Não sei se é o destino, se é o universo, ou então se é o raio que o parta, mas a verdade é que, quando de tudo nos acontece, e ao mesmo tempo, sem descanso quase sem tempo para respirar, fico com a sensação que viver é quase só ter de resolver problemas, uns atrás dos outros.
Quando eu era criança tinha dois medos. De tanto ouvir falar tinha medo de poder ter de ir para essa coisa que se chamava tropa, e tinha também medo de quando chegasse o fim do mundo, afinal, ia morrer ainda tão jovem, no ano de 1999, porque passava a vida a ouvir dizer que "a 2000 chegarás, de 2000 não passarás. Em criança tinha também o medo de poder chegar a adulto e não saber resolver todos os problemas que os adultos têm, ao passo que, enquanto somos crianças, não temos de os resolver nem de decidir nada, pois temos sempre os papás a resolver os problemas e a decidir por nós, até a roupa que levamos para a escola no dia seguinte.
Entretanto há muito que sou adulto. Não fui à tropa e duvido que algum dia pegue numa arma de fogo porque sou totalmente conta elas. E há quase dezoito anos que passei o ano 2000! Já nem na santa podemos acreditar! E depois, à medida que vamos abandonando a meninice, começamos a ter de tomar decisões e assumir responsabilidades.
Os estudos, as amizades, com quem decidimos andar, os namoros, a sexualidade. Depois o trabalho, o primeiro carro, a casa... Não é necessariamente por esta ordem, mas aos poucos a nossa vida rodeia-se de um monte de decisões que temos de tomar, e algumas dessas decisões poderão ter, para o bem e o para o mal, implicações para o resto da nossa vida.
E os problemas em adulto já não são aqueles que resolvíamos na escola primária em que se tirava a prova dos nove. Por vezes parece mesmo que o universo não tem mais nada que fazer que não seja complicar-nos a vida. Parece que pega num boneco de voodoo e nas agulhas, e vai-nos espetando, espetando e rindo-se de nós, como se tivesse mesmo muita graça foder a vida dos outros. E no meio de um monte de problemas, que surgem sempre ao mesmo tempo, tal como diz a Lei de Murphy! em que teremos de tomar decisões e resolver as situações. E logo que se resolvem uns, é como se de repente estivéssemos num jogo, passássemos de nível para logo a seguir aparecerem mais uns quantos. Às vezes fico mesmo com a sensação que, nesta vida moderna, e tantas vezes uma vida sem sentido que levamos, viver mais parece que é só ter de problemas atrás de problemas.
E o que me parece é que nós não andamos a viver. Andamos unicamente a ser escravos desta sociedade de consumo. Os nossos problemas não são verdadeiros problemas. São meras contas que qualquer menino resolve na instrução primária, tal como eu resolvia e ia depois, a correr mostrar à professora Alice.
Uma grave doença; um acidente; uma incapacidade; uma morte; um desgosto amoroso. Sim, isso são problemas reais. Tudo resto, na maior parte dos casos são só pequenas decisões que temos (ou não) de tomar. E às vezes parece que os adultos, mesmo quando tudo está a correr bem, adoram criar os seus próprios problemas, tal como aquela criança que espera, na carteira, ansiosamente, que a professora coloque no quadro um novo problema para resolver.
Sim, eu tenho em mãos alguns problemas complicados. Uns mais do que outros. Uns mais básicos, da base da pirâmide, outros mais difíceis de resolver, lá bem no cume, de cariz existencial. Mas uma coisa é certa, o universo terá que se esforçar mais, pois as agulhas que espeta no meu boneco de voodoo só me fazem umas coceguitas. Olha para mim universo, de pé, firme, sempre a resistir. É só isso que tens para mim? O que eu acho é que quem dera a muita gente ter só os problemas que eu tenho para resolver. (Ainda que, na verdade, se soubessem dos problemas que eu tenho, quem lhes dera voltar a ter só os seus).
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