Mostrar mensagens com a etiqueta descriminação. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta descriminação. Mostrar todas as mensagens

domingo, 11 de agosto de 2019

Cruzes Canhoto!

Dicionário Porto Editora

Acordei, liguei o computador, e, como é habitual, fui ler as capas dos jornais. Choque e pavor: "Dragão entra com o pé esquerdo no campeonato" lia-se n'A Bola!

Que significa isto? Que o FCP entrou no campeonato a ganhar qual melhor jogador de futebol de sempre, o esquerdino Maradona? Não! porque afinal fiquei a saber que a equipa das Antas perdeu 2-1 em Barcelos. 

Historicamente, e vá lá saber-se desde quando, os canhotos sempre foram perseguidos, descriminados, e até mortos. Mas ainda hoje, em pleno século XXI, em muitos países, continuam a ser vítimas de estigma social, porque, lá está, são uma minoria e como todas as minorias, são descriminados pela maioria. 

Naquele livro que "nunca mente" Jesus senta-se "à direita do pai", e o lado direito é sempre referido como o lado bom, ao passo que, além de ser referido muito menos vezes, o lado esquerdo é sempre referido de forma negativa. E foi por causa da Bíblia que se iniciou esta cruzada contra as pessoas que usavam naturalmente a mão esquerda para fazer as coisas, até porque, por exemplo, os Celtas (povo tão à frente do seu tempo, mesmo à frente deste nosso tempo do século XXI) valorizavam os canhotos porque tinham clara vantagem em combate. E também os Maias e os Incas olhavam para os canhotos de forma favorável. 

Mas por causa dessa interpretação bíblica fundamentalista, a Igreja Católica começou a perseguir quem é diferente, quem usa a mão esquerda para fazer as coisas, e quem o fazia começou a ser conotado com o Diabo! Para a Igreja, ser homossexual, ruivo, preto, ou conhoto é a mesma coisa! Fogueira com eles! E certamente que também muitos conhotos fizeram-se passar por dextros para que sobre si não fossem levantadas suspeitas. Certamente que muito canhoto viveu dentro do armário. 

E muitos outros, mesmo em pleno século XX, como eu por exemplo, foram forçados a ser dextros porque em pleno século XX os professores puniam os canhotos, como se tivessem uma doença venérea! E eu nem sequer nunca soube que era canhoto de origem, até ao dia em que olhei para a forma como descascava uma laranja e perguntei... e sim "quando eras bebé pegavas em tudo com a mão esquerda, mas nós púnhamos-te na mão direita". 

Mas apesar disso ter acontecido na Idade Média!, ainda hoje, gente que até faz da comunicação a sua profissão, como os jornalistas por exemplo, continuam a atribuir a conotação negativa ao lado Esquerdo. Uuuhh cuidado, o Dragão entrou de pé Esquerdo e o Benfica entrou com o "pé direito" no campeonato!

E anda muita gente traumatizada, especialmente aquela malta urbana que vota no PAN e tem cães dentro de apartamentos, que ai-jesus-que-não-se-podem-usar-expressões como "a porca torce o rabo" ou "pegar o touro pelos cornos" mas depois não vejo literalmente ninguém a insurgir-se contra estas descriminações bacocas, que estão tão enraizadas que as próprias pessoas nem notam que estão a descriminar ao usá-las. É mais ou menos como a história de chamar "encarnados" ao Benfica porque o ditador Salazar não queria que se associasse a palavra "Vermelho" à palavra "Vencedor", e o lápis da censura era azul. Mas ainda hoje, os jornalistazinhos, não vá o ditador levantar-se da tumba, referem-se ao Benfica como "encarnados". Pois como disse um certo senhor:


Também não vejo ninguém incomodado com a própria definição que vem nos dicionários. E, se muito se falou em alterar a definição da palavra "Mulher" que estava associada (também por causa da merda da religião católica) ao "sexo fraco", até porque o Deus inventado pelos católicos é machista e misógino, pergunto: não seria também já tempo de retirar a conotação negativa e religiosa da palavra canhoto? 


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Certezas & Gavetas

"Olhe, em áreas como a igualdade, os direitos das minorias, etc. O movimento que muitos de nós pensaram e desejaram que seriam um movimento sem passos atrás, tenho dúvidas... É evidente que, com alguma frequência, disfarçado pelo politicamente correto, mas (...) olhe, por exemplo, em relação às homossexualidades, se a Inês pensa que eu só oiço reticências ou pontos de exclamação escandalizados das gerações mais velhas, está completamente enganada. Eu oiço de gente muito mais nova as velhas frases "tudo bem, mas então façam essas coisas em casa deles... não à vista de todos". Eu ainda oiço gente, e isto é doloroso para alguém com o trajeto que eu tenho. Eu ainda oiço gente de dezoito, dezanove, vinte anos, empregar palavras como "que nojo" ou "que vergonha" em relação a outras pessoas. 


Via Pinterest

Olhe, quer ver outro exemplo clássico? É assim. "Não tenho nada contra os gays, etc, mas, que necessidade é que eles têm de fazer uma parada e isto e aquilo...?" Uma pessoa não tem obrigação nenhuma de gostar de paradas, aliás de gays, ou sem serem gays. Por exemplo (fora da questão da orientação sexual) eu, por exemplo, por vezes sentia-me envergonhado com o que observava nas paradas das queimas das fitas, porque de repente, havia uma parcela da população, que podia passear-se pela cidade, bêbaba como um cacho (ou pelo menos a maior parte) porque era estudante universitário e porque se estava naquela semana. E espetáculo não era edificante. Mas o que  é curioso, é que as pessoas dividem isso, espontaneamente, pela orientação. Como se aquilo, aquele tipo de espetáculo, só pode ser feito pelos gays. Os heterossexuais são incapazes e fazer aquilo. O que não é verdade. E depois esta questão de homogeneizar toda uma população é outro erro. Eu conheço gays que não apreciam nada as paradas de orgulho gay, e que alguns até dizem assim: "eu compreendo a intenção", outros até dizem "eu compreendo que em determinada altura isto foi a única forma de nós, verdadeiramente, metermos a realidade pelos olhos dentro das pessoas, mas hoje em dia acho que esse ponto está ultrapassado e portanto não seria necessário .É uma opinião legítima, portanto, logo aqui você vê como a vida é complicada, que é, passa uma parada gay, e você tem a assistir heterossexuais em alguns dos quais estão divertidíssimos, heterossexuais que estão escandalizados, e tem gays que stão a olhar para aquilo e, eventualmente, a pensar a célebre frase do Herman José "não havia necessidade". E é esta diversidade absoluta que existe, que as pessoas negam porque nós temos uma nostalgia espantosa, de ter certezas e de ter gavetas. 



quarta-feira, 30 de agosto de 2017

As Burkas dos Homens no Emprego

O primeiro sinal de que as férias acabaram hoje, eram as calças que tinha vestidas para sair de casa para o trabalho. Adeus férias 2017, agora só para o ano!
Senti-me logo desconfortável mal ia a caminho da garagem para pegar no carro. Havia algo estranho porque eu não gosto de usar calças, e se estava com elas vestidas para sair, é porque as férias tinham terminado. Estamos no Verão, ando sempre de calções porque é muito mais prático. E no Verão também não andamos com casacos quentes não é?

Mas no trabalho parece que os homens não podem usar calções. Não sei bem porquê, também nunca perguntei, mas não se pode e pronto. É daquelas coisas que não tem explicação. É como quando as criancinhas perguntam aos pais porque não podem fazer determinada coisa, e os pais respondem que "Não, porque não". Ponto final. Tal como ninguém sabe por que é que os homens usam uma tira de pano amarrada ao pescoço, que mais parece que se vão enforcar e que não serve para nada... só se for servir de guardanapo para limpar a boca quando comem sopa!

E no trabalho, dependendo da profissão, os homens  não podem usar um sem número de peças de vestuário. Incrivelmente, para a mesma tarefa, já as mulheres podem ir vestidas como bem lhes apetecer. 



Vamos imaginar um Banco. Os homens andam de fato e gravata. As mulheres, para a mesmíssima função, podem ir vestidas quase como se fossem para o jardim ou caminhar para a serra! Podem ir de calças, de saia, de ombros à vista, no fundo quase como bem lhes apetecer. E será que isto, como é que se chama, não é também descriminação laboral? Se calhar é, não?

Por que é que uma mulher, pode ir para o trabalho de saia, ou com uma mera tira de pano só a cobrir-lhe as nádegas, com os ombros à vista, ou com o rego das mamas a ver-se, e o homem nem uma merda duns calções podem usar?

"Ah mas ó Konigvs, é a postura, isso não iria ficar bem com os clientes, irias estar a prejudicar a empresa.." 

Em primeiro lugar caro(a) leitor(a), eu não lido com clientes. Sou um excelente profissional, que trabalho para a qualidade e excelência, não sou chinês que trabalho para a produtividade sem qualidade. O meu trabalho, a minha produtividade não depende da roupa que eu tenho vestida.  Para o meu patrão tanto deve interessar que eu esteja com uma camisola satânica ou com o polo da empresa. Quer é que o trabalho fique bem feito, e isso deve ser o que interessa à maioria dos patrões. 

Mas mesmo assim, mesmo eu não trabalhando com o cliente final, como que parece que há um código de vestuário implícito, que faz com que eu mesmo, nem sequer ousasse chegar ao trabalho de calções. Parece que sou uma mulher que nasceu num país islâmico e que sabe que o seu destino é usar uma burka para toda a vida. E eu estou igual: "Não, tu nunca poderás trabalhar de calções, infelizmente nasceste homem: não tens o mesmo direito das mulheres". 

Eu deixo também esta questão da discriminação do vestuário entre mulheres e homens no local de trabalho, para que a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género possa emitir uma opinião.