sexta-feira, 15 de setembro de 2023

A Felicidade dos Jogadores de Futebol

Neste artigo do Jornal de Notícias, publicado no dia 13 diquei a saber que: 

"O bem-estar nas empresas vai muito além de promoções e salários altos. Segundo os especialistas, apostar em horários flexíveis, trabalho remoto e espaços confortáveis são algumas das soluções que podem proporcionar uma maior felicidade no local de trabalho e travar os problemas de saúde mental. Com o objetivo de promover a felicidade corporativa, o Happiness Camp, criado pelo grupo Lionesa em 2022, junta amanhã, na Alfândega do Porto, mais de 30 oradores para apresentarem às organizações estratégias de bem-estar no trabalho. A entrada é gratuita".


Ora isto deixou-me a pensar porque dias antes, a 30 de agosto, no mesmo Jornal de Notícias tinha lido um artigo de opinião de Rafael Barbosa que versava o seguinte:

"1. Muhammad al-Ghamdi tem 54 anos, foi professor. Tinha duas contas no Twitter (agora X) em que criticava o regime saudita. É irmão de um dissidente, exilado em Londres. Foi preso, passou vários meses numa solitária, sem direito a visitas da família nem acesso a um advogado. Em julho, foi condenado à morte. Aguarda a execução da sentença.

2. Salma al-Shehab tem 34 anos, estava a fazer um doutoramento em Medicina em Londres. Tem duas filhas, de seis e quatro anos. Tinha conta no Twitter e usava-a para criticar o regime saudita. Em dezembro de 2020, de férias no país, foi detida e acusada de terrorismo. No ano passado, os tribunais ampliaram a pena para 34 anos de cadeia (entretanto reduzidos para 27).

3. São sete rapazes, todos detidos antes de fazerem 18 anos (um deles tinha 12 anos). Foram condenados à morte. Seis deles foram considerados terroristas por participarem em protestos contra o Governo saudita, ou comparecerem em funerais de vítimas da violência do regime. Foram torturados e assinaram as confissões. Sete crianças aguardam o dia da execução 



(....)



5. Os sauditas gastaram sete mil milhões de euros, desde 2021, com o desporto e, sobretudo, com o futebol. Os futebolistas e treinadores portugueses alinham, como outros, nesta operação pornográfica para desviar a atenção sobre as atrocidades do regime, de sorriso rasgado pela chuva de dólares: Jesus, Rúben Neves, Otávio e, antes de todos, Ronaldo são os promotores de um regime atroz. Bastariam uns minutos de navegação pelos sites da Amnistia Internacional ou da Human Rights Watch para perceberem que Muhammad, Salma, as sete crianças, as centenas de etíopes vivem e morrem num Inferno. Coisas desagradáveis que não interessam quando a bola rola e há milhões para faturar. Mas é verdade que não estão sozinhos na hipocrisia".



Pá, eu junto uma e outra notícia e concluo o seguinte:

Se nas empresas, no trabalho em geral, não é só o dinheiro que conta para que as pessoas se sintam felizes, isto significa que os jogadores da bola abandonam os milhões que recebiam na Europa e abalaram para a Arábia Saudita, para estarem felizes num local do planeta onde faz 50º à sombra e onde matam crianças e apedrejam mulheres até à morte. É que, como compreendemos "não é só o dinheiro que interessa"!

Para concluir dizer que os jogadores da bola cometem esta enorme hipocrisia, depois daqueles rituais de dizer não ao racismo e à discriminação e depois rumam à Arábia Saudita por dois motivos. O primeiro é não terem um pingo de vergonha na cara. O segundo é porque não tem qualquer custo. Porque ninguém insulta um jogador de futebol que foi para lá, nem são cancelados nas redes sociais. Porque fingimos que está tudo bem. Porque se supõe que todos faríamos o mesmo.

"Os jogadores de futebol iriam até Mordor ou para a Coreia do Norte desde que pagassem bem". (Íñigo Domínguez)

1 comentário:

  1. Grande Verdade!
    Hipocrisia pura, a sociedade ocidental assiste e aplaude....

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