A propósito das afirmações de Cristophe Clavé, que relaciona o empobrecimento da linguagem com o emburrecimento coletivo (temos primeira vez uma geração com um QI inferior ao dos pais) aqui deixo alguns excertos do programa "O Amor é" da Antena 1 com Júlio Machado Vaz e Inês Menezes.
"Ao simplificarmos cada vez mais a linguagem é inevitável que, atrás da linguagem vá também o processo de pensamento.
Vou-lhe dar um exemplo, que por caso me irrita bastante. Eu gosto muito de adjetivos e, hoje em dia, assistimos, quer na televisão, quer nas redes sociais, hoje em dia parece que só temos um adjetivo que é o "incrível". O incrível dá para tudo. Não quer dizer que eu não o use, porque eu também o uso, mas, tudo está resumido ao incrível e isso terá a ver com este empobrecimento da linguagem, com esta preguiça. Nós não vamos procurar outra forma de adjetivar, serve-nos o incrível.
Se nós não conseguimos articular (antes de dizer as palavras nós pensamos). Numa discussão estamos a elaborar um argumento. Se a poupo e pouco isso se vai tornando cada vez mais difícil nas nossas cabeças, antes de as escrevermos ou dizermos, isto vai empobrecer a nossa capacidade de argumentar. Perante essa incapacidade de argumentar, uma das pseudo-soluções é a emoção tomar o lugar do processo de pensamento. E então o que acontece é que, com meia dúzia de palavras, o que nós acabamos por verificar é que desaguamos no conflito, as posições são rígidas, tão mal explicadas, as pessoas não têm maleabilidade. Veja por, por exemplo, à medida que nós vamos tendo mais dificuldade de criar aquilo que é dito - e não é só a palavra pura e dura - é a maneira como a palavra é dita. Nós vamos perdendo a capacidade de discernir, de vez em quando, entre o insulto e o humor. E isso pode ser catastrófico num diálogo.
As nuances da linguagem. Há palavras muito próximas. Quem tem muito bom vocabulário tem a capacidade de fazer um autêntico degradé no seu léxico, e isto é, muito enriquecedor, para a pessoa, porque tem ao seu dispor uma paleta, não de cores, mas de palavras, para traduzir o que sente, muito mais rica, mas também para quem ouve.
Eheheheh! Incrivelmente verdade! É como uma roda a andar para trás.
ResponderEliminarHoje os jovens usam o computador e deslizam o dedo para marcar golo, em décadas passadas iam para a rua dar xutos numa bola. O tempo usado na frente de ecrãs inviabiliza disponibilidade para abrir um livro.
O interesse pela cultura parece em decadência. Será que ainda vamos a tempo de dar volta a esta roda ?
Espero que sim, pois felizmente também há quem tenha essa força de vontade!
Acho que há certas coisas que, infelizmente, já não voltam para trás.
EliminarOlhe, é tal e qual como na citação que tenho debaixo do título do blog ;)