"Os jornais não servem para dizer a verdade. Já é bom que eles não mintam."
(Françoi Rene)
De repente, e vindos sei lá de onde, começaram a aparecer nos meios de comunicação social, tal como cogumelos em noite de chuva, os "polígrafos" que, qual ministério da verdade, atestam aquilo que, qualquer pessoa numa pesquisa do Google descobre num minuto.
Se bem me lembro, a palavra "polígrafo" entrou no léxico dos portugueses quando, ao melhor estilo sensacionalista, a SIC trouxe este equipamento para um programa de televisão, em que figuras públicas, condenadas de crimes, sujeitaram-se ao dito cujo para atestar se, na verdade, estavam inocentes ou não. E, se não estou em erro, julgo que a primeira pessoa em Portugal a submeter-se a tal espetáculo mediático foi o padre Frederico, em 1994, no programa da SIC "Máquina da Verdade", em 1994. Entretanto ao que parece popularizou-se e o polígrafo anda a ajudar nas audiências nos vários canais. E foi a mesma SIC, que trouxe agora para o jornalismo português e também muito rapidamente espalhou-se por outros órgãos de comunicação social.
Acontece que, ultimamente, uma das pessoas mais geradoras de mentiras e que mereciam mais do que ninguém um "fack check", como agora se diz em estrangeiro que fica sempre mais bonito e internacional, é o senhor diretor-adjunto de informação do próprio canal do fundador do PSD: José Gomes Ferreira.
José Gomes Ferreira, jornalista e tudólogo (pessoa especialista em todos os assuntos!) que sempre quis passar por economista, este ano, apesar de não ter qualquer formação em História, virou também historiador ao publicar o livro: "Factos Escondidos da História de Portugal" em que, como o próprio diz, andou pela internet a ler o que lhe interessava e compilou um punhado de factos alternativos que deixaram os historiadores de cabelos em pé.
"Se não faz sentido que um jardineiro dê consultas de obstetrícia ou que um historiador projete a construção de uma ponte, também não se deve aceitar que alguém sem formação em História, se rogue no direito de desprezar o trabalho das pessoas formadas na área, e que o fazem seriamente". (Podcast / Falando de História)
José Gomes Ferreira, fruto de todo o protagonismo que tem à frente da informação de um canal, rapidamente desdobrou-se em entrevistas por todo o lado, promovendo o seu livro que, no próprio livro diz que "não é um livro de História, é um livro de política", apesar de o vender como tal, aliás, basta olhar para o título que lhe deu.
E vai daí que, em Maio, mês em que lançou o seu livro, foi ao programa da Antena 3 "Prova Oral" do radialista Fernando Alvim e, entre outras, saiu-se com esta bela pérola:
"Marte, o planeta vermelho? Não acreditem! Os americanos alteram as cores"
"Porque não querem revelar para já todas as potencialidades que lá existem. Cada potência quer manter escondido, até depois de ter tido a tecnologia, o acesso e a possibilidade de mapear e reclamar para si, não quer revelar. Os americanos alteram as cores do planeta Marte!"
De uma assentada, José Gomes Ferreira deixa historiadores e astrónomos de cabelos em pé!
E entretanto já passaram cem dias sobre estas suas afirmações do diretor-adjunto da SIC, mas do Polígrafo SiC nada. Caladinhos que nem ratos. A estação de televisão tem um maluco que todos os dias diz mentiras atrás de mentiras, lança teorias da conspiração que lê na internet e transforma a estação numa espécie de FOX NEWS.
Ou então estarei a ser injusto Polígrafo SIC. Provavelmente mal o José Gomes Ferreira disse aquelas barbaridades sobre o planeta vermelho, eles meteram-se num foguetão e estão perdidos a caminho de Marte para fazer o fack check que os espectadores tanto anseiam!
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