domingo, 26 de julho de 2020

sábado, 25 de julho de 2020

Os Amigos Podem Foder? ou Vão 'Destruir a Amizade'?

"A relação do erotismo com a amizade é ainda mais difícil. A amizade é totalmente heterogénea com respeito ao erotismo. Em geral, nas relações entre os dois sexos, há um momento em que o encontro pode evoluir tanto para o erotismo como para a relação amigável. Quase sempre obriga a uma escolha: ou de um lado ou do outro. No entanto, amizade e erotismo podem conviver. É possível uma amizade entre duas pessoas de sexos diferentes que tiveram ou têm relações eróticas entre si. O mesmo vale para pessoas do mesmo sexo, no caso dos homossexuais. É possível, porque a amizade tem uma vida autónoma, não tem necessidade do erotismo e a sua frivolidade não trás, portanto, nenhuma ameaça. 

O erotismo por si só não se prolonga em amizade. A atração erótica pode alimentar-se de coisas absolutamente incompatíveis com a amizade, como a vulgaridade, o capricho, a mentira. O erotismo é, por natureza, ambíguo, diz sim e não ao mesmo tempo. É impossível que, de uma relação baseada apenas nestes fatores, possa derivar o cristalino positivismo da amizade. Quando, porém, a amizade existe já, ou se constrói de conta própria, através dos encontros, quando a relação entre as pessoas se baseia em sólidos fundamentos éticos, o erotismo não a destrói. 

O erotismo não produz amizade, mas a "amizade é compatível com o erotismo". Na amizade erótica, o que conta é a filigrana de encontros. Aquilo que conta é a confiança, a fidelidade, a lealdade espiritual. Se estas existirem, se o erotismo é apenas uma componente do encontro, pode viver lado a lado com a amizade, tal como pode viver lado a  e faz lado com o amor resultante do enamoramento. 
Diferencia-se deste apenas porque não é ciumento, exclusivo, porque não pretende a posse total, contínua, da pessoa. O erotismo, na amizade, é sempre um apêndice, qualquer coisa de não essencial, que não interfere e não deve interferir com os fundamentos da amizade. Mas, se consegue não interferir, se não se torna opressivo, obsessivo, se se mantém leve como uma dádiva não pedida, então pode viver e durante muito tempo. 

Na "amizade erótica", a amizade começa onde termina a sedução, onde acaba a manipulação e o poder. A verdadeira amizade erótica é feita de rasgos, sem cálculo, generosa, para crescer e fazer crescer. Sem cálculos mesquinhos de pró e contra, sem vontade de trair, de dirigir, de influenciar, de empurrar numa direção. Amigo é aquele que recebe bem o amigoe faz aquilo que lhe agrada. Tanto pode ser esperado, como vir de improviso. Um amigo dá sem exigir, recebe sem pedir. Se o erotismo consegue vir a ser estas coisas - e por vezes consegue-o - , então é compatível com a amizade. Em caso contrário, destrói-a. 

A Amizade / Francesco Alberoni (1984)

O Benfica Deixou de Ter Seis Milhões de Adeptos

A preferência clubística foi-me transmitida pelo meu pai que era simpatizante do Benfica porque, estou em crer, preferia a cor vermelha ao azul e ao verde. E uma das memórias que fui retendo, porque disso muito se falava conforme fui crescendo, era quando o meu pai, na garagem lá de casa onde reparava algumas motorizadas, me exibia por volta dos quatro anos, pondo-me na mão um monte de cartas de jogadores da bola (formato cartas de jogar) e me pedia para mostrar como sabia os nomes deles todos. Jogador após jogador eu deixava o meu pai orgulhoso acertando sempre no nome, ao que os clientes ficavam muito impressionados e achavam sempre que eu tinha de saber ler. Mas não, eu simplesmente memorizava o que o meu pai me dizia.

Foi por esta influência que me fui tornando simpatizante de um clube que fica a 300Km do local onde nasci e em que a maioria das crianças com quem cresci, sejam vizinhos ou colegas de escola, simpatizavam mais com um outro clube, de azul e branco vestido. Conforme fui crescendo comecei a querer que os vermelhos ganhassem principalmente para que na segunda-feira seguinte de escola (sim, antigamente só se jogava ao domingo às três da tarde e não agora em que parece que há jogos todos os dias!) principalmente para que na segunda-feira seguinte de escola não me chateassem, ainda que, em boa verdade, não me chateavam muito porque eu também nunca fui muito de aferroar os outros. 
Mas se ao longo dos anos oitenta as coisas ainda estiveram equilibradas, a verdade é que a partir dos anos noventa foi mesmo para esquecer. A máfia portista era tanta e à descarada, com os casos da agência de viagens Cosmos, mais tarde da fruta e os chocolatinhos e os apitos dourados, que era mesmo impossível aos vermelhos ganhar o que quer que fosse, o que, diga-se me revoltava um bocado.


Fui um adepto da bola igual a tantos outros, mas não creio que alguma vez tivesse sido fanático até porque graças a Odin sempre tive espírito crítico e pensei pela minha própria cabeça. No entanto sempre gostei de estar bem informado para rebater os argumentos adversários o que por vezes chateia as pessoas. É mais ou menos como quando discutia religião com os crentes! 
O futebol foi também elemento determinante num dos momentos importantes da minha vida. Na traseira dum autocarro discutia-se bola. Uma adolescente que não conhecia pessoalmente ia sentada no banco à minha frente, à esquerda, olha a determinado momento para trás após um comentário meu e há trocas de conversas entre todos. Mais tarde essa jovem torna-se minha amiga, e mais à frente namorada durante quase oito anos. "Pensei que não gostasses de futebol" disse-me. No entanto foi ela que, não gostando de futebol, quis ir à festa do penta lá do seu clube azul e branco. Eu levei-a e ela depois foi ter com as amigas da escola. "O Jardel acenou-me", disse-me feliz (e eu que pensava que tu não gostavas de futebol!)

À medida que me fui tornando adulto o entusiasmo foi decaindo, mesmo quando os vermelhos começaram a ganhar mais. Ganhar mais significava que que ninguém me chateava tanto com o futebol o que é ótimo! No trabalho a grande maioria dos azuis andavam sempre caladinhos, e muitas vezes o motivo de se lembrarem que o futebol existia não era quando o clube deles ganhava. Não!, era sim quando os vermelhos perdiam! Por isso sempre achei que o segundo maior clube em Portugal nem era azul nem verde, era sim o anti-vermelho!, o que não deixa de ser completamente absurdo mas no futebol raramente as coisas fazem algum sentido.  

Eu nunca fui adepto de ir ver jogos ao estádio, nem aquele adepto que tem que comprar o jornal da bola todos os dias. Mas o afastamento do fenómeno futebol tornou-se ainda maior quando Miguel Relvas, ministro do governo de Passos Coelho, que estava empenhadíssimo em privatizar a RTP, resolveu retirar o futebol da lista de interesse público e a RTP deixou de transmitir aquele único jogo de futebol semanal que dava em sinal aberto e, quem quisesse assistia a jogos na televisão pública teria que passar a assinar um canal pago no cabo ou ir ao café ver os jogos. Ou seja, desde Outubro de 2012 que não mais vi um jogo do campeonato português.

Houve uma única vez que fui a um estádio de futebol. Foi no ano de 1993 no estádio do Bessa na cidade do Porto. Eu estudava na escola secundária em frente e durante a semana comprei os bilhetes (para mim e para o meu tio que me acompanhou) e que custaram dois contos para a banca central. Foi um dia de Primavera de muito temporal, muita chuva. O relvado estava inundado de água e a expressão "atirou-se para a piscina" nesse jogo fazia  todo o sentido! Na equipa do Benfica pontificavam jogadores como Rui Costa, Futre, Isaías, Paulo Sousa ou Yuran. Tive a sorte de ter estado num jogo épico pois quando o Benfica ganhava por 1-3 o guarda-redes Neno é expulso e provoca grande penalidade e, além da equipa ter ficado a jogar com nove jogadores, ainda teve colocar um jogador de campo na baliza. Mas  a verdade é que, apesar de ainda faltar mais de quinze minutos para o fim do jogo, e apesar das várias tentativas, Paulo Sousa que substituiu Neno envergando uma camisola de guarda-redes às avessas defendeu tudo.


Depois de duas décadas para esquecer o Benfica o clube começa a ganhar mais a partir de 2010, época que coincidiu, coincidência ou não, com a chegada de Jorge Jesus. Na verdade eu nunca consegui entender o seu endeusamento visto que, a cada dois anos só ganhou um campeonato (exatamente o mesmo que Rui Vitória ou Bruno Lage) e ainda por cima não aposta na formação e exige gastos astronómicos. Jorge Jesus e o presidente Vieira nunca me agradaram. Eu não gosto de fanfarrões como Jesus, que se acha o melhor do mundo e arredores. Não gosto de pessoas com falta de humildade e com um ego tão inchado que depois acabam prostrados de joelhos perguntando-se como é possível que tenham perdido. Do presidente Vieira revolta-me que, depois de ter assistido a décadas de máfia azul e branca, veja agora que o amigo pessoal de Pinto da Costa fez exatamente igual ao que antes criticava e que os processos em tribunal por corrupção sejam mais do que muitos ainda que, à semelhança do seu amigo Pinto da Costa também coincidentemente nunca nada se tenha provado.

Desde que o futebol saiu da RTP, há oito anos, que cada vez mais me desinteressei pela bola. A bola é um fenómeno que só atrai o que de pior existe na sociedade. Sejam os empresários falidos e corruptos, seja gente violenta que mais parecem uns animais selvagens e que precisam que a polícia os leve aos estádios para não se matarem uns aos outros. Os empresários mais ou menos falidos aproximam-se do futebol porque é uma forma fácil de enriquecer, de delapidar o clube em benefício próprio, à custa do adepto-sócio, que assina o canal de futebol pago a peso de ouro, que compra o jornal todos os dias e que vai todas as semanas ver os jogos.

E, se depois de Vieira não ter renovado contrato com Jesus e ter afirmado que se este treinador não fazia parte do futuro do clube vermelho e branco, e depois da forma como enxovalhou e insultou as pessoas que lá trabalharam, eu afirmei que deixaria de ser benfiquista se ele um dia regressasse. Felizmente desinteressei-me do futebol muito antes desse regresso para não ter que passar pela vergonha de cumprir o que disse mas de qualquer forma há muito que o Benfica deixou de ter seis milhões de adeptos.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Conversas Improváveis (54) - Já Não Há Milagres



Há já algum tempo, e porque muitas vezes não ouve o filho, que a minha mãe tem um dente a abanar. Hoje, e já depois de ter ficado insatisfeita com o trabalho da clínica, deslocou-se a um outro dentista para tentar salvar um dente. 
A minha mãe lá expõe a situação e o médico e solta um:
- Olhe, sabe que não podemos fazer milagres. 
A minha mãe responde:
- Claro que sei. Se houvesse milagres o vírus não pegava em Fátima!


sábado, 18 de julho de 2020

A Incredulidade e a Raiva de Salazar

"Eu tive, na altura, através duma pessoa de inteira confiança, informações de que um inspector da polícia, Pessoa de Amorim, dera conhecimentos dos factos a Salazar, e que o ditador respondeu: "Ora, onde é que ele vai arranjar o dinheiro? Fica muito caro! Não tem viabilidade. Não pense nisso!"

"Mais tarde, após a "derrota" de Humberto Delgado, o polícia teria voltado a escrever ao Primeiro-Ministro, como a censurá-lo por não ter acreditado na notícia e observando que teria sido fácil evitar tantos "aborrecimentos". Bastava, na altura, ter voltado a nomear Delgado para qualquer missão no estrangeiro. Ao que Salazar teria respondido, com um cartão:
"Sr. Pessoa de Amorim, tem você razão, mas continua a ser o mesmo malcriado". Não admitia que lhe chamassem a atenção para o facto de ter errado. O episódio foi-me contado assim e estou convencido de que é exacto.

 Tinha sido muito simples para o governo. Delgado viera de Nova Iorque ou de Washington? Pois iria para adido militar ou outra coisa, noutro lado. Era um oficial, tinha de cumprir. E matava-se a candidatura à nascença. Salazar não acreditou, porque sabia quanto lhe custavam as "eleições", e julgava que, com a Oposição, se passava a mesmo coisa. Não que fazíamos todo o trabalho  sem receber nada e que o dinheiro era o povo, depois, que o dava. A colaboração era espontânea. Ninguém recebia por trabalhar na candidatura. Pelo contrário, oferecia-se dinheiro. Este pormenor foi, afinal, definitivo. Ainda bem que se esqueceu dele, porque assim, felizmente, foi possível ir até ao fim." 

"Obviamente Demito-o - Retrato de Delgado nas Palavras dos Companheiros de Luta" - Manuel Beça Múrias (1975)

segunda-feira, 13 de julho de 2020

A Rua Esburacada Que Deixou de o Ser

Há anos que tenho vergonha do estado em que se encontra a minha rua. E revolta-me que outras sejam feitas de novo, sejam esburacadas duas ou três vezes e de novo ajeitadas ao passo que a minha vai ficando cada vez pior. Eu não consigo perceber, como é que as câmaras municipais gastam por vezes rios e rios de dinheiro, que é de todos os munícipes, em festas e merdas que não lembra o Diabo e depois naquelas coisas básicas de primeira necessidade como uma estrada, fecham os olhos e fazem de conta que não é nada com eles. 

Quando eu ia para a escola a minha rua era em terra batida e foi-lhe colocada brita com algum, pouco, alcatrão por volta de 1990. Lembro-me que em cima do alcatrão foi colocada uma enorme camada de areia, que depois aos poucos os moradores foram varrendo e aproveitando.  Se andássemos de bicicleta o passeio não era sereno mas sim com alguma trepidação fruto da irregularidade da brita asfaltada. 


Apesar da estrada ter pouco movimento, a verdade é que, com o tempo foi ficando em muito mau estado, e piorou muito quando a rasgaram toda para meter os tubos para o saneamento. Até que, recentemente foi construída uma oficina abaixo da minha casa (que era a última da rua) e de cinco em cinco minutos passava um camião cheio de terra. Ora se estava mal muito pior ficou. 

Já há coisa de dez anos fez-se um abaixo-assinado por sugestão dum antigo presidente da junta que se prontificou a entregar na câmara municipal mas que, por certo, devem ter deitado ao lixo visto que nada se fez.

Dois presidentes da junta passaram. O atual estava ao corrente, e ao que parece chegou a dizer (desculpa esfarrapada) que quando fosse para fazer fazia-se bem de vez. Pois é, isso é muito bonito, só que, entretanto as pessoas têm verdadeiras crateras em frente de casa, mesmo à feição de furarem um pneu para saírem ou entrarem em casa. E será que os em frente das casas dos presidentes de junta e da câmara também se espera que se façam as estradas de novo? Suspeito que não.

Farto desta situação comecei a pensar em formas de chamar a atenção e de envergonhar os autarcas. Comecei pela mais simples, antes de optar por métodos criativos e radicais. E foi então que, sem dizer nada a ninguém, decidi escrever para o jornal da cidade. Tirei uma fotografia bastante explícita e expus a situação. Posteriormente, a minha mãe disse que eu poderia lá ter metido as tartarugas no charco!

Mas a verdade é que a minha denúncia foi publicada e, não é que, duas semanas depois (eu ainda nem tinha a edição do jornal) já tinham começado a ajeitar a rua? Anos e anos em que ninguém fez nada e uma notíciazinha no jornal e mexem-se logo? Terá sido coincidência ou quando envergonhados os autarcas mexem-se logo? Ficarei sem saber, mas o que interessa é que fiquei com o problema resolvido, ainda que, como o meu nome veio no jornal, talvez tenha ganho algumas inimizades. Azar.

domingo, 12 de julho de 2020

As Melhores Pessoas São Esquisitas



" As melhores pessoas são esquisitas -
Eu digo e repito na boa!

Quem é bonito e normal demais,
Está fingindo.
Quem é inteligente,
Ama as pessoas esquisitas à sua volta.

Elas são as respostas e a revolta
Que a gente precisa. "

Andanças para a Liberdade

"Emigrar jovem, com a vida pela frente, não é a mesma coisa que emigrar quando já se constituiu família e a necessidade de estabilidade económica se impõe como objetivo maior e urgente.

Para mim, a expressão "governar a vida", na Venezuela daquele tempo (tempo de ditadura), significava uma de duas coisas: ou "honestamente" dedicar-se exclusivamente ao trabalho braçal, sem pensar em mais nada, privando-se de tudo o que não fosse essencial à sobrevivência física e a manutenção da saúde para o trabalhar, embrutecendo para ser um rico "bruto", ou pôr de lado princípios e valores, "perder os escrúpulos" e, traficando influências, manipulando e interagindo com os poderosos corruptos locais, alcançar a fortuna de um dia para o outro. 

Aí comecei a compreender porque os governantes e poderosos , quando corruptos, preferem praticar a corrupção com "gente de fora", com estrangeiros sem relações sociais sucetíveis de serem aproveitadas para os denunciar. 

Sempre me pareceu que voltar sendo alguém pelo que se é e não pelo que se tem era uma opção de difícil concretização, incompreendida pelos mentores dos pátrios esteriótipos sociais reinantes, e para a qual os caminhos eram muito mais reduzidos e incertos do que aqueles que podiam levar a ser alguém pela acumulação e ostentação da riqueza material. Sobretudo para quem os escrúpulos éticos e os valores morais não fossem impeditivos de ilícitos bem lucrativos. 

Sem disso ter então consciência, graças ao ditador de Santa Comba, tive oportunidade de poder encontrar, anos mais tarde, um caminho para o SER... empenhando vida, família e improvável fortuna, na luta pela LIBERDADE do meu país, na luta contra a miséria material e cultural de todos os "pátios fundos" do Mundo, e pela afirmação e universalização de valores que, naquela época, ainda não relacionava com políticas ou ideologias. 

Prestando atenção às projeções do que a memória reteve, suspeito sempre que as reflexões hoje feitas não passem de meras justificações para dar razoabilidade a práticas de vida que não eram nada resultantes de opções conscientes, tão só e apenas, as mais atrativas de um jovem que se vê aos dezoito anos, só e senhor da sua vida e do seu corpo, sem orientações tutelares de qualquer espécie, para além dos ensinamentos práticos retirados da sua curta existência. 

"Andanças para a Liberdade" / Camilo Mortágua (2009)

sábado, 11 de julho de 2020

Sabes o Que Quer Dizer SU em Chinês?



De repente chega-me uma carta da Su. Mas quem diabo é a Su? Entretanto agora não há mês que ela não me escreva. Todo o santo mês, logo no início, lá vem sempre nova carta, sempre com a mesma cantiga!

Já agora, sabem o quer dizer Su em chinês?

Em chinês significa: 

Obrigado Passos Coelho por teres nacionalizado ao Estado Chinês (és comunista e não sabias!) uma grande empresa portuguesa como a EDP por um punhado de Yuans. 



domingo, 5 de julho de 2020

O Que é o Sonho Americano?

"Eu estava tão longe que já era de noite quando as torres ruíram. A princípio não percebi o que se passava, só ouvia as pessoas... A aplaudirem.
- A aplaudirem?
Juntou-se uma multidão na rua, perto de onde vivíamos. 
Terroristas.
Não, e essa foi a parte que mais doeu, era apenas gente normal. 
Então por que raio aplaudiram? 
Porque nos odeiam. Porque odeiam a América. E aquele lugar era tão normal, e aquilo vinha de tanta gente, que soube que alguma coisa estava muito errada... Esse tornou-se o meu pesadelo. 
Mais de três mil civis morreram naquele dia... Todos eles inocentes.
Pois, e são as vozes deles que preciso de ouvir. Porque não acho que quisessem que mais gente morresse por eles. 

Land of Plenty - Wim Wenders (2004)

A Arte de Aceitar



"I never said it's over, I'll never say I want you back"


Birds Are Indie - Black or The art of letting go (2020)

A Capa Dourada da Felicidade



"Que diferença há entre nós e os miúdos senão, como diz Aríston, que as nossas brincadeiras - loucuras bem mais caras que as deles! -  são antes os quadros e as estátuas? As crianças ficam todas contentes quando encontram na praia alguns calhaus coloridos; nós preferimos enormes colunas variegadas, importadas das areias do Egipto ou dos desertos do Norte de África para a construção de algum pórtico ou de um salão de banquetes com capacidade para uma multidão. Olhamos com admiração paredes recobertas de placas de mármore, embora cientes do material que está lá por baixo. Iludimos os nossos próprios olhos: quando recobrimos os nossos tetos a ouro o que fazemos senão deleitar-nos com uma mentira? Sabemos bem que por baixo desse ouro se oculta reles madeira!

Mas não são só as paredes ou os tetos que se recobrem de uma ligeira camada: também a felicidade destes aparentes grandes da nossa sociedade é uma felicidade "dourada"! Observa atentamente, e verás a corrupção que se esconde sob a capa de dignidade. Desde que o dinheiro (que tanto atrai a atenção de inúmeros magistrados e juízes e tantos mesmo promove a magistrados e juízes!...), desde que o dinheiro, digo, começou a merecer honras, a honra autêntica começou a perder terreno; alternadamente vendedores ou objetos postos à venda, habituamo-nos a perguntar pela quantidade, e não pela qualidade das coisas. Somos boas pessoas por interesse, somos bandidos por interesse, praticamos a moralidade enquanto dela esperarmos tirar lucro, sempre prontos a inverter a marcha se pensarmos que o crime pode ser mais rendível (...)

Ninguém, de facto, se satisfaz com a própria prosperidade por muito rapidamente que a alcance; todos se lamentam dos seus projetos de modo como as coisas lhes correm, e acham sempre que afinal estavam melhor anteriormente. 

Cartas a Lucílio (Carta 115) - Séneca 


sábado, 4 de julho de 2020

A Manifestação Mais Idiota de Sempre em Portugal

Depois de no sábado passado Mário Machado, um nazi, racista e xenófobo de estrema-direita ter organizado para o Chega a manifestação intitulada "Não há racismo em Portugal"... 
Bom talvez isto tenha sido rápido demais. Vou recomeçar repetindo com muita calma para que o leitor que está fora do contexto possa interiorizar melhor, porque por vezes, eu mesmo como leitor tenho que voltar atrás e reler para perceber ou interiorizar melhor o que estou a ler. 
Então é assim: um polícia, militar da força aérea, racista e de extrema-direita, de seu nome Mário Machado, que foi condenado a dez anos de cadeia por ter matado (conjuntamente com mais um bando de terroristas neonazis) um Cabo Verdiano, Alcino Monteiro no 10 de Junho de 1995 em Lisboa, e que agora até já é convidado do programa do Goucha da TVI e tudo, organizou para o CHEGA uma manifestação intitulada "Não há racismo em Portugal"! 

Já perceberam certo? Um tipo neonazi, racista e xenófobo, que matou um ser humano simplesmente por se ter cruzado com ele na rua e ele ser preto, e que foi condenado a dez anos de cadeia, agora de regresso à vida civil apela a que todos os racistas e nazis de extrema-direita votem no CHEGA, organiza uma manifestação, muito indignado, porque no seu entender não há racismo em Portugal! 


Eu gostaria de deixar aqui mais algumas sugestões de manifestações originais. Posso começar por sugerir aos empresários que se manifestem contra a União Europeia, afirmando que não há discriminação salarial em Portugal. E já agora que as empresas portuguesas também não colocam o dinheiro em off-shores ou que fazem branqueamento de capitais. Nada disso é verdade! Tal como também não há salários baixos em Portugal!

Posso também deixar a sugestão para que todos os padres católicos portugueses acusados de pedofilia, que se manifestem e mostrem a sua indignação, pois como sabemos não há pedofilia em Portugal!

Já agora incito também todos os homens que foram condenados a cadeia por terem matado as suas companheiras, a manifestarem-se porque, como se sabe, não há violência doméstica em Portugal! 

Acho que até hoje nunca tinha ouvido falar numa manifestação que, em vez de reivindicar algo, como por exemplo, melhores condições de vida, não, fizeram uma manifestação de negação dos problemas! Fantástico! O CHEGA, partido formado a partir de recolha de assinaturas falsas, num ano consegue fazer a manifestação mais idiota de sempre em Portugal! Não é fácil mas conseguiram! 

Conseguiram também o feito de serem contra as manifestações, porque estamos em plena pandemia, mas depois, seguindo o exemplo do líder do partido que faz sempre o oposto do que diz, eles mesmos manifestaram-se... em plena pandemia! Espetacular, não é?! 

Fórmula Para Publicar um Livro Best Seller

Estás a pensar editar um livro e dava-te jeito que vendesse bem? É extremamente fácil, basta colocar no título "Auschwitz" e dizer que é inspirado numa história real. Auschwitz deve ser muito inspirador para os leitores, porque os transporta para um sítio tranquilo, de extrema felicidade e deve ser isso que leva toda a gente a ler, até porque de tristezas e fatalidades já basta a vida real não é?! Escrevam sobre Auschwitz que vai vender que nem peças da Primark depois do confinamento!
Eu mesmo já estou a pensar em publicar o meu primeiro romance e já tenho em mente alguns títulos:

- O Jardineiro de Auschwitz
-  A Mesa de Ping Pong de Auschwitz
- O Metaleiro de Auschwitz
- O Guarda Florestal de Auschwitz
- Pedalar em Auschwitz
- As Caminhadas de Auschwitz
- O Eremita de Auschwitz
- A Pandemia em Auschwitz
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