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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

O Livro é Uma Arma de Defesa

Excerto  da entrevista do Jornal de Negócios ao escritor brasileiros Jefferson Tenório, publicada no dia 1 de agosto de 2025


Contou numa conversa literária que ter um livro na mão quando ia na rua o livrou várias vezes de abordagens policiais mais violentas. Tornou-se uma espécie de escudo?

Com 17 anos eu comecei a sair à noite com os meus amigos. E, sendo um jovem da periferia, as abordagens policiais começaram a ficar mais frequentes. Percebi que quando carregava um livro era dispensado da abordagem ou recebia uma abordagem menos violenta. Era como se o livro me protegesse e mostrasse para aqueles policiais que eu era uma pessoa de bem, não era uma pessoa perigosa. Então, passei a andar com um livro para todo o lado.

Essas abordagens tinham a ver com a cor da sua pele?

Eram pelo facto de ser jovem e negro. Aconteceu estar num grupo com três amigos, sendo que um deles era branco e foi o único que não foi revistado. Estamos a falar de uma realidade quotidiana no Brasil. Se eu ficar parado numa esquina durante 30 minutos, provavelmente vai parar um carro da polícia e vai-me revistar. Ainda hoje. Vão perguntar o que eu estou fazendo ali, para onde vou. O que não aconteceria com uma pessoa branca.

Há um racismo estrutural no Brasil?

Não é assumido. Mas há um racismo estrutural que entrou no inconsciente das pessoas. É como se fosse uma espécie de vírus que se instalou no inconsciente coletivo social e que enxerga pessoas negras como pessoas perigosas. Isso já vem de muitos séculos.

O racismo tem-se sofisticado, tem encontrado novas formas de exercer a sua violência nas pessoas.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Conversas Improváveis (73) - Pretos & Brasileiros

imagem roubada da net

Rua Santa Catarina no Porto acompanhado e a conversar. Metido no meio dum enorme maralhal de gente que me deixa desconfortável porque não gosto de multidões, e não é nenhuma fobia, simplesmente não gosto de muita gente junta. 

No meio de toda aquela massa humana os meus ouvidos captam a seguinte frase:

"Em Lisboa é só pretos, aqui é só brasileiros. Prefiro os pretos aos brasileiros". 

Obviamente que percebo o jovem, é que os brasileiros são todos branquinhos e como toda a gente sabe nem há brasileiros pretos!

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

A Justiça Portuguesa é uma Javardice


Por estes dias ficamos a saber que chamar "javardo" no Twitter a um treinador de futebol valeu 8200€ de multa. 

Já um político e deputado cometer sucessivos atos racistas contra a comunidade cigana e que inclusive já mandou uma outra deputada "para a sua terra" pagou 400€ de multa. 

Mais interessante é que, pela mesma coisa - cometer racismo para com os ciganos - valeu ao Presidente da Junta de Freguesia de Paredes nove meses de cadeia. Ou seja, pelo mesmo crime, um vai para a cadeia mas o outro que ainda fez pior paga 400€ de multa! Justíssimo!

Sim, é verdade que eu não sou jurista, mas diz-me o senso comum - aquele do bom pai de família - que a Justiça deve ser justa. Deve tratar todos por igual. Infelizmente não. A Justiça portuguesa ainda não teve o seu 25 de Abril,  tem os olhos bem abertos e é completamente discricionária e injusta. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Tens a Certeza que Gostas de Pretos?


"O racismo é um problema difícil de abordar. Como e o quê poderemos considerar racismo? Hoje pouca gente considera alguém inferior ou superior só porque pertence a esta ou aquela raça, tem esta ou aquela cor. É que o racismo anda misturado com tantos outros fatores que por vezes nos é difícil reconhecê-lo. A primeira interrogação acerca do racismo, que me surgiu, foi quando o paquete acostou ao cais de Luanda e vi todos aqueles negros, da mangueira na mão, preparados para o abastecer de combustível. É que não vi sequer um branco em algum trabalho pesado, duro; esses trabalhos eram executados por pretos. Até que ponto isto é expressão de racismo? Ou será expressão de uma exploração meramente económica?
(...)
Em Luanda fui visitar a ti Maria Júlia; conheci-a era eu ainda criança; as nossas famílias davam-se bastante bem. Como tinha de tratar de assuntos relacionados com a Companhia tinha um jeep à minha disposição; o condutor era um soldado preto de Luanda, extraordinariamente educado e amável; tornamo-nos logo amigos. Fui então com o Neves, assim se chamava ele, a casa da ti Maria Júlia. Conversei animadamente com ela. Passado algum tempo disse que não me podia demorar pois estava ali o condutor com o carro à minha espera. 
- Então não mandaste entrar o rapaz?
- Ó Zé, manda-o entrar que lhe havemos de dar uma cerveja. 
Saí de casa, atravessei o pequeno quintal e fui chamar o Neves. Este estacionou melhor a viatura e preparava-se para entrar. Quando eu entrei disse-me a ti Maria Júlia:
- Se calhar é preto, é?
- É... sim... o condutor é preto - respondi. 
- Ah!! Pode beber mesmo aí no quintal...
Tive vontade de de desaparecer, enterrar-me pelo chão abaixo; tive vontade de nunca mais pôr os pés naquela casa e jurei-o mesmo. 
Foi logo buscar a cerveja e trouxe-a até à porta de casa de modo que o Neves não entrou. Trouxe apenas a garrafa; não trouxe o copo. 
- Ele não se importa de beber pela garrafa - disse ela quando passou a garrafa ao condutor. 
E o meu amigo Neves, por ser preto, bebeu a cerveja no quintal e sem copo... Despedi-me mal ele acabou de beber e saí revoltado. Eu não queria que em Angola existisse racismo!! Eu que não supunha estas pessoas da minha aldeia capazes de tal ato! Afinal o racismo existia! Mas porquê, se o Neves tinha mais nível, mais formação e mais valor humano que toda aquela gente junta?

Outro dia tive que passar por casa da ti Maria Júlia; alguém de família mo pedira. Conversamos um pouco; tinha eu nessa altura alguns meses de Angola. Disse-lhe então muitas coisas que não gostaram de ouvir...
- Mas gostas mesmo dos pretos? - perguntou.
- Não posso é com estes brancos; que querem enriquecer depressa e à custa dos pretos - respondi. 
- Olha que é mau pensares assim... parece turra. 

Turra é uma palavra muito feia em Angola; está carregada de ódio e de medo. É aplicada aos negros que não se submetem passivamente aos colonos, e aos brancos que estão do lado dos pretos, que os defendem.  

Desde o início, desde que pisei terras de Angola, coloquei-me ao lado dos pretos. Na sua própria terra eram os mais fracos e mais pobres, e eu, não sei por que intuição interior, sempre tive a impressão de que os pobres e os fracos têm razão. 

Angola! Angola! Testemunho sobre o problema colonial - José Pires (1975)  (escrito antes do 25 de Abril de 74)

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O Negador do Racismo Condenado Por Racismo


 Estávamos no Verão, em plena pandemia, e o líder partidário André Ventura do CHEGA, que tinha criticado a manifestação contra o racismo que se fez em Portugal, na sequência da morte de George Floyd, isto porque afinal estávamos em pandemia, resolve, ele mesmo, dando o dito pelo não dito, porque afinal a sua manifestação dos negadores de máscaras não ia infetar ninguém, resolve ele mesmo fazer a sua manifestação afirmando que "não há racismo em Portugal". 

Estamos a falar do líder partidário que é apoiado por nazi-fascistas, incluindo, por exemplo, Mário Machado condenado a dez anos por ter matado um negro em que o seu único crime foi ter-se cruzado com ele no Bairro Alto. Estamos também a falar do líder partidário que mandou a deputada eleita da nação Joacine Moreira "ir lá para para a sua terra. 

Hoje ficamos a saber que o líder partidário que nega que exista racismo em Portugal, foi ele mesmo condenado por racismo. Este é um daqueles casos em que se costuma dizer que a realidade ultrapassa a ficção.

sábado, 4 de julho de 2020

A Manifestação Mais Idiota de Sempre em Portugal

Depois de no sábado passado Mário Machado, um nazi, racista e xenófobo de estrema-direita ter organizado para o Chega a manifestação intitulada "Não há racismo em Portugal"... 
Bom talvez isto tenha sido rápido demais. Vou recomeçar repetindo com muita calma para que o leitor que está fora do contexto possa interiorizar melhor, porque por vezes, eu mesmo como leitor tenho que voltar atrás e reler para perceber ou interiorizar melhor o que estou a ler. 
Então é assim: um polícia, militar da força aérea, racista e de extrema-direita, de seu nome Mário Machado, que foi condenado a dez anos de cadeia por ter matado (conjuntamente com mais um bando de terroristas neonazis) um Cabo Verdiano, Alcino Monteiro no 10 de Junho de 1995 em Lisboa, e que agora até já é convidado do programa do Goucha da TVI e tudo, organizou para o CHEGA uma manifestação intitulada "Não há racismo em Portugal"! 

Já perceberam certo? Um tipo neonazi, racista e xenófobo, que matou um ser humano simplesmente por se ter cruzado com ele na rua e ele ser preto, e que foi condenado a dez anos de cadeia, agora de regresso à vida civil apela a que todos os racistas e nazis de extrema-direita votem no CHEGA, organiza uma manifestação, muito indignado, porque no seu entender não há racismo em Portugal! 


Eu gostaria de deixar aqui mais algumas sugestões de manifestações originais. Posso começar por sugerir aos empresários que se manifestem contra a União Europeia, afirmando que não há discriminação salarial em Portugal. E já agora que as empresas portuguesas também não colocam o dinheiro em off-shores ou que fazem branqueamento de capitais. Nada disso é verdade! Tal como também não há salários baixos em Portugal!

Posso também deixar a sugestão para que todos os padres católicos portugueses acusados de pedofilia, que se manifestem e mostrem a sua indignação, pois como sabemos não há pedofilia em Portugal!

Já agora incito também todos os homens que foram condenados a cadeia por terem matado as suas companheiras, a manifestarem-se porque, como se sabe, não há violência doméstica em Portugal! 

Acho que até hoje nunca tinha ouvido falar numa manifestação que, em vez de reivindicar algo, como por exemplo, melhores condições de vida, não, fizeram uma manifestação de negação dos problemas! Fantástico! O CHEGA, partido formado a partir de recolha de assinaturas falsas, num ano consegue fazer a manifestação mais idiota de sempre em Portugal! Não é fácil mas conseguiram! 

Conseguiram também o feito de serem contra as manifestações, porque estamos em plena pandemia, mas depois, seguindo o exemplo do líder do partido que faz sempre o oposto do que diz, eles mesmos manifestaram-se... em plena pandemia! Espetacular, não é?! 

quarta-feira, 3 de junho de 2020

O Racismo e a Polícia nos Estados Unidos

"Terras boas, diz você? E ninguém as cultiva?

- Não senhor. É assim mesmo. E quando vocês virem isso ficam danados. E ainda não viram nada. Aquela gente tem uma maneira de olhar para nós que até faz ferver o sangue. Olham para nós e dizem: "Não gosto de ti meu filho da puta". Depois vêm os delegados do sheriff e vocês são perseguidos. Acampamos em qualquer lugar à beira da estrada, e eles mandam-nos embora. Basta olhar para a cara deles; logo se vê a raiva que têm à gente. E... vou-lhes dizer uma coisa: eles têm-nos raiva porque têm medo. Sabem que, quando alguém tem fome, trata de arranjar comida, ainda que tenha de a roubar. Sabem que deixar as terras abandonadas é um pecado, e que alguém se dispõe logo a tomá-las . Diabo! Ainda ninguém vos chamou "Okies"?
Tom perguntou:
- "Okies"? Que quer isso dizer?
- Bem, antigamente, "Okie" era aquele que vinha de Oklahoma. Agora é o mesmo que chamar a um tipo filho da puta. "Okie" quer dizer que o sujeito é uma merda. A palavra, em si, não quer dizer nada; o que mete raiva é a maneira como eles a dizem. Mas não vale a pena dizer mais nada. Vocês têm que ver a coisa pessoalmente. Têm que ir para lá. Ouvi dizer que há por lá agora umas trezentas mil pessoas, da nossa região, gente que vive como porcos, porque tudo na California tem dono. Não sobra coisa nenhuma. E os donos disso tudo agarram-se às suas coisas que eu cá sei. Até são capazes de matar. Têm tanto medo que ficam doidos. Vocês vão ver, vão ouvir o que por lá se diz. É a mais linda terra do Mundo, mas o povo de lá é um bocado ruim. Tem tanto medo e tantos cuidados que até desconfia da sua própria gente. 
Tom olhou a água e enterrou os calcanhares na areia. 
- Mas, se alguém trabalhar e fizer economias, pode comprar um pedacinho de terra, não pode?
O homem mais idoso riu e olhou para o filho, e o rapaz, calado, arreganhou os dentes numa expressão quase triunfal. E o homem disse:
- Vocês não conseguirão nenhum trabalho certo. Terão de arranjar dia a dia o dinheiro para a comida. E vão precisar trabalhar para uma gente mesquinha como o Diabo. Se apanharem algodão, podem estar certos que a balança está viciada. Talvez não aconteça sempre, mas geralmente é o que se dá. Terão, por isso, de partir do princípio que todas as balanças estão viciadas, porque lhes é impossível saber quais é que estão certas. E não poderão fazer nada, mesmo nada. 
O pai perguntou em voz baixa:
- Então... então aquilo por lá não é nada bom, pois não?
- É bom, muito bonito tudo aquilo, mas a gente não consegue nada. Há, por exemplo, um pomar cheio de laranjas maduras... e um sujeito armado de revólver, que dá um tiro no primeiro que mexer nelas. E há um sujeito, dono de um jornal, lá perto da costa, que tem um milhão de acres de terra...
Casy ergueu vivamente a cabeça:
 - Um milhão de acres? Que diabo faz o homem com tanta terra?

(...)

- Vocês vão-se embora daqui?
- Não sei, disse Tom. Você acha melhor?
Floyd riu com azedume.
- Não ouviu o que o polícia disse? Se a gente não abalar deitam fogo a todo o acampamento. Se você pensa que esse delegado aguenta uma coisa daquelas sem mais nem menos e não vai tratar de se vingar, é porque não está bom da cabeça. Garanto que essa gente volta hoje mesmo à noite, para queimar tudo(...)
- O que eu não sou capaz de compreender é porque é que aquele polícia se armou se armou em teso. Parece que queria à viva força armar uma zaragata. O que ele queria era aquilo - disse Tom. 
- Nao sei como é a coisa por aqui, mas no norte conheci um polícia que era uma excelente criatura - afirmou Floyd. - Ele contou-me que, na zona dele, os polícias têm de caçar gente para meter no xadrez. O sheriff ganha 75 por dia por cada preso que meter na cadeia e só gasta 25 para lhe dar de comer. Não tendo presos deixa de ganhar dinheiro. O tal polícia disse-me que passou uma semana sem prender ninguém, e então o sheriff disse-lhe que tratasse de arranjar presos ou então que entregasse o emblema. Também esse gajo que esteve por aqui parecia disposto a prender gente de qualquer maneira. 

SIPNOPSE:
Na década de 1930, as grandes planícies do Texas e do Oklahoma foram assoladas por centenas de tempestades de poeira que causaram um desastre ecológico sem precedentes, agravaram os efeitos da Grande Depressão, deixaram cerca de meio milhão de americanos sem casa e provocaram o êxodo de muitos deles para oeste, rumo à Califórnia, em busca de trabalho. Quando os Joad perdem a quinta de que eram rendeiros no Oklahoma, juntam-se a milhares de outros ao longo das estradas, no sonho de conseguirem uma terra que possam considerar sua. E noite após noite, eles e os seus companheiros de desdita reinventam toda uma sociedade: escolhem-se líderes, redefinem-se códigos implícitos de generosidade, irrompem acessos de violência, de desejo brutal, de raiva assassina. Este romance que é universalmente considerado a obra-prima de John Steinbeck, publicado em 1939 e premiado com o Pulitzer em 1940, é o retrato épico do desapiedado conflito entre os poderosos e aqueles que nada têm, do modo como um homem pode reagir à injustiça, e também da força tranquila e estoica de uma mulher. As Vinhas da Ira é um marco da literatura mundial.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Marega é a Rosa Parks do Futebol Português

Wikipedia

No dia 1 de Dezembro de 1955, Rosa Parks entrou num autocarro, no centro da cidade de Montgomery. Pagou o bilhete e sento-se na primeira fila de assentos reservados a negros. O motorista seguiu viagem e o autocarro foi enchendo até que na terceira paragem, vários passageiros entraram e dois ou três brancos ficaram de pé. Para resolver o "problema" o motorista mudou o sinal de "colored" (negros) e exigiu que os passageiros negros sentados se levantassem para que os passageiros brancos se sentassem. Enquanto os outros três negros se levantaram, Rosa recusou-se. Foi chamada a polícia e ela foi detida, acusada de violar a lei da segregação, apesar de tecnicamente ela não ter sentado em nenhum assento reservado a brancos. 

Excerto adaptado daqui.


domingo, 8 de julho de 2018

Leitura Aconselhável para Quem Acha que Portugal Não é um País Racista

Não sei o que pensará a maioria dos portugueses sobre o assunto, mas as pessoas que me são próximas no trabalho, todas acham que Portugal não é um país racista. Pois eu discordo totalmente. Claro que os portugueses não são racistas, só não querem que os filhos casem com um preto(a)! E isso é racismo?! Os portugueses não são racistas, só não alugam as suas casas a pretos! Qual é o mal? Portugal não é um país racista, só não atribui a nacionalidade a quem nasceu em Portugal, filho de emigrantes negros, enquanto que, qualquer chinês ou indiano rico, obtém facilmente a nacionalidade bastando para isso comprar um visto dourado. Ou então bastando para isso ser futebolista e estar cá durante três anos!

Deixo aqui duas sugestões de leitura, dois livros que ainda estão quentinhos, saídos para as livrarias ainda neste ano de 2018, e que talvez possam elucidar as mentes menos atentas.

O primeiro livro chama-se "Racismo no país dos brancos costumes" de Joana Gorjão Henriques, jornalista do Público, que tem recebido várias distinções pelos seus trabalhos sobre racismo. 

HISTÓRIAS REAIS DO PORTUGAL RACISTA QUE AINDA VIVE NO MITO DO NÃO-RACISMO

Um homem quer alugar uma casa, mas assim que diz o seu nome africano deixa de receber respostas. Uma avó da Cova da Moura é atirada ao chão por um polícia quando pergunta pelo neto. Uma mulher negra com formação superior vai ao hospital e perguntam-lhe se sabe ler as placas informativas. Por causa da cor da pele. Tudo isto acontece em Portugal, a portugueses negros, e é contado na primeira pessoa no livro No País dos Brancos Costumes, que dá continuidade à investigação de Racismo em Português. Assim se completa o retrato de um país que em 1982 deixou de atribuir a nacionalidade portuguesa aos filhos de imigrantes nascidos em Portugal, e onde ainda há quem encontre listas de escravos (com os respectivos preços) nos baús dos avós, entre outros brandos - brancos - costumes. 

"Vês casos de futebolistas que facilmente tiveram a nacionalidade, isso cria-te uma revolta. Vês alguns que chegam a Portugal e passados três anos têm a nacionalidade, e tu que nasceste cá... Não podes estudar, não podes jogar à bola, então o que podes fazer?"









O segundo livro sobre o tema do racismo intitula-se "Porque é lixo o rating social dos negros" de Filipe Silvestre: 


"Ao escrever este livro – afirma o autor – não pretendo chocar ninguém, pretendo acima de tudo revelar factos, pretendo revelar as verdades que são difíceis de ouvir e digerir, e pretendo levar o leitor ao âmago da realidade dos negros nos países ocidentais, mais especificamente em Portugal. Eu, que sou descendente de africanos, tenho o dever de dizer a verdade…» Filipe Oliveira Silvestre considera que a pobreza e a exclusão social das comunidades negras não se podem exclusivamente atribuir à sociedade de acolhimento, esquecendo ou marginalizando as culpas das próprias minorias, em particular as dificuldades e recusas em se integrarem. O autor afasta-se de leituras enviesadas pela ditadura do politicamente correcto, que envenena a discussão intelectual. Com grande frontalidade, afirma: «Os negros que lerem este livro vão perceber que dessa pequena “aventura” pelos caminhos tortuosos da ilegalidade e da pobreza resultaram apenas prejuízos étnicos que – muitos deles – deixarão rasto ao longo de pelo menos mais uma geração!".

domingo, 17 de setembro de 2017

Como Surge a Simpatia pelo Discurso Xenófobo e Racista

"O que é que nós temos vindo a verificar?
Nós temos vindo a verificar que tem vindo a atingir o poder ou a ficar muito perto de o atingir, gente, com um discurso, de uma violência, duma xenofobia extraordinária. E nós muitas vezes interrogamo-nos: mas como é que isto é possível?
E temos muito a ideia que, aquela gente, só pelo seu carisma, convencem as pessoas disto e daquilo. É infinitamente mais complicado. Porque o que acontece é que, o maior sucesso dessas pessoas é, no meio de outras, que têm um mal estar larvar, que encontra - digo eu - uma falsa resposta nas promessas dessas pessoas. 


As pessoas sentem-se rejeitadas. As pessoas têm falta de emprego. As pessoas sentem-se ameaçadas num processe que é clássico, o ser humano pelos outros, que é: a vida corre-me mal, de quem é a culpa? É muito mais fácil que a culpa seja de um tipo que tem uma cor diferente. E agora aparece alguém, que vem confirmar digamos assim, essas nossas teorias e diz: se nós nos livrarmos do Outro, nós voltamos ao paraíso perdido. Que é outra das táticas, que é dizer, antigamente é que era bom. E portanto, não é nada de admirar, que haja terreno fértil, para que determinadas ideias (muitas vezes nem são ideias, são puramente slogans) possam medrar, e levar a que se ganhem eleições.

Júlio Machado Vaz / O amor é... / 16/9/2017