A história já tem alguma distância temporal, até porque aconteceu no primeiro verão de pandemia!, mas é rápida de contar. Numa das melhores aplicações de engate que existem (Custo Justo ou OLX!) enontrei-me com uma vendedora a quem comprei uns quinze livros. Ela foi sempre muito simpática. Encontrei-me com ela na estação de comboios e acabamos por ficar a conversar uns quantos minutos porque a conversa começou a ficar muito interessante. Achei-a extremamente culta, e isso cativou-me ainda mais que as boas pernas ou o decote proeminente. Entretanto chegou a hora de pagar e ela não tinha troco. Como me vendeu os livros a um preço simbólico, acabei por a contrariar, que queria ir levantar dinheiro, e dei-lhe cinco euros a mais. "Então depois escolhe mais livros ou dou-lhe a diferença".
Essa ponta solta fez com que acabássemos a trocar mensagens. Tratávamo-nos sempre na terceira pessoa e eu sempre fui (como sou sempre) bastante respeitoso, ainda por cima sabia lá bem eu se a senhora era comprometida ou não. Ainda por cima tinha-me dito que "estamos a mudar" por isso estava a despachar dezenas, se não centenas mesmo, centenas de livros. E "estamos" é plural, é mais do que um. Mas começou a chegar a um certo ponto que percebia-se que ela estava a ser muito explícita no interesse - fosse ele qual fosse - na minha pessoa.
Começamo-nos a tratar tu, a trocar mensagens, mas ela queria ir para um canal de conversação. Tudo bem. Mas coisa já nas mensagens por telemóvel não começou lá a fluir muito bem, e de forma meio despropositada pergunta-me se eu sou sempre assim, "lento" para tudo. Posteriormente percebi que estava bloqueado na rede social que usámos para teclar, durante, sei lá, um dia? Dois?
Não houvesse tecnologia, provavelmente ia-mos sair, quem sabe até, com algum convívio íntimo e nunca se sabe o que poderia dali acontecer. Assim a senhora foi ver o meu perfil da rede social, fez os seus juízos de valor - "porque é que não gostas dos Estados Unidos" - e, aquilo que até poderia ser uma bela amizade, acabou digitalmente mais depressa que começou, porque, ao que parece, não tínhamos química digital.
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