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domingo, 25 de junho de 2023

O Triângulo das Infidelidades


 Num dos últimos "O Amor é" discutiu-se um artigo publicado na revista Visão intitulado "Porque se escolhe certas pessoas e não outras na hora de ter um ‘caso’ e apeteceu-me tirar algumas notas com a minha parca experiência dessa figura geométrica que é o triângulo amoroso mas baseado também em em tudo que se vai passando à minha volta e nas minhas perceções. 

A pergunta para um milhão de euros é: afinal, porque é que as pessoas traem? Dá-se voltas e mais voltas e os especialistas tentam explicar porque é que, a partir de determinado momento as pessoas deixam de comer o feijão com arroz que tanto adoravam para, não raras vezes e a percentagem é muito alta, de irem petiscando outras coisas. Se calhar o problema é as pessoas serem omnívoras, não sei!

E este é um ponto básico para mim. O ser humano não é naturalmente monogâmico! As pessoas forçam-se a uma monogamia voluntária, tal como os padres forçam-se à abstinência sexual, com os resultados que conhecemos. A verdade é que a ciência descobriu que já nem arganazes são fieis! A ideia de um homem para uma mulher, a invenção do casamento, a monogamia, tudo isso são para mim evidentes construções sociais. 

E o mais curioso é que nem sequer conseguimos concordar inequivocamente sobre o que é traição. Se para uns (mais os homens) a coisa é muito simples e trair implica sempre envolvimento físico. Para outros (mais para as mulheres) o simples facto de desabafar mais com a colega do trabalho ou andar a conversar com alguém na net já é traição.

Em que ficamos então? De repente lembro-me do pecado e do que aprendi na catequese que, segundo a visão cristã podemos pecar por pensamentos, palavras, atos e omissões! Se pudermos trair por pensamentos, palavras, atos e omissões, então desculpem lá, mas andamos todos as trair permanentemente! Também o pecado foi uma construção social. Uma mulher bonita era pecado; um ruivo ou um esquerdino (como eu) era obra de Satanás. Tudo era pecado e tudo é pecado para a Igreja. A única coisa que certamente não é pecado é violar crianças, isso não, pois se fosse pecado, os padres que conhecem como ninguém os desígnios do Senhor não o fariam. 

Se calhar convém então cada casal definir o que é traição e escrever uma espécie de Constituição com as regras fundamentais da relação. E então se ambos concordarem assina-se o compromisso!

Volto à monogamia. Se o ser humano fosse realmente monogâmico não precisaria de ir jurar (falso) ao altar ou assinar um papel em como ficará com aquela pessoa para o resto da vida, na sua e na doença. Se o ser humano fosse realmente monogâmico teria um parceiro para o resto da vida e nunca o trairia. 

A Inês Menezes perguntou ao Júlio Machado Vaz porque procuramos uma pessoa para ter um caso. E eu acho que muitas vezes nem sequer se procura. Muitas vezes simplesmente acontece.

Já agora fazer uma declaração de interesses: eu nunca traí. Pelo menos fisicamente não! Ou pelo menos com outro ser humano não! Sim, porque ainda me lembro de ouvir um "as tuas árvores deveriam morrer". Talvez ela se sentisse traída por causa da atenção que eu dava às minhas árvores. 

Não sei se é a sua comédia romântica preferida mas o Júlio Machado Vaz menciona muitas vezes Nothing Hill, tal como menciona Meg Ryan. Já eu menciono muitas vezes Before Sunrise que não é propriamente uma comédia romântica. (e talvez devesse também mencionar mais vezes Eternal Sunshine of the Spotless Mind que de facto é um tremendo filme).

Jason e Celine, protagonistas de Before Sunrise (Antes do Amanhecer) são dois desconhecidos em viagem que se encontram num comboio e creio que eram os dois comprometidos, e se não neste primeiro, mais à frente eram seguramente. E passam o primeiro dia e noite juntos, até ele apanhar o avião para os Estados Unidos...

Eu acho é que há pessoas que intrinsecamente não podem ver um rabo de saia ou um chumaço nas calças. Está-lhes no sangue e podem gostar muito da pessoa com quem estão mas vão andar sempre a pular a cerca. Terão sempre esse comportamento. Tal como há pessoas violentas e agressivas. E quem chega de novo ilude-se e acha que consigo será diferente. Mas não. Será sempre igual. E as traições suceder-se-ão.

E depois há quem, quer esteja numa relação mais ou menos estável ou numa relação mais conturbada e as coisas simplesmente propiciam-se. Muitas vezes nem é preciso andar à procura de nada para as coisas acontecerem. Porque não vivemos isolados do mundo. Não é preciso decidir registar-se no Tinder ou noutra coisa qualquer de engates para as coisas acontecerem. Nós não vivemos isolados. 

E, se é verdade que a tecnologia pode facilitar (ainda que as redes agora se tenham tornado verdadeiramente antissociais) há sempre o emprego, e todas as outras coisas que se fazem e onde se podem conhecer outras pessoas. E as coisas do nada podem acontecer. Empatia com alguém no trabalho, e refiro trabalho porque sempre achei que é um terreno fértil, mais até que a internet, para as facadinhas aconteçam. Porque as pessoas estão mesmo lá, não estão noutra cidade e a trocar mensagens pela internet. Por alguma coisa os moteis à hora de almoço estão cheios. Por alguma coisa eu mesmo fui substituído por um colega de trabalho.  

No "O Amor é" o professor lembra a vida dos médicos (ele é médico) e até dos enfermeiros. Mas ò professor, não são só os médicos que fazem noite! ou que se sentem próximo do colega de trabalho! Isso é geral! Eu nem imagino o que se passa nas fábricas! Tenho um colega de trabalho que já trabalhou numa e diz-me que aquilo era um grande regabofe!

“É duro de dizer e duro de ouvir, mas os terceiros são muitas vezes usados com muito pouca consideração genuína.”

Mas se é verdade que foi o vértice dum triângulo que rompeu a relação mais longa que tive, é bom não esquecer que eu já tinha sido sido o vértice do triângulo que a tinha levado a terminar a relação que tinha para depois começar comigo. E entre nós nunca se passou nada de íntimo. Bom, excetuando um abraço... Vários abraços marcaram a minha vida. Uns mais suaves, mais intensos ou de partir duas costelas!

Mas no fundo ela replicou o mesmo comportamento oito anos depois. O karma é fodido ou então não, é só, como dizia acima, as pessoas a replicarem quase sempre os mesmos comportamentos. E ela terminou uma relação para começar outra, e isso também demostra integridade (ainda que eu tenha outro tipo de sentimento, bem mais negativo, em relação ao que se passou). 

Depois disso, e por mais do que uma vez, acabei sendo ombro amigo, umas vezes mais virtual outras mais próximo de alguém que tinha uma relação. Aconteceu das mais variadas formas mas sempre pela internet, "porque a tecnologia o permite" mas nunca porque, voluntariamente, me quis envolver, fosse lá da maneira que fosse, com alguém que estava numa relação. 

Simplesmente aconteceu. De uma vez deixaram-me aproximar demasiado, ocultando a informação que havia outra pessoa lá em casa. Por outra vez eu fui o confidente, o conselheiro... houve um afastamento para coisa de um ano depois, voltarmos a falar e, de repente, estávamos a passar horas ao telefone (a telefonar! e convém esclarecer porque agora para esta malta mais nova falar ao telefone parece que é um bicho de sete cabeças!)... E por último simplesmente aconteceu e saímos um pouco chamuscados emocionalmente e decidimos, ou ela decidiu e eu aceitei, que o melhor seria um afastamento...

Nenhum dos dois se quis envolver. "Sabe, queria esclarecer, eu tenho namorado e amo-o muito". Ela foi extremamente correta e nunca escondeu nada. E eu acho que também fui... "Ainda bem que tem namorado, porque eu também não me sinto nada disponível..." porque vinha eu de um curto mas intenso enamoramento... Se no fundo se calhar talvez nos estivéssemos a querer enganar, não sei. 

Há o vício da descoberta do outro. Mais ainda quando nem sequer se conhece fisicamente o outro. Presta-se atenção a outros detalhes... A empatia vai crescendo e ela vai tornando-se parte das nossas rotinas, das nossas preocupações. E, pé ante pé, as coisas vão evoluindo, tomam proporções desmedidas e um dia damos por nós deitados numa mesma mantinha de um parque público, tão próximos que os lábios estão quase a tocar-se E eles querem tanto tocar-se mas não podem...  

Que cada casal faça as suas regras e que saiba aquilo que quer. E que tente ser feliz à sua maneira. Porque se não é fácil encontrar e gostar de alguém que também goste igualmente de nós, pode também não ser fácil estar com aquela pessoa de quem se gosta. Por vezes "não basta gostar". As diferenças, os ajustes e as cedências, as rotinas. E o sentimento de posse, o medo de perder, o ciúme... e também porque os casais não vivem numa bolha, isolados do mundo e, quando menos se espera, pode-se entrar num perigoso triângulo das infidelidades. 

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Qualquer dia Estamos a Acabar uma Relação com um Emoji


 A propósito das afirmações de Cristophe Clavé, que relaciona o empobrecimento da linguagem com o emburrecimento coletivo (temos primeira vez uma geração com um QI inferior ao dos pais) aqui deixo alguns excertos do programa "O Amor é" da Antena 1 com Júlio Machado Vaz e Inês Menezes. 

"Ao simplificarmos cada vez mais a linguagem é inevitável que, atrás da linguagem vá também o processo de pensamento.

Vou-lhe dar um exemplo, que por caso me irrita bastante. Eu gosto muito de adjetivos e, hoje em dia, assistimos, quer na televisão, quer nas redes sociais, hoje em dia parece que só temos um adjetivo que é o "incrível". O incrível dá para tudo. Não quer dizer que eu não o use, porque eu também o uso, mas, tudo está resumido ao incrível e isso terá a ver com este empobrecimento da linguagem, com esta preguiça. Nós não vamos procurar outra forma de adjetivar, serve-nos o incrível. 

Quer ver um verbo? "Amei".  Uma pequena notícia? Amei. O filme não-sei-quê? Amei. E neste aspeto até há outro risco, que é, a banalização das palavras. O verbo amar, para mim, está muito relacionado com pessoas e com sentimentos por pessoas. 

"Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento. Estudos têm mostrado que parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de descrever as emoções em palavras" (Christophe Clavé)

Se nós não conseguimos articular (antes de dizer as palavras nós pensamos). Numa discussão estamos a elaborar um argumento. Se a poupo e pouco isso se vai tornando cada vez mais difícil nas nossas cabeças, antes de as escrevermos ou dizermos, isto vai empobrecer a nossa capacidade de argumentar. Perante essa incapacidade de argumentar, uma das pseudo-soluções é a emoção tomar o lugar do processo de pensamento. E então o que acontece é que, com meia dúzia de palavras, o que nós acabamos por verificar é que desaguamos no conflito, as posições são rígidas, tão mal explicadas, as pessoas não têm maleabilidade. Veja por, por exemplo, à medida que nós vamos tendo mais dificuldade de criar aquilo que é dito - e não é só a palavra pura e dura - é a maneira como a palavra é dita. Nós vamos perdendo a capacidade de discernir, de vez em quando, entre o insulto e o humor. E isso pode ser catastrófico num diálogo. 

As nuances da linguagem. Há palavras muito próximas. Quem tem muito bom vocabulário tem a capacidade de fazer um autêntico degradé no seu léxico, e isto é, muito enriquecedor, para a pessoa, porque tem ao seu dispor uma paleta, não de cores, mas de palavras, para traduzir o que sente, muito mais rica, mas também para quem ouve. 

O Empobrecimento da Linguagem / O Amor é - Antena 1

domingo, 11 de novembro de 2018

O Grande Feito de Donald Trump - E Quem São os Fanáticos Defensores Trump?

"Por exemplo, em relação a Trump eu acho que isso joga a favor dele, sabe? Porque, em entrevistas que eu por vezes oiço, a opinião das pessoas, e nomeadamente atendendo aquilo que são os pré-conceitos, joga a favor dele. Porquê? Por que é a estratégia da vitimização de, lá estão todos aqueles intelectuais de pacotilha, na CNN, no New York Times, etc, a atacar o "coitadinho", só porque ele não é um deles, só porque ele foi contra os interesses estabelecidos, que foi, se quiser, o grande feito dele. É que, pertencendo ele à alta finança americana, estando ele a vida inteira às cotoveladas com os políticos e os financeiros mais poderosos, ele conseguiu passar a mensagem de "eu sou contra o sistema (e como ele próprio disse): eu vou drenar o pântano de Washington".  A partir dessa altura, ele é o campeão dos desfavorecidos que, é tristemente irónico num tipo que nós sabemos que ainda por cima tem uma trajetória em termos de fortuna pessoal que não foi propriamente feita à custa de justiça para com os seus próprios trabalhadores(...)

Nós estamos a falar de um homem que mandou fazer Photoshop na cerimónia de investidura, para parecer que estava mais gente do que estava, para poder dizer que tinha sido a maior cerimónia. Está a ver a fragilidade de narcisismo desta pessoa?




Fascinante, para quem trabalha na área que eu trabalho é como, o núcleo duro de apoiantes de Trump, que dizem, vezes sem conta às televisões "estou-me nas tintas para isso tudo; mesmo que seja verdade o que dizem dele eu continuo a votar nele" quem são?

Os brancos. Homens. Os frustrados profissionalmente. E os com pouca educação. 

Ou seja, gente em que há um ressentimento muito grande. E às vezes com razão. A vida foi madrasta percebe? E as fake news sobre o Obama a dizer que ele tinha nascido no Quénia e que portantanto não se podia candidatar? E os sociólogos que estavam cheios de razão "Hillary Clinton não é uma boa candidata nas suas permanentes ligações à alta finança (como o próprio Trump, não é?), mas não é só isso que está em jogo. Nos Estados Unidos um homem negro vá que não vá, agora uma mulher, seja de que cor for, nem pensar"! Não estão preparados para isso. 

A espada de Dâmocles - O Amor é / Júlio Machado Vaz


quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Traição e Quebra de Confiança nos Tempos Modernos

... "E agora aqui, lá vem outra vez a velha história Inês: o que é trair?
Cobiçar uma terceira pessoa é já trair ou não?
Bom, repare como todo esse conceito da traição também mudou com as redes sociais. 
Nem mais.
Repare, se nós passamos várias horas da noite a trocar mensagens com alguém, enquanto o nosso marido (ou mulher) está a dormir, isso não é já traição?
- Que é que acha?
Até pode ser o início duma bela amizade, se for ainda bem. Mas, quando os nossos estão na nossa cama, e nós estamos entretidos com alguém novo a conversar, eu diria que já há aí um....fosso, não é?
Tiremos a palavra traição, porque na minha opinião a traição é uma palavra que continua muito agarrada à carne...
- Sim, ao sexo. Quando nós demonstramos interesse por outra pessoa... vamos pensar no interesse não é?...
E digamos assim. Será ou não consensual dizer que há quebra de confiança? Eu acho que há. 
O outro não sabe Inês. Ou você conta-lhe? Se você lhe conta não há problema nenhum. 
Pois....julgo que não.
Não contam. Se não contam é por alguma razão. Porque uma pessoa pode dizer "oh pá tu não imaginas o fulano interessante da Nova Zelândia com quem eu estive a conversar ontem à noite. Ponto final parágrafo. Disse tudo. Agora, quando isso é escondido...
Quando ainda é Nova Zelândia é um sossego porque está muito longe!
Cuidado! Aí há efeito de género. É um sossego sobretudo para os homens. Porque os homens continuam muito agarrado ao físico. Ao que acontece no concreto. 
No imediato também...
Nas mulheres não há assim tanto sossego. As mulheres podem ficar irritadíssimas, mesmo sendo na Nova Zelândia e não havendo nenhuma passagem de avião marcada. E outra coisa, em que hoje em dia você encontra, entre aspas, um comportamento masculino é, mulheres que têm relações extra-conjugais a dizer "mas o meu casamento é muito feliz". Isto era paleio de homem....

As mulheres são mesmo emocionalmente diferentes dos homens? O Amor é / Antena 1



domingo, 18 de março de 2018

Não Basta Gostar

"Não. Há pessoas que ainda gostam uma da outra (eu sei que isto faz muita impressão a determinadas mentes) mas é assim, há pessoas que ainda gostam uma da outra, e chegam à conclusão que não conseguem viver juntas. Estou completamente disponível para aquele argumento, "mas se gostassem mais, tentavam mais". Eu lamento muito mas, do que a experiência me diz (o que é muito pouco romântico) é que não basta gostar. De vez em quando, nós temos maneiras de estar na vida, que tornam a convivência impossível." 
(Júlio Machado Vaz)

"Criar um filho com o "Ex" - O Amor é / Antena 1




domingo, 4 de março de 2018

As Médias Altíssimas Não Provam Rigorosamente Nada

"Quando as pessoas iniciam um curso de medicina, deveria ou não deveria haver mais algum critério, que não apenas uma média altíssima? As pessoas podem ter a opinião que quiserem. Um facto é indiscutível. As médias altíssimas não provam rigorosamente nada da capacidade daquela pessoa para aquilo que eu considero o fulcro de qualquer relação de ajuda, neste caso a medicina, a sua capacidade para estabelecer uma relação de ajuda. Nada. Lembra-se de eu lhe dizer, num registo paralelo, que uma vez as três médias de 18 do meu curso iam calmamente no corredor do Hospital de São João e, de repente, uma pessoa teve uma crise epilética à nossa frente. E as três médias mais altas ficaram petrificadas. E um colega nosso, que se bem me lembro se deve ter formado com uma média de 11, 12 ou 13, imediatamente tomou as medidas necessárias para ajudar aquela pessoa. Uma coisa é ter notas altas nos exames, outra coisa é estar à cabeceira da cama do doente, ter o doente à nossa frente, etc. E portanto, é bom dizer que há quem defenda, que deveria haver uma avaliação mais diversificada, mais complexa, dos candidatos para medicina.

(Júlio Machado Vaz)

Dar Más Notícias / O Amor é / Antena 1



segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Certezas & Gavetas

"Olhe, em áreas como a igualdade, os direitos das minorias, etc. O movimento que muitos de nós pensaram e desejaram que seriam um movimento sem passos atrás, tenho dúvidas... É evidente que, com alguma frequência, disfarçado pelo politicamente correto, mas (...) olhe, por exemplo, em relação às homossexualidades, se a Inês pensa que eu só oiço reticências ou pontos de exclamação escandalizados das gerações mais velhas, está completamente enganada. Eu oiço de gente muito mais nova as velhas frases "tudo bem, mas então façam essas coisas em casa deles... não à vista de todos". Eu ainda oiço gente, e isto é doloroso para alguém com o trajeto que eu tenho. Eu ainda oiço gente de dezoito, dezanove, vinte anos, empregar palavras como "que nojo" ou "que vergonha" em relação a outras pessoas. 


Via Pinterest

Olhe, quer ver outro exemplo clássico? É assim. "Não tenho nada contra os gays, etc, mas, que necessidade é que eles têm de fazer uma parada e isto e aquilo...?" Uma pessoa não tem obrigação nenhuma de gostar de paradas, aliás de gays, ou sem serem gays. Por exemplo (fora da questão da orientação sexual) eu, por exemplo, por vezes sentia-me envergonhado com o que observava nas paradas das queimas das fitas, porque de repente, havia uma parcela da população, que podia passear-se pela cidade, bêbaba como um cacho (ou pelo menos a maior parte) porque era estudante universitário e porque se estava naquela semana. E espetáculo não era edificante. Mas o que  é curioso, é que as pessoas dividem isso, espontaneamente, pela orientação. Como se aquilo, aquele tipo de espetáculo, só pode ser feito pelos gays. Os heterossexuais são incapazes e fazer aquilo. O que não é verdade. E depois esta questão de homogeneizar toda uma população é outro erro. Eu conheço gays que não apreciam nada as paradas de orgulho gay, e que alguns até dizem assim: "eu compreendo a intenção", outros até dizem "eu compreendo que em determinada altura isto foi a única forma de nós, verdadeiramente, metermos a realidade pelos olhos dentro das pessoas, mas hoje em dia acho que esse ponto está ultrapassado e portanto não seria necessário .É uma opinião legítima, portanto, logo aqui você vê como a vida é complicada, que é, passa uma parada gay, e você tem a assistir heterossexuais em alguns dos quais estão divertidíssimos, heterossexuais que estão escandalizados, e tem gays que stão a olhar para aquilo e, eventualmente, a pensar a célebre frase do Herman José "não havia necessidade". E é esta diversidade absoluta que existe, que as pessoas negam porque nós temos uma nostalgia espantosa, de ter certezas e de ter gavetas. 



domingo, 2 de julho de 2017

Monogamia ocorre em Menos de 5% dos Mamíferos... e nem os Arganazes são fieis!

"O amor monogâmico acontece em algumas aves (como o mandarim) e em menos de 5% das espécies dos mamíferos. Entre elas, claro, estão os seres humanos, os castores, as lontras, os lobos e os arganazes-do-campo. 

E eu admiro extraordinariamente a sua fé nos seres humanos... para os pôr nesta lista com essa tranquilidade toda!


Arganazes-do-campo  (Todd Ahern)

Eles (os arganazes-do-campo) assim que acasalam, os machos e as fêmeas preferem sempre a companhia do se parceiro, andam sempre lado-a-lado e zelam muito pelos seus filhos. 

Mas repare uma coisa que disse, que é importante: assim que acasalam. Tem de haver acasalamento. Agora vamos pela estrada do costume nestes trabalhos, que é: e como é com os humanos?
A transposição imediata é dizer assim: a primeira pessoa com quem nós tivermos relações sexuais, nós ficamos com ela em relação monogâmica até ao fim da vida. 

O que acontece é que, como nós já dissemos (e neste artigo não vem mencionado e na minha opinião devia) é que mesmo nos arganazes monogâmicos, aquilo que se verifica é uma "monogamia social, porque pela análise genética dos bebézinhos arganazes, chegou-se à conclusão que em famílias monogâmicas, havia crias que não eram daquele pai. Ou seja (...) muitos deles são socialmente monogâmicos, mas sexualmente não são monogâmicos.  

O Amor é... (Diário)  - Júlio Machado Vaz


sábado, 5 de novembro de 2016

Será isto definitivamente o Amor?

Foi por mero acaso que o encontrei de novo, e porque depois de o ter reencontrado não o quis perder, voltei à rotina de ouvir o Júlio Machado Vaz na rádio. E ainda por cima agora não há desculpas, uma vez que se não podermos ouvir a emissão em direto (ou em repetição na rádio) temos ali tudo escarrapachado na no site da Antena 1.

E no programa "O Amor é" da semana passada, a propósito de um poema do Valter Hugo Mãe (sem dúvida que o que trouxe do Chico Buarque - conheço-o bem - é mesmo muito potente!) o professor colocou uma questão muito interessante. Será que, depois de uma separação, quando as pessoas desejam o melhor para o outro, estão a ser realmente verdadeiras ou podem estar um pouco iludidas?

E o que me parece é que, só o simples facto de alguém se separar e desejar o melhor para o outro já não será para todos. Mas tudo dependerá sempre da forma como as coisas acabam. 

Ainda assim, como diz o professor, grande parte das pessoas só pensa em si mesmo, e acha que "se não foste feliz comigo,não serás com mais ninguém". Mas há outras pessoas que pensam assim. Racionalmente querem mesmo o melhor para outro. Mas será que, bem lá no fundo estamos a ver o alcance  do "não deu certo connosco, vai lá ser feliz"? 
Seremos assim tão magnânimos? 



O professor disse que nem quer ir muito fundo quando no consultório confronta as pessoas. Nem é preciso entrar logo de chofre e perguntar "e consegues imaginá-la na cama com outro?", porque normalmente nem é preciso. Basta fazer a simples pergunta:

"... portanto, desejas que um dia destes a encontres, à beira mar, com um fulano ou uma fulana, com o braço por cima dos ombros?"

E na maioria dos casos a resposta é a palidez na cara das pessoas. E de imediato as pessoas refletem, caem em si, e percebem que estavam completamente enganadas. 

"Mas ò professor, eu achava que era mesmo que era o que eu desejava, mas agora pôs-me essa imagem e isso horroriza-me". 

Pois é... quer-se mesmo o melhor para o outro, ainda que só do ponto de vista racional, mas há pessoas que não estão preparadas para levar com isso de frente.

Mas é curioso que, enquanto o ouvia, de imediato as suas palavras, sempre sábias, transportaram-me para o seu livro "Estes difíceis amores", onde descreve precisamente isso, onde também há mar e braço por cima dos ombros:


Eis-nos aqui. Domingo de sol, passeio junto ao mar, esses olhos azuis que o desejo nublava fitam-me transparentes, agressivos de tão risonhos, "como estás". Como estou? E tu que achas vendo-te assim acompanhada? Ele tem bom aspeto, sorriso franco, nada indica o ciúme de paixão mal resolvida da tua parte; sente-se seguro. Esqueceste-me. Pior!, já és minha amiga. Pronto querida, vou ser politicamente correto , "bem". O tempo, o amigo comum que encontraste e me acha cansado, a etiqueta, "este é o ...". Que interessa o nome?, é o teu homem, "muito prazer". Ele sorri, sabe que não sinto a frase, mas compreende, afinal sou o tipo que perdeu a mulher que ele não dispensa, "muito prazer". Um silêncio constrangido entre os dois que resolves com à-vontade, "foi bom ver-te". Era necessário humilhar-me tanto? Uma vontade imensa de te abanar - "sou eu lembras-te?, tinhas a certeza que era o amor da tua vida..." -, acorda!, ainda podemos...

Os dois afastando-se o braço dele sobre os teus ombros, o segredo ao ouvido e esse cabelo, onde me perdia, volteando ao ritmo da gargalhada. Serias incapaz da chacota a meu respeito, é outra a razão, simples e infernal - estás feliz. E uma parte de mim, ainda tímida, quase clandestina, deixa cair os braços e reconhece a derrota e culpa, fica grata pelo que me deste e murmura um "boa sorte" que todo o resto do que sou fita horrorizado. 

Será isto definitivamente o amor?


Estes difíceis amores / Júlio Machado  Vaz / 2002