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segunda-feira, 7 de julho de 2025

O Evangelho da Prosperidade

 


"Nascida no estado do Mississippi, Paula White, de 59 anos, passou, em fevereiro de 2025, de conselheira espiritual de Trump a diretora do recém-criado Gabinete da Fé da Casa Branca. Se o cargo em si já foi contestado por roçar a confessionalidade, a sua ocupante tem recebido críticas até de círculos conservadores próximos de Trump, onde chegou a ouvir-se a acusação de “heresia”. Porquê? Porque, apesar do aparente absurdo das suas tiradas, White enriqueceu - em seguidores e em dinheiro - como pregadora estrela de uma corrente cujos postulados vão longe demais até para os mais dispostos a pôr a fé ao serviço de Trump. É o chamado “Evangelho da Prosperidade”, que White prega a partir de uma megaigreja em Apopka, Florida, segundo o qual a religiosidade está ligada ao sucesso económico. Literalmente. “O dinheiro segue o teu sistema de valores”, afirma White em podcasts, programas televisivos e livros como Money Matters (...)




Embora, em jovem, Trump não fosse conhecido por frequentar outro templo que não fosse a discoteca Studio 54, como político esforçou-se por apresentar-se como presbiteriano. Não que se gabe de uma biografia piedosa, nem finja conhecer as Escrituras. Nem precisa. Como explica a historiadora norte-americana Kristin Du Mez em Jesus and John Wayne (Capitán Swing, 2022), o seu apelo junto do eleitorado cristão não se deve ao seu virtuosismo, mas — pelo contrário — à sua encarnação de uma masculinidade autoritária enraizada no imaginário evangélico.

Com a nomeação de White, o papa da extrema-direita internacional fez um aceno a uma visão muito particular do cristianismo, que, no plano pessoal, é excelente para conferir um verniz sagrado à própria fortuna - mesmo que esta deva mais ao pai do que à providência -, mas que, num plano mais geral, também é coerente com a aversão neoliberal à redistribuição da riqueza. Se é Deus quem decide quem é rico ou pobre, o que pode o Estado fazer quanto a isso?

Contra o cristianismo “original”

Atento a tudo o que se passa no pensamento cristão, o teólogo espanhol Juan José Tamayo já tinha identificado a também chamada “Teologia da Prosperidade” como um dos pilares da ofensiva da extrema-direita religiosa, à qual dedicou A Internacional do Ódio (Icaria, 2020). Segundo este credo em ascensão, observava o autor, se os cristãos não são ricos, “é porque vivem em pecado”. O Evangelho da Prosperidade tornou-se, sobretudo nos Estados Unidos mas também na América Latina, numa das expressões mais cruas da “aliança entre o neoliberalismo económico, o ultraconservadorismo político e o fundamentalismo religioso”, que “está a roubar ao cristianismo a sua mensagem original”, explica agora Tamayo, que acaba de publicar um novo ensaio, Cristianismo Radical (Trotta, 2025), onde propõe uma contraposição teológica ao “cristoneofascismo”.

Desde os EUA, Kristin Du Mez, autora do já citado Jesus and John Wayne, afirma que esta doutrina singular “permeou” o cristianismo americano para além do círculo de pregadores mediáticos. “A ideia de que Deus abençoa os bons cristãos com sucesso material está bastante difundida. Muitas vezes anda de mãos dadas com a oposição a qualquer tipo de ajuda governamental aos pobres, considerados indignos e culpados da sua pobreza”, explica a historiadora. E acrescenta: “Esta mensagem contradiz os ensinamentos cristãos tradicionais sobre a bênção de Deus aos pobres e a ideia de que é mais difícil a um rico entrar no Reino dos Céus do que a um camelo passar pelo buraco de uma agulha.

EL PAÍS – 6 jul. 2025 – Por Ángel Munárriz

domingo, 27 de abril de 2025

O Erro da The Economist

 O erro da revista britânica The Economist nesta primeira página de ontem é achar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, irá a eleições novamente daqui por quatro anos. 


Mas as pessoas ouvem ao menos o que os políticos fascistas dizem?

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Acreditamos Numa Ideia de Liberdade que nos Deixou Sem Ela

Entrevista de Justo Barranco com o historiado Timothy Snyder no jornal La Vanguardia de 9 de fevereiro, a propósito do seu último livro "Sobre a Liberdade"


"Se na cultura norte-americana a liberdade acabou por significar ausência do poder do Estado, o historiador Timothy Snyder considera que a verdadeira liberdade não é tanto a liberdade "de", mas sim a liberdade "para". E que confundir estas duas ideias levou-nos à situação atual, com Elon Musk como “o principal defensor mundial da ideia de que a liberdade significa destruir o governo”. No entanto, sublinha: “Se reduzirmos o tamanho do governo, ele já não pode fornecer as condições básicas que nos permitem ser livres, como água, ar, habitação e educação. Numa grande sociedade moderna, precisamos da ajuda do governo para criar as condições da liberdade. O que está a acontecer no meu país neste momento é muito grave. E está totalmente relacionado com este erro”, afirma Snyder (Ohio, 1969), autor de livros fundamentais como O Caminho para a Não Liberdade, onde analisava a filosofia de Putin e a forma como este exportava a sua política para o mundo. Agora, apresenta Sobre a Liberdade, uma obra muito pessoal.

O sistema de "checks and balances" resistirá ao embate de Trump?

O primeiro movimento de Trump foi congelar programas federais importantes, mas os tribunais revogaram essa decisão. Anunciou tarifas sobre o Canadá e o México, mas não se concretizaram, pois muitos empresários norte-americanos opuseram-se. Trump não é imparável. E em breve haverá diversas ações judiciais contra Elon Musk. É assim que fazemos política no meu país: realizamos eleições e, depois, entram em cena os tribunais. Mas a verdadeira prova de fogo é Musk. O que ele faz é tão obviamente ilegal que as pessoas nem sabem como reagir. Trata-se de um novo tipo de golpe de Estado, que não recorre a homens armados, mas sim a adolescentes com talento para a programação.

Como chegámos aqui?

Durante 50 anos, no meu país, ignorámos o problema da desigualdade, que está diretamente ligado à liberdade. Nos EUA, acreditamos que não importa se alguns são pobres e outros ricos, porque o que realmente conta é essa ideia de liberdade. Mas, quando a desigualdade de riqueza se torna demasiado grande, os mais ricos capturam o governo – como acontece agora com Musk. Se permitirmos que a desigualdade aumente demasiado, a liberdade torna-se difícil, porque os bens essenciais para a liberdade deixam de fazer parte da política governamental. Foi um erro não perceber que liberdade e igualdade sempre estiveram ligadas. Para que haja liberdade, são necessárias escolas públicas e boas estradas – e só o governo pode garantir isso. Nos EUA, convencemo-nos de uma ideia errada de liberdade, que acabou por nos deixar sem ela.

Porque é que as pessoas escolhem milionários como líderes?

Se a desigualdade for demasiado grande, a mobilidade social torna-se muito difícil. A maioria das pessoas olha para o futuro e não vê como pode melhorar a sua situação. Mas veem alguns indivíduos no topo, que tiveram um sucesso extraordinário e acumulam mais riqueza do que qualquer outra pessoa na história. E começam a pensar: “A única forma de vencer é ser como eles.” Assim, cria-se uma cultura de desrespeito pelas regras e pela lei. É por isso que Trump é popular. As pessoas olham para ele e dizem: “É isto que deve ser feito – quebrar as regras, mentir, enganar –, porque o sistema está contra nós.”

O resultado deste pensamento é paradoxal: quanto mais difícil é enriquecer, mais as pessoas escolhem um certo tipo de milionário como modelo. Trump, aliás, nunca foi realmente rico, mas soube sempre apresentar-se como tal - como alguém que contorna as regras. E as pessoas acreditam que, ao votar nele, terão acesso ao seu mundo. Deixam de votar com base em interesses ou políticas e passam a votar por identificação com um determinado grupo, na esperança de que isso lhes traga vantagens.

Os EUA estão a tornar-se numa oligarquia?

Já seguimos esse caminho há bastante tempo. Pode debater-se se somos uma democracia com traços oligárquicos ou uma oligarquia com traços democráticos, mas temos um grande problema com a concentração de poder nas mãos de pessoas muito ricas, tanto dentro como fora do governo. Já era um problema antes. E agora, com Musk, penso que encontraremos formas de resistência, mas as próximas semanas serão decisivas para determinar o que vai acontecer.

A retórica de Trump sobre a necessidade de controlar a Gronelândia é semelhante à de Putin em relação à Ucrânia?

Trump tem certos pontos fracos e há quem saiba explorá-los. Um deles é a sensação de que está sempre a ser enganado e a perder dinheiro. É muito vulnerável a essa ideia, porque ele próprio deseja retirar dinheiro aos outros. Os nossos adversários aprenderam a manipular essa fraqueza. Basta dizer-lhe: “O Canadá está a enganar-te. Os europeus estão a enganar-te. Não pagam o suficiente pela NATO.”

Nos EUA, ninguém quer tarifas sobre o Canadá e o México, exceto um pequeno grupo de fanáticos. Mas Trump acredita que está a fazer política externa. Os russos, por sua vez, aprenderam a manipulá-lo. O objetivo é levá-lo a entrar em conflito com os nossos aliados. Assim, os EUA acabam isolados, enquanto a Rússia e a China fazem o que querem – e ainda se riem dele. Putin já o fez, há vídeos dele a falar sobre isto e a rir-se. E não é surpreendente, porque Trump faz exatamente aquilo que Putin quer, dia após dia.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Pensa Por Ti Próprio - Pensa Como Nós

Mais uma excelente crónica publicada no fim de semana passado no jornal espanhol El País.
 

"
Imaginemos dois momentos marcantes na história da tecnologia e, portanto, da humanidade. No primeiro, assiste-se a um famoso anúncio de televisão. Enquanto se sucedem imagens a preto e branco de ícones como John Lennon, Pablo Picasso ou Maria Callas, o ator Richard Dreyfuss recita um poema:

“Isto é para os loucos. 
Os desajustados. 
Os rebeldes. 
Os agitadores. (…) 
Porque eles mudam o mundo. 
Eles inventam. 
Eles imaginam. 
Eles curam. 
Eles exploram. 
Eles criam. 
Eles inspiram. 
Eles impulsionam a humanidade para a frente.”

O anúncio termina com o slogan Think Different, Pensa Diferente. O ano é 1997, e Steve Jobs acaba de regressar à Apple.

A segunda cena é mais recente, de há algumas semanas. A Apple é agora a empresa mais valiosa do mundo na Bolsa, e o seu presidente, Tim Cook, um firme defensor da igualdade de género, raça e orientação sexual, observa com expressão séria a segunda tomada de posse de Donald Trump como presidente dos EUA. Como o resto da elite tecnológica, também ele fez doações para a campanha. Perto dele, estão Mark Zuckerberg (Meta), Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai e Sergey Brin (Google), Elon Musk (X, SpaceX, Tesla) e Sam Altman (OpenAI). No dia seguinte, Trump posa para uma foto com este último e com Larry Ellison (Oracle), e anuncia um enorme investimento em inteligência artificial para garantir a liderança tecnológica dos EUA nas próximas décadas.

Juntos, todos eles representavam o fim do discurso da defesa das liberdades sociais por parte das empresas tecnológicas, que nasceram na Costa Oeste dos EUA, capitalista, mas também livre e radicalmente inovadora. Um dia, reivindicaram a diferença. Steve Jobs não viveu para ver este momento nem o crescimento das pseudociências modernas. Morreu jovem, de um cancro no pâncreas pouco agressivo, que optou por tratar fora da medicina convencional.

Os grandes líderes de Silicon Valley já não nos incentivam tanto a "pensar diferente", mas sim a reconhecer a visão superior de um empresário multimilionário ou de um líder autoritário. A ideologia do Silicon Valley disfarça-se de pensamento crítico e, através das suas próprias redes, exporta-se como propaganda para todo o mundo. Está por trás de frases como "pensa por ti próprio", "faz a tua própria investigação" ou "não deixes que pensem por ti", elementos-chave na desinformação, no pensamento conspiratório e na polarização que definem o nosso tempo e alimentam populismos. Uma vez desprezado o consenso social sobre o conhecimento, explora-se o apelo de soluções simplistas baseadas num individualismo extremo.

O que aconteceu? O que mudou em Silicon Valley para que a sua mitologia de criatividade e independência se tenha transformado numa ferramenta de obediência populista?

TRÊS FASES DE SILICON VALE

A resposta vem da Califórnia - onde o sociólogo e ex-ministro das Universidades Manuel Castells se encontra evacuado devido aos incêndios. Ele, um dos maiores historiadores da internet, descreve três fases.

Na primeira fase, da qual emergiram figuras como Steve Jobs e Bill Gates, “o empreendedor era o modelo e a inovação o objetivo, mais do que o dinheiro. O individualismo coexistia com valores sociais como o feminismo, o ecologismo e a tolerância sexual e religiosa”.

Nos anos 90, consolidaram-se as grandes empresas, que acabaram por se tornar oligopólios. “Embora pregassem inovação e liberdade, na realidade, a acumulação de capital e o lucro tornaram-se as ideologias dominantes: tornaram-se capitalistas e empresários mais do que inovadores, embora mantendo um discurso liberal e tolerante.”


Desde 2010, entrámos numa terceira fase. Castells aponta que o 5G, os satélites e a inteligência artificial impulsionaram uma nova geração de inovadores de sucesso rápido: a chamada PayPal Mafia - um grupo de empreendedores que começou na empresa PayPal antes de lançar outros projetos. Entre eles, Elon Musk, Peter Thiel e Marc Andreessen.

“Estes tecnocratas não querem apenas inovar, querem o poder total”, explica Castells.

A sua ideologia defende que os "melhores cérebros" - eles próprios - devem afastar "a plebe ignorante". Esta é, segundo Castells, a base da sua aliança com Trump.

São tecnocratas libertários que querem ocupar o Estado para impor o seu projeto. São perigosos porque estão convencidos, têm poder material e, acima de tudo, ambicionam poder.

Na posse de Trump, Musk atraiu todas as atenções ao ser nomeado chefe do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental, após um gesto no palco que fez lembrar uma saudação nazi. Philip Low, fundador da Neurovigil e antigo amigo de Musk, escreveu no LinkedIn:

“Elon Musk não é nazi, mas talvez seja algo melhor - ou pior, depende da perspetiva. Os nazis acreditavam na superioridade de uma raça inteira. Elon acredita que ele próprio está acima de todos.”

Outros membros da PayPal Mafia, como Peter Thiel (dono da empresa de cibersegurança Palantir) e Marc Andreessen (criador do Netscape e agora conselheiro de Trump), não estavam presentes.

A NOVA DIREITA TECNOLÓGICA

Thiel, financiador do senador J.D. Vance, defende a liderança empresarial sobre a democracia. No seu livro Zero to One, argumenta que os grandes líderes empresariais devem ignorar convenções sociais. Andreessen, por sua vez, publicou em 2023 um Manifesto Tecno-Otimista que mistura anarcocapitalismo, aceleracionismo e Nietzsche, defendendo que a tecnologia nos tornará super-homens livres.

O seu pensamento é influenciado por livros como Atreve-te a não agradar, um best-seller japonês baseado na psicologia de Alfred Adler, que argumenta que não é o passado ou o ambiente que nos limitam, mas sim a falta de coragem.

No início de 2025, vemos um grupo de tecnocratas convencidos da sua superioridade intelectual e validados pelo mercado. Controlam empresas com um poder de influência sem precedentes, conhecem as dinâmicas sociais e são atraídos pela ideia de um governo autoritário gerido como uma empresa.

“PENSA POR TI PRÓPRIO”

Como esta ideologia se relaciona com os seus clientes e eleitores?

Mark Zuckerberg é um exemplo: passou de defensor do politicamente correto (woke) para um campeão da "liberdade de expressão", desmantelando políticas de moderação no Facebook e aproximando-se de Trump.

A cultura digital, com a sua exaltação do individualismo e desconfiança na informação tradicional, alimentou esta nova mentalidade. A obsessão pelo pensamento crítico levou a uma sociedade onde todos acusam todos de "pensar mal".

Sam Wineburg, professor de Stanford, alerta:

“Se as pessoas realmente entendessem como funciona a internet, fariam escolhas melhores. Mas a maioria navega às cegas, confiando ingenuamente na própria capacidade de discernimento.”

Assim, num mundo onde os algoritmos são controlados por bilionários e onde o caos informativo favorece os mais poderosos, a máxima parece ser:

"Pensa por ti próprio… desde que penses como nós."

O PENSAMENTO CRÍTICO E A ARMADILHA DA DESINFORMAÇÃO

Se há uma frase que indica que alguém está prestes a entrar numa espiral conspirativa, é "pensa por ti próprio", frequentemente acompanhada de "faz a tua própria investigação" ou "não deixes que pensem por ti". O pensamento crítico continua a ser, como defendia Hannah Arendt, um imperativo moral, mas aqui esconde-se uma armadilha.

“A ciência nasce da curiosidade sobre aquilo que desconhecemos e gostaríamos de explicar”, explica a neurocientista Carmen Estrada.

No seu ensaio A Herança de Eva, Estrada descreve a ciência como um esforço coletivo, construído ao longo de gerações, baseado na colaboração e na continuidade do conhecimento.

Sam Wineburg, professor na Universidade de Stanford e especialista em literacia digital, acrescenta:

"Se as pessoas realmente compreendessem como funciona a internet, como as palavras-chave distorcem os resultados das pesquisas, como a otimização dos motores de busca manipula a informação, então fazer a própria investigação levaria a decisões mais informadas. Mas, na realidade, a maioria de nós navega às cegas, confiando ingenuamente na própria capacidade de discernir a verdade no meio do caos digital.

Wineburg é coautor do manual Verified, um guia prático de verificação de factos. Ele e Mike Caulfield defendem um conceito inovador: a necessidade de "ignorar criticamente".

“Vivemos numa economia da atenção, onde as plataformas digitais competem para manter os nossos olhos fixos nos ecrãs. Avaliar informação exige pensamento crítico, mas o pensamento crítico alimenta a atenção. Na internet, o primeiro e mais importante ato de pensamento crítico é determinar se a informação merece ser analisada criticamente. Aprender a ignorar fontes de baixa qualidade preserva a nossa atenção para o que realmente importa.

A ASCENSÃO DOS TECNOPOPULISTAS ~

Se juntarmos a esta cultura digital um individualismo mal interpretado, um mundo complexo simplificado por visões reducionistas, a ilusão de uma democratização do conhecimento e o reforço psicológico gerado pelas comunidades online, obtemos um cenário perigoso.

Polarizamos este contexto com um sistema informativo manipulado pelos donos dos algoritmos – empresas que lucram com o caos emocional gerado pelas redes sociais. O resultado? Líderes políticos e económicos fortes e populistas, admirados pela sua suposta independência (mesmo em relação aos seus próprios partidos e seguidores), que dizem defender a liberdade, mas acolhem com agrado aqueles que “ligam os pontos”... desde que os liguem a seu favor.

Quando se admira um líder que “pensa por si próprio”, na verdade, admira-se alguém profundamente emocional, que alimenta ressentimentos e desconfiança nas instituições.

Um título do jornal satírico El Mundo Today ilustra bem esta confusão no início do segundo mandato de Trump:

Um jovem que não se deixa manipular defende exatamente as mesmas ideias que os três homens mais ricos do mundo.”

Esta ironia reflete-se nas redes sociais, onde discursos de milionários do Silicon Valley se misturam com declarações de figuras inesperadas, como o ex-futebolista Javi Poves, um fervoroso defensor da teoria da Terra plana.

"Quem te diz que não sou mais inteligente do que Kepler? Ou do que Galileu? Não sei. O que sei é que hoje tenho mais meios técnicos para o demonstrar", disse Poves à rádio Cadena Cope.

Nesta nova era digital, os tecnomagnatas transformaram a inovação em um novo tipo de dominação. A sua narrativa, que outrora promovia a criatividade e a liberdade, agora alimenta desinformação e autoritarismo. A inovação já não é apenas um objetivo - é uma ferramenta de poder.

Delia Rodrguez | El país | 2 de Fevereiro de 2025

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

As Tarifas de Trump


 As tarifas de Trump explicadas num cartoon de Miachael Ramirez, no jornal estado unidense Washington Post.

terça-feira, 23 de julho de 2024

Tu Que Acreditas Num Deus Intervencionista

Ricardo Araújo Pereira, este domingo, na sua crónica semanal, da Folha de São Paulo sobre o alegado atentado que Trump sofreu:

"Segundo Donald Trump, “foi Deus que impediu que o impensável acontecesse”, no atentado de que foi alvo. Ou seja, foi o Criador que evitou que a bala do atirador trespassasse Trump, o que seria impensável, fazendo com que ela fosse antes atingir um antigo bombeiro, cuja morte é bastante mais pensável...

 


A campanha que Ele concebeu é excelente — e, tendo em conta o que um bom marqueteiro político costuma auferir, barata. Ao permitir que a bala raspasse na orelha de Trump, o Senhor forneceu-lhe o máximo de martírio com o mínimo de dano.

Trump pode dizer que levou um tiro, que sobreviveu a uma tentativa de homicídio, que derramou o seu sangue. O preço a pagar por isso foi: uma feridinha na orelha.

Eu já tive lesões mais graves a jogar futebol com os amigos. Mas Deus quis fazer de Trump uma vítima sem lhe infligir sofrimento significativo. Curiosamente, este tem sido um procedimento habitual do Senhor.

Toda a vida de Donald Trump tem decorrido exatamente assim: ele obtém o maior benefício despendendo o menor esforço. Trump começou com uns milhões de dólares oferecidos pelo pai, e quase não paga impostos sobre os rendimentos que tem.

Os escândalos em que se envolve não o beliscam, e nem sequer as condenações em tribunal o afetam. Em princípio, Deus tem tido um papel crucial em todas essas peripécias. E agora esta extraordinária ação de campanha eleitoral.

Trump, fazendo jus à sua inclinação para afirmações categóricas, pode dizer que foi vítima do melhor atentado de sempre. Um centímetro mais para a esquerda e Trump teria sido tanto uma vítima de atentado como todos os espectadores ali presentes. Seria apenas uma pessoa junto da qual uma bala tinha passado. Um centímetro mais para a direita e teria morrido.

É como se o Senhor estivesse a protegê-lo por ter um plano para ele. Fico mais descansado. Talvez isso signifique que a eleição de Donald Trump seja, no entender de Deus, a maneira mais eficaz de evitar uma guerra nuclear.

Ou então faz tudo parte de uma estratégia para cumprir o que vem escrito no livro do Apocalipse. Seja como for, Deus parece saber o que está a fazer. Haja alguém".

sábado, 10 de junho de 2023

As "Pessoas de Bem" da Extrema-Direita


Boris Johnson, Donald Trump, Jair Bolsonaro, André Ventura. 
O que têm em comum todas estas pessoas de países tão diferentes como Reino Unido, USA, Brasil e Portugal? São todos pessoas de bem! São todos religiosos e tementes a Deus , todos conservadores e defensores da moral e dos bons costumes e politicamente todos da extrema-direita populista. Resumindo, todos a mesma escumalha! 

Numa só semana, alguns até no mesmo dia, foram todos acusados de crimes, coisinhas menores como planear golpes de Estado, falsificação, mentir ao parlamento, apropriação de documentos classificados e ódio e perseguição a jornalistas! 

A extrema-direita populista é isto: corrupção, ódio, violência, mentira, perseguição. Deve ser isto que significa "pessoas de bem", expressão que anda sempre na boca deles. 


sexta-feira, 24 de abril de 2020

Trump Candidato a Nobel da Ciência 2020


Depois de muito se ter falado que Trump poderia ser laureado com o Nobel da Paz em 2019, e depois das recentes revelações sobre vírus, germes e bactéricas, que culminou ontem com esta conferência de imprensa, Trump está lançadísismo para ser agraciado com o Nobel da ciência deste ano.

Depois de Trump ter feito a descoberta brilhante que o coronavírus é muito inteligente e tem a capacidade de ser invisível!, eis que chega agora com a cura: fazer solário (na impossibilidade de não se ser fakir e não se conseguir engolir um candeeiro) ou então, bem mais prático: injetar desinfetante! (e andaram por aí a gozar com os youtubers, enfim!)

A pneumónica matou milhões de pessoas há cem anos, mas Trump chega-nos agora em 2020 para nos salvar a todos do novo vírus. Caso não vença o Nobel da ciência será este ano será, novamente, uma uma tremenda injustiça. 

domingo, 20 de outubro de 2019

Obrigado America Por nos Teres Dado Trump como Presidente II

Quão divertido é, o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, afirmar perante o seu homólogo italiano que os Estados Unidos e a Itália têm uma ligação milenar, desde os tempos da Roma Antiga? Quão divertido é o próprio presidente americano não saber que o país a que preside foi fundado em 1776?
"The United States and Italy are bound together by a shared cultural and political heritage dating back thousands of years to Ancient Rome."





sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Trump: O Maestro da Ópera-Bufa

"Eu acho que toda a forma como a administração Trump tem encaminhado este caso (o caso dos curdos) parece uma Ópera-bufa. O problema é que a Ópera-bufa coloca em risco a vida de milhares de pessoas. 

Primeiro, depois de uma conversa telefónica com o presidente turco Erdogan o Trump resolve retirar o número reduzido de militares norte-americanos que se encontravam no Curdistão. Como resultado a Turquia invadiu o Curdistão. Depois (Trump) louva-se a si próprio dizendo "estou retirando soldados americanos de uma guerra que o país nunca deveria ter entrado". 

A seguir, com a repercussão negativa e com a possibilidade da volta do Estado Islâmico (fugiram dez mil militantes do Daesh), ele afirma que os curdos não lutaram junto com os norte-americanos na invasão da Normandia na segunda guerra mundial... esquecendo que eles foram a principal força que combateu o Estado Islâmico. 

A seguir Trump afirma que nunca abandonou os curdos! Imagina! Apesar de no próprio país, Trump ter sido considerado um traidor. E então ele resolveu, para tentar limpar a situação dele (para limpar a barra, como a gente diz no Brasil)  ele escreveu uma carta ao Erdogan dizendo "não seja um tipo duro (don't be a tuff guy) e pare essa ofensiva, aceite conversar com um dos líderes do Curdistão, o general Masloon. Bom, e o Erdoan responde: "eu nunca vou conversar com terroristas" porque para o Erdogan, os quarenta milhões de curdos são todos terroristas!

Aí a chancelerina alemã Angela Merkel toma uma posição dura contra a invasão turca e o Trump aplaude a atitude alemã, para depois dizer que ela veio muito tarde!

Bom, os curdos estão sendo dizimados, aliaram-se ao ditador sírio Assad e o norte da Síria foi entregue como área de influência aos russos. Ficou assim. 

- Mas vocês mesmo que Trump está a resolver alguma coisa?
Continuamos a falar dele como se ele percebesse o caos que se está a instalar naquela zona...

# O Esplendor de Portugal 17 de Outubro de 2019

domingo, 11 de novembro de 2018

O Grande Feito de Donald Trump - E Quem São os Fanáticos Defensores Trump?

"Por exemplo, em relação a Trump eu acho que isso joga a favor dele, sabe? Porque, em entrevistas que eu por vezes oiço, a opinião das pessoas, e nomeadamente atendendo aquilo que são os pré-conceitos, joga a favor dele. Porquê? Por que é a estratégia da vitimização de, lá estão todos aqueles intelectuais de pacotilha, na CNN, no New York Times, etc, a atacar o "coitadinho", só porque ele não é um deles, só porque ele foi contra os interesses estabelecidos, que foi, se quiser, o grande feito dele. É que, pertencendo ele à alta finança americana, estando ele a vida inteira às cotoveladas com os políticos e os financeiros mais poderosos, ele conseguiu passar a mensagem de "eu sou contra o sistema (e como ele próprio disse): eu vou drenar o pântano de Washington".  A partir dessa altura, ele é o campeão dos desfavorecidos que, é tristemente irónico num tipo que nós sabemos que ainda por cima tem uma trajetória em termos de fortuna pessoal que não foi propriamente feita à custa de justiça para com os seus próprios trabalhadores(...)

Nós estamos a falar de um homem que mandou fazer Photoshop na cerimónia de investidura, para parecer que estava mais gente do que estava, para poder dizer que tinha sido a maior cerimónia. Está a ver a fragilidade de narcisismo desta pessoa?




Fascinante, para quem trabalha na área que eu trabalho é como, o núcleo duro de apoiantes de Trump, que dizem, vezes sem conta às televisões "estou-me nas tintas para isso tudo; mesmo que seja verdade o que dizem dele eu continuo a votar nele" quem são?

Os brancos. Homens. Os frustrados profissionalmente. E os com pouca educação. 

Ou seja, gente em que há um ressentimento muito grande. E às vezes com razão. A vida foi madrasta percebe? E as fake news sobre o Obama a dizer que ele tinha nascido no Quénia e que portantanto não se podia candidatar? E os sociólogos que estavam cheios de razão "Hillary Clinton não é uma boa candidata nas suas permanentes ligações à alta finança (como o próprio Trump, não é?), mas não é só isso que está em jogo. Nos Estados Unidos um homem negro vá que não vá, agora uma mulher, seja de que cor for, nem pensar"! Não estão preparados para isso. 

A espada de Dâmocles - O Amor é / Júlio Machado Vaz


sábado, 21 de janeiro de 2017

Obrigado América por nos teres dado Trump!

No dia 7 de Novembro era suposto ter escrito um pequeno texto que poderia ter por título "Espero que o mundo amanhã acorde bem mais divertido". No dia seguinte, terça-feira, eram as eleições presidenciais americanas  - sim, no mais mediático país do mundo vota-se a meio da semana e não como em Portugal, em que temos de abdicar do nosso dia de descanso semanal para ter de ir votar.

Eu não acompanhei, de todo, toda as presidenciais norte-americanas. Nem as primárias dos diversos partidos, nem depois com os candidatos oficiais à presidência. Não acompanhei porque tenho mais do que fazer, que acompanhar as eleições dos outros países. Já me bastam as eleições portuguesas, já me bastam os aldrabões portugueses, por isso estou-me a cagar para as eleições e para todos os outros aldrabões de todos os outros países do mundo. 

Mas parece que toda a gente estava muito informada sobre as eleições de um país lá no outro lado do mundo. No trabalho toda a gente falava nisso. Toda a gente parecia estar muito bem informada, mas quando eu caí na asneira em perguntar se eles sabiam que existiam seis candidatos, de imediato me queriam fazer que eu não estava bem da cabeça! Haviam só dois, teimavam eles comigo! Mas não, eu que não acompanhava nada, nem sabia quem era o Trump! sabia que haviam seis candidatos. Só que, cá como lá, faz-se crer às pessoas que só existem duas alternativas, porque a democracia é uma coisa muito gira, mas convém não dar muito tempo de antena aos outros, porque vai que as pessoas descobrem que existem outras possibilidades de voto?


Toda a gente acreditava que era a velha chata que ia ganhar. Parece que era o que diziam também as sondagens. Tal como diziam sobre o referendo no Reino Unido - onde toda a gente quis votar a saída só para contrariar e depois arrependeu-se na manhã seguinte! - e depois deu no que deu! 
Nessa segunda-feira, véspera das eleições, estava para aqui ter deixado algumas frases, mas muitas vezes chegamos à noite já cansados e sem disposição para o que quer que seja. A única coisa que queremos é chegar à cama e dormir. E foi o que aconteceu e não desejei aqui, no dia anterior, que Trump ganhasse, como era a minha previsão. E claro que escrever depois já não tinha piada não é? Depois do sorteio todos sabemos os números da lotaria!

Mas na verdade, na manhã seguinte, o universo fazia-me a vontade. Eram quase oito horas da manhã e dirigia-me, como todos os dias, no carro para o trabalho. Na rádio, Donald Trump começava a fazer o seu discurso de vitória. No trabalho todos estavam em pânico. Eu ria e mostrava-me muito contente para espanto geral! 

E ontem foi a tomada de posse - lá na sua estranha democracia em que quem tem menos votos ganha! - daquele que os americanos escolheram para os representar. E afinal o mundo ficou mesmo muito mais divertido. Obrigado América, por nos ter dado Trump! Iremos certamente rir muito mais nestes quatro anos do que se tivesse ganho a outra velha chata sem amor próprio!