Mostrar mensagens com a etiqueta sociedade. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta sociedade. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Onde Estão os Patriotas que Queiram Trabalhar?

A minha amiga está a cuidar da tia que regressou a casa depois de umas semanas de internamento e está bastante doente. Ela precisa de alguém que ajude a tia com as máquinas e que dê um jeito na limpeza da casa das 8 às 5h da tarde. Entrevistou umas trinta pessoas, mas só apareceram duas portuguesas, que queriam 1500€ para ser damas de companhia, para limpar torceram o nariz e teriam que ser precisos uns dois mil euros! 

E depois disse-me que gostaria de saber junto do senhor André Ventura onde é que arranja portugueses que queiram trabalhar, porque só lhe apareceram estrangeiras e acabou, claro, por contratar uma brasileira.

Dias depois perguntei-lhe: 
Então, que tal a senhora que contrataste?
"Olha, acho que vou ter que a despedir". 
- Então, o que é que se passou? 
"Trabalha depressa demais, acho que amanhã já não tenho nada que lhe dar a fazer"!



sábado, 14 de junho de 2025

A Pressa Suicida dos Jovens



Primeiro apercebi-me que começaram a ouvir audios e ver vídeos e filmes em velocidade aumentada e ninguém achou mal... 

De repente percebeu-se que as crianças começaram a falar sem os verbos e muitos especialistas acham que é só uma mutação da língua quando, na verdade, os jovens estão tão apressados que já nem sequer pronunciam os verbos.

Mas o que eu ainda não percebi é qual é a urgência dos jovens. Bom, ir para o comboio não deve ser certamente, porque andam todos de UBER, aquela empresa que corrompeu grande parte dos líderes mundiais, mas que, ironicamente, ninguém a "cancelou", como dizem os jovens. 

Ao mesmo tempo, no mundo inteiro, todos os adolescentes entraram em modo de ansiedade. 

Ao mesmo tempo todos passaram a ver filmes e ouvir audios com a velocidade aumentada (e só o fazem porque houve um idiota ou génio qualquer que achou boa ideia disponibilizar essa ferramenta. 

Ao mesmo tempo, os jovens de todo o mundo começaram a aderir à extrema-direita... 

E agora alguém que me responda, porquê? Porque é que ao mesmo tempo, qual vírus, por todo o mundo, os jovens começaram a aderir à extrema-direita?

Ah, já sei, a culpa foi da Esquerda. Foi a Esquerda que deixou os jovens ansiosas e que criou as redes sociais, e que aumentou a velocidade dos filmes, e que propalou mentiras que os jovens, que não sabem história, acreditaram. 

quinta-feira, 8 de maio de 2025

A Minha Frase do Dia (3) - Os Estranhos

 


A minha geração, que cresceu na rua a jogar à bola e à malha, e a última ainda a fazer um sem número de coisas na rua, cresceu também a ouvir os pais a dizer-lhes para para nunca falarem com estranhos. 

Hoje, os pais, que são a minha geração, tiram fotografias dos filhos de três e quatro anos e metem em todos os cantos da internet para todos os estranhos do mundo verem, colocando-os eles mesmos em perigo quando deveria ser eles os primeiros a querer protegê-los. 

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

O Chefe, o Canário e a Roseira



Há não muito tempo, usavam-se canários nas minas para detectar gases no ar. Enquanto o canário cantasse alegremente estava tudo bem. Quando o pobre bicho aparecesse morto era sinal para os mineiros que se tinham de pôr a andar se não quisessem ter o mesmo destino do pobre bicho. 

Nas vinhas acontece algo semelhante. Plantam-se roseiras que não são para fins ornamentais e enfeitar as vinhas mas sim para antecipar doenças Antes das pragas infetarem as vinhas, as bichezas atacam primeiro as roseiras que são mais sensíveis e apetitosas. Então, quando os agricultores virem que as roseiras começam a ser atacadas por pragas sabem que é tempo de proteger as videiras.

Também eu tenho um sistema de alerta semelhante, não da má qualidade do ar ou das pragas no jardim, mas a deteção dos vírus em circulação. Uso o chefe para esse fim, como despiste do início da época de gripes e constipações. Antes de qualquer outra pessoa, ele é sempre o primeiro a gripar. Sinal por demais evidente que devo-me cuidar, porque a seguir, de um em um, as pessoas começarão a adoecer na empresa.

sábado, 31 de agosto de 2024

Conversas Improváveis 84 - Carros Voadores e Ananases num Hipermercado

 


O cinema prometeu carros voadores, disseram-nos quando eu era pequeno que as máquinas iriam trabalhar para nós, que, com a chegada dos computadores (e eu ainda sou do tempo das máquinas de escrever) o papel iria deixar de se usar. 

E, afinal, o papel só se deixou de usar nas cartas de amor porque as únicas cartas que ainda recebemos são com contas para pagar. A socialização passou da rua para os ecrãs dos telemóveis. No entanto, apesar das redes sociais prometerem conectar as pessoas, elas nunca como agora estiveram tão sozinhas e até os sites de encontros estão em declínio. E acabamos todos sós, a marcar encontros com ananases numa campanha de marketing de um qualquer hipermercado perto de si. 

sábado, 27 de abril de 2024

Quantas Mais Opções de Escolha Temos, Mais Infelizes Somos

 "Antes era um viajante, daqueles que pegam na mochila e dedicam-se a explorar o mundo. Depois tornou-se conferencista e participante em seminários e simpósios. “Até que um dia deixei de ver sentido em ter de atravessar continentes para partilhar ideias com os meus colegas”, reflete via Zoom Svend Brinkmann, psicólogo, filósofo e professor na Universidade de Aalborg, que se tornou num guru do JOMO, a alegria de perder coisas (por oposição ao FOMO, o medo de perder coisas). Precisamente "A alegria de perder coisas (Koan)", um exercício intelectual que fala da arte do autocontrolo numa época sem limites, é o título do novo livro do escritor dinamarquês, que se inspira na Grécia Antiga para abordar os problemas da vida moderna.


Devemos repensar a forma como vivemos?

Sim. Porque no século XX desenvolveu-se a sociedade de consumo e ficámos com a ideia de que uma boa vida consiste em consumir, experimentar e viajar o máximo possível, uma sociedade de excessos. O sociólogo Zygmunt Baugman costumava chamá-la a sociedade do cartão de crédito, a do excesso, da abundância, de forma que podes consumir e comprar coisas mesmo antes de poderes pagar por elas.

E o que propõe?

Creio que é óbvio que precisamos de mudar, mas isso é extremamente difícil. Por isso, penso que é necessário explorar uma felicidade mais profunda numa vida em que deixas de perseguir mais e mais o tempo todo.

E isso é possível a nível individual? Parece difícil...

Muito difícil. E essa é a fraqueza da minha abordagem, já que formulo isto um pouco como um livro de autoajuda e posso dar essa impressão de que cada indivíduo tem de mudar. E na realidade, parece-me um problema coletivo, que exige uma ação política. Mas, mesmo assim, precisamos de articular uma visão positiva sobre uma boa vida com menos, para que faça parte da grande conversa que uma sociedade democrática deve abordar sobre como devemos viver juntos. Claro que, como indivíduo, sempre podes fazer algo.

E enquanto promovemos essa conversa, o que sugere?

Posso falar sobre mim, sobre qual foi o meu ponto de viragem, quando comecei a estudar e a ler sobre estudos que me diziam que se ganhasse mais dinheiro não seria mais feliz porque já era suficientemente rico. A minha vida mudou.

E vi que, na realidade, ter mais opções não nos torna mais felizes. Apenas provocará que tenhamos mais dúvidas sobre o que escolher. O psicólogo Barry Schwartz já dizia que, pelo menos nos países democráticos ricos do mundo, quando ampliamos as opções materiais, as pessoas tornam-se menos felizes. Ensinam-nos que somos felizes se temos algo que é exclusivamente nosso, mas acontece que isso não é verdade. É muito melhor escolher entre três coisas boas do que entre trinta.

O que é uma boa vida?

Não consigo encontrar uma definição melhor do que a eudaimonia de Aristóteles, uma atividade da alma de acordo com as virtudes, e isso significa uma vida ativa, de fazer, de explorar, de adquirir conhecimento, de amar, de contribuir para as comunidades das quais fazes parte. Portanto, não podes ser feliz se fores uma má pessoa. Temos de agir de forma ética, com moderação, coragem e sentido de justiça.

É muito crítico em relação ao movimento de simplificar a vida.

O que acontece é que essa filosofia acabou por se tornar uma tendência e um grande negócio. E acho que isso é sintomático do que acontece na sociedade atual, que mesmo tentando ir contra os problemas acabas por te tornar parte dessa sociedade que criticas. Não tenho nada contra esse movimento em particular. Apenas acho que é um sintoma do que acontece e do que pode acontecer com o meu próprio livro, inclusive. Se a alegria de perder coisas se tornar numa nova tendência, terei perdido, de certa forma.

Espera que o JOMO se torne numa tendência?

Não sei. De repente, existe a possibilidade de que exploda e se torne algo grande, uma grande tendência. Não sei, talvez depois da sua entrevista comigo, as pessoas me convidem para Espanha para falar sobre a alegria de perder algo e me tornem milionário ensinando a viver uma vida de perder algo. Esse é a paradoxo.

Como explicaria a alegria de perder coisas?

Seria uma vida centrada no que é realmente importante, e só podes fazer isso se aprenderes a habilidade de perder coisas, de dizer não, de não sobrecarregar o teu calendário com projetos e coisas para fazer. Se viveres assim, talvez não desesperes quando vires que outras pessoas fazem mais do que tu no trabalho ou em qualquer área. O medo de perder coisas é essa ideia de que me comparo com os outros e vejo que fazem mais do que eu, que experimentam mais do que eu, que têm mais sucesso do que eu. E isso leva-me à frustração. Porque então penso que tenho de mudar de trabalho, de parceiro, de cidade, etc. E a alegria de perder algo é saber que talvez o que precisas para viver uma boa vida já está aqui. É muito provável que já tenhas o necessário se te concentrares no que já é importante.

O smartphone é o melhor instrumento para o FOMO.

Sim, sim. É uma tecnologia que nos convida a temer que estamos a perder algo. Ensina-nos a nunca estarmos satisfeitos com o que temos porque nos bombardeia com imagens de outras pessoas que são mais bonitas, mais ricas, que fazem mais coisas do que nós. É uma máquina de comparação.

Acha que já está a viver uma vida de JOMO?

Dá-se a paradoxal situação de que, graças aos livros e às coisas que faço, agora sou convidado para dar entrevistas e palestras, para escrever artigos, e assim torna-se muito difícil para mim desfrutar da alegria de perder coisas. Escrevi sobre isso e criei um problema para mim mesmo. Por isso não posso dizer que a minha vida tenha mudado para uma forma de vida mais calma e comprometida. Portanto, ainda tenho de ler o meu próprio livro para me lembrar do que é verdadeiramente importante.

Uma vida mais lenta?

Poderia dizer que sim. Muitos sociólogos têm analisado o que chamam de grande aceleração social dos nossos tempos: consumimos comida rápida, fazemos sestas energéticas, temos encontros rápidos... Realmente é difícil encontrar um aspeto da vida que não tenha acelerado o seu ritmo. Tudo está mais rápido. E temos a tentação de perguntar por que nos contentar com menos se podemos experimentar mais. Como posso saber se tenho o que me convém se ainda não experimentei tudo? Bem, nunca podes experimentar tudo. Por isso, tens de te comprometer com algo. Como sei que é o certo? Não sei, mas assim é a vida.

Defende no final do livro encontrar a beleza no simples. 

Creio que temos de desenvolver uma ecologia da ação. Sou muito cético em relação à possibilidade de resistir às tentações. A única solução passa por construir uma ecologia da tua vida na qual não sejas tentado. Por isso, em vez de te ensinares a resistir à tentação de verificar as tuas redes sociais, tenta não estar nas redes sociais. Se não conseguires resistir à tentação de olhar para o telemóvel, tira-o. Precisamos de lugares públicos, parques, bibliotecas, lugares para nos encontrarmos, para estarmos juntos, para estudarmos, para trabalharmos, para pensarmos...

“Tener muchas opciones nos hace infelices” | David Dusster | La Vanguardia (26 de Abril 2024)

domingo, 10 de setembro de 2023

Não São Elas as Faladoras, São Eles

"As mulheres não falam mais que os homens, isso é um mito, e eles interrompem muito mais, segundo apontam diferentes estudos recolhidos pelo jornalista Dan Lyons em seu novo livro"


"Fomos ensinados a pensar que quem diz a última palavra é quem ganha, quando na verdade são aqueles que sabem calar-se que realmente têm o poder".

A propósito deste livro de Dan Lyons, no original "The Power of Keeping Your Mouth Shut in an Endlessly Noisy World" o El País publicou hoje um artigo interessante que deixo aqui alguns excertos:

"Os homens são especialmente odiosos no trabalho, mesmo com as mulheres mais proeminentes e poderosas do mundo. Uma vez vi um homem a assediar a minha mulher durante o período de perguntas e respostas depois de ela ter feito uma apresentação. Ele interrompia-a, não a deixava falar e praticamente gritava com ela. Depois, quando lhe contei como estava indignado, ela disse-me: "Mas não sabias? Isso acontece com as mulheres o tempo todo".

Geralmente a maioria dos homens não é tão abertamente hostil quanto o sujeito que assediou a minha mulher. Eles interrompem as mulheres constantemente e muitas vezes nem se percebem que o fazem. De acordo com um estudo, no trabalho as mulheres sofrem mansplaining até seis vezes por semana, mais de 300 vezes por ano. Quase dois terços das mulheres acreditam que os homens nem percebem que o fazem. E duas em cada cinco mulheres afirmam que os homens lhes disseram que são elas, as mulheres, que não os deixam falar.

Da próxima vez que estiveres num grupo de homens e mulheres, observe-os. Conte as interrupções. Observe quem interrompe e quem é interrompido.

O estereótipo é observado em todas as culturas. "A língua das mulheres é como a cauda de um cordeiro: nunca fica parada", diz um velho ditado inglês. No Japão, eles dizem:"Onde há mulheres e gansos, há barulho". E na China:"a língua é a espada da mulher e nunca a deixa oxidar". Nas obras de Shakespeare abundam as representações de mulheres como respondonas e fofoqueiras. A expressão "contos de velhas" é claramente depreciativa.

A palavra gossip ("fofoca") vem de godsibb, que significava "padrinho", mas que no século XVI evoluiu para significar "fofocas e rumores caluniosos espalhados por mulheres". Mais atrás, descobrimos que São Paulo descreve as viúvas como "preguiçosas que andam de casa em casa, e não apenas preguiçosas, mas também fofoqueiras e intrometidas, que dizem o que não devem".



Na Idade Média, as mulheres eram condenadas por "pecados da língua" e eram punidas desfilando-as pela Praça da cidade, mergulhando-as em um rio ou forçando-as a usar um freio que as impedia de falar: uma estrutura de ferro que era colocada na cabeça com uma peça que empurrava a língua para baixo. No Reino Unido, este freio de punição e humilhação continuou a ser usado até ao século XX.

Alguns homens ainda se apegam à crença de que as mulheres falam mais do que eles.

Em 2014, Kieran Snyder, executiva de uma empresa de tecnologia, realizou uma experiência. Durante 15 horas de reuniões, registrou cada interrupção. Snyder, que tem doutoramento em Linguística, contou 314 interrupções, e dois terços delas eram de homens, o que significa que eles interromperam duas vezes mais que elas. E, mais interessante, quando os homens interrompiam, 70% das vezes era uma mulher. O desequilíbrio era ainda mais flagrante porque as mulheres representavam apenas 40% do grupo. Além disso, quando as mulheres interrompiam, era muito mais provável (89% das vezes) que interrompessem outras mulheres do que homens. Conclusão de Snyder:" sempre que as mulheres tomam a palavra são interrompidas". Nenhuma das mulheres que eu conhecia ficou surpreendida. As mulheres do mundo da tecnologia responderam maioritariamente: 'que novidade"!

domingo, 20 de agosto de 2023

Intimidade Artificial - A Calamidade do Século

Nunca estamos 100% presentes com os nossos amigos, amantes ou familiares.


Este artigo foi publicado no jornal Folha de São de Paulo a 20 de Março de 2023.

"Esther Perel é psicoterapeuta. Nasceu na Bélgica, filha de sobreviventes do holocausto. Hoje é professora da universidade de Nova York e especialista em temas como solidão e relacionamentos contemporâneos, incluindo relações amorosas. 

Quando nos relacionamos com nossos amigos, amantes ou familiares nunca estamos 100% presentes. Nossa atenção está sempre dividida entre as pessoas e o nosso telemóvel, redes sociais, notificações e assim por diante. Neste contexto não é possível ter intimidade real.


As redes sociais e o telemóvel funcionam como anestesia seletiva para as relações humanas. Queremos as partes boas do convívio, que são do nosso interesse, mas evitamos ao máximo atritos, conversas desconfortáveis, o tédio etc. Sempre que algo desconfortável começa a materializar-se, partimos para o mundo confortável e controlado do telemóvel, que nos distrai do que é verdadeiramente humano.


Esta é a intimidade artificial. Estamos todos a viver coletivamente a experiência do rosto parado que o psicólogo Edward Tronick realizou nos anos 1970. Nele, uma mãe primeiro é gravada relacionando-se normalmente com seu bebé de 6 meses. Ela sorri, o bebé sorri de volta. Ela fala qualquer coisa e o bebé dá uma gargalhada. No segundo momento a mãe paralisa seu rosto. Olha fixamente para o bebé, sem expressar reação. O bebê então gargalha. A mãe permanece impassível. O bebé começa então a gritar. Nenhuma reação da mãe. O bebé então chora e grita desesperadamente, até que a mãe retoma suas reações normais e acolhe a criança.


No mundo atual somos todos simultaneamente a mãe e bebé. Como somos incapazes de dar atenção integral ao outro, estamos sempre em dívida emocional com os que nos rodeiam. Ao mesmo tempo, somos o bebé, sedentos por atenção. Nunca houve uma carência tão grande por escuta e acolhimento como a que viver coletivamente no mundo de hoje.


Esther nos conclama a nos rebelarmos contra a intimidade artificial. A exigir e a dar atenção total para aqueles com quem nos relacionamos. A darmos o difícil passo de aceitarmos o conflito e o atrito, parando assim de nos anestesiarmos parcialmente o tempo todo. Sem isso seremos obrigados a conviver com relações que julgamos “defeituosas” o tempo todo.


Uma investigação realizada nos EUA em 2019 apontou que 22% dos “millenials” têm hoje zero amigos; 25% dizem não ter conhecidos. Muitos têm um número de seguidores gigantesco, mas amigos mesmo, nenhum. Nas gerações anteriores só 9% afirmavam não ter amigos. E não é por acaso que ansiedade e depressão são um dos assuntos que hoje mais circulam nas redes sociais entre adolescentes e crianças. 


Na era da intimidade artificial, não são só as amizades que estão em risco, mas também as relações amorosas e familiares. Apertem os cintos para a sociedade da solidão, com consequências nefastas para todos os campos da vida humana.




sábado, 10 de setembro de 2022

Geração Mais formada de Sempre é a Primeira Menos Inteligente Que os Pais


Consulta de infeciologia. O médico, que é um bacano e muito boa onda vem à porta chamar, vestido à civil, sem a bata vestida. Pesa-me, pergunta se está tudo bem e vamos conversando. Conversa vai e conversa vem e acabamos a falar de leitura. 

Manifesta preocupação por causa das filhas, que, apesar de lerem, principalmente a mais velha de dez anos, estão constantemente cercadas de distrações. E talvez por isso, continuou, esta é a primeira geração que será menos inteligente que a dos seus pais. 



domingo, 31 de janeiro de 2021

O Flagelo de que Ninguém Fala


 Há um terrível flagelo a acontecer um pouco por todo o lado e que não está a ter a devida atenção. Muito pior que abandonar os animais de estimação, e ainda pior que o abandono dos velhos, é o abandono das piscinas desmontáveis e insufláveis.

Por altura dos reis, o pessoal que liga a essas coisas, começa a desmontar a árvore de Natal. Em boa verdade, eu nem sei porquê esse trabalho todo, se, afinal, se diz que o Natal é todos os dias e ao menos mantendo a árvore montada, cheia de luzinhas e tudo, talvez lembrasse as pessoas que podem ser hipócritas e fingir que são amigas dos outros o resto do ano. Mas, já no que se refere às piscinas não é bem assim, mas já lá vamos.

Antes de mais a compra das ditas piscinas. Se nós temos o privilégio de viver junto ao rio, com praias fluviais, até com piscinas municiais aqui na freguesia, e com o mar a vinte minutos de carro, a pergunta que faço é: há realmente necessidade de comprar um atranquilho do imenso tamanho que é uma piscina de superfície? 

Ah, mas tu não gostavas de ter uma bela casa com piscina?

Eu estava-me a referir ao comum dos mortais portugueses, que é a maioria, e que tem salários baixos, não me estava a referir às pessoas carenciadas com casas de um milhão de euros que se mostraram muito indignadas quando tiveram que pagar um imposto por elas. Porque com certeza que se eu tivesse o salário do Mexia que parece que ainda trabalha na Eletricidade da China, pois certamente que, por exemplo, não tinha que fazer as contas ao balúrdio que iria gastar só para encher a dita piscina!

Porque é o que me parece. As pessoas compram por impulso e não fazem bem as contas ao gasto. Quer-se uma piscina, e então compra-se e está feito! Depois de instalada é que se apercebem que têm que se encher com água, porque só com ar não dá muito jeito. É depois, é pá, mas aqui em Gondomar a água é cara comó caralho! Olha, não tinha pensado nisso! Deixa lá, enchemos só metade e já fica muito bem assim! 

Eu observo os vizinhos. Compram as ditas piscinas e, se durante o verão passado a usaram cinco vezes foi muito. O miúdo, coitado, para lá ia chafurdar mas depois saía todo embrulhado na toalha com frio. Lembro-me muito bem do calor do verão passado, porque saiu-me da carteira. Gastei 70€ para carregar o ar condicionado, e quantas vezes é que tive mesmo que o usar porque estava um calor estúpido, que não se aguentava mesmo com as janelas do carro abertas? Três ou quatro vezes, se tanto!

Gasta-se dinheiro num imenso atranquilho que ali fica a estorvar. Tem-se o grande gasto a enchê-la com água da torneira e depois? Pois bem, era aqui que queria chegar. Depois de usada meia dúzia de vezes, pois ali fica, abandonada, a ganhar algas e porcaria, porque depois dá muito trabalho desmontar e as pessoas cansam-se só de pensar que no trabalho que isso vai dar! Até o senhor nazi, sempre muito simpático comigo, e que, por estes dias, no último telefonema até me disse que sou uma pessoa culta, com quem se pode conversar, até ele já me quis oferecer a sua piscina insuflável, que tinha no terraço do último piso onde vive no seu prédio! (Sempre que se quer desfazer de alguma coisa lembra-se de mim!)

Eu deixo aqui um sentido apelo. Se querem mesmo comprar uma piscina tratem-na bem. Não as abandonem como a todas as bugigangas que compram Tv Shop e depois as deixam encostadas. As piscinas também têm sentimentos! E depois ainda por cima são de plástico e vocês sabem bem do grave problema que temos com o plástico, não sabem? Então pronto.

sábado, 12 de setembro de 2020

A Ida à Tropa na Sociedade Rural

"O espaço mítico da vida militar na vida dos jovens camponeses e suas famílias é construído através das formas de interconhecimento que caracterizam as sociedades de cultura oral, pelo que não surpreende que o cancioneiro popular português esteja recheado de motivos militares. E esse espaço articula-se e aprofunda-se nas cartas que se trocam com a família, com os amigos e com as madrinhas de guerra. Como diz Modesto Navarro, "às histórias ancestrais" do soldado que regressava da guerra e do "Milhões", que povoaram o nosso imaginário de habitantes do interior, juntavam-se, ano após ano, as pequenas e grandes histórias dos jovens que ficavam apurados e iam para Chaves, Vila Real, Lamego, Porto, Santarém ou Lisboa, cumprir a vida militar".


A ida à tropa sempre foi um fator de perturbação na vida do jovem e da sua família. Na sociedade rural, a ida à tropa interferia negativamente com o ciclo de produção e de reprodução da economia camponesa na medida em que lhe retirava dois preciosos braços de trabalho. Esta privação não era, contudo, apenas económica; era também afetiva. Dado o carácter multiplexo (de múltiplo vínculo) das relações sociais no campo, a saída de um dos membros da comunidade significava a perda de um agente económico, a privação do exercício do controlo paterno e materno, a perda de um companheiro nos momentos de ócio, a privação do arrimo e do conforto nos momentos mais duros da luta pela sobrevivência, o abandono ou pelo menos a adiamento de um projeto de casamento. Não admira, pois, que a sociedade rural chorasse a saída dos seus filhos como eloquentemente mostra a nosso cancioneiro popular:

Adeus, adeus ó Coimbra
Toda alumiada a gás;
Adeus quartel da Sofia
Onde eu tenho o meu rapaz.

(Beira)

Quando eu assentei praça
Peguei nas armas reais;
Minha mãe chorava muito,
Eu inda chorava muito mais.

(Famalicão)

Adeus ó Vila de Cuba
Cercada de cachos de uvas;
Vão os moços para a tropa
Ficam as moças viúvas

(Cuba)

A trança do meu cabelo
Hei-de mandá-la vender,
Pra livrar o meu amor,
Soldado não há-de ser.

(Douro)

Ó comboio da hora e meia
Não te posso ver passar!
Levaste o meu amor
Para a vifa militar

(Minho)

Mas a ida à tropa era também uma libertação e uma promoção. Tinha antes de mais o atrativo do desconhecido sedutor, de um mundo maior, urbano, anónimo, diferente, onde as lealdades e as autoridades rígidas do mundo rural pareciam ridículas e onde os compassos minunciosos do quotidiano camponês se esfumava sem pena. Como diz Moisés Espírito Santo, num estudo sobre sobre uma comunidade rural do Norte do Tejo, "o jovem só conquista uma certa independência com o serviço militar, que em Portugal, e para utilizar a linguagem dos instrutores das casernas, tem a função de "subtrair os jovens às saias das mães", torná-los adultos, desligá-los do seio materno, no sentido libidinal da expressão".

Até à implantação da República, o serviço militar era cumprido fundamentalmente pelos filhos das classes populares que não tinham padrinhos ou dinheiro para livrar ou para remir a dinheiro o tempo de serviço nas fileiras. Esta discriminação contribuiu para que se implantasse no imaginário social do povo a imagem do serviço militar como mais uma expressão da injustiça social, como um castigo que, aliás, se desdobrava noutros castigos quotidianos, quer no domínio da alimentação e do alojamento, quer no domínio da disciplina (os castigos corporais, de resto banidos - na lei que não na prática - em 1856/57). Em 1903, num artigo significativamente intitulado "A aversão ao serviço militar" e publicado na Revista Militar, Mello e Athaíde referia, entre os motivos que no período anterior criavam a repugnância pelo serviço militar: "Uma das primeiras cousas era a duração do tempo de serviço que podia ser muito longo, atingir todo o período mais belo da vida de um homem; era um adeus eterno aos sonhos da mocidade, que todos os têm, os próprios rústicos. E depois, quem pagava esse serviço eram só os miseráveis; o tributo de sangue foi por muito tempo apanágio do pobre".

A dureza da vida militar, que muitos pais abençoavam como meio de domar a rebeldia dos filhos - os quais, como ainda se diz no Alto Minho, "hão-de ir à tropa e quebrar os narizes" - continuou por muitos anos a povoar e a assombrar o imaginário popular...
   
O Estado e a Sociedade Em Portugal 1974-1988 / Boaventura Sousa Santos (1990)

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Cristianismo Cultural

Hoje fui vítima de Cristianismo Cultural. Não é para todos. Quando passava de bicicleta por um pequeno grupo de miúdos, um deles (claro que o ser humano desde cedo tem comportamentos em matilha que sozinho nunca teria) e diz bem alto: "Cristo desceu à Terra". 

Bom, acho que vou já criar uma petição para que a Igreja Católica pinte o seu Cristo de acordo com a sua etnia, da região onde terá nascido e não todo higienizado, de pele clara, cabelos compridos claros e olhos claros.

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Escravos na Roda Gigante

No domingo fui dar uma volta sozinho. Em pleno Inverno o termómetro da carroça marcava 24 graus, motivo para eu sair de calções cinzentos, camisola de manga curta preta e pulseira celta no pulso.

Como já andava há algum tempo para querer passar no Parque de São Roque para ver como ficou o restauro do Palacete Ramos Pinto decidi-me a passar por lá. Visto e fotografado o palacete repintado de amarelo e revisto o parque, resolvi pegar na bicicleta e fazer os passadiços de Rio Tinto que abriram há uns meses e que também tinha alguma curiosidade de ver como ficou a obra.



Enquanto pedalava devagar ia olhando para toda aquela gente. Uns a caminhar sozinhos, outros acompanhados; uns a passear o cão, outros de bicicleta como eu, outros a passear os filhos pequenos... Cada uma daquelas pessoas no seu momento de lazer.

E pensei para com os meus cabelos brancos:

"Aqui estão os escravos humanos, quais ratos de estimação do capitalismo, na sua gaiola dourada, aqui, no seu momento de prazer e aparente liberdade, correndo na roda gigante sem parar e sem chegar a lado nenhum, tentando aproveitar estas míseras duas horas de sol para amanhã voltarem para a prisão do trabalho".

sábado, 14 de dezembro de 2019

Pintainhos Num Caixote Com Um Candeeiro

Cada vez menos me apetece sair da cama de manhã, ainda que nunca tenha precisado de despertador. Se antes da mudança da hora de Outono é a luz que penetra por entre os orifícios do estore que me desperta, agora é o desconfortável entumescimento pressionado contra o colchão que me acorda para aliviar a bexiga. Mas o que apetece é ficar no quentinho da cama e cagar para esta vida de escravidão. Tem sido com cada vez maior sacrifício que lá atiro os cobertores para trás e encaminho-me para o quarto-de-banho para me meter debaixo do chuveiro. É de novo a muito custo que lá fecho a torneira e saio da banheira com os longos cabelos ainda pingar nos pés, e me enrosco na toalha para regressar ao quarto, para aplicar a merda da espuma gélida na psoríase e vestir-me para ir para o pequeno-almoço. E é quando as necessidades básicas estão saciadas que apetece, de novo, voltar para a cama e saciar a necessidade que ainda não está totalmente saciada: o sono. 


É ainda de noite e com as luzes da rua acesas que lá tenho ir à cavalariça, carregar no botão da ignição e acordar o cavalo preto para me levar até à empresa que dista vinte e cinco quilómetros de casa. À hora que nesta altura do ano poderia estar a acordar é a hora a que tenho que começar a trabalhar. Entretanto nove horas depois, à hora que saio da empresa é de novo de noite. Um dia da minha vida, um dia atrás do outro, desperdiçado, fechado todo o dia num caixote de cimento, sem janelas nem luz natural. Dias e dias perdidos sem sequer ver sequer a luz do dia.

E de repente lembro-me de quando era criança e via os pintainhos em caixotes de cartão com a luz de um candeeiro por cima, para os aquecer. Estamos no século XXI e a vida dos seres humanos é igual às dos pintainhos. Dias passados dentro de grandes caixotes, não de cartão mas de cimento e iluminados por luz artificial, cumprindo uma função estúpida e desperdiçando as suas vidas enclausurados. 

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Pobres São Aqueles Que Precisam de Muito


"Quando tu compras algo, não te enganes, estás a comprar com tempo da tua vida que gastaste para ganhar esse dinheiro. No fundo o que estás a gastar é tempo de vida! Quanto te proponho a sobriedade como maneira de viver, mostrei-te a sobriedade para que tenhas mais tempo. A maior quantidade de tempo possível. Para viver a vida de acordo com as coisas que te motivam. Que não necessariamente são do trabalho (...) "


"Aquele que melhor goza da riqueza é o que menos necessita da riqueza" (Cartas a Lucílio - Séneca)


domingo, 25 de fevereiro de 2018

Retirar o Time de Campo


"Então, e tens falado com a.... ? " 

Não, não tenho. 

Os brasileiros que gostam muito de futebol, se calhar mais até do que nós portugueses, têm várias expressões futebolísticas que se adequam a várias situações da vida e uma delas é precisamente esta: 

Retirar o time de campo. 

O exército tem de saber quando tem de atacar em força, subjugar e aniquilar completamente o inimigo, tal como também tem de saber que, por vezes, o mais sensato é bater em retirada antes que seja aniquilado. 

E se há momentos em que é preciso saber quando temos de investir em força sobre o adversário, fazer marcação cerrada, atacar, ir com tudo para cima, por outro lado também temos de perceber que há momentos em que por mais que desatemos a correr, nunca que vamos conseguir apanhar a bola antes desta ultrapassar a linha. Só estaremos a ter um enorme gasto de energia inútil. Iremo-nos cansar, ficar ofegantes e tudo para nada. Se tivéssemos aceitado que nunca que lá chegaríamos a tempo, teríamos desistido a tempo de ir ocupar tranquilamente a nossa posição dentro de campo, que ficou desguarnecida com esta imprevidência. 

Sim, há pessoas muito persistentes, e sem dúvida que muitas vezes conseguem os seus intentos. Estou ciente disso. Mas outras pessoas há, como eu, que não gostam de malhar centeio verde. Se tenho interesse em determinada pessoa acho que o demonstro claramente. Acho que ainda me consigo expressar, ainda que, na maioria das vezes sublimiarmente. Também não temos de parecer desesperados, muito menos penso que seja preciso fazer desenhos. 

E subliminarmente transmito a mensagem. "Pareceste-me interessante. Gostei de ti. Se quiseres podemos ser amigos." Mas depois é preciso perceber as mensagens que vêm do outro lado. O interesse que é demonstrado por nós. E não podemos deixar que o nosso interesse nos tolde a visão e querermos à força toda acreditar que, se insistirmos mais e mais, os outros vão-nos querer nas suas vidas. É assim que se formam os perseguidores, com essa excessiva necessidade de atenção e baixa auto-estima. Querem à força toda que os outros gostem deles: "Anda lá gosta de mim. Eu sou a tua vida. Está escrito nas estrelas. Ninguém te vai fazer feliz como eu. Se não fores meu não serás de mais ninguém". Não! Não temos que nos impingir aos outros. Não podemos obrigar os outros a gostar de nós, a quererem ser nossos amigos. Nós só nos podemos disponibilizar, nada mais. O resto, o restante esforço de aproximação, tem de ser feito pela outra parte. 

Acho que sim, que nos devemos disponibilizar, mostrar abertura para - "abre-te ao novo" - mas não nos podemos querer impingir, sentar ao lado daquela pessoa, e achar que ela irá querer seguir viagem connosco. Segue se quiser, se tiver interesse. Tal como nós, tantas vezes, não seguimos viagem com tantas outras pessoas que se calhar queriam que ficássemos ao lado delas. 

E há tempo de persistir e de mostrar interesse; tempo de marcar o território e de ir à luta. Mas também há tempo de aceitar que o melhor, como dizem os nossos irmãos brasileiros, é tirar nosso time de campo.


domingo, 14 de janeiro de 2018

Declaração Amigável de Engate & Foda

Esta semana, quando lia um artigo do The Guardian percebi que as neo-feministas americanas começaram a deixar as verdadeiras feministas, as francesas, com os cabelos dos sovacos em pé. Tudo porque, segundo a própria atriz francesa Catherine Deneuve, toda esta onda de denúncias de mulheres americanas acabou por se tornar numa verdadeira caça às bruxas e a colocar em causa a liberdade sexual.

Eu tenho para mim que, a continuar assim, em breve todos nós, homens e mulheres, teremos de andar connosco com uma declaração. Estão a ver aquelas declarações amigáveis que preenchemos quando temos um acidente, em que cada uma das pessoas preenche os seus dados, e até faz um desenho e tudo de como aconteceram as coisas?

Para esta gente muito em breve terá de ser assim.


Olhe, peço desculpa, mas olhei para si e gostaria de a conhecer. Quer avançar com o preenchimento de uma Declaração Amigável de Engate?

É neste momento que ambas as pessoas preenchem na mesma folha o formulário em que descriminam muito bem o que permitem que vá acontecer. Ficará decidido o tipo de abordagem e linguagem - não se estão a esquecer que o piropo já é crime pois não?  (portanto, muito cuidado!) ficará também decidido quem pagará os não sei quantos jantares que irão acontecer, até que, alguém se lembre de perguntar ao outro se podem preencher uma Declaração Amigável de Foda.

Atenção que, quando estamos a falar de uma Declaração Amigável de Engate, não estamos necessariamente a falar da procura de namorado(a) ou da busca de uma relação. Estamos só a falar do interesse normal que as pessoas têm em se conhecer ou relacionar-se, e logicamente, também do interesse em ter sexo, afinal, o sexo é uma das forças que movem o mundo.
Mas será expressamente proibido duas pessoas terem sexo sem terem antes uma Declaração Amigável assinada. A Declaração Amigável de Engate será uma espécie de Seguro que cada pessoa terá, principalmente se, muitos anos mais tarde vier a ser a ser muito conhecida, correndo o sério risco de vir a ser acusada, por não sei quantas pessoas, que se lembrarão que afinal, no passado, andou a tentar engatar alguém.

Para se passar ao nível seguinte e assinar uma Declaração Amigável de Foda as pessoas serão obrigadas a ter primeiro terem uma Declaração Amigável de Engate. Faz sentido não é? Os bois vão sempre à sempre à frente da carruagem. Na Declaração Amigável de Foda constarão lá todos os elementos em que cada pessoa permite envolver-se com outra(s) pessoa(s). Se gosta de minete e broche, se gosta de anal e a menstruação até só uma lubrificação extra, ou, se pelo contrário, só se permite sexo às escuras, com um lençol por cima do corpo e à missionário, tal como manda expressamente a santa madre igreja. Obviamente que só se pode fazer o que um e outro tenham assinalado em comum. Mas, de qualquer forma, em qualquer momento, qualquer um dos dois pode atualizar a sua Declaração Amigável de Foda e acrescentar mais alguns elementos.

Estou certo que este é o caminho que muitas pessoas querem. Ser humano, ter desejos e tesão é um ultraje para muitas pessoas. Acredito que as Declarações Amigável de Engate e de Foda serão uma realidade a breve prazo. Ninguém poderá falar para outra pessoa sem primeiro ter uma Declaração Amigável de Engate. Chamar amigo a quem se acaba de conhecer na net, e até tirar fotografias completamente nu e enviá-las para o telemóvel de alguém que se acaba de conhecer virtualmente é um comportamento normal e perfeitamente aceitável. Ousar dirigir palavra a outrem, abordar alguém que está à nossa frente, e manifestar-lhe o nosso interesse, seja ele qual for, é um injúria grave e que merece, no mínimo, o empalamento na praça pública. E com tudo isto, o verdadeiro assédio sexual,  agressivo e criminoso começará a passar despercebido.


domingo, 17 de dezembro de 2017

Viver é só Resolver Problemas?

Não sei se é o destino, se é o universo, ou então se é o raio que o parta, mas a verdade é que, quando de tudo nos acontece, e ao mesmo tempo, sem descanso quase sem tempo para respirar, fico com a sensação que viver é quase só ter de resolver problemas, uns atrás dos outros.

Quando eu era criança tinha dois medos. De tanto ouvir falar tinha medo de poder ter de ir para essa coisa que se chamava tropa, e tinha também medo de quando chegasse o fim do mundo, afinal, ia morrer ainda tão jovem, no ano de 1999, porque passava a vida a ouvir dizer que "a 2000 chegarás, de 2000 não passarás. Em criança tinha também o medo de poder chegar a adulto e não saber resolver todos os problemas que os adultos têm, ao passo que, enquanto somos crianças, não temos de os resolver nem de decidir nada, pois temos sempre os papás a resolver os problemas e a decidir por nós, até a roupa que levamos para a escola no dia seguinte.

Entretanto há muito que sou adulto. Não fui à tropa e duvido que algum dia pegue numa arma de fogo porque sou totalmente conta elas. E há quase dezoito anos que passei o ano 2000! Já nem na santa podemos acreditar! E depois, à medida que vamos abandonando a meninice, começamos a ter de tomar decisões e assumir responsabilidades. 

Os estudos, as amizades, com quem decidimos andar, os namoros, a sexualidade. Depois o trabalho, o primeiro carro, a casa... Não é necessariamente por esta ordem, mas aos poucos a nossa vida rodeia-se de um monte de decisões que temos de tomar, e algumas dessas decisões poderão ter, para o bem e o para o mal, implicações para o resto da nossa vida. 

E os problemas em adulto já não são aqueles que resolvíamos na escola primária em que se tirava a prova dos nove. Por vezes parece mesmo que o universo não tem mais nada que fazer que não seja complicar-nos a vida. Parece que pega num boneco de voodoo e nas agulhas, e vai-nos espetando, espetando e rindo-se de nós, como se tivesse mesmo muita graça foder a vida dos outros. E no meio de um monte de problemas, que surgem sempre ao mesmo tempo, tal como diz a Lei de Murphy! em que teremos de tomar decisões e resolver as situações. E logo que se resolvem uns, é como se de repente estivéssemos num jogo, passássemos de nível para logo a seguir aparecerem mais uns quantos. Às vezes fico mesmo com a sensação que, nesta vida moderna, e tantas vezes uma vida sem sentido que levamos, viver mais parece que é só ter de  problemas atrás de problemas. 

E o que me parece é que nós não andamos a viver. Andamos unicamente a ser escravos desta sociedade de consumo. Os nossos problemas não são verdadeiros problemas. São meras contas que qualquer menino resolve na instrução primária, tal como eu resolvia e ia depois, a correr mostrar à professora Alice. 

Uma grave doença; um acidente; uma incapacidade; uma morte; um desgosto amoroso. Sim, isso são problemas reais. Tudo resto, na maior parte dos casos são só pequenas decisões que temos (ou não) de tomar. E às vezes parece que os adultos, mesmo quando tudo está a correr bem, adoram criar os seus próprios problemas, tal como aquela criança que espera, na carteira, ansiosamente, que a professora coloque no quadro um novo problema para resolver. 

Sim, eu tenho em mãos alguns problemas complicados. Uns mais do que outros. Uns mais básicos, da base da pirâmide, outros mais difíceis de resolver, lá bem no cume, de cariz existencial. Mas uma coisa é certa, o universo terá que se esforçar mais, pois as agulhas que espeta no meu boneco de voodoo só me fazem umas coceguitas. Olha para mim universo, de pé, firme, sempre a resistir. É só isso que tens para mim? O que eu acho é que quem dera a muita gente ter só os problemas que eu tenho para resolver. (Ainda que, na verdade, se soubessem dos problemas que eu tenho, quem lhes dera voltar a ter só os seus).

sábado, 22 de outubro de 2016

Campeões Europeus do Divórcio

Depois da promessa do Presidente da República, que após ter condecorado a equipa de futebol, disse que, por uma questão de igualdade iria atribuir a mesma condecoração a todos os campeões da Europa, depois da notícia saída esta semana, que Portugal também é Campeão Europeu nos divórcios, todos os divorciados estão já a reivindicar a mesma condecoração!




Não sei qual é a empresa que produz as medalhas - certamente alguma empresa de algum amigo do PS ou PSD contratada por ajuste direto pela presidência da república - mas será certamente um negócio em franca expansão, pois 2016 parece ser o ano de Portugal ganhar tudo. 

Ele é o Campeão Mundial do Tacho, é a seleção de futebol que a jogar aquele futebolzinho aborrecido se sagrou Campeão da Europa, ele é o Guterres, que completamente sozinho, e contra todas as expectativas, e mesmo não tendo uma vagina nem tendo nascido na Europa do Leste vai mandar na ONU, agora são os divorciados... 

Eu acho que não falta muito para em cada português haver um Comendador!

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

As pessoas bonitinhas


Cada vez mais detesto este mundo cheio de pessoas bonitinhas. As pessoas bonitinhas que são hipócritas. As pessoas bonitinhas que são falsas. As pessoas bonitinhas que se nos mostram muito simpáticas para depois irem falar mal de nós nas nossas costas. E já sabemos que nas costas dos outros vemos as nossas. 

E a vida está é para as pessoas bonitinhas. As pessoas bonitinhas acham sempre que são as maiores, as maiores de todas, e os outros são uns idiotas. As pessoas bonitinhas manipulam e passam por cima de quem tiverem de passar. E toda a gente gosta das pessoas bonitinhas, porque toda a gente é falsa e manipula e faz-se passar por aquilo que não é. As pessoas bonitinhas são como as putas, dão-se sempre muito bem umas com as outras. Dão beijos no ar. Elogiam quando querem cuspir em cima. 

Num mundo cheio de pessoas bonitinhas quem não é bonitinho é olhado com desconfiança. As pessoas desconfiam do que não conhecem. Sentem-se inseguras e ameaçadas. As pessoas bonitinhas não se conseguem afirmar por si só. Qualquer pessoa sã, para mostrar que é boa seja no que for, mostra-o sendo realmente boa. O seu trabalho fala por si. Mas as pessoas bonitinhas como se sentem ameaçadas e como por norma são muito invejosas, tratam de rapidamente deitar os outros abaixo. Querem mostrar que os outros são uma merda. Se provarem que os outros são uma merda vão ficar bem na fotografia, pois se os outros são uma merda, é porque no mínimo elas serão melhores.

E nunca se pode confiar. Julgamos sempre os outros à nossa imagem. Talvez seja por isso que os traidores são sempre tão desconfiados. Afinal eles conhecem-se muito bem! Tudo deveria ser o que parece, nas raramente o é. Mas as pessoas só têm uma oportunidade de serem confiáveis. Depois da confiança perdida, acabou-se, nunca mais a vão ter. E confiar é dar armas às pessoas bonitinhas. Parecemos seguros e no minuto seguinte lá estão as pessoas bonitinhas prontas a tirar-nos o tapete. 

Já disse que odeio pessoas bonitinhas? Odeio as pessoas bonitinhas porque odeio a falsidade e a hipocrisia. Odeio a gabarolice, a vaidade e a ambição que não olha aos meios para atingir os seus fins ... Bonitinhos.