em que está sempre implícita uma certa dose de hipocrisia e subserviência. Desta vez até fiquei a fazer companhia à colega que fica sozinha na empresa na sua última hora de trabalho (porque assim preferiu) e, passado mais um bocado, também chegaram os meus colegas mais novos. </p><p style="text-align: justify;">De tarde os 'cães grandes' foram fazer um passeio pela cidade, enquanto que nós, os cães pequenos, ficamos a trabalhar. É a eterna luta de classes, como bem diria Marx. Mas a hora chegou e lá fomos nós a pé até ao restaurante que fica a poucas centenas de metros da nossa loja. </p><p style="text-align: justify;">Chegados ao restaurante, a nossa colega que fica até mais tarde e que reporta diretamente à menina que deu um corte de cabelo (e não ao nosso chefe cá do Porto) colou-se e ficou sentada em frente dela. Tudo certo. Elas falam imenso durante todos os dias mas nunca estão juntas Nós os três fomos para a outra ponta da mesa. Ao meu lado esquerdo não ficou ninguém, e em frente também não, o que deu imenso jeito porque ali ficou uma bela travessa de comida e era só abastecer para o meu prato! Os meus colegas ao meu lado direito e, na diagonal em frente, o alemão (de quem ouço falar todos os dias) e, ao seu lado, o tal carinha de bebé húngaro com cabelo à Tintim e o meu chefe anfitrião a meio com o restante pessoal. </p><p style="text-align: justify;">Fui falando com os colegas, mantendo-me outro tempo mais calado. Até que, mais à frente fui começando a falar com o alemão até porque, como seria normal, falou-se um pouco do trabalho e todos trabalhamos para o mesmo. O S. deve ter uns cinquenta e tal, cabelos brancos, compridos e apanhados num rabo de cavalo, olhos arianos azuis, óculos e uma barriga de trigémeos porque, como se sabe pelos estudos científicos mais recentes, a cerveja não faz engordar. E já me tinham dito que se calhar gostaria de conversar com ele. </p><p style="text-align: justify;">Disse-lhe que, normalmente, não sou calado e falo até de mais. Mas que não me sinto muito confortável com o inglês. Que entendo mais ou menos bem mas, porque não pratico e não falo em inglês com ninguém (ao contrário, por exemplo, do meu colega que fala muitas vezes com ele e outros estrangeiros) acabo depois por não me sentir confortável porque não sou extremamente fluente. Ao que ele me disse que na Alemanha têm uma expressão que é qualquer coisa como isto "learning by doing", aprender fazendo. Disse-lhe também, em jeito de curiosidade que há uma frase em alemão que ainda hoje me lembro da primeira namorada dizer: "es regnet heute", e ele confirmou "that's correct, it´s raining today"!</p><p style="text-align: justify;">O S. é muito sequioso. Os copos bem grandes de cerveja desapareciam quase tão rapidamente quando chegavam à mesa. Já o húngaro de cabelo à Tintim preferia copos mais pequenos. (se calhar deveria ter avisado antes que não percebo nada de cervejas, e nem sei a diferença entre cerveja, finos ou grossos!). </p><p style="text-align: justify;">Acho até que conversa começou por ai. Foi o quebrar do gelo. Comecei por lhe dizer que sou um metaleiro estranho, porque não bebo bebidas alcoólicas, nem fumo ou tomo café. Nem fumas uma ervita?, perguntou-me! Não, nem isso!</p><p style="text-align: justify;">E a partir daí lá fomos conversando, maioritariamente sobre heavy metal. Ele é um metaleiro da velha guarda, que gosta muito de Slayer, mas falou-me também de Ozzy Osborne bem como de outras bandas, e também gosta bastante de Nirvana (que não é metal). Falou-me de quando foi ver um concerto de AC/DC exclusivo para mil pessoas e em que era preciso apresentar o passaporte e conferir com o número do bilhete e que ficou a um metro da banda. Mas agora não tem ido muito a festivais porque, e até ele, alemão, com um salário bem diferente do meu, acha que está tudo demasiado caro. </p><p style="text-align: justify;">Apesar do cansaço, e também do sono, até acabou por ser uma noite agradável. Quase se fez ali uma amizade circunstancial. O alemão sugeriu-me uma banda alemã de punk rock: Broilers. </p> <div style="text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/lWJTjOaWTwg?si=Bttmq8BSt13w3Mrx" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E a primeira música que ouvi foi esta: Tanzt Du noch einmal mit mir? que em português quer dizer qualquer coisa como: "danças comigo novamente"?</div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-14334797256116878152024-01-31T22:17:00.001+00:002024-02-03T20:39:53.957+00:00Mil Cerejeiras <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://jrocknews.com/wp-content/uploads/2020/09/wagakkiband-amy-lee-evanescence-sakura-rising-group-2020-top.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="427" data-original-width="800" height="427" src="https://jrocknews.com/wp-content/uploads/2020/09/wagakkiband-amy-lee-evanescence-sakura-rising-group-2020-top.jpg" width="800" /></a></div><br /><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/K_xTet06SUo?si=H9AbzGP4cTtPRsvm" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div><br /><div style="text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/FFK4AK8pHj8?si=NMH7LJeBDj3oazNV" title="YouTube video player" width="560"></iframe> </div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">Com uma chamada audaciosa e repentina, a Revolução Ocidental está a começar </div> <div style="text-align: center;">Que os nossos corações estejam abertos a isso </div><div style="text-align: center;">Nação pacifista </div><div style="text-align: center;">Montando uma bicicleta antiga, é a bandeira do nosso sol nascente </div><div><div style="text-align: center;">Afugentando espíritos malignos como um míssil</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">Nas linhas do comboio, correndo ao longo da linha </div></div><div style="text-align: center;">Vamos avançar. Não olhes para trás </div><div style="text-align: center;">Rapazes e raparigas tornando-se como samurais </div><div><div style="text-align: center;">Assim como aqueles da nossa vida anterior</div><div style="text-align: center;"><br /></div><b><div style="text-align: center;"><b>Milhares de cerejeiras murchando na luz </b></div></b></div><div style="text-align: center;"><b>Embora não consiga ouvir a tua voz, guarda o que eu digo em mente </b></div><div style="text-align: center;"><b>Este buquet que nos envolve é veneno de ferro, vê </b></div><div><div style="text-align: center;"><b>Olhando para nós lá de cima naquela grande guilhotina</b></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">A escuridão acabou de envolver o universo que conhecemos </div></div><div style="text-align: center;">O lamento que cantas já não pode alcançar ouvidos </div><div style="text-align: center;">Ainda estamos longe de atingir céus azuis limpos </div><div><div style="text-align: center;">Vai em frente, continua a disparar, com essa pistola de raios, luta!</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">Veteranos que se treinaram através de lutas são agora oficiais na batalha </div></div><div style="text-align: center;">Aqui e ali, vemos as prostitutas em procissão </div><div style="text-align: center;">Este, aquele, não importa, cada pessoa se reúne </div><div><div style="text-align: center;">Marchemos agora para as nossas mortes santas! 1, 2, 3, 4</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">Passando pelos portões nos picos das montanhas </div></div><div style="text-align: center;">Escapando deste mundo, matem todos os demónios malignos </div><div style="text-align: center;">Certamente isso terminará num desfecho </div><div><div style="text-align: center;">Entre a multidão que dá os seus aplausos</div><div style="text-align: center;"><br /></div><b><div style="text-align: center;"><b>Milhares de cerejeiras murchando na luz </b></div></b></div><div style="text-align: center;"><b>Embora não consiga ouvir a tua voz, guarda o que eu digo em mente </b></div><div style="text-align: center;"><b>Este buquet que nos envolve é veneno de ferro, vê </b></div><div><div style="text-align: center;"><b>Olhando para nós lá de cima naquela grande guilhotina</b></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">A escuridão acabou de envolver o universo que conhecemos </div></div><div style="text-align: center;">O lamento que cantas já não pode alcançar ouvidos </div><div style="text-align: center;">Ainda estamos longe de atingir os picos da esperança </div><div><div style="text-align: center;">Vai em frente, continua a disparar, usa o raio intermitente!</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">Nas linhas do comboio, correndo ao longo da linha </div></div><div style="text-align: center;">Vamos avançar. </div><div style="text-align: center;">Não olhes para trás </div><div style="text-align: center;">Rapazes e raparigas tornando-se como samurais </div><div><div style="text-align: center;">Assim como aqueles da nossa vida anterior</div><div style="text-align: center;"><br /></div><b><div style="text-align: center;"><b>Milhares de cerejeiras murchando na luz </b></div></b></div><div style="text-align: center;"><b>Embora não consiga ouvir a tua voz, guarda o que eu digo em mente </b></div><div style="text-align: center;"><b>Este buquet que nos envolve é veneno de ferro, vê </b></div><div><div style="text-align: center;"><b>Saltando para nós lá de cima naquela grande guilhotina</b></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;">Milhares de cerejeiras murchando na luz </div></div><div style="text-align: center;">Quando a tua canção puder ser ouvida, dançaremos com toda a nossa força </div><div style="text-align: center;">Este buquet que nos envolve é veneno de ferro, vê </div><div style="text-align: center;">Vai em frente, continua a disparar, com essa pistola de raios, lidera!</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;"><b>Senbonzakura | Hatsune Miku | versão WagakiBand (2014)</b></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-39323179810433015392024-01-25T20:26:00.000+00:002024-01-25T20:26:14.583+00:00O Comunismo é um Sonho e Talvez uma Utupia<div style="text-align: justify;">Talvez possa parecer estranho a alguns, ou talvez não. Parecerá estranho eu disser que não votarei no PCP nas legislativas mas afirmar que é o partido que mais respeito na democracia portuguesa? Acho que uma coisa não invalida a outra. Nem sempre concordo com as ideias do PCP, tal como nem sempre concordo com coisas nos outros partidos de esquerda, que são os que defendem os meus interesses de trabalhador. Contudo e, apesar disso, tenho um enorme respeito por um partido que tem mais de cem anos, que atravessou e sobreviveu à repressão dos 48 anos de ditadura fascista e que lutou, ao lado de muitos outros, anarquistas, sindicalistas, socialistas etc, para que pudéssemos almejar a liberdade. Muitos dos seus militantes entraram, como se sabe, na clandestinidade e muitos pagaram com a própria vida esse atrevimento de espalhar a mensagem dessa luta. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O PCP é o partido da defesa dos trabalhadores, o partido dos sindicatos, é um partido fundamental da nossa democracia que tem vindo a ser tão atacada. E, aproveitando aqui uma crónica na revista espanhola Muy Historia de 2022, aqui deixo um pouco da história do comunismo:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg813FmEvnl0JveiVpB4-O2kB7Lp3t5M7S859uaqxq0IX-Q6wPidikEwe4k0YOms6ptiFlkw_g6dZrEaKMPfnkO9nm776aGSKUMLghOJj4Bj5Hl-otkQnGpJwEhdRsqYisb5cShXEcvInUzhVAvP9mT7tg6r6P7IjZ5I4qb-ND_40Wk-baGghcteU7txBeM/s850/Comunismo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="545" data-original-width="850" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg813FmEvnl0JveiVpB4-O2kB7Lp3t5M7S859uaqxq0IX-Q6wPidikEwe4k0YOms6ptiFlkw_g6dZrEaKMPfnkO9nm776aGSKUMLghOJj4Bj5Hl-otkQnGpJwEhdRsqYisb5cShXEcvInUzhVAvP9mT7tg6r6P7IjZ5I4qb-ND_40Wk-baGghcteU7txBeM/s16000/Comunismo.jpg" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Originado das entranhas da pobreza, desespero e fome, o sonho do comunismo tem sido ao longo da sua história uma quimera utópica e uma ciência histórica, transformando-se, por vezes, em pesadelo. O incessante aumento da desigualdade pode ser crucial para o ressurgimento deste sistema político.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>O comunismo não é socialismo</b>. Pode-se dizer que este último foi concebido como uma fase preliminar do primeiro.</div></b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>«O comunismo é um sonho.</b><b> Um sonho que anteriormente foi utopia; </b>depois, por vezes, pesadelo; e, agora, uma ilusão para uns e uma obscuridade para outros. E uma ameaça existencial para os Estados Unidos - China, com a sua versão peculiar -, tal como sempre foi. Um sonho, em todo o caso, que <b>Karl Marx e Frederic Engels</b> transformaram em ciência após as quimeras utópicas de escritores como Saint-Simon, Owen ou Fourier. Um sonho vívido em lugares tão diversos como a União Soviética, Coreia do Norte, Congo ou Baviera. Um sonho que, talvez, nunca teve a mais ínfima oportunidade - o potencial norte-americano após a Segunda Guerra Mundial colocou-o talvez numa posição tão dominante que impediu qualquer desenvolvimento económico, político ou social alternativo -, e ainda não sabemos com certeza porquê - natureza humana, condições adversas, implementação defeituosa. Mas um sonho que, finalmente, convém recordar. Mesmo que seja apenas porque continua atual e porque aspira liderar uma nova ordem internacional - a China, como já referi, com um socialismo muito à sua maneira.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O sonho emergiu das entranhas da pobreza, desespero e fome; da exploração e da miséria mais absoluta; da submissão levada ao extremo e à obscenidade. <b>Porque apenas sonham com a liberdade aqueles que não a possuem.</b> Os Romanov e o povo russo são, sem dúvida, um exemplo disso. Em geral, podemos afirmar que o motor dos movimentos socialistas ou comunistas surgiu da desigualdade e do classismo: sociedades profundamente desiguais e classes sociais rigidamente compartimentadas. <b>Os pobres sabiam que eram pobres, que as suas possibilidades de deixar de ser pobres eram quase inexistentes e que os seus filhos seriam igualmente pobres.</b> E o pior, no entanto, nem sequer era a sua pobreza. Pobres, de qualquer forma, que, até à industrialização, estavam suficientemente isolados para não representar um problema, mas que, de repente, começaram a concentrar-se em fábricas e em bairros insalubres. Sujeitos do submundo que, de repente, se encontraram uns aos outros. <b>Encontraram a consciência de classe.</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9IGm-yYbY0ce3hL0-Ue8jVUK_OWUpj-PmTJgbYXeaza3pIsaO7Mg8ge_2xUl6JER2BA2IM8MMBSyk9Ru_zqTT-N0CwRaj-j6SPcTGw22g38SCtfkhbqILGw5znAYuC9OD7tKBOc7S14zNi_rYoSzCz2vHbOuwvXzb_u7C-IGCOkJPkCrRzCUGXd4lbTbg/s850/comunismo2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="850" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9IGm-yYbY0ce3hL0-Ue8jVUK_OWUpj-PmTJgbYXeaza3pIsaO7Mg8ge_2xUl6JER2BA2IM8MMBSyk9Ru_zqTT-N0CwRaj-j6SPcTGw22g38SCtfkhbqILGw5znAYuC9OD7tKBOc7S14zNi_rYoSzCz2vHbOuwvXzb_u7C-IGCOkJPkCrRzCUGXd4lbTbg/s16000/comunismo2.jpg" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>O COMUNISMO NÃO É SOCIALISMO, MESMO QUE PAREÇA</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O comunismo é, portanto, muitas coisas, mas, na verdade, pelo menos teoricamente, não é socialismo, pois este é apenas uma fase preliminar de preparação social para a chegada do comunismo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E talvez seja aqui que reside o defeito da questão, na aplicação teórica equivocada deste sonho, que exigia uma etapa de preparação que nunca foi implementada. Ou talvez não, talvez seja simplesmente impossível. Em qualquer caso, o socialismo prático, o do dia a dia, parece estar muito longe de ser uma etapa de preparação para a chegada do comunismo. Basta pensar na Espanha e se, de fato, além de gostos pessoais, o PSOE é um partido cujo objetivo é a preparação para a chegada de um estágio comunista superior. Não parece ser o caso. E não é por causa dos anos no poder, mais de um quarto de século desde a chegada às urnas. Não, obviamente não: a socialdemocracia europeia moderna não parece ser um estágio e, em si mesma, possui muitos elementos que a diferenciam não apenas do comunismo, mas também do próprio socialismo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>O AUMENTO DA DESIGUALDADE, CHAVE NUM POSSÍVEL RESSURGIMENTO</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É amplamente aceite que quanto maior a desigualdade, maior é a polarização e mais fácil se torna a propagação das ideias necessárias para transformar o mundo, seguindo a teoria inicial do sonho, numa sociedade mundial dirigida por cientistas e economistas que organizem uma federação de comunidades com governo próprio, onde o trabalho seja uma atividade voluntária e os produtos se distribuam de acordo com as necessidades individuais. Por outras palavras,<b> um mundo mais justo e melhor para todos</b>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No entanto, o principal receptor atual da crescente desigualdade nas sociedades capitalistas, especialmente no ocidente, não se encontra na extrema esquerda da moderação, mas nas antípodas. A extrema-direita, como se evidenciou recentemente em França - e como se pode observar no Parlamento Europeu -, está a capitalizar cada vez mais o voto do desencanto. <b>Os pobres parecem já não sonhar com a redistribuição da riqueza, mas sim em acumulá-la.</b> Mas, sem dúvida, isso pode mudar, especialmente nessa maioria planetária não alinhada pela qual Estados Unidos e China competirão — se já não estiverem a competir -, e que constitui muito mais do mundo do que muitos pensam que existe.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>O CAPITALISMO, UM SISTEMA FALHADO?</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Isso leva-nos a uma questão intrinsecamente relacionada ao capitalismo: é um sistema falhado? As crescentes diferenças na própria Europa, entre o norte e o sul e o leste e oeste, assim como a situação na América Latina, não são muito encorajadoras. É evidente que Cuba e Venezuela, dois experimentos diferentes de socialismo, não se destacam no panorama latino-americano, mas é que seu entorno, que deveria ser um paraíso capitalista, não oferece uma imagem melhor. Alguém poderia argumentar que Haiti está em melhores condições que Cuba? E não é um caso isolado; na América Latina, até mesmo o milagre chileno já não o é tanto, em grande parte devido à distribuição desigual da riqueza - o que nos remete à contradição original do capitalismo. No entanto, o quintal norte-americano constitui a região mais violenta e desigual do mundo, o que, parafraseando Karl Marx, deve-se ao fato de o capitalismo "produzir seus próprios coveiros". Coveiros de uma região que, por isso, constitui um excelente campo de testes para a nova ordem internacional, na qual, aliás, a China se mostra cada vez mais poderosa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Aqui, na China, sem dúvida alguma, está uma das chaves para um possível desenvolvimento mundial do comunismo, ou, melhor dizendo, de um socialismo "made in China", porque <b>o socialismo chinês é uma versão um tanto capitalista do que se supõe ser o socialismo</b>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>E, NO ENTANTO, A HISTÓRIA...</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A história - que poderão ler nesta edição - passa, antes de tudo, pela União Soviética, desde Estaline até Gorbachev e de Khrushchov até Brezhnev. Mas seria injusto, incorreto e impreciso ficar apenas pela experiência soviética, apesar da abundância de relatos académicos, literários e cinematográficos que o sugerem. Houve múltiplos ensaios socialistas para além da União Soviética e da Europa Oriental -Albânia, Alemanha Oriental, Bulgária, Checoslováquia, Hungria, Polónia, Roménia ou o caso especial da Jugoslávia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Naturalmente, a China, à qual já nos referimos. Um país com um potencial enorme que, desde o seu nascimento, durante a Guerra Fria, se tornou rapidamente um concorrente da Rússia e, por isso, um jogador geopolítico ambíguo. Uma ambiguidade que pode ter sido crucial para a sua sobrevivência e também para o seu sucesso. Uma ambiguidade manifestada também na lógica interna. Além disso, Mongólia, Laos, Camboja, Coreia do Norte, Nepal, Afeganistão e, sobretudo, Vietname, constituem exemplos asiáticos do desenvolvimento de modelos socialistas associados à descolonização ou às derivações adotadas por estados não apenas imaturos, mas até famintos - devido ao intenso saque a que foram sujeitos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em África, também ocorreram diversos ensaios, desde a Somália até à Etiópia, passando pelo Congo, Iémen do Sul ou Angola. Este último país, independente graças à ajuda militar de Cuba - Operação Carlota, 1975, após a Revolução dos Cravos -, é hoje o segundo maior produtor de petróleo da África Subsaariana. Até hoje, Angola mantém excelentes relações com o regime castrista. Um regime, o cubano, que, de acordo com as palavras do próprio Fidel Castro, não tinha muitas intenções comunistas -"<b>O povo de Cuba sabe que o governo revolucionário não é comunista</b>"-. Às vezes, a necessidade geopolítica obriga.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por último, é importante destacar ensaios socialistas não muito conhecidos, como os casos da Índia —estados de Bengala Ocidental, Tripura e Kerala -, Alemanha - Saxónia, Bremen e Baviera -, Irlanda -Limerick -, França - Alsácia -, Pérsia ou Irão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>... AINDA NÃO ESTÁ ESCRITA</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Porque o futuro é imprevisível até mesmo para os mais ilustrados e eruditos. Marx e Engels, por exemplo, indicaram que "o modo capitalista de produção, ao transformar cada vez mais a imensa maioria dos indivíduos de cada país em proletários, cria ele próprio a força que, para se libertar da exploração, está obrigada a fazer a revolução". O que não parece ter sido cumprido exatamente. Outro exemplo é Vladimir Lenin que, como muitos outros revolucionários, estava longe de antecipar a queda dos Romanov, tendo esta acontecido fora da Rússia e obrigando-o a realizar uma verdadeira odisseia para regressar a tempo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E é que sabemos o que aconteceu, mesmo que se discuta sobre isso, mas é impossível prever o futuro, especialmente se os Estados continuarem a servir, como quando Karl Marx e Friedrich Engels começaram a teorizar sobre o comunismo, aqueles que detêm o poder económico, os sistemas judiciais continuarem a beneficiar as elites e a desigualdade não parar de aumentar. Poderíamos finalmente alcançar o sonho... ou acordar abruptamente novamente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>"Comunismo, auge, caída y pervivencias" | revista Muy Historia | 22 de Junho de 2022</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-3865225367428081592024-01-21T18:13:00.000+00:002024-01-21T18:13:02.047+00:00Sítios Não Instagramáveis<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">A partir de agora só quero sítios não instagramáveis. Daqueles sítios em que, ao redor de centenas de metros, não veja um único ser humano. Sítios como o desta fotografia. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYN1QRjUdqDrlaOAepcn6cnRuDUisY2hJg7kqgHgxq91W-JqlTxVbVrzYazKvC46hKyXFVFiHO9KBg9tqKAziK0l4m32eP3IZvTUWCDgYiHvRpa2QuzTidUE_ttU9hoEirAHHVaWdWk_RpITbnk7tNOpGTgCtvffSME6cW22FYqaSAk8NROTLPT9dcCVp_/s800/PXL_20240121_131608337.MP.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="601" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYN1QRjUdqDrlaOAepcn6cnRuDUisY2hJg7kqgHgxq91W-JqlTxVbVrzYazKvC46hKyXFVFiHO9KBg9tqKAziK0l4m32eP3IZvTUWCDgYiHvRpa2QuzTidUE_ttU9hoEirAHHVaWdWk_RpITbnk7tNOpGTgCtvffSME6cW22FYqaSAk8NROTLPT9dcCVp_/s16000/PXL_20240121_131608337.MP.jpg" /></a></div><br /> <p></p>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-36808621253797930042024-01-20T22:32:00.000+00:002024-01-20T22:32:12.159+00:00O Meu Amor, Desmesurado - O Teu Amor, Insuficiente<p> </p><div style="text-align: center;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/GVQqZg5BisE?si=XhkuKgLZ79su8j5w" title="YouTube video player" width="560"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;"><b>Monster | Meg Meyers | 2012</b></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-10681808626244938702024-01-20T09:59:00.002+00:002024-01-21T19:42:30.560+00:00Descobre as Diferenças<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="text-align: left;"> Se há algo que eu verdadeiramente admiro na política é a coerência e a verticalidade, e dias depois dar o dito pelo não dito e fazer o oposto do que disse anteriormente. </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Também acho muito irónico que se leia por aí, na beira da estrada, nos cartazes do partido ilegal do Chunga, que "Portugal precisa de uma limpeza". Deve ser por isso que o sacristão-mor do partido está a ir buscar novos candidatos a deputados aos outros partidos todos! </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtpxXZxzVSo0LLtdUfx9WyVNWAJ7_W5bgIvL8gZIGlT0Nm3s4SCDK24o0Sf7HlHcCab-xIv-cBUFDKWWOB_2wp89YHRh75Cm5ZjUmS9LMjiii0ysadWM90hELPBtL8jTcGkVDZAdbVL9ubv3F4n_c89GgsmxM6TbwYgifW1Ym0vS5eyY343XqSd-L4cN4t/s900/PSD_CHcolagem.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="598" data-original-width="900" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtpxXZxzVSo0LLtdUfx9WyVNWAJ7_W5bgIvL8gZIGlT0Nm3s4SCDK24o0Sf7HlHcCab-xIv-cBUFDKWWOB_2wp89YHRh75Cm5ZjUmS9LMjiii0ysadWM90hELPBtL8jTcGkVDZAdbVL9ubv3F4n_c89GgsmxM6TbwYgifW1Ym0vS5eyY343XqSd-L4cN4t/s16000/PSD_CHcolagem.jpg" /></a></div><br /><br /><p></p>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-71178510619082440282024-01-17T18:35:00.001+00:002024-01-17T18:37:02.632+00:00O Desejo é Aquilo Que nos Dá Forças<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAgdqm1ksZQpBHJ23Sx_d5pjsfQHCm79zyTYZKYYqOPF6adl5_OAl8Cnh2DhADwttIYi_w9gHdbhyphenhyphensazcVR9go-3THjhP0QvKNUBm-jtFHZqPwPdvo9GZV4G9UE_OqVQSq1WBzUPIqoNtk8rnGAKmNzRHhPppmsgkoIB1C6Z2LeV5hnV3OTyDwLsl_FlQw/s900/Desejo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="774" data-original-width="900" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAgdqm1ksZQpBHJ23Sx_d5pjsfQHCm79zyTYZKYYqOPF6adl5_OAl8Cnh2DhADwttIYi_w9gHdbhyphenhyphensazcVR9go-3THjhP0QvKNUBm-jtFHZqPwPdvo9GZV4G9UE_OqVQSq1WBzUPIqoNtk8rnGAKmNzRHhPppmsgkoIB1C6Z2LeV5hnV3OTyDwLsl_FlQw/s16000/Desejo.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"O desejo é a essência do homem", escreveu o filósofo do século XVII Baruch Spinoza. Pela sua natureza infinita, é talvez o que melhor nos caracteriza, mas, acima de tudo, é o que move as nossas vidas. <b>Que valor teria uma vida sem desejos?</b> A variedade e intensidade disso é o que nos dá o impulso para agir e o sentimento de estar plenamente vivos. A ausência de desejo - da qual a depressão é um sintoma moderno - aponta para o colapso da nossa força vital. Ao mesmo tempo, o desejo pode levar-nos à paixão destrutiva ou ilusória, à insatisfação permanente, ao ódio ou à frustração causados pela inveja e pela ganância, ou a todo o tipo de vícios que nos privam da nossa liberdade interior. (...) O que distingue o desejo da necessidade? Qual é a natureza do desejo? Como saber se um desejo é bom ou não? Como acolher os nossos desejos mais pessoais e deixar de imitar os dos outros? Como podemos escapar à insatisfação para expressar os desejos de maneira adequada e experimentar uma alegria profunda? (...)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esgotados por três anos de pandemia, angustiados pelas consequências do desajuste climático, pela guerra na Ucrânia ou pela perda de poder de compra, desiludidos com a política e céticos em relação a todas as instituições, muitos dos nossos contemporâneos sentem-se frágeis e afetados do ponto de vista moral e psicológico. O resultado é um declínio do que o filósofo <b>Henri Bergson</b> chamava de "<b>élan vital</b>" e uma diminuição da nossa força desejante que pode afetar todos os aspectos da vida: profissional, amoroso, sexual, intelectual, etc. Sentimo-nos menos vivos, desfrutamos menos intensamente da vida, frequentemente a tristeza prevalece sobre a alegria. Isso leva algumas pessoas a questionarem-se e a tentarem reorientar as suas vidas para valores diferentes do consumismo e do reconhecimento social, a dar mais sentido, a viver com mais sobriedade. Assim, muitos jovens procuram contornar o modelo dominante, por exemplo, no campo profissional, mas também no sexual, que não corresponde aos seus desejos mais profundos, mais orientados para o ser e a qualidade de vida do que para o ter e o desempenho.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No entanto, de maneira paradoxal - e isso é válido para todas as crises vitais e não é algo novo - esse esgotamento do "élan vital" e do desejo traduz-se também numa exacerbação dos desejos mais materiais, poderíamos dizer, dos caprichos, que surgem como compensações dessa espécie de depressão: <b>consumimos para nos fornecer minidoses de prazer</b>. Este consumismo pode assumir diversas formas: <b>compras compulsivas, vício em sexo, jogos, redes sociais, necessidade exacerbada de reconhecimento social</b>, entre outros. Os nossos poderosos desejos e grandes alegrias transformam-se assim em pequenos caprichos e prazeres fúteis. E, às vezes, tornamo-nos escravos desses desejos e prazeres, sem que eles satisfaçam verdadeiramente nossa sede mais profunda. Estou convicto de que só encontraremos nossa liberdade e nossa verdadeira alegria cultivando o "élan vital", despertando nossos desejos mais pessoais e orientando-os para objetos que nos façam crescer, que deem sentido à nossa vida, que nos permitam realizar-nos plenamente segundo nossa singularidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyceC5t99-51IWF0hw47j8Yw8_QjkNaqhVHx2uCRSlTbxXq5GS4qA-Eroa05bsTa1S0P2ZwQdWGRafk-KQoDJsA2ialK4kYkeIpAt-tLWBbVicHTuTon6THGyxucPCLR_XNIasN3fQBTIMYrIrBf_Zn2YMP8As0h1lmmNcsweNXQCcZ_NQtces5c7vp9rf/s696/Filosofia%20do%20desejo.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="696" data-original-width="445" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyceC5t99-51IWF0hw47j8Yw8_QjkNaqhVHx2uCRSlTbxXq5GS4qA-Eroa05bsTa1S0P2ZwQdWGRafk-KQoDJsA2ialK4kYkeIpAt-tLWBbVicHTuTon6THGyxucPCLR_XNIasN3fQBTIMYrIrBf_Zn2YMP8As0h1lmmNcsweNXQCcZ_NQtces5c7vp9rf/w410-h640/Filosofia%20do%20desejo.jpg" width="410" /></a></div><div style="text-align: justify;">Os filósofos da Antiguidade concordam, por um lado, em definir o desejo como "<b>a aspiração a um bem</b>" (ou seja, algo que percebemos como bom para nós). Nas palavras de <b>Cícero</b>, "o desejo vai, fascinado e inflamado, em direção ao que parece ser um bem". Por outro lado, identificam-no com o "apetite" (no sentido mais amplo da palavra), o movimento que consiste num esforço para se aproximar de um bem que nos atrai. A aversão, por outro lado, refere-se ao movimento que nos afasta do que percebemos como mau. Embora por vezes pareça confundir-se com o instinto ou a necessidade, o desejo humano compreende ao mesmo tempo uma parte imaginária e uma parte consciente que o tornam muito mais complexo. Não é o mesmo sentir a necessidade de nos alimentarmos (a sensação de fome) do que o desejo de comer um prato específico, que nos desperte memórias felizes, num ambiente que gostamos e com bons amigos. Isso é observado também no desejo sexual, que não pode ser reduzido ao instinto de sobrevivência da espécie ou à simples satisfação de uma necessidade fisiológica. A psicanálise demonstrou de forma cabal que, antes de fixar-se num objeto, o desejo está envolto numa dinâmica complexa e criativa (emoções, fantasias, projeções, transferências...). Por isso, <b>Gaston Bachelard</b> escreveu que "<b>o homem é uma criação do desejo, não da necessidade</b>".</div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A palavra "<b>desejo</b>" deriva do verbo latino "desiderare", formado a partir de "sidus, sideris", que significa <b>astro ou constelação</b>. Existem duas interpretações radicalmente opostas desta etimologia. Pode-se interpretar "desiderare" como "<b>deixar de contemplar as estrelas</b>", o que remete à ideia de uma perda, um "desnorte". O marinheiro que deixa de olhar as estrelas pode perder-se no mar. O ser humano que deixa de contemplar as coisas celestiais pode perder-se perante a sedução das coisas terrenas. Inversamente, podemos entender "desiderare" como aquilo que nos liberta de nos perdermos em considerações ("siderare"), uma vez que os antigos romanos costumavam entender a "sideratio" como o facto de sofrer a ação funesta dos astros. Conservamos esse sentido distante quando dizemos que ficamos "alucinados" após uma comoção ou adversidade: ficamos imóveis, incapazes de reagir, privados da capacidade de agir livremente. O que nos porá novamente em movimento é "de-sidere", o desejo, entendido como motor da ação, como a potência vital que nos liberta de nos perdermos a nós mesmos, seja qual for a causa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O fascinante é que este duplo sentido reaparece ao longo da tradição filosófica ocidental. Por um lado, o desejo é percebido como uma falta, sublinhando essencialmente o seu caráter negativo. Por outro lado, é percebido como um poder e como o principal motor das nossas vidas. A maioria dos filósofos da Antiguidade viu o desejo como uma falta e considerou-o não tanto como uma questão, mas como um problema: <b>a busca por uma satisfação que, uma vez saciada, renasce imediatamente sob a mesma forma ou sob a forma de outro objeto, condenando-nos assim a estar insatisfeitos ao longo da vida</b>. Foi Platão, o mais conhecido entre os discípulos de Sócrates, quem melhor teorizou esta dimensão insaciável do desejo humano na forma de falta: "<b>O que não temos, o que não somos, o que sentimos falta: eis os objetos do desejo e do amor</b>". Aristóteles relativiza esta identificação do desejo com a falta e vê nele a nossa única força motriz: "Não há mais do que um princípio motor: a faculdade desiderativa". No século XVII, Spinoza retoma esta ideia e coloca-a no centro de toda a sua filosofia ética: o desejo é a potência vital que coloca em movimento todas as nossas energias e, bem dirigido pela razão, é o único que pode levar-nos à alegria e à felicidade suprema (a beatitude).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Desejo-falta que conduz à insatisfação e à desgraça e ao qual convém impor limites ou eliminar... ou desejo-potência que conduz à plenitude e à felicidade e que convém cultivar: quem tem razão? Se nos observarmos atentamente a nós mesmos e à natureza humana, ambas as teorias parecem pertinentes e não se excluem mutuamente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nas nossas vidas, podemos experienciar o desejo-falta e o desejo-potência. Quando caímos na armadilha da insatisfação constante, da comparação social, da inveja, da luxúria, da paixão amorosa, estamos a concordar com Platão. Mas quando nos deixamos levar pela alegria de criar, crescer, avançar, amar, desenvolver os nossos talentos, realizar-nos através do que fazemos, conhecer, estamos a concordar com Spinoza. E as coisas são até um pouco mais complexas, pois o desejo-falta pode também ser o motor de uma busca espiritual que conduza à contemplação da beleza divina, enquanto o desejo-potência nos pode levar a excessos e a uma forma de hibris denunciada pelos gregos.</div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Só encontraremos a liberdade e a verdadeira alegria cultivando o "élan vital", despertando os nossos desejos mais pessoais, e direcionando-os para metas que alimentem o nosso crescimento interior e coletivo. A reflexão sobre estas dualidades do desejo enriquece a nossa compreensão da natureza humana e convida-nos a procurar um <b>equilíbrio que nos permita viver de forma plena e consciente</b>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>"El deseo es lo que nos da fuerzas" | Frédéric Lenoir | (excerto do livro "Filosofia do Desejo) | El País</b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-50451782192929853062024-01-09T21:39:00.003+00:002024-01-09T22:46:59.827+00:00O PSD Morreu em 1980 e Foi Enterrado Junto com Sá Carneiro<p></p><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ52UV5Ik0UO07PqSsPEcdxooW1Z3PaMZoeS0P78lGIMnqcBkHXBTn1cOCWnM0ew55R1byh_KimzoZGNOiV2wHiN-sBG3APXPvwJpcv3LW_PhNcCod4n3YfcZ0ITUmZlkS-Og4Jn0Qk3fjABgOybMCKYGO5dJbC2S3uvmr1r63SnIVcad1Smi4ug738i_E/s900/psd_colagem.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="675" data-original-width="900" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ52UV5Ik0UO07PqSsPEcdxooW1Z3PaMZoeS0P78lGIMnqcBkHXBTn1cOCWnM0ew55R1byh_KimzoZGNOiV2wHiN-sBG3APXPvwJpcv3LW_PhNcCod4n3YfcZ0ITUmZlkS-Og4Jn0Qk3fjABgOybMCKYGO5dJbC2S3uvmr1r63SnIVcad1Smi4ug738i_E/s16000/psd_colagem.jpg" /></a></div><div style="text-align: center;"> </div><div style="text-align: justify;">Tinha eu quatro anos e meio e, como é óbvio, não percebi muito bem o que estava a acontecer na altura, mas ainda guardo essa memória viva do acontecimento da morte de Sá Carneiro em 1980 e do choque geral dos adultos que me rodeavam. E não se falava de outra coisa na televisão, ainda a preto e branco. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E, talvez estivesse no seu direito, e até porque já os egípcios eram enterrados com os próprios gatos, e, ao ser enterrado, Sá Carneiro, ter-se-à feito acompanhar na cova do partido que fundou: o Partido Social Democrata.</div><p></p><p style="text-align: justify;">Mais de quarenta anos volvidos, alguns continuam a levantar a voz para falar de Sá Carneiro mas, infelizmente, duvido que a maioria conheça sequer a história do próprio partido onde estão filiados. </p><p style="text-align: justify;">Segundo palavras do próprio Sá Carneiro, o "<b>PSD é um partido de esquerda sem qualquer afinidade com as forças de direita</b>". No seu plano ideológico e político, dizia-se inspirado no socialismo humanista, inerente aos partidos sociais-democratas da Europa ocidental, aceitando os ideais do socialismo e procurando realizá-lo através de uma sociedade livre e democrática. Era pois seu objetivo declarado a luta pela democracia e pelo socialismo, com um predomínio do interesse público sobre o privado, pugnando-se pelo controlo através das autarquias, sindicatos, cooperativas, co-gestão e fiscalização por parte dos trabalhadores, empresas de economia mista e nacionalizações. </p><p style="text-align: justify;">Podemos considerar que no papel, o PS de Mário Soares e o PSD de Sá Carneiro, eram dois partidos de esquerda, ambos socialistas. A este respeito podemos lembrar factos interessantes: o PSD teve um jornal intitulado "Pelo Socialismo", colocava nos próprios cartazes "pelo socialismo" e Sá Carneiro quis até que o partido integrasse a Internacional Socialista. </p><p></p><div style="text-align: justify;">Infelizmente foram meras intenções. Lembrar que, por exemplo, Natália Correia, a escritora, foi deputada do PSD porque admirava Sá Carneiro, mas saiu em litígio com o partido porque o considerou extremamente conservador. Natália Correia votou, por exemplo, ao lado do PCP na questão do aborto e contra o próprio partido onde estava (mais tarde viria a ser deputada do PRD porque admirava Ramalho Eanes).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sá Carneiro morreu em 1980 e com ele morreu o PSD socialista, de esquerda e inspirado na social democracia alemã. Que diria hoje Sá Carneiro se visse os cartazes que por aí andam, do próprio partido que fundou, e que dizem "o socialismo empobrece"? Certamente acrescentaria à frente: os ricos. "O socialismo empobrece os ricos".</div><p></p><p style="text-align: justify;">E é neste o saco de gatos que o PSD atual se tornou, confundindo-se com a própria extrema-direita, e lembrar também que o líder dessa mesma extrema-direita esteve 17 anos no PSD e foi lançado por Passos Coelho. No entanto diz-se "anti-sistema", apesar de andar no "sistema" todos estes anos e ser financiado pelos grandes grupos económicos. </p><p style="text-align: justify;">A social democracia que Sá Carneiro dizia defender podemos encontrá-la hoje, por exemplo, no Bloco de Esquerda, considerada, agora, por alguns ignorantes, de "extrema-esquerda". E, ou são ignorantes e não sabem que os partidos de extrema-esquerda já não existem em Portugal desde o PREC, ou então sabem que não existe mas continuam a propagandear "extrema-esquerda" ou "radical" (que significa ir à raiz) por pura má fé e para enganar as pessoas. A Isabel Moreira, que nem é do Bloco de Esquerda nem do Partido Comunista Português, já o explicou muito bem:</p><div style="text-align: justify;">"<b>Talvez seja notícia para alguns, mas não há extrema-esquerda em Portugal.</b> Já houve , o PRP ou o Projeto Global ( que incluía as FP - 25). Felizmente o PCP resistiu a quem dele se afastou para tais derivas e presta até hoje um papel fundamental na democracia .</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Imaginar que o BE, por seu turno, é uma ameaça aos nossos valores constitucionais basilares é delírio . Talvez por isso parar com simetrias absurdas e perceber que PCP e BE não foram - como se viu na geringonça - nenhuma ameaça para os direitos de quem quer se seja".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC8SteHn3lqg39gncuoYj1-t3JuPdi_owOTOXAtJK-ohiZgeMHH-IADaGqETkdrWy0DaO7gwXj7DjV2YvsL-tq5MWxy2ZEZcodVaB6F4iuhdk-m59eqcdMbprZGAORVJli3S9pppSWJhnmxjdHQnzSkKTEq-OcoSr3wJvIMxeN9ecbyahYybanFJrVGLxD/s932/N%C3%A3o%20H%C3%A1%20Extrema%20Esquerda%20em%20PT.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="932" data-original-width="791" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC8SteHn3lqg39gncuoYj1-t3JuPdi_owOTOXAtJK-ohiZgeMHH-IADaGqETkdrWy0DaO7gwXj7DjV2YvsL-tq5MWxy2ZEZcodVaB6F4iuhdk-m59eqcdMbprZGAORVJli3S9pppSWJhnmxjdHQnzSkKTEq-OcoSr3wJvIMxeN9ecbyahYybanFJrVGLxD/s16000/N%C3%A3o%20H%C3%A1%20Extrema%20Esquerda%20em%20PT.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;">Mas eu escrevi que Sá Carneiro "dizia defender" porque só poderíamos saber se, de facto, iria defender a mesma ideologia ou ou metê-la na gaveta, tal como, por exemplo, Mário Soares meteu na gaveta o socialismo, retirando o partido da esquerda e arrastando-o para o centro. E a minha convicção, é que o PSD, pejado de reacionários e conservadores (que mandaram embora do país Saramago, o único Nobel que tivemos - porque o outro que partia cabeças não conta!) a minha convicção é que o PSD se iria naturalmente mover para a direita.</p><p style="text-align: justify;">Para se saber um mínimo de política é preciso conhecer-se a história dos partidos. Saber de onde vieram e onde estão hoje. Um partido não é um clube de futebol. Devemos votar naqueles que defendem os nossos interesses, naqueles que consideramos mais capazes e não, cegamente, numa carinha laroca ou numa voz colocada, tal como os portugueses votaram, por exemplo em 2011, em Passos Coelho. No momento mais difícil da nossa recente democracia, foram a correr a votar naquele que se tornou o primeiro-ministro mais impreparado e mentiroso que há memória. </p><p style="text-align: justify;">E agora para finalizar tenho uma pergunta a todos aquele que votam no PSD. Até podem ser militantes. Por acaso sabem o que significam aquelas três setas no símbolo do partido? Pequena ajuda: a resposta está numa das imagens acima. </p><p style="text-align: justify;"><br /></p></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-41502237551434637502024-01-07T19:55:00.001+00:002024-01-07T20:04:50.436+00:00Amar o Trabalho é Abraçar a Nossa Escravidão - Mais Glamour e Menos Salário<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Tema extremamente interessante sobre as novas formas como as empresas, continuando a explorar e pagar mal aos trabalhadores, os seduzem a amar onde estão e o que fazem. Artigo de Juan Boix (escritor e professor de Filosofía e da Cultura na Universidade Complutense de Madrid) publicado no El País a 7 de Janeiro de 2023</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiha4-huZrGjICeUfKmHG5EyjZpszjulwATxxPXRvYJJV-EAoNftIEMP07jESM5vs3rHzj4NnJDG6EgNzMkNq7h-8sha1myOZzcZvj_9JhzLGvASNhN09Dkm7O44NYSC7vmvOO80ywyeXYT9JAHcAte4L0P2avWBQnEPMFBhsjEjiR3eB0OX9aAEFpKICV4/s850/amar%20o%20trabalho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="767" data-original-width="850" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiha4-huZrGjICeUfKmHG5EyjZpszjulwATxxPXRvYJJV-EAoNftIEMP07jESM5vs3rHzj4NnJDG6EgNzMkNq7h-8sha1myOZzcZvj_9JhzLGvASNhN09Dkm7O44NYSC7vmvOO80ywyeXYT9JAHcAte4L0P2avWBQnEPMFBhsjEjiR3eB0OX9aAEFpKICV4/s16000/amar%20o%20trabalho.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Amar o trabalho é abraçar nossa submissão. As empresas comprovaram que cuidar do vínculo com o trabalhador aumentava a produtividade. É por isso que eles tentam nos seduzir de modo que a esfera do trabalho se confunde com a vida</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Conheci a N. numa aplicação de encontros. Passeamos por Alicante à procura de uma pizzaria e conversamos sobre as nossas ocupações. N. estuda Belas Artes e trabalha num outlet de roupa desportiva. Ela conta-me que o seu trabalho é um pouco aborrecido, mas que coloca música nos auscultadores e as horas passam. E depois continua com desconcerto: as suas colegas estão encantadas com a empresa. Tem valores verdes e feministas, oferece-lhes um desconto em toda a loja e recompensa-as com um bónus se trabalharem a um bom ritmo. <b>Um cocktail de ética verde, competição e chantagem consumista torna encantador um trabalho mal remunerado</b> que consiste em empilhar caixas de sapatilhas para fazer exercício e ficar em forma para empilhar mais caixas de sapatilhas. Não imaginava encontrar, numa única tarde, semelhante desfile de sedução.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Paul Lafargue escreveu em "<b>O Direito à Preguiça</b>" que <b>todas as misérias das sociedades capitalistas tinham uma única causa, e essa causa é o amor ao trabalho</b>. Lafargue não se refere à ganância ou à inveja, mas à paixão desenfreada que os próprios trabalhadores sentem pelas suas ocupações. Assim, situava a fonte das nossas fadigas na esfera da reprodução social, uma mudança de perspetiva que nos permite questionar o trabalho a partir do afeto e da sua economia libidinal: como aprendemos a amá-lo? Quem o tornou tão atrativo, tão estranhamente edificante? <b>Por que razão os nossos trabalhos nos deslumbram com uma retórica de vida boa quando só impedem isso, saturando com as suas exigências todos os tempos, todos os afetos, todas as capacidades que temos?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No seu livro "<b>Intimidades Congeladas</b>", a socióloga Eva Illouz fala-nos das experiências Hawthorne, desenvolvidos por Elton Mayo na Chicago dos anos vinte. <b>Os resultados revelaram que a produtividade não aumentava tanto com uma melhoria das condições materiais do local de trabalho, mas prestando atenção aos operários.</b> Mostravam que o cuidado de um vínculo afetivo entre trabalhador e empresa era uma chave para o sucesso e uma exploração tão sofisticada quanto desconhecida. A partir desse momento, avalia Illouz, o estilo empresarial e a gestão começaram a revolucionar-se, e <b>as empresas dedicaram-se a investir nas obscuras artes da sedução</b>: encheram-se de psicólogos e <i>coaches</i> ontológicos, transformaram o seu ambiente num espaço sinistramente amigável, empunharam as bandeiras da ajuda humanitária. O que Mayo descobriu nos anos vinte, o filme "Monstros SA" ensinava-nos em 2001: <b>as paixões alegres geram muito mais energia do que o medo.</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não importa que trabalho tenhas, qualificado ou não, manual ou intelectual, sedentário ou nómade. Não importa se empilhas caixas ou ensinas álgebra, o trabalho tentará sempre seduzir-te, confundindo-se com a tua vida, com a sua crença, com os seus valores, com os seus anseios. A chave da servidão já não está em governar o corpo com várias disciplinas, como nos tempos do capitalismo industrial, mas em governar as almas, ou seja, <b>governar o desejo</b>. Trata-se de envolver completamente o sujeito no comportamento que deve seguir, como explicam os pensadores Christian Laval e Pierre Dardot, de relativizar a rigorosa fronteira entre lazer e negócio em favor do capital. O amor ao trabalho denunciado por Lafargue, em suma, é uma versão contemporânea do que La Boétie chamou de <b>servidão voluntária</b>: amar o trabalho é abraçar a nossa submissão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se atentarmos para o que o sociólogo <b>Renyi Hong</b> explica em "<b>Passionate Work</b>", essa gíria do entusiasmo conta com dois traços essenciais. O primeiro é uma armadilha ideológica: <b>devemos ser felizes e viver bem apesar das dificuldades económicas.</b> O segundo passa por reconhecer que a paixão pelo trabalho não é apenas um sentimento, mas uma estrutura afetiva: as formas contemporâneas do trabalho tornaram-se ao mesmo tempo mais desejáveis e mais exploradoras, de modo que nos pedem para <b>seguir os nossos sonhos precisamente para combater os problemas económicos</b>. A paixão pelo trabalho é mobilizada como um escudo, um meio de atenuar o esgotamento psíquico da incerteza económica e da escassez de rendimento. Assim, o trabalho deixa de ser um espaço de exercício da virtude ("o trabalho dignifica") para ser interpretado em termos de compensação psicológica ("não reclames, trabalhas no que gosta"): <b>oferece-nos mais glamour e menos salário, disfarça a precariedade com as vestimentas da aventura, chama de flexibilidade à disponibilidade absoluta.</b> A realização pessoal prometida é uma exigência velada de não parar de trabalhar, de nos tornarmos emocionalmente dependentes da nossa ocupação. Estamos diante de uma nova cultura das emoções onde estar motivado é sinónimo tanto de alto desempenho quanto da ausência de qualquer questionamento crítico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que quero dizer, explica-me N. com uma fatia de pizza na mão, é que às vezes temos que nos proteger do que desejamos, como clamava a artista Jenny Holzer nos seus letreiros luminosos. Ou, pelo menos, temos de estar cientes de como desejamos, do que damos quando amamos: <b>já que temos de vender a nossa alma para pagar o aluguer e os carboidratos, vendamo-la um pouco caro</b>. Se os ensinamentos do nosso coração sobre a vocação e suas fanfarrices nos levaram a estar submetidos em nome da liberdade e da paixão, a dissidência consiste em perguntarmos se podemos amar de forma diferente, se podemos transformar a maneira como desejamos para boicotar assim a cultura das emoções profissionais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E o certo, felizmente, é que não estamos sozinhos neste aprendizagem do desamor. Onde parecia ser necessário trabalhar 10 ou até 12 horas, a greve de La Canadiense mostrou-nos, em 1919, em Barcelona, que bastava trabalhar oito, e hoje entendemos que é suficiente com 32 horas semanais. Onde parecia que as mulheres tinham que se dedicar ao lar e que o seu trabalho não era trabalho, mas o tributo devido ao seu amor, as greves feministas que começaram na Argentina em 2016 criticaram a divisão sexual do trabalho e deram visibilidade àquela maioria silenciosa que se desdobra em casa e não recebe salário.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na segunda metade de 2021, cerca de vinte e cinco milhões de americanos deixaram os seus empregos: queriam uma vida com menos reputação e mais saúde mental, disse-se. O fenómeno foi apelidado de "A Grande Renúncia", e embora tenha durado muito pouco, aspirava a inaugurar o que o The New York Times chamou de "<b>a era da anti-ambição</b>". As greves na França na última primavera contra a reforma das pensões levantaram-se para reivindicar que a vida está noutro lugar, para além da meritocracia. Todas estas são histórias de desamor, mas de desamor bom: ensinam-nos a desapaixonar-nos do trabalho. Lembram-nos que a nossa relação tóxica com o nosso emprego não é incondicional, incentivam-nos a viver e amar de outra maneira. <b>Porque não é amor. O que sentimos chama-se obsessão.</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Apenas quando o proletariado se desapaixonar e disser "eu não quero", todas as misérias capitalistas se dissiparão, promete Lafargue. Apenas desapaixonando-nos do trabalho poderemos direcionar nosso desejo para inventar uma vida boa. Não voltei a ver N., creio que agora vive em Bilbau. A pizzaria fechou na semana passada por falta de pessoal.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div><b>"Amar el trabajo es abrazar nuestro sometimiento" | Juan Evaristo Valls Boix (escritor e professor de Filosofía e da Cultura na Universidad Complutense de Madrid) | El País 7 de Janeiro de 2023</b></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-49025940963553951422024-01-02T23:25:00.003+00:002024-01-03T09:26:02.794+00:00Adeus ao Mito do Amor Romântico - Há Outras Formas de Amar<div style="text-align: justify;">Há duas ou três semanas apanhei um casal na Prova Oral da Antena 3 a falar de poliamor. E ao que parece até têm um espetáculo a falar da coisa. Eu tenho todo o respeito por outras conceções e formas de amar e fiquei a ouvir porque o tema das relações e do amor sempre me interessou mas a forma como ouvi ali retratado por aquele casal é uma enorme complicação! Eu não quereria aquilo, assim, daquela forma, para mim. Uma pessoa pensa em poliamor e pensa em amor livre, não naquela coisa tão complexa e cheia de regras e nomes complexos. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E, por coincidência, dias depois mostraram-me a sátira que a Joana Marques fez e eu acabei a concordar com a maioria das críticas. Aquilo que aquele casal descreveu não são relações humanas mas sim uma tese de doutoramento, ainda que envolvido por verdades. <br /><br /></div><div style="text-align: justify;">E a verdade é que, por muito que custe a muita gente, não há relações monogâmicas. Eu pelo menos não conheço nenhum casal monogâmico. Vocês conhecem? Monogamia é um parceiro para a vida. Não é ser fiel numa relação e passado um tempo ter outra relação fiel. Depois, a monogamia é uma construção cultural e social, e não sou eu que digo, diz quem sabe do assunto como o Júlio Machado Vaz ou o Daniel Sampaio. Mesmo na natureza, quase não há espécies monogâmicas. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E eu não sei como deveria ser para funcionar melhor, e as pessoas que vivam como acharem que é melhor para si. Mas, uma coisa é certa, setenta divórcios por cada cem casamentos é um ato de fé. Algo está muito errado. Ou é a sociedade pós-moderna ou é o tipo de relações que as pessoas vivem nesta sociedade, cada vez mais acelerada e sem tempo. Relações fugazes, pessoas egoístas e narcisistas, cada vez mais menos importadas com o outro e só interessadas o seu umbigo. Pessoas que cada vez menos sabem aquilo o que querem e andam no mundo por ver andar os outros.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas, para repensar o tema "outras formas de amar", aqui deixo um artigo publicado no El País a 16 de Abril de 2023:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGvUWtvkYetXlI3uFLNmBt9RZA9jZKJxZab8uRvHDbvcJEMpDGLYmxuCqnn2loMXVXyA3H6jVODwdNPyjHtxCwZ82tw2y-pX2MM4fWl_sEJv02KrEuDkcqjZGDqmEJH9n7rPg320CFrRZjZnM9GeicTW7YReqAmO9C5I_7HcP6538DH5H4nYVvp3ibe3sw/s850/amor%20romantivo.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="850" data-original-width="792" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGvUWtvkYetXlI3uFLNmBt9RZA9jZKJxZab8uRvHDbvcJEMpDGLYmxuCqnn2loMXVXyA3H6jVODwdNPyjHtxCwZ82tw2y-pX2MM4fWl_sEJv02KrEuDkcqjZGDqmEJH9n7rPg320CFrRZjZnM9GeicTW7YReqAmO9C5I_7HcP6538DH5H4nYVvp3ibe3sw/s16000/amor%20romantivo.png" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;">"</span></b>Há outras formas de amar. A busca pelo sonho romântico pode ser contraproducente e tornar as pessoas infelizes. Precisamos de uma nova teoria do amor que considere, entre outros modelos, o poliamor.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A história de amor romântico que todos aprendemos começa com um rapaz e uma rapariga.</b> Conhecem-se, cortejam-se e apaixonam-se. Enfrentam contratempos e dificuldades que devem superar, mas, contra toda a lógica, acabam juntos "<b>e viveram felizes para sempre</b>".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Isso significa que a maior parte do relacionamento — a maior parte do amor — desenrola-se depois de terminar o conto. Como se supõe que o amor deve ser uma vez que atingimos esse "viveram felizes para sempre"? <b>Devemos acordar todas as manhãs com o coração alegre, cantando canções da Disney para os pássaros e as criaturas da floresta?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Claro, sabemos que esse é um objetivo pouco realista para a nossa vida. Assim como sabemos que os padrões de beleza criados pelos publicitários e influenciadores são um objetivo pouco realista para o nosso corpo. Mas há um inconveniente: saber isso não nos impede de nos compararmos com essas referências pouco razoáveis. Continuamos a sentir-nos insuficientes quando vemos esses corpos "ideais" e percebemos a distância que os separa do nosso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O mesmo acontece quando pensamos que a vida "ideal" é o "viveram felizes para sempre" no final de uma história de amor: a distância entre essa fantasia e a nossa realidade torna-se clara. Na vida real, podemos estar sozinhos, talvez por escolha própria ou talvez não. Ou, se tivermos um relacionamento, pode ser complicado ou turbulento. Ou, mesmo que tenhamos um relacionamento pacífico e estável, a nossa vida pode ter dificuldades e obstáculos de outro tipo, tornando esse "viveram felizes" tão realista quanto viver em Marte.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No entanto, poderíamos pensar: Não é bom ter um objetivo a que aspirar? Dessa forma, esforçamo-nos para alcançar um objetivo, embora na verdade seja inatingível, e esse esforço, sem dúvida, melhorará a nossa vida. Mas aqui está a questão: neste caso, não acredito que seja assim. Tentar tornar realidade a ideia romântica de um amor "viveram felizes para sempre" é um plano errado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Porquê? O que há de errado em tentar ser feliz? Acaso "a busca da felicidade" não é um dos nossos direitos inalienáveis, tão crucial que é mencionado junto com "a vida" e "a liberdade" na Declaração de Independência dos Estados Unidos?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como costuma dizer-se, é preciso ter em conta a fonte. A busca da felicidade faz parte da conceção americana de uma boa vida. Mas, em geral, até que ponto os Estados Unidos estão a melhorar a vida dos seus habitantes? Segundo o Centro de Controlo de Doenças de Atlanta, a esperança de vida nos Estados Unidos está a diminuir; e o censo de 2021 revelou que 11,6% — 37,9 milhões de pessoas — vivem na pobreza. De acordo com o relatório do índice de progresso social de 2022, "nos Estados Unidos, o progresso social permanece estagnado desde 2011 e está em declínio desde 2017". Existem múltiplos fatores que explicam essa situação lamentável, mas, de qualquer forma, o país não é propriamente um grande exemplo para "a busca da felicidade".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzCIFcUJJOkgUE7bCi1-dTAuEh35fonnilb2x-HfkJGpJ_sVaURQj5xS-z6Xwaxyt5E_XyMXCWgMDDGJaMmVyN13-cYZirg4Q-JfmQ7hbZuxAaeCCZp-c3COfBZOqUOH6QrjFzTuwQbpwFhJD4n8ITPobaVTvWo_kPy8a2jzt2ox69GsSa5WJIgjweLGBM/s850/amor%20romantivo2.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="784" data-original-width="850" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzCIFcUJJOkgUE7bCi1-dTAuEh35fonnilb2x-HfkJGpJ_sVaURQj5xS-z6Xwaxyt5E_XyMXCWgMDDGJaMmVyN13-cYZirg4Q-JfmQ7hbZuxAaeCCZp-c3COfBZOqUOH6QrjFzTuwQbpwFhJD4n8ITPobaVTvWo_kPy8a2jzt2ox69GsSa5WJIgjweLGBM/s16000/amor%20romantivo2.png" /></a></div><div style="text-align: justify;"><b>Os filósofos e outros teóricos têm vindo a afirmar há muito tempo que a busca da felicidade não te torna feliz.</b> Pelo contrário, considera-se contraproducente. <b>Isso é conhecido como o paradoxo da felicidade.</b> O psiquiatra austríaco e sobrevivente do Holocausto Viktor Frankl escreveu em 1946 que "uma característica da cultura americana é que, uma e outra vez, somos instruídos a 'ser felizes'. Mas a felicidade não pode ser perseguida; deve acontecer." O filósofo inglês <b>John Stuart Mill</b> escreveu em 1873: "<b>São apenas felizes... aqueles que têm a mente focada em algum objeto que não seja a sua própria felicidade: na felicidade dos outros, na melhoria da humanidade, até mesmo numa arte ou passatempo, que perseguem não como um meio, mas como um fim ideal em si mesmos. Assim, quando tentam alcançar outra coisa, encontram a felicidade no caminho.</b>"</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para pensadores como Mill e Frankl, a felicidade não é um objetivo, mas um efeito derivado de uma vida que tem significado para a pessoa que a vive.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E isso leva-me a suspeitar que devemos aplicar a mesma sabedoria quando pensamos em procurar o "viveram felizes para sempre" romântico como objetivo na vida. Talvez, em última instância, essa busca também seja contraproducente; e quando penso em quantas pessoas perseguem o sonho romântico apenas para acabarem infelizes, não posso deixar de sentir que há algo nisso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Desde que Frankl escreveu nos anos 40 sobre "a ordem de ser feliz", tem havido uma tendência crescente, especialmente na cultura dominante americana, de "centrar-se no positivo" e enfrentar "apenas com boas vibrações" qualquer situação. O resultado pode ser que as pessoas que se queixam e outros considerados "negativos" sejam envergonhados ou ignorados. Isso é chamado de "<b>positividade tóxica</b>". Um elemento importante desta mensagem é que, se não somos felizes, é nossa culpa porque não nos fazemos felizes a nós mesmos. (Não são consideradas questões estruturais como o racismo, o colonialismo, a misoginia, o capacitismo ou a pobreza. Apenas o individual importa).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Neste contexto, o "viveram felizes" romântico tornou-se o modelo de uma vida amorosa bem-sucedida, e o correspondente "romantismo tóxico" diz-nos que, se não alcançamos esse estado ideal, é nossa culpa ou um fracasso pessoal.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Então, o que se pode fazer? Muitas coisas podem ser ditas a respeito, mas acredito que uma das decisões mais importantes que podemos tomar é deixar de nos obsessar com a felicidade — seja na vida ou no amor — como ideal ou como objetivo. Em vez disso, precisamos valorizar mais a enorme variedade de experiências emocionais humanas, incluindo as chamadas emoções "negativas", como tristeza e raiva. <b>Todas as emoções desempenham um papel importante nas nossas vidas e, na minha opinião, todas podem fazer parte do amor.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIGWPia9c260jBoIG5XnZJL8r1-ZGO_Y2T_vKsjPekV2QbRUHqzKSpprxZNsPP_OIeMQTbMNDMuHx55xBiVRjkqGBL1o-GH_IHCWdqXJGtVLGEGxaOwV9l_xVgaR3UykyWNiY4DM2-ewyhr5p-8QFPbqtqHziDroAOQy7WZTme81k_uuN6qGWmLSMBT6ad/s800/sad%20love.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="599" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIGWPia9c260jBoIG5XnZJL8r1-ZGO_Y2T_vKsjPekV2QbRUHqzKSpprxZNsPP_OIeMQTbMNDMuHx55xBiVRjkqGBL1o-GH_IHCWdqXJGtVLGEGxaOwV9l_xVgaR3UykyWNiY4DM2-ewyhr5p-8QFPbqtqHziDroAOQy7WZTme81k_uuN6qGWmLSMBT6ad/s320/sad%20love.png" width="240" /></a></div><div style="text-align: justify;">Quando decidi intitular o meu novo livro "<b>Amor Triste</b>", foi porque me fascinou a suposição de que o amor sempre tem que ver com a felicidade. Quando perguntamos a um amigo se o relacionamento está indo bem, perguntamos se ele está "feliz com" o parceiro. Se estão "felizes juntos". Tendemos a assumir que estão em busca do "viveram felizes" romântico com essa pessoa. Em contraste, quando pensamos num amor triste, geralmente imaginamos algo devastador. Desde a cultura clássica, com histórias como "Cumbres Borrascosas" e "Romeu e Julieta", até as nossas listas de reprodução favoritas e catárticas para as separações, na nossa cultura, o amor triste é representado como uma situação de fracasso total: atroz, devastador e explosivo. Parece que só conhecemos duas histórias de amor: o conto de fadas e a tragédia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esses dois relatos tão polarizados deixam de lado o imenso espectro de experiências complicadas e cheias de nuances que compõem a nossa vida e os nossos amores na realidade. Por exemplo, quando lutamos com a escala de cinzas de uma depressão de longa duração, não estamos felizes, mas também não estamos melodramaticamente tristes. No entanto, podemos estar apaixonados. Devemos entender o amor como algo que abraça todas as nossas emoções, até as mais monótonas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Uma vez que esquecemos a história do "viveram felizes para sempre" como o único modelo de uma boa vida, abre-se todo um leque de possibilidades sobre como viver uma vida cheia de amor. Novas histórias surgem como possíveis modelos amorosos: o poliamor, por exemplo, onde é aceitável ter mais de um parceiro romântico ao mesmo tempo, com o conhecimento e o consentimento de todos. A ideologia romântica dos contos de fadas diz-nos que esta é uma forma de amar de segunda categoria ou depravada. No entanto, a realidade é que, quando todos os envolvidos se sentem mais confortáveis e completos numa dinâmica de relacionamento não monogâmico, envergonhá-los ou estigmatizá-los por seguir o seu modelo de boa vida está fora de contexto e é injusto.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se deixarmos para trás a ideia de "viveram felizes para sempre" e a conceção romântica do amor, com o que substituímos? Se dermos ouvidos a Frankl e Mill e pensarmos que a felicidade não é um objetivo a aspirar, mas algo que deve ocorrer, então também podemos considerar que a felicidade numa relação não é um ideal ou um objetivo pelo qual lutar, mas sim um possível efeito derivado de um amor que possui outras qualidades.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quais seriam essas qualidades? Na sua obra, Frankl baseia-se nas suas experiências com outros prisioneiros num campo de concentração nazi para tentar compreender o que diferencia uma vida que vale a pena viver de outra que não vale. <b>O que importa, diz ele, não é a felicidade, mas ter um sentido, um propósito</b>. E em tempos mais recentes, aumentaram os dados empíricos que apoiam a afirmação de que a felicidade deriva de encontrar significado na nossa vida, muitas vezes (como também propuseram Frankl e Mill) através da conexão e colaboração social. Suponhamos, portanto, que o objetivo supremo de uma relação amorosa não é a felicidade, mas sim ter um significado. Em que consistiria esse amor carregado de significado?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando os filósofos analisam a ideia de uma boa vida, costumam falar de eudaimonia, uma antiga palavra grega usada por Aristóteles para expressar as suas ideias sobre o "florescimento". Não sou muito adepta das ideias de Aristóteles sobre a eudaimonia (entre outras coisas, ele afirmava que o florescimento consiste em ser racional e virtuoso, e que só as pessoas belas podem alcançá-lo completamente). Em vez disso, prefiro focar-me nas raízes etimológicas ainda mais antigas de eudaimonia. É uma palavra construída a partir do prefixo eu-, que significa bom (como em euforia), e daimon, que significa espírito ou entidade sobrenatural. Portanto, uma vida eudaimónica é uma vida com bom espírito.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não é necessário interpretar literalmente esse daimon ou espírito como uma entidade sobrenatural. Podem ser simplesmente outras pessoas: não é nada de novo que as relações prosperem quando contam com o apoio de amigos e familiares, e se ressintam quando estão sujeitas ao estigma social. Mas os daimon que influenciam as nossas vidas também podem ser mais abstratos: a "atmosfera" de uma reunião, um zeitgeist cultural ou até mesmo grandes conceitos amorfos como o capitalismo ou o patriarcado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que tento fazer no meu trabalho é desenvolver uma teoria do amor eudaimónico, um amor "com bom espírito", que leve em consideração as profundas e dramáticas repercussões da nossa capacidade de nos conectar. A nossa vida amorosa não se desenrola no vazio ou "em privado": mesmo quando nos isolamos na nossa vida convencional ou fechamos a porta do quarto, levamos connosco a nossa história social e a nossa bagagem cultural.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Amor eudaimónico significa amor colaborativo, dentro e fora da relação. É um tipo de amor cujo objetivo não é a felicidade individual das pessoas naquela relação, mas os projetos criativos e as relações sociais que dão sentido à nossa vida, as coisas que fazem com que valha a pena viver, segundo pensadores como Frankl. É o amor que conta com o apoio de amigos, família, comunidade e sociedade (por isso é tão importante deixarmos de estigmatizar todas as formas de amor que se afastam do que consideramos "normal"). O amor eudaimónico não é definido por nenhuma emoção em particular, mas está aberto a toda a gama de experiências emocionais, positivas e negativas. Não precisa ser um amor romântico, embora possa ser: o amor a um amigo ou o amor à família também podem ser amor eudaimónico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E não é necessariamente feliz. Mas talvez seja a nossa melhor oportunidade de sermos felizes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div>Sempre que não o procuremos por esse motivo.<br /><br />---------------------------------------------------------------------------<br /><br />Carrie Jenkins é professora de Filosofia na Universidade de British Columbia, Canadá. O seu livro "Amor Triste. As relações amorosas e a busca de sentido" <br /><br />El País | 16 de Abril | 2023</div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-280376852888138552024-01-02T17:24:00.003+00:002024-01-02T17:29:05.296+00:00Lábios Grossos, Cérebros Pequenos<p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiimTjGclVRYmETusR6rC1i9MqFzstbe1_avLFKHRLPqVaPy_SS9UAwKa5okdQOXX8OosNPPfwhlCnfH7CUpazDZDK3uVPXMIXztVZp_dAuvJJvCY4Cgtg-zToCrjRZi9gDCVOtccrofjKEVOZV1heuQiA0RG3hLP99AwmzIZgCoPUeHBmhbqwjeillky6g/s850/Hyaluron%20Pens%20Are%20TikTok's%20Latest%20Bad%20Idea.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="478" data-original-width="850" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiimTjGclVRYmETusR6rC1i9MqFzstbe1_avLFKHRLPqVaPy_SS9UAwKa5okdQOXX8OosNPPfwhlCnfH7CUpazDZDK3uVPXMIXztVZp_dAuvJJvCY4Cgtg-zToCrjRZi9gDCVOtccrofjKEVOZV1heuQiA0RG3hLP99AwmzIZgCoPUeHBmhbqwjeillky6g/s16000/Hyaluron%20Pens%20Are%20TikTok's%20Latest%20Bad%20Idea.jpg" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b><span style="font-size: x-small;">Getty Images</span></b></td></tr></tbody></table><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Talvez não seja preciso dizer que gosto muito de ler o El País porque, quem por aqui passar, deve-se ter apercebido que, cada vez mais, vou partilhando textos, crónicas, opiniões vindos quer do El País ou do La Vanguardia, dois dos vários jornais que vou lendo quase todos os dias. Traduzo e partilho aqui porque desta forma, se algum dia mais tarde quiser reler eles estão aqui para mim. Caso contrário, provavelmente nunca mais saberei onde os encontrar. E, quem sabe, talvez possa ser útil a alguém. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">E é muitas vezes no El País que fico a par do que se passa com os mais jovens, novas modas ou "tendências" como agora se diz. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Mas neste caso não é uma surpresa. A minha própria colega de 24 anos, de quem eu gosto muito, há não muito tempo disse-me que já tinha pensado em aumentar os lábios. Ao que terá ouvido uma resposta de escárnio e muita crítica da minha parte!</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Mas mais recentemente mostrou-me uma foto de uma amiga, que tem vinte anos, depois de umas injeções de - e deixa-me lá ver como é que se escreve - depois de umas injeções de ácido hialurónico e devo confessar que aquilo não é propriamente bonito de se ver. A beleza custa não é? Ainda que agora cada injeção esteja mais barata, até 500€.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">E isto vem, precisamente, na mesma linha do artigo do El País que eu tinha lido. A média de idades das mulheres que passaram a usar este tipo de procedimento (a palavra tratamento parece-me abusivo) passou dos 35 anos para os 20 anos e há mesmo menores a querer aumentar os lábios. Tudo, ao que parece, fomentado pelas influenciadoras e filtros das redes sociais. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">A par da uniformização de pensamento temos a uniformização física. Todos pensam exatamente o mesmo ditado pela mesma propaganda que paga. Todos falam exatamente da mesma maneira abrasileirada e todos parecem o mesmo. O futuro é <i>top, mano</i>! Tem a mesma pele de golfinho, as mesmas mamas e cus grandes e os lábios grossos preenchidos de imbecilidade. E cérebros muito pequeninos. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUI7On1kBsIzexNWKzDXwd2xq2mecWxJAL6vdYi5C5BWVOIlEB48T6U05MZc0GccYCDpZ9ZbFFEFZng_fBCHRxsIoP9c4tn3ssMiUMO36nwEqbJOAn3vQTOq7HfJr_WfUBnPOs_9qZJEWNuxnHC_BVf3uAvNkLtCEulF2DJ6l30p05jqmp8LOU8msm__sB/s721/cerebros%20pequenos%20labios%20grossos.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="721" data-original-width="613" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUI7On1kBsIzexNWKzDXwd2xq2mecWxJAL6vdYi5C5BWVOIlEB48T6U05MZc0GccYCDpZ9ZbFFEFZng_fBCHRxsIoP9c4tn3ssMiUMO36nwEqbJOAn3vQTOq7HfJr_WfUBnPOs_9qZJEWNuxnHC_BVf3uAvNkLtCEulF2DJ6l30p05jqmp8LOU8msm__sB/w544-h640/cerebros%20pequenos%20labios%20grossos.jpg" width="544" /></a></div><br /><p></p>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-62978455733737558122024-01-02T12:39:00.000+00:002024-01-02T12:39:06.299+00:00Da Série: "O Problema da Habitação em Portugal é a Falta de Casas"!<div style="text-align: justify;">Apesar da população portuguesa ser cada vez menos, a cassete neoliberal continua a repetir, dia após dia, que "o problema da habitação em Portugal é a falta de casas"! </div><div><div style="text-align: justify;">Não, é senso comum, se a população é cada vez menor, deveria haver cada vez mais casas disponíveis!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na cidade do Porto repete-se que "o Centro Comercial STOP está em risco iminente", por isso as quinhentas bandas que ensaiam na maior sala de ensaios da Europa têm que sair. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div style="text-align: justify;">O edifício até poderá precisar de manutenção, mas, a "falta de casas" e o "risco iminente do STOP" é este:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Na Praça D. João I, no Porto, o chamado Edifício Rialto, que conta com gabinetes clínicos, entre outros, vai sofrer uma transformação e uma parte será destinada ao turismo. Segundo o “Jornal de Negócios”, na torre de nove andares, cuja construção data dos anos 40, surgirão 35 apartamentos turísticos.</div></div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4A0mdM_Rr3uCzw8Ke0AYCHvb1RjtvDhyUhyCH6iwUUXQOgIPX0hkq1Usqt-uVT-xQ6-fpivoCljrmJ9jZS_zNLeTWzf-PC_y2zlZCvNnRwig2Jkokodoce6CLw9_-xfB4Tx0kyPrAFFQCQ_CjNx42a2JvTHNPPj8uhHQa0FFPg7V9n2NhvKmKmc-bTfAD/s851/Falta%20de%20casas-stop.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="851" data-original-width="850" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4A0mdM_Rr3uCzw8Ke0AYCHvb1RjtvDhyUhyCH6iwUUXQOgIPX0hkq1Usqt-uVT-xQ6-fpivoCljrmJ9jZS_zNLeTWzf-PC_y2zlZCvNnRwig2Jkokodoce6CLw9_-xfB4Tx0kyPrAFFQCQ_CjNx42a2JvTHNPPj8uhHQa0FFPg7V9n2NhvKmKmc-bTfAD/s16000/Falta%20de%20casas-stop.jpg" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b><span style="font-size: x-small;">Jornal de Notícias 31 de Dezembro 2023</span></b></td></tr></tbody></table><br /><div><br /></div></div>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4324251544001495664.post-63223752261426752242024-01-01T07:55:00.002+00:002024-01-01T07:59:38.766+00:00Conversas Improváveis (78) - Pensar à Empresário<p style="text-align: justify;">Ultimamente e, fruto do mero acaso, de duas pessoas que se encontram para uma venda informal, tenho-me vindo a encontrar com vários empresários. E é curioso também analisar que, a maioria dos meus clientes, por certo é de um nível socio-económico elevado, e não é porque o que quer que eu tenha para vender seja caro, mas sim porque quem tem dinheiro quer fazer a melhor compra possível e compara sempre preços. </p><p style="text-align: justify;">Desta vez tínhamos estado à conversa, por telemóvel, um bom bocado de tempo. Retive aquele pensamento de que até no jardim vivemos de modas: primeiro foram as orquídeas, as estrelícias, depois as plantas aromáticas, as proteas, e agora vivemos a moda dos catos e das suculentas. E se o vizinho tem, eu também quero ter. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6YC3sRB_l9n4CS74B1i0XUqwuiL9QM6mv0ooCO9SSJOaY4gDFxI_TJdq-kO3txyz0ukQ5xPbT0-S0ervBALSEDGkjikd7_JlhO80CDi7Fb1hJP-9w6DeEinL-lhdraZ6J1cxoHtqsgXyfcy3ufZjF9O10lc-pTLtmJQ9GtO5YjpbP44xukFnlX_K12xQm/s564/Stalet_blog.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="374" data-original-width="564" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6YC3sRB_l9n4CS74B1i0XUqwuiL9QM6mv0ooCO9SSJOaY4gDFxI_TJdq-kO3txyz0ukQ5xPbT0-S0ervBALSEDGkjikd7_JlhO80CDi7Fb1hJP-9w6DeEinL-lhdraZ6J1cxoHtqsgXyfcy3ufZjF9O10lc-pTLtmJQ9GtO5YjpbP44xukFnlX_K12xQm/s16000/Stalet_blog.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;">Ele tinha pedido a um funcionário para vir com ele buscar um cato bastante grande que eu tinha à venda porque o carro comercial que ele tinha era maior para acondicionar a planta. Até que, de repente, comenta-se sobre o meu carro, um chaço de 1995. O homem que, logicamente tem um belo Mercedes, curiosamente tem também um Toyota Starlet igual ao meu, mas de cinco lugares, ao passo que o meu é só de dois, o que permite que, apesar do carro ser pequeno, tenha uma mala muito generosa. </p><p style="text-align: justify;">Lá me perguntou quantos quilómetros tem o meu carro, e, surpreendentemente, disse-me que gosta muito mais do Starlet que tem do que do Mercedes. Porque é pequeno e estaciona em qualquer lugar, porque é muito económico e porque não avaria. É um Toyota! </p><p style="text-align: justify;">Bom, isto leva-me a concluir que já ando a pensar à empresário!</p><p style="text-align: justify;"><a href="https://multi-resistente.blogspot.com/2023/12/conversas-improvaveis-77-o-filho-do.html" target="_blank"><b># Conversas Improváveis - O Filho do Empresário</b></a><br /></p>Konigvshttp://www.blogger.com/profile/11988401592036913535noreply@blogger.com0