sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Capricho sentimental

Nesta sexta-feira, dia 30 de outubro de 2015, no carro e a caminho do trabalho, apanhei na rádio TSF uma pequena entrevista a Mário Dias dos Madredeus. E uma frase me ficou ali a bater:



TSF: Capricho sentimental porquê?

MD: Pronto, lá está, cantamos sentimentos. O capricho pode ter um duplo sentido. Para já, no mundo de hoje um sentimento é um pouco um capricho nesta era acelerada que vivemos e super-tecnológica e um pouco volátil. O sentimento acaba por ser a única coisa, digamos, duradoura e fiel que nós temos nesta sociedade. O resto é transitório como nós sabemos. Cada vez mais não é?
Por outro lado capricho porquê? Porque os autores - eu e o Pedro (Ayres de Magalhães) decidimos não - como sempre - não ceder à indústria, não ceder aos interesses dos média, não ceder à música fácil, e à música combatida e à música programada e e tudo isso, e mantemos no nosso barco - a remos, sem motor - e portanto é um capricho. Contra tudo tudo e contra todos. Contra este mundo contemporâneo.

E neste sexta-feira, 30 de outubro de 2015, os Madredeus lançaram o seu último disco: Capricho sentimental.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Solteiros: como sacar mais 15 dias de férias?

Ser solteiro no trabalho não trás vantagens nenhumas. Um gaijo que está solteiro nunca que se pode escapar ao trabalho. É ver os outros a casar e gozar quinze dias de férias. É ver o pessoal depois a ter filhos e a ficar em casa uns meses. Mas não acaba aí! Depois de terem as crias, têm de ir aqui e acolá e têm sempre as faltam justificadas! Um gaijo solteiro só tem mesmo direito a trabalhar, como se não fizesse também coisas interessantes que merecessem uns bons dias de folga!

Por lei, depois deste governo fascista ter reduzido o número de dias de férias de 25 para 22 - e ainda por cima ter cortado nos feriados - eu só vejo mesmo uma solução para termos mais dias quinze dias de férias por ano. E isso é possível? Como? Eu explico!

Podemos arranjar quinze dias-extra de férias, casando todos os anos! Pode parecer um bocadinho parvo, mas se calhar, até nem é tanto assim. Mas vejamos então as coisas na prática:




Para casar gasta-se 100€ na conservatória e está feito! A partir desse dia já temos direito aos nossos quinze diazinhos espetaculares de férias (tecnicamente são dias de faltas justificadas mas remuneradas, que equivale ao mesmo!) Mas o gasto não se fica por aqui. Temos ainda de abrir mais os cordões à bolsa. Porquê?
- Porque temos de nos divorciar, isto se no ano seguinte quisermos voltar a ter os quinze dias-extra de férias! Caso contrário podemos continuar casados na mesma e poupamos o dinheiro da separação, mas não esquecer que estando casados pagamos mais impostos. 

Mas o divórcio - e não me perguntem porquê! - fica mais do dobro que o casamento! Isto deve ser tipo uma punição! As pessoas já estão - por norma vá - aquelas que casam mesmo por convicção (e não nós que queremos só casar para ir buscar os dias de férias!) já estão frustradas com a separação, mas ainda apanham por tabela, pagando mais do dobro na separação, que no casamento em si. 

Ora bem, temos de juntar aos 100€ do casamento + 280€ que é o custo do divórcio, ou seja, para casar e divorciar, temos um gasto de 380€/ano Mas calma!

O que temos de fazer, é só arranjar outra pessoa - e que agora tanto pode ser um homem como uma mulher! - mas que tenha o mesmo interesse que nós, em ir buscar os seus quinze diazinhos de férias! Dividem-se as despesas, e assim sendo, a coisa fica-se só pelos 190€.

Acho que se poderia até criar um site, ou rede social - se até os católicos criaram uma porque não? - para juntar o pessoal todo que quer fazer gazeta ao trabalho, e que alinhe em casar só mesmo para sacar os quinze dias de férias! E como isto é algo por mero interesse recreativo, até até se podem travar novos conhecimentos! Até se pode casar e arranjar companhia para as férias! Isto tem um sem número de possibilidades! Bora lá então casar por interesse?

P.S: Sim, é possível que esta talvez seja a mensagem mais idiota de todo o blogue... ou então se calhar é a mais genial!

domingo, 25 de outubro de 2015

As mulheres querem-se é como as castanhas

Desde que me conheço, e habituado que fui a ouvir diferentes expressões populares, até porque sempre vivi no campo, sempre fui ouvindo dizer que a mulher quer-se como a sardinha: pequenina. Bom, na verdade não sei quem foi o iluminado ou iluminada que que se lembrou de afirmar tal coisa, se calhar alguém que tinha uma mulher baixinha - mais ou menos como o outro que fala dos olhos castanhos, como se a cor dos olhos fizesse uma pessoa. 
Mas ainda assim, eu certamente não queria uma mulher que fosse com uma sardinha, e não me refiro à altura, pois as mulheres, tal como os homens, não se medem pela altura que têm. Mas eu não quereria uma mulher que fosse como uma sardinha, cheia de espinhas, gordurosa, ou então daquelas que para aí se vêem muitas, das congeladas, enxabidas e carregadas de sal, que como se sabe tão mal fazem à saúde. Ou então pior, encontrar uma mulher como uma sardinha moída! E ainda por cima agora a sardinha tornou-se numa elite e está mais cara que o bife, muito pouco acessível às bocas alheias.

Pois então está mais do que no tempo de criar um novo provérbio:

As mulheres querem-se como as castanhas: Quentes & Boas.

E lembrei-me disto ontem, quando preparava umas castanhas que assei no moliço, e por moliço, quero dizer a caruma dos pinheiros, pois noutros lugares do país, moliço significa outra coisa completamente diferente. 







Quentes & boas, mas talvez um bocadinho menos queimadas! Tenho-me por grande especialista a assar castanhas - como se a coisa tivesse alguma coisa que saber! - mas desta feita saíram-me um pouquinho queimadas. 

sábado, 24 de outubro de 2015

Viver e gastar dinheiro não significa o mesmo

Se ao menos fosse possível explicar-lhes que viver e gastar dinheiro não significa o mesmo! Mas não vale a pena. Se lhes ensinassem a viver em vez de pensarem em gastar dinheiro, poderiam viver mais felizes com os seus vinte e cinco xelins. Se os homens usassem calças vermelhas, como eu costumo dizer, não pensariam tanto no dinheiro. Podiam dançar e saltar e cantar, pavonear-se e ser elegantes e precisariam de pouco dinheiro. E poderiam divertir as mulheres e as mulheres poderiam diverti-los. Deviam aprender a ser nus e belos a cantar e a dançar em grupos, a fabricar os seus instrumentos, a bordar os seus emblemas. E não precisariam de dinheiro. Esta é a única solução para o problema industrial: treinar as pessoas para conseguirem viver, e viver bem, sem necessidade de gastar. Mas é impossível. Hoje em dia as pessoas são limitadas, e a grande massa nem mesmo procura pensar, porque não sabe: devia ser viva e alegre e adorar o deus Pá, que é o grande deus das massas. A élite pode ter outros cultos, mas seria melhor que as massas fossem pagãs. 
Mas os mineiros não são pagãos, muito longe disso. São uma gente triste, morta para o amor, para a a vida. Os mais jovens andam com as raparigas nas motos e vão dançar jazz quando podem. Mas estão mortos por dentro. Para tudo precisam de dinheiro, e o dinheiro envenena quando se tem e quando não se tem. 



Acho que já deves estar cansada disto tudo isto, mas quero falar de mim e não tenho nada para contar. Não gosto muito de pensar em ti, porque é horrível. Mas toda a vida que faço agora é para preparar a nossa vida, juntos. No fundo, sinto-me assustado. Paira qualquer coisa no ar, que nos quer apanhar. Ou talvez seja simplesmente Mammon, que não é mais do que a vontade coletiva dos homens, que quer dinheiro e odeia a vida. Sinto no ar grandes mãos brancas e ávidas que apertam a garganta dos que querem viver para além do dinheiro. Aproximam-se maus dias. Se as coisas continuam assim, no futuro só nos resta a morte e a destruição das massas industriais. Às vezes sinto as entranhas a derreterem-se, enquato tu esperas um filho meu. Mas não faz mal. Todas as calamidades que assolaram o mundo jamais conseguiram apagar os corações, nem o amor das mulheres.
Portanto, nada poderá matar o meu desejo de ti, nem a pequena chama que existe entre nós. No próximo ano estaremos a viver juntos. E, embora tenha medo, acredito que estejas comigo. Um homem tem de lutar, mas, ao mesmo tempo, acreditar em alguma coisa. Só nos podemos precaver contra o futuro acreditando em nós e em qualquer coisa para além de nós. Portanto, pela minha parte, acredito na chama que nos une, que para mim é neste momento a única coisa que existe. Não tenho amigos, amigos íntimos, nada mais do que tu, e tudo o que me interessa na vida é essa chama. Há o bebé, mas é uma consequência. É o meu Pentecostes, a língua de fogo entre nós. O antigo Pentecostes não é correto. Eu e Deus, é pretensioso. Mas a língua de fogo entre nós, não. E luto e lutarei por ela contra todos os Cliffords e Berthas, companhias mineiras e governos e pessoas que só vivem por dinheiro. 

(Excerto de uma carta de Mellors a Lady Chatterly)

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Já tinha escrito que me revi em algumas coisas de Mellors. 
Comecei a ler este livro, não por ter sido um clássico que foi proibido e considerado pornográfico no Reino Unido. Não. Comprei-o, porque vi o livro à venda, usado, e o nome do autor me chamou a atenção porque sabia que D. H. Lawrence foi amigo e influenciou Huxley, autor de quem tem lido e relido alguns livros, e de quem gosto particularmente. 

O importante é que estás bem

Saía hoje de casa e fazia aquele tempo de chuva miudinha. A mala ia cheia, com uma carga sensível a aconselhar uma condução cautelosa. Mas mesmo que a mala fosse vazia, teria agido da mesma forma. "Vai com cuidado que este tempo está muito propício para se ter um despiste" dizia para mim mesmo. E lá fui eu, estrada nacional abaixo, estrada que conheço muito bem, mas que, muitas vezes é  precisamente quando pensamos que já conhecemos bem que as coisas acontecem. Aliás, é sempre assim, é quando as pessoas já se sentem à vontade com qualquer coisa, que facilitam, pois quando não estão confortáveis são muito mais cautelosas. 

Curva vai curva vem, e eis que de repente avisto um carro todo atravessado na estrada acabado mesmo de se despistar. De imediato ligo os quatro pistas, reduzo a velocidade, e olho para ver o que se passa, e o carro que vinha no sentido oposto já tinha também parado para ver, e eu paro e converso com ele:

- Está alguém dentro do carro? perguntou o homem. 
- Não, respondi eu. Só vejo uma criança fora do carro. 
- Mas é preciso desligar a bateria porque o carro está a deitar fumo.

Lá paramos os carros e fomos ver o que se passava. E mais pessoas começam a chegar, e todos parecem ter sempre algo a dizer, ou saber o que fazer. Um queria abrir o capot, e depois puxava e puxava, e este não abria, e o que me parecia é que ainda ia danificar mais o carro. Até que alguém teve a boa ideia de se lembrar do triângulo, e lá se conseguiu também retirá-lo da mala e alguém o terá colocado. 

Local do despiste


E afinal o fumo que saía do tablier ao que parece só tinha a ver com os air-bags que tinham disparado no embate. E no meio daquela azáfama de opiniões e de afazeres, apercebi-me depois, que aquilo que eu julgava ser uma criança, era afinal a condutora, de cabelo curtinho à rapaz, que chorava pelo sucedido 

Na vida há sempre primeiras vezes para tudo, independentemente da idade que tenhamos, e elas vão sempre acontecendo. E eu hoje fui a primeira pessoa a chegar a um despiste de carro. O primeiro a estacionar o carro e a ir ver se estava tudo bem. E como é muito normal, nas primeiras vezes, nem sempre as coisas correm na perfeição, ou podem, pelo menos, correr muito melhor quando já se tem experiência. 

E o que eu acho é que, se isto já me tivesse acontecido anteriormente, a primeira coisa que deveria ir fazer, era ir junto da pessoa que teve o acidente, e inteirar-me do seu estado. Ela ali estava, sentada no combro de terra, a chorar, enquanto todos aqueles desconhecidos, onde eu também me incluía, pareciam todos saber o que fazer, mas ninguém se lembrou de falar um pouco com ela e tentar acalmá-la. Acho que poderia ter feito um pouco mais além do "Deixa lá é só chapa, o importante é que estás bem". 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Surpreendente Unanimidade!



Não sei o que mais me surpreendeu aqui. Se o facto de estar inspirado ponto de ter escrito o que escrevi (às vezes calha até bem) ou  se a estranha unanimidade que o comentário obteve.

sábado, 17 de outubro de 2015

O rabo mais bonito do mundo

Calou-se uns segundos, para pensar. Depois recomeçou:
- Dantes diziam-me que eu tinha caraterísticas de mulher, mas não é isso. Não sou uma mulher não porque não quero matar pássaros, nem porque não quero ganhar dinheiro e triunfar na vida. Podia ter feito a vida no exército, facilmente. Mas não gostava de estar no exército. E no entanto dava-me bem com os homens, gostavam de mim e tinham um pouco de medo quando me encolerizava. Não. Era a autoridade suprema, que matava o exército, matava e embrutecia. Gosto dos homens e eles gostam de mim. Mas não suporto a imprudência pretenciosa e as histórias das pessoas que governam o mundo. Não posso seguir esse caminho, odeio a imprudência do dinheiro e de classe. Num mundo como este que poderei oferecer a uma mulher?




- Mas porque é que me hás-de oferecer o que quer que seja?
Não é um negócio. Apenas nos amamos.
- Não, não! É mais do que isso. Viver significa andar para a frente, seguir sempre em frente. E a minha vida não vai correr bem Sirvo para pouca coisa. E não tenho o direito de arrastar comigo uma mulher, para uma vida em que não realizo nada, que não leva a nada. Pelo menos interiormente, para nos manter frescos. O homem tem de oferecer à mulher algum algum significado à vida, se for uma vida isolada e se ela é uma mulher a sério. Não posso limitar-me a ser a tua concubina macho.
- Porque não?
- Porque não sou capar. E acabarias por a odiar.
- Como se não pudesses confiar em mim - disse ela.
Aquele sorriso irónico brilhou no rosto de Mellors.
- O dinheiro é teu, a posição é tua, as decisões têm de ser tuas. E no fundo, eu não passarei do fornicador da minha dama.
- E que mais és tu?
- Perguntas bem. Com certeza é invisível. No entanto, sou qualquer coisa para mim, pelo menos. Compreendo o sentido da minha existência, embora perceba que os outros não o possam compreender.
E a tua existência perde sentido se viveres comigo?
Ele hesitou antes de responder.
- É provável.
Ela também ficou pensativa.
- E qual é o objetivo da tua vida?
- Vou-te dizer. É invisível. Não acredito no mundo, nem no dinheiro, nem no progresso, nem no futuro da nossa civilização. Se a humanidade vai ter futuro, tem de se dar uma grande transformação.
- E como terá de ser o futuro?
- Só Deus sabe. Sinto qualquer coisa dentro de mim misturada com muita raiva. Mas o que isso significa não sei.
- Posso dizer-te? perguntou ela, fitando-o.  - Posso dizer-te o que tens e que os outros homens não têm, e que fará o futuro? Posso?
- Diz-me então - replicou ele.
- É a coragem da tua própria ternura. É o que te leva a acariciar-me e a dizer-me que tenho o rabo mais bonito do mundo.

O Amante de Lady Chatterly / D.H. Lawrence / 1928

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Gostei deste Mellors, e identifiquei-me com ele em alguns aspetos para além dele no romance ter precisamente a minha idade. Filho de mineiros, ex-militar do exército na Índia, invulgarmente culto e de personalidade vincada, irónico e sarcástico, pensa pela cabeça dele e não segue a carneirada, e decide ter uma vida de quase eremita numa cabana da floresta na companhia da sua cadela, como couteiro Clifford, um baronete inglês casado com Lady Chatterly, que ficou numa cadeira de rodas depois da primeira guerra mundial. E é Mellors que Lady Chatterly vai certo dia encontrar num dos seus muitos passeios pelo bosque... 

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Porque estar estar triste ainda não é uma doença

"Não estará na altura de procurares um medico? Isso começa a soar a depressão."

Nunca até hoje tomei uma aspirina, drogas para as dores de cabeça, nem merdas para as constipações ou gripes (que muito raramente tenho), nem nunca tomei a vacina da gripe apesar de até já ma terem prescrito. Tal nunca tomei anti-depressivos, uma das drogas mais consumidas em Portugal. É vê-los por aí, aos drogados, a darem o seu chuto de anti-depressivos e a ficarem com aquele sorriso palerma, com uma verdadeira moca, típica de quem não sente nada. 

E até hoje nunca estive numa cadeira dum psiquiatra ou psicólogo. E o que eu acho é que os médicos ocidentais, infelizmente, estudam e sabem muito mas é de doenças, mas de saúde sabem muito pouco. E o que a medicina ocidental faz, é esconder. É varrer para debaixo do tapete. Fazer de conta que os problemas não existem. Não pretendem curar. Nem convém! Convém é manter a pessoa numa espécie de morto-vivo o mais tempo possível. Uma pessoa curada e com saúde não vais aos médicos, não gasta dinheiro, e a saúde privada é o negócio mais rentável do mundo, só perde mesmo para a venda de armas. Sim, faz-se negócio com a saúde e as vidas das pessoas. 

Mas a medicina ocidental faz de conta. Temos uma dor, não vamos tratar o órgão que está a provocar a dor. Não. Vamos fazer de conta que a dor não existe. Toma-se uma droga qualquer e deixamos de sentir essa dor. Trata-se o desconforto, não se trata a doença. E faz-se de conta que o problema já não existe. E se não dói está tudo bem, problema resolvido. 



E as pessoas hoje em dia - os portugueses como mais ninguém na Europa - correm para os médicos porque estão deprimidas e frustradas. E os médicos lá lhes dão a dose que tomam, e deixam de sentir. Os problemas que motivam essa tristeza e frustração mantêm-se, mas faz-se de conta que está tudo bem e ficam com o sorriso-palerma como se tivessem sido picadas pela mosca tsé-tsé. E ficam agarradas à droga e à sua dose diária para conseguirem suportar viver. E enriquecem médicos e farmacêuticas e todos ficam contentes. 

E eu sei perfeitamente que não tenho andado muito bem. Afinal sou humano não sou um cyborgue como me dizia uma amiga há semanas. E nem sempre os ventos nos são favoráveis. Por vezes vêmo-nos mesmo no meio de uma tempestade que parece não ter fim à vista. Mas não é um médico que me vai resolver alguma coisa. Só eu me posso ajudar. E depois eu não faço de conta, nem gosto de fingir que está tudo bem quando não está. Nem me quero tornar num morto-vivo picado pela mosca tsé-tsé. Porque na verdade eu gosto é de sentir, sou mesmo viciado em sentir, e por vezes quanto mais intensidade melhor. E porque sofrer ainda é viver certo?

Eu não vou ao médico porque estar triste ainda não é uma doença. 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Levar música de casa para o trabalho

Depois de várias tentativas frustradas de arranjar uma rádio decente para ir ouvindo no trabalho, e só de vez em quando, até porque, e ao contrário de muita gente, muitas vezes gosto de estar em silêncio, outras porque até dá jeito para estar na conversa com o camarada que trabalha connosco, decidi então juntar umas quantas músicas e levá-las de casa, mais ou menos como quem leva a marmita para almoçar na cantina, e assim não ter surpresas desagradáveis, como quem vai ao restaurante comer umas moelas e passado um bocado fica com a barriga às voltas.

E na verdade começo mesmo a achar que sou completamente alérgico à música contemporânea, ou pelo menos, à música contemporânea que as rádios que consigo apanhar lá no velhinho rádio que está no tabalho, Made-in-China, e se calhar até nem é tão velhinho assim! vai debitando. Além de que também então não consigo suportar o repetir das mesmas músicas hora após hora. É que não há paciência. 



E estou aqui metido por entre montes de CD a escolher o que vou metendo no leitor de mp3, para depois lá ligar a uma coluna para ter um som ambiente.  E esta é certamente uma das músicas que por lá se vai ouvir:




Temple of Love / A Slight Case of Overbombing / Sisters of Mercy / 1993

domingo, 4 de outubro de 2015

Pára pára chuvinha

Aqui no quentinho da minha cama, vejo o temporal lá fora. E vem-me à memória o tema "Chuva...chuvinha" da Linda de Suza, emigrante portuguesa em França, que almejou grande sucesso , vendendo milhões de discos e livros e que se tornou numa diva por terras francesas.


Un portugais - Linda de Suza - 1978


Então pára lá chuvinha para eu ir lá botar o meu voto!



Chuva, chuva, chuvinha
Vem do céu até a terra
Chuva, chuva, chuvinha
Vem cair na nossa serra

No meu país há tanto sol
Crianças brincam na rua
Sonhandos as vezes
Com um bola
Tão redonda como a lua
Enquanto vivem na ilusão
Vão cantando esta canção

Chuva, chuva, chuvinha
Vem do céu até a terra
Chuva, chuva, chuvinha
Vem cair na nossa serra

No meu país há tanto sol
Que a terra seca com dureza
E o camponês que não tem água
Quer mudar a natureza
Nas colheitas pelo Verão
Ele canta esta canção

Chuva, chuva, chuvinha
Vem do céu até a terra
Chuva, chuva, chuvinha
Vem cair na nossa serra

No meu país, se chover demais
Toda a gente fica triste
As crianças sem brincar
E a colheita não resiste
E a Deus numa oração
Cantam a mesma canção

Pára, pára, chuvinha
Fica no céu deixa a terra
Pára, Pára, chuvinha
Não caias na nossa serra

Pára, pára, chuvinha
Fica no céu, fica lá
Pára, Pára, chuvinha

Fica no céu, fica lá

Pára, pára, chuvinha
Fica no céu, fica lá

Pára, pára, chuvinha

Chuva… Chuvinha / Canta Português / Linda de Suza / 1981

Disfarces de Amor

Sabemos que o amor é uma de entre várias emoções intensas mas a de mais difícil definição. Somos capazes de saber porque sentimos ódio, ciúmes ou inveja, mas incapazes de explicar porque sentimos amor por alguém. No entanto, esta deve ser a emoção mais transformadora do mundo interno, criando uma necessidade que se mantém ao longo da vida.
A procura de um objeto de amor parece ser uma característica da condição humana, sendo uma relação amorosa a que mais poderá contribuir para um desenvolvimento do indivíduo, uma vez que o amor fortalece o Self e este, fortalecido, é capaz de estabelecer e desenvolver relações verdadeiras e com profundidade. No entanto, muitas pessoas vivem constantemente numa indecisão sobre se mais valerá só que mal acompanhado ou mais vale mal acompanhado que só. 
Assim, procuramos compreender como é que o amor se insere numa sociedade onde o mal-estar abunda, assistindo-se a uma procura incessante de excessivos estímulos externos que visam disfarçar o sofrimento, revelado na adoção de pseudo-vidas, mediadas por pseudo-necessidades, estabelecendo-se pseudo-relações que resultam de uma dificuldade em se estar só e com o seu mundo interno.


Livro "Disfarces de Amor - Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade Narcísica 

Assiste-se nos dias de hoje a um incremento de um pensamento que é da ordem do concreto, onde condutas operatórias consumistas pretendem acalentar as dores e possibilitar um significado ao Self, numa procura de viver tudo freneticamente ainda que com desencantamento, sem veracidade do Eu, visando o alcance de um estado maníaco artificialmente provocado, quer por recurso a álcool e drogas, quer pela compulsão de consumo que mascára o que falta ao Eu transformando-o num deus de posse, dono de uma anestesia afectiva com entorpecimento dos sentidos, aproveitados de modo superficial: toca-se mas não se sente, ouve-se para não se escutar, cheira-se mas não se distingue odores, olha-se para o que está à mostra mas não se vê a essência. Desenrolam-se nestes contextos relações amorosas, pessoais, de trabalho, sem vivacidade nem intimidade, traduzidas numa conduta camaleónica de pseudo-adaptação que não resulta em amor nem em produtividade.
(...)
A verdade é que estamos num tempo onde se estabelecem ligações com pessoas de qualquer parte do mundo através da internet, mas não se cumprimenta sequer o vizinho do lado. Estes meios proporcionam o excesso de estímulos, de informação em massa que impede o pensamento, o homem apenas funciona como receptáculo, sem espaço para processar tão variada informação, sendo que no meio de tanta estimulação surge o risco da perda da própria individualidade de um Eu fragilmente edificado.
(...)
É assim que se vive sem vida, sem objetos contentores, numa sociedade do espetáculo, do teatro de marionetes, manipuladas pelos supostos desejos alheios dos deuses idolatrados, sem qualquer profundidade ou interioridade, numa hiperactividade permanente que permita pôr-se a fugir de si próprio, mas que sem este motor externo se despenham num precipício de inferioridade e vergonha, de apatia e desânimo. Dizia António Variações na sua canção: “Tenho pressa de sair, quero sentir ao chegar vontade de partir para outro lugar. Não sei de que é que eu fujo, será desta solidão? Mas porque é que eu recuso a quem quer dar-me a mão?”
(...)
Por outro lado, assistimos a um crescendo de mal-estar do desejo denunciando uma grande dificuldade em integrar o desejo com o Amor, o que conduz à adopção de condutas sexualizadas desprovidas de afecto, numa preocupação exibicionista com o desempenho envolto numa anestesia afectiva, são estas relações plenas de entusiasmo estéril, fugaz, e sem contacto emocional íntimo. O que se deseja não é um outro, mas a própria imagem idealizada ou uma reparação do narcisismo falhado do próprio. Consideramos que este mal estar do desejo tem subjacente um forte mal estar vincular, que se repete ao longo da história relacional do indivíduo, e que vai minando de maneira nefasta toda a relação supostamente amorosa.