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sábado, 18 de julho de 2020

A Incredulidade e a Raiva de Salazar

"Eu tive, na altura, através duma pessoa de inteira confiança, informações de que um inspector da polícia, Pessoa de Amorim, dera conhecimentos dos factos a Salazar, e que o ditador respondeu: "Ora, onde é que ele vai arranjar o dinheiro? Fica muito caro! Não tem viabilidade. Não pense nisso!"

"Mais tarde, após a "derrota" de Humberto Delgado, o polícia teria voltado a escrever ao Primeiro-Ministro, como a censurá-lo por não ter acreditado na notícia e observando que teria sido fácil evitar tantos "aborrecimentos". Bastava, na altura, ter voltado a nomear Delgado para qualquer missão no estrangeiro. Ao que Salazar teria respondido, com um cartão:
"Sr. Pessoa de Amorim, tem você razão, mas continua a ser o mesmo malcriado". Não admitia que lhe chamassem a atenção para o facto de ter errado. O episódio foi-me contado assim e estou convencido de que é exacto.

 Tinha sido muito simples para o governo. Delgado viera de Nova Iorque ou de Washington? Pois iria para adido militar ou outra coisa, noutro lado. Era um oficial, tinha de cumprir. E matava-se a candidatura à nascença. Salazar não acreditou, porque sabia quanto lhe custavam as "eleições", e julgava que, com a Oposição, se passava a mesmo coisa. Não que fazíamos todo o trabalho  sem receber nada e que o dinheiro era o povo, depois, que o dava. A colaboração era espontânea. Ninguém recebia por trabalhar na candidatura. Pelo contrário, oferecia-se dinheiro. Este pormenor foi, afinal, definitivo. Ainda bem que se esqueceu dele, porque assim, felizmente, foi possível ir até ao fim." 

"Obviamente Demito-o - Retrato de Delgado nas Palavras dos Companheiros de Luta" - Manuel Beça Múrias (1975)