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terça-feira, 7 de abril de 2020

E Se Desse Para Repor as Definições da Vida?


Neste fim-de-semana, e depois de um comentário no meu blogue, de um outro blogger que me começou a seguir no Bucólico-Anónimo e que pediu para seguir de volta, ao clicar no link que ele deixou, o meu computador de imediato começou a sinalizar como vírus. Até pensei que não fosse nada demais, mas a verdade é que quando voltei a ligar o computador começaram a aparecer montes de janelas com cenas porno e publicidade sem parar. "Ui, isto não é nada bom", pensei!

Eu não sou grande artista com computadores, sou mesmo só aquela coisa da "informática na ótica do utiilizador"!, mas acabei por fazer uma coisa que até nunca tinha feito, e porque experimentar não custa, lá fui repor as definições para uma versão anterior do Windows e ainda limpei o histórico todo. 

Não sei quantas horas depois, sei lá, três horas talvez! estava a ver que aquilo nunca mais acabava e até cheguei a pensar que aquilo tinha entrado numa qualquer rotina e não estava a fazer verdadeiramente nada, mas entretanto, e já depois de ter perdido as esperanças, eis senão quando e o computador lá reinicia normalmente. Eu começo a trabalhar com ele, sempre a medo - sei lá quando é que me ia saltar novamente uma janela no ambiente de trabalho a convidar-me para conhecer uma gaja em trajes menores!, e na verdade nada acontece. Parece que o computador tinha mesmo voltado atrás no tempo, numa altura em que ainda não tinha vírus nenhum. Ainda fiquei desconfiado, mas na verdade dois dias passaram e parece que está tudo bem. (ou então quando me sacarem os milhões todos que tenho na conta descubro que afinal não estava tudo bem!)

Mas isto deixou-me a pensar. 

Uma coisa destas era porreira mas era para podermos fazer isto nas nossas vidas! Por exemplo, o mundo neste momento está cheio de vírus por aí, não é? Então era fácil! Bastava uma pessoa correr o programa informático do planeta até à última versão antes do coronavírus ter aparecido! Começávamos de novo e tratávamos de fazer como se faz nos computadores e instalar um antivírus em vez de confiar na sorte como eu fiz! A China podia dar ouvidos aquele senhor médico quando o coronavírus aparecesse, e impedia-se assim o coronavírus de espalhar janelas de pop-up por todo o lado! E claro, reinstalando uma versão anterior, salvavam-se todas estas vidas que infelizmente já se perderam. 

E repor as definições duma versão anterior da nossa vida pessoal? Ui, isso é que daria imenso jeito! Estamos mal hoje? Não há problema nenhum! Repomos as definições para uma versão anterior, para uma altura em que ainda estávamos bem e pronto, toca a seguir com a vida em frente!
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(Isto foi mesmo só para fazer uma graça. Sendo terrivelmente chato como tantas vezes sou, se na vida nunca quis conhecer o futuro, também não haveria de querer regressar ao passado por pior que estivesse no presente. Até porque "eu não posso voltar ao ontem, porque lá era outra pessoa", não é) 


sábado, 14 de dezembro de 2019

Pintainhos Num Caixote Com Um Candeeiro

Cada vez menos me apetece sair da cama de manhã, ainda que nunca tenha precisado de despertador. Se antes da mudança da hora de Outono é a luz que penetra por entre os orifícios do estore que me desperta, agora é o desconfortável entumescimento pressionado contra o colchão que me acorda para aliviar a bexiga. Mas o que apetece é ficar no quentinho da cama e cagar para esta vida de escravidão. Tem sido com cada vez maior sacrifício que lá atiro os cobertores para trás e encaminho-me para o quarto-de-banho para me meter debaixo do chuveiro. É de novo a muito custo que lá fecho a torneira e saio da banheira com os longos cabelos ainda pingar nos pés, e me enrosco na toalha para regressar ao quarto, para aplicar a merda da espuma gélida na psoríase e vestir-me para ir para o pequeno-almoço. E é quando as necessidades básicas estão saciadas que apetece, de novo, voltar para a cama e saciar a necessidade que ainda não está totalmente saciada: o sono. 


É ainda de noite e com as luzes da rua acesas que lá tenho ir à cavalariça, carregar no botão da ignição e acordar o cavalo preto para me levar até à empresa que dista vinte e cinco quilómetros de casa. À hora que nesta altura do ano poderia estar a acordar é a hora a que tenho que começar a trabalhar. Entretanto nove horas depois, à hora que saio da empresa é de novo de noite. Um dia da minha vida, um dia atrás do outro, desperdiçado, fechado todo o dia num caixote de cimento, sem janelas nem luz natural. Dias e dias perdidos sem sequer ver sequer a luz do dia.

E de repente lembro-me de quando era criança e via os pintainhos em caixotes de cartão com a luz de um candeeiro por cima, para os aquecer. Estamos no século XXI e a vida dos seres humanos é igual às dos pintainhos. Dias passados dentro de grandes caixotes, não de cartão mas de cimento e iluminados por luz artificial, cumprindo uma função estúpida e desperdiçando as suas vidas enclausurados. 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Vidas de Pladur

São curiosas as construções contemporâneas que os arquitetos desenham. Caixotes sem telhados nem beiradas em que ninguém se pode sequer abrigar da chuva. Casas que são caixotes que se aparafusam. Interiores com paredes lisinhas e afagadas. Paredes falsas que abanam se lhes tentamos meter um parafuso; paredes e tetos que se desfazem com a humidade; paredes que se desfazem se lhes tocamos com um bocadinho mais de força e que devem ser o sonho de um qualquer gato urbano-depressivo, afiar as unhas nestas paredes. 

São paredes muito robustas, feitas de cartão e de gesso!, ainda que toda a gente diga que são paredes de pladur, mais ou menos como quando o pessoal compra um casaco na Zara e diz que é um Kispo, porque também neste caso, Pladur é a marca que já se confunde com o objeto e certamente que há diferentes marcas a produzir gesso cartonado. 

Mas se observarmos bem, e eu pensava nisto quando neste fim-de-semana via alguém a meter parafusos numa imensa parede de pladur que abanava por todos os lados!, hoje em dia, nas vidas das pessoas tudo é lisinho e afagado, aparentemente robusto mas vergonhosamente frágil. 

As mulheres (e cada vez mais os homens também) metem estuque na cara logo pela manhã. E o que é a maquilhagem senão um gesso para mascarar, ocultar, colocar uma máscara, esconder, para deixar aparentemente a pele lisinha e afagada? Coloca-se gesso e estuque na cara, pintam-se os cabelos à cor desejada, tal como hoje os arquitetos pintam as portas de madeira, porque hoje em dia já nem a madeira pode ter a cor de madeira, tudo tem de ser camuflado e as portas passaram a ser brancas ou em qualquer outra cor desejada. Tudo menos a cor natural da madeira, porque tudo que é natural passou a ser repugnante. 


As pessoas maquilham-se e pintam os cabelos. Pegam nas espátulas e emassam as rugas, os narizes, as conas e as pirocas. Injetam gesso nos lábios, nas mamas e no cu e duplicam-lhes o volume. Arrancam os pêlos do corpo, tomam banho três vezes ao dia e besuntam-se com anti-transpirantes porque é mais aceitável ter um cancro provocado por metais pesados do que cheirar a humano, porque é vergonhoso ser humano. Hoje é vergonhoso ser ou parecer sequer que se é humano. Todos querem ser humanos de papel, feitos de cartão e de gesso. Os novos humanos são feitos de pladur. 

Os arquitetos também mandam colocar relva artificial. Não dá trabalho cuidar. E é verdinha! E a relva artificial, plástica, muito ecológica e sustentável, tem a qualidade de ainda ser mais verde que a relva natural. E esta é uma das melhores metáforas da vida quotidiana. Hoje em dia tudo tem de ser falso, mas tem de parecer bonito, mais bonito ainda do que se fosse verdadeiramente real. 

Hoje os sentimentos são de pladur. As amizades e os amores são feitos de pladur. São relações são de pladur. Tudo é muito bonito por fora, mas mal tocamos com uma unha na merda do pladur (e eu  não duvido que até a merda seca é bem mais robusta que o pladur) e este desfaz-se imediatamente. Tudo parece tão bonito por fora mas é mesmo só para se ver. Não é para lhe tocar porque não é real. É tudo falso. São autênticas vidas de pladur.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Retirar o Time de Campo


"Então, e tens falado com a.... ? " 

Não, não tenho. 

Os brasileiros que gostam muito de futebol, se calhar mais até do que nós portugueses, têm várias expressões futebolísticas que se adequam a várias situações da vida e uma delas é precisamente esta: 

Retirar o time de campo. 

O exército tem de saber quando tem de atacar em força, subjugar e aniquilar completamente o inimigo, tal como também tem de saber que, por vezes, o mais sensato é bater em retirada antes que seja aniquilado. 

E se há momentos em que é preciso saber quando temos de investir em força sobre o adversário, fazer marcação cerrada, atacar, ir com tudo para cima, por outro lado também temos de perceber que há momentos em que por mais que desatemos a correr, nunca que vamos conseguir apanhar a bola antes desta ultrapassar a linha. Só estaremos a ter um enorme gasto de energia inútil. Iremo-nos cansar, ficar ofegantes e tudo para nada. Se tivéssemos aceitado que nunca que lá chegaríamos a tempo, teríamos desistido a tempo de ir ocupar tranquilamente a nossa posição dentro de campo, que ficou desguarnecida com esta imprevidência. 

Sim, há pessoas muito persistentes, e sem dúvida que muitas vezes conseguem os seus intentos. Estou ciente disso. Mas outras pessoas há, como eu, que não gostam de malhar centeio verde. Se tenho interesse em determinada pessoa acho que o demonstro claramente. Acho que ainda me consigo expressar, ainda que, na maioria das vezes sublimiarmente. Também não temos de parecer desesperados, muito menos penso que seja preciso fazer desenhos. 

E subliminarmente transmito a mensagem. "Pareceste-me interessante. Gostei de ti. Se quiseres podemos ser amigos." Mas depois é preciso perceber as mensagens que vêm do outro lado. O interesse que é demonstrado por nós. E não podemos deixar que o nosso interesse nos tolde a visão e querermos à força toda acreditar que, se insistirmos mais e mais, os outros vão-nos querer nas suas vidas. É assim que se formam os perseguidores, com essa excessiva necessidade de atenção e baixa auto-estima. Querem à força toda que os outros gostem deles: "Anda lá gosta de mim. Eu sou a tua vida. Está escrito nas estrelas. Ninguém te vai fazer feliz como eu. Se não fores meu não serás de mais ninguém". Não! Não temos que nos impingir aos outros. Não podemos obrigar os outros a gostar de nós, a quererem ser nossos amigos. Nós só nos podemos disponibilizar, nada mais. O resto, o restante esforço de aproximação, tem de ser feito pela outra parte. 

Acho que sim, que nos devemos disponibilizar, mostrar abertura para - "abre-te ao novo" - mas não nos podemos querer impingir, sentar ao lado daquela pessoa, e achar que ela irá querer seguir viagem connosco. Segue se quiser, se tiver interesse. Tal como nós, tantas vezes, não seguimos viagem com tantas outras pessoas que se calhar queriam que ficássemos ao lado delas. 

E há tempo de persistir e de mostrar interesse; tempo de marcar o território e de ir à luta. Mas também há tempo de aceitar que o melhor, como dizem os nossos irmãos brasileiros, é tirar nosso time de campo.