"As mulheres não falam mais que os homens, isso é um mito, e eles interrompem muito mais, segundo apontam diferentes estudos recolhidos pelo jornalista Dan Lyons em seu novo livro"
"Fomos ensinados a pensar que quem diz a última palavra é quem ganha, quando na verdade são aqueles que sabem calar-se que realmente têm o poder".
A propósito deste livro de Dan Lyons, no original "The Power of Keeping Your Mouth Shut in an Endlessly Noisy World" o El País publicou hoje um artigo interessante que deixo aqui alguns excertos:
"Os homens são especialmente odiosos no trabalho, mesmo com as mulheres mais proeminentes e poderosas do mundo. Uma vez vi um homem a assediar a minha mulher durante o período de perguntas e respostas depois de ela ter feito uma apresentação. Ele interrompia-a, não a deixava falar e praticamente gritava com ela. Depois, quando lhe contei como estava indignado, ela disse-me: "Mas não sabias? Isso acontece com as mulheres o tempo todo".
Geralmente a maioria dos homens não é tão abertamente hostil quanto o sujeito que assediou a minha mulher. Eles interrompem as mulheres constantemente e muitas vezes nem se percebem que o fazem. De acordo com um estudo, no trabalho as mulheres sofrem mansplaining até seis vezes por semana, mais de 300 vezes por ano. Quase dois terços das mulheres acreditam que os homens nem percebem que o fazem. E duas em cada cinco mulheres afirmam que os homens lhes disseram que são elas, as mulheres, que não os deixam falar.
Da próxima vez que estiveres num grupo de homens e mulheres, observe-os. Conte as interrupções. Observe quem interrompe e quem é interrompido.
O estereótipo é observado em todas as culturas. "A língua das mulheres é como a cauda de um cordeiro: nunca fica parada", diz um velho ditado inglês. No Japão, eles dizem:"Onde há mulheres e gansos, há barulho". E na China:"a língua é a espada da mulher e nunca a deixa oxidar". Nas obras de Shakespeare abundam as representações de mulheres como respondonas e fofoqueiras. A expressão "contos de velhas" é claramente depreciativa.
A palavra gossip ("fofoca") vem de godsibb, que significava "padrinho", mas que no século XVI evoluiu para significar "fofocas e rumores caluniosos espalhados por mulheres". Mais atrás, descobrimos que São Paulo descreve as viúvas como "preguiçosas que andam de casa em casa, e não apenas preguiçosas, mas também fofoqueiras e intrometidas, que dizem o que não devem".
Na Idade Média, as mulheres eram condenadas por "pecados da língua" e eram punidas desfilando-as pela Praça da cidade, mergulhando-as em um rio ou forçando-as a usar um freio que as impedia de falar: uma estrutura de ferro que era colocada na cabeça com uma peça que empurrava a língua para baixo. No Reino Unido, este freio de punição e humilhação continuou a ser usado até ao século XX.
Alguns homens ainda se apegam à crença de que as mulheres falam mais do que eles.
Em 2014, Kieran Snyder, executiva de uma empresa de tecnologia, realizou uma experiência. Durante 15 horas de reuniões, registrou cada interrupção. Snyder, que tem doutoramento em Linguística, contou 314 interrupções, e dois terços delas eram de homens, o que significa que eles interromperam duas vezes mais que elas. E, mais interessante, quando os homens interrompiam, 70% das vezes era uma mulher. O desequilíbrio era ainda mais flagrante porque as mulheres representavam apenas 40% do grupo. Além disso, quando as mulheres interrompiam, era muito mais provável (89% das vezes) que interrompessem outras mulheres do que homens. Conclusão de Snyder:" sempre que as mulheres tomam a palavra são interrompidas". Nenhuma das mulheres que eu conhecia ficou surpreendida. As mulheres do mundo da tecnologia responderam maioritariamente: 'que novidade"!
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