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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Acreditamos Numa Ideia de Liberdade que nos Deixou Sem Ela

Entrevista de Justo Barranco com o historiado Timothy Snyder no jornal La Vanguardia de 9 de fevereiro, a propósito do seu último livro "Sobre a Liberdade"


"Se na cultura norte-americana a liberdade acabou por significar ausência do poder do Estado, o historiador Timothy Snyder considera que a verdadeira liberdade não é tanto a liberdade "de", mas sim a liberdade "para". E que confundir estas duas ideias levou-nos à situação atual, com Elon Musk como “o principal defensor mundial da ideia de que a liberdade significa destruir o governo”. No entanto, sublinha: “Se reduzirmos o tamanho do governo, ele já não pode fornecer as condições básicas que nos permitem ser livres, como água, ar, habitação e educação. Numa grande sociedade moderna, precisamos da ajuda do governo para criar as condições da liberdade. O que está a acontecer no meu país neste momento é muito grave. E está totalmente relacionado com este erro”, afirma Snyder (Ohio, 1969), autor de livros fundamentais como O Caminho para a Não Liberdade, onde analisava a filosofia de Putin e a forma como este exportava a sua política para o mundo. Agora, apresenta Sobre a Liberdade, uma obra muito pessoal.

O sistema de "checks and balances" resistirá ao embate de Trump?

O primeiro movimento de Trump foi congelar programas federais importantes, mas os tribunais revogaram essa decisão. Anunciou tarifas sobre o Canadá e o México, mas não se concretizaram, pois muitos empresários norte-americanos opuseram-se. Trump não é imparável. E em breve haverá diversas ações judiciais contra Elon Musk. É assim que fazemos política no meu país: realizamos eleições e, depois, entram em cena os tribunais. Mas a verdadeira prova de fogo é Musk. O que ele faz é tão obviamente ilegal que as pessoas nem sabem como reagir. Trata-se de um novo tipo de golpe de Estado, que não recorre a homens armados, mas sim a adolescentes com talento para a programação.

Como chegámos aqui?

Durante 50 anos, no meu país, ignorámos o problema da desigualdade, que está diretamente ligado à liberdade. Nos EUA, acreditamos que não importa se alguns são pobres e outros ricos, porque o que realmente conta é essa ideia de liberdade. Mas, quando a desigualdade de riqueza se torna demasiado grande, os mais ricos capturam o governo – como acontece agora com Musk. Se permitirmos que a desigualdade aumente demasiado, a liberdade torna-se difícil, porque os bens essenciais para a liberdade deixam de fazer parte da política governamental. Foi um erro não perceber que liberdade e igualdade sempre estiveram ligadas. Para que haja liberdade, são necessárias escolas públicas e boas estradas – e só o governo pode garantir isso. Nos EUA, convencemo-nos de uma ideia errada de liberdade, que acabou por nos deixar sem ela.

Porque é que as pessoas escolhem milionários como líderes?

Se a desigualdade for demasiado grande, a mobilidade social torna-se muito difícil. A maioria das pessoas olha para o futuro e não vê como pode melhorar a sua situação. Mas veem alguns indivíduos no topo, que tiveram um sucesso extraordinário e acumulam mais riqueza do que qualquer outra pessoa na história. E começam a pensar: “A única forma de vencer é ser como eles.” Assim, cria-se uma cultura de desrespeito pelas regras e pela lei. É por isso que Trump é popular. As pessoas olham para ele e dizem: “É isto que deve ser feito – quebrar as regras, mentir, enganar –, porque o sistema está contra nós.”

O resultado deste pensamento é paradoxal: quanto mais difícil é enriquecer, mais as pessoas escolhem um certo tipo de milionário como modelo. Trump, aliás, nunca foi realmente rico, mas soube sempre apresentar-se como tal - como alguém que contorna as regras. E as pessoas acreditam que, ao votar nele, terão acesso ao seu mundo. Deixam de votar com base em interesses ou políticas e passam a votar por identificação com um determinado grupo, na esperança de que isso lhes traga vantagens.

Os EUA estão a tornar-se numa oligarquia?

Já seguimos esse caminho há bastante tempo. Pode debater-se se somos uma democracia com traços oligárquicos ou uma oligarquia com traços democráticos, mas temos um grande problema com a concentração de poder nas mãos de pessoas muito ricas, tanto dentro como fora do governo. Já era um problema antes. E agora, com Musk, penso que encontraremos formas de resistência, mas as próximas semanas serão decisivas para determinar o que vai acontecer.

A retórica de Trump sobre a necessidade de controlar a Gronelândia é semelhante à de Putin em relação à Ucrânia?

Trump tem certos pontos fracos e há quem saiba explorá-los. Um deles é a sensação de que está sempre a ser enganado e a perder dinheiro. É muito vulnerável a essa ideia, porque ele próprio deseja retirar dinheiro aos outros. Os nossos adversários aprenderam a manipular essa fraqueza. Basta dizer-lhe: “O Canadá está a enganar-te. Os europeus estão a enganar-te. Não pagam o suficiente pela NATO.”

Nos EUA, ninguém quer tarifas sobre o Canadá e o México, exceto um pequeno grupo de fanáticos. Mas Trump acredita que está a fazer política externa. Os russos, por sua vez, aprenderam a manipulá-lo. O objetivo é levá-lo a entrar em conflito com os nossos aliados. Assim, os EUA acabam isolados, enquanto a Rússia e a China fazem o que querem – e ainda se riem dele. Putin já o fez, há vídeos dele a falar sobre isto e a rir-se. E não é surpreendente, porque Trump faz exatamente aquilo que Putin quer, dia após dia.

domingo, 1 de janeiro de 2023

Tweet do Ano 2022

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 Fazem hoje quatro anos que me registei no Twitter. 

Neste ano que passou uma criança, ainda que seja a criança mais rica do mundo, Elon Musk, comprou a rede social Twitter. Muita gente saiu. Milhares ou milhões. Musk como que soltou os criminosos sob a falsa desculpa da liberdade de expressão. Bloqueou recentemente as contas de jornalistas americanos que o criticam. Ele é aquela criança que leva a bola para o recreio e, quando contrariado, expulsa quem não lhe faz a vontade. 

Muita gente fez questão se ir para outras redes sociais. Eu nem saí, nem fui tentar descobrir mais uma rede social. A verdade é que, por exemplo, cada vez menos utilizo o Instagram e cada vez menos me apetece ir lá e não consigo lá estar muitos minutos.

O Twitter é a rede social da comunicação, da troca de ideias, argumentos. Também cada vez mais, como as outras, a rede social das mentiras e do ódio. Mas, até ver, sinto-me confortável por lá, e enquanto sentir por lá ficarei. Quando não fizer sentido saio. 

Não planeio ir para outro sítio. Talvez porque não seja de desistir facilmente, seja nas relações, no clube, nos amigos... Se sair do Twitter, ficarei na minha casa, que é esta, o blog, e de onde nunca saí, apesar de por vezes o tomar por garantido, e haver tempos em que esteja mais presenta e tempos em que esteja mais afastado. 

No Twitter não é fácil subir em número de seguidores. Em 2022 atingi os mil seguidores, não é nenhum troféu, mas é um número redondo engraçado. E por uma questão de curiosidade fui ver qual tinha sido o "tweet" (no Twitter os "posts" (ou mensagens) chamam-se "tweets") e foi uma reflexão sobre os 90 milhões de euros que o Estado (alegadamente) laico vai gastar nas jornadas da juventude da Igreja Católica. 

Curiosamente estes 90 Milhões de Euros não fazem memes, não enchem jornais, não são discutidos nas televisões, nem originam demissões de presidentes de câmara, nem secretários de Estado nem ministros... e toda a gente se sente confortável com isto. Não é o meu caso.