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sábado, 25 de julho de 2020

Os Amigos Podem Foder? ou Vão 'Destruir a Amizade'?

"A relação do erotismo com a amizade é ainda mais difícil. A amizade é totalmente heterogénea com respeito ao erotismo. Em geral, nas relações entre os dois sexos, há um momento em que o encontro pode evoluir tanto para o erotismo como para a relação amigável. Quase sempre obriga a uma escolha: ou de um lado ou do outro. No entanto, amizade e erotismo podem conviver. É possível uma amizade entre duas pessoas de sexos diferentes que tiveram ou têm relações eróticas entre si. O mesmo vale para pessoas do mesmo sexo, no caso dos homossexuais. É possível, porque a amizade tem uma vida autónoma, não tem necessidade do erotismo e a sua frivolidade não trás, portanto, nenhuma ameaça. 

O erotismo por si só não se prolonga em amizade. A atração erótica pode alimentar-se de coisas absolutamente incompatíveis com a amizade, como a vulgaridade, o capricho, a mentira. O erotismo é, por natureza, ambíguo, diz sim e não ao mesmo tempo. É impossível que, de uma relação baseada apenas nestes fatores, possa derivar o cristalino positivismo da amizade. Quando, porém, a amizade existe já, ou se constrói de conta própria, através dos encontros, quando a relação entre as pessoas se baseia em sólidos fundamentos éticos, o erotismo não a destrói. 

O erotismo não produz amizade, mas a "amizade é compatível com o erotismo". Na amizade erótica, o que conta é a filigrana de encontros. Aquilo que conta é a confiança, a fidelidade, a lealdade espiritual. Se estas existirem, se o erotismo é apenas uma componente do encontro, pode viver lado a lado com a amizade, tal como pode viver lado a  e faz lado com o amor resultante do enamoramento. 
Diferencia-se deste apenas porque não é ciumento, exclusivo, porque não pretende a posse total, contínua, da pessoa. O erotismo, na amizade, é sempre um apêndice, qualquer coisa de não essencial, que não interfere e não deve interferir com os fundamentos da amizade. Mas, se consegue não interferir, se não se torna opressivo, obsessivo, se se mantém leve como uma dádiva não pedida, então pode viver e durante muito tempo. 

Na "amizade erótica", a amizade começa onde termina a sedução, onde acaba a manipulação e o poder. A verdadeira amizade erótica é feita de rasgos, sem cálculo, generosa, para crescer e fazer crescer. Sem cálculos mesquinhos de pró e contra, sem vontade de trair, de dirigir, de influenciar, de empurrar numa direção. Amigo é aquele que recebe bem o amigoe faz aquilo que lhe agrada. Tanto pode ser esperado, como vir de improviso. Um amigo dá sem exigir, recebe sem pedir. Se o erotismo consegue vir a ser estas coisas - e por vezes consegue-o - , então é compatível com a amizade. Em caso contrário, destrói-a. 

A Amizade / Francesco Alberoni (1984)

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Tantos corpos nus são todos iguais

Spencer Tunick
"Sobretudo os jovens estão continuamente em busca de experiências eróticas. Podem assim considerar incompleta, parcial, uma relação que não teve como saída uma relação sexual. A busca sexual, a vagabundagem erótica, pode tornar-se paroxismo em certos períodos da vida. Então a pessoa procura "seduzir" ou "conquistar" o maior número possível de pessoas do outro sexo. Em certos aspetos é uma forma de poder, noutros uma exploração, um conhecer. O número, no entanto, acaba por anular o conhecimento, por mascarar as experiências e por destruir, definitivamente, o erotismo. Começando por conhecer, por encontrar pessoas, por viver aquilo que aquela pessoa devia de dar de mais seu e, mesmo, de mais extraordiário, a busca perde exatamente a novidade, o inesperado. As pessoas confundem-se uma com a outra. Tantos corpos nus são todos iguais. O erotismo desvanece-se na diferenciação total.

"A Amizade" / Francesco Alberoni (1984)