sexta-feira, 9 de novembro de 2018

O Comunista. O Nazi. O Colecionador de Vinis

"Eu sou todo Bolsonaro" dizia-me este senhor em sua casa, "apartamento que tinha de ser meu quando vi este terraço enorme com três frentes". 
- "Sabe como é que eu resolvia o problema naquelas favelas do Brasil? Regava aquilo com napalm e matava tudo. Ia matar alguns inocentes? Sim ia, mas assim os bandidos também não matavam mais ninguém". 

Eu como que estava fascinado a ouvi-lo, não propriamente pelas ideias que, como facilmente se percebe são completamente opostas às minhas, mas porque achava extremamente interessante a riqueza das diferentes pessoas que tenho conhecido. Semanas antes tinha conhecido um professor, alto, vertical, cabelo preto e cheio, voz radiofónica e que tem um horário de poucas horas em várias escolas, filho de professora e que me contou que se estava a desvincular do PCP. Não iria sair, mas iria continuar como independente por causa da não concordância com algumas coisas que se passam no partido. Falou-me dos vários partidos comunistas no mundo, das bases, das diferenças com o Bloco de Esquerda, partido das "causas fraturantes", ouviu algumas das minhas críticas e acabou por dizer que o PCP deveria sair  dos gabinetes e ouvir as pessoas. Pessoas como eu.

E semanas depois eu estava, pela segunda vez, na casa deste senhor nazi, de cabelos brancos, pequeno bigodinho e voz que o cigarro terá ajudado a ficar ainda mais grave. Nas paredes da sala onde o estava a ouvir, estavam vários quadros pintados por si. E depois de um professor comunista, com uma cultura assinalável, estava agora a ouvir este senhor burguês, "sabe, eu não posso ter dinheiro, fodo-o todo"!, muito viajado, que assumidamente tem grande simpatia por Hitler.

Dias depois, num dia de chuva certinha, que terminaria com um concerto na Casa da Música, estava agora numa bela vivenda na casa de outro senhor de cabelos brancos, licenciado em Direito e que tem trinta e tal inquilinos. Este senhor com alguns problemas de saúde, "para ter ideia, demorei sete horas a fazer Porto - Lisboa" e que gostava de ir viver para Cascais, entretém-se a comprar lotes e mais lotes de vinis. Fica com uns quantos, e depois vende os outros todos para todo o mundo, não propriamente para fazer dinheiro, mas para satisfazer a procura de determinado título.


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