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Há coincidências curiosas, ou, então, só reparamos nelas quando estamos sugestionados. Tinha acabado de comprar o telecrã (televisão de mão com internet que fica no saco porque continuo a usar como telemóvel um antigo Nokia) e, ao mesmo tempo, ouvi vários programas a falar do Tinder, nomeadamente na Prova Oral da Antena 3. E também a minha colega de trabalho disse-me na altura: "Pronto, agora também podes instalar o Tinder"!
Mas a verdade é que, se quisesse, já o poderia ter feito no computador como aliás acabou por acontecer ainda que, posteriormente comecei a usar na empresa, motivo pelo qual comprei o telecrã: entreter-me numa empresa onde passava oito horas por dia sem fazer nada e onde até li o Ana Karenina em pouco mais de um mês.
E poderia instalar uma aplicação de engate ou todas as outras que quisesse porque, afinal, estava de novo solto para fazer o que quisesse, mas, sempre à distância, pois estávamos (e ainda estaremos mais uns tempos) a viver uma pandemia e atravessamos não sei quantos Estados de Emergência e, com proibições, por exemplo, de passar concelhos diferentes.
Não era a primeira vez que me registava num site de encontros, mas foi a primeira vez num site que, de facto, tinha muitas mulheres registadas. O meu melhor amigo até já me tinha dado um conselho de me registar num outro site - "foi nele que nos conhecemos" - mas confesso que achei a ideia de pagar 25€ por mês desinteressante. Ora se eu nunca fui às putas, ia agora pagar para ter só a oportunidade de poder eventualmente falar com mulheres na net? Era o que haveria de faltar!
Depois do registo feito lá comecei a deslizar para a direita e para a esquerda, e, depois de ter mandado umas largas dezenas de mulheres para o lado errado e gastado os "super likes" todos por engano, lá comecei a atinar mais com aquilo e as correspondências começaram a aparecer.
As primeiras impressões foi que aquilo causa extrema ansiedade mas algum vício também, como se fosse uma espécie de jogo em que se quer chegar ao fim num instante. A pressão de decidir em segundos se aprovamos ou desaprovamos alguém, até porque o algoritmo já tem outras largas de dezenas de perfis mulheres em espera. E como é que se aprova ou desaprova alguém só por uma foto, muitas vezes cheia de filtros, e mais importante, tantas vezes sem ter nada descrito, nem sequer os interesses? Então comecei a usar a regra, se não tem nada escrito, nem sequer os interesses se deu ao trabalho de colocar, então, dessas, escolho só as bonitas! Das que têm um perfil mais descritivo escolho as que tenho interesses comuns. E assim fui fazendo e lá comecei a conversar com algumas mulheres em que a maioria não tinha fotografia, tal como eu deixei de ter, porque me parecia que poderia causar algum ruído desnecessário.
O estereótipo da mulher que me aparecia era sempre o mesmo: entre os 40-50 anos, licenciada e que não está ali para "ONS" e com pouca disposição para comunicação. E perfil após perfil lá aparecia "não interessada em ONS". Mas que caralho de merda é essa da ONS? E tive mesmo que pesquisar para ficar a saber que era "one night stand", porque na primeira vez até pensei que OMS estava mal escrito!
Mulheres que parece que é preciso comprar-lhes a vontade para comunicar. Acho que por uma questão de cordialidade, quem dá "match" deveria ser a pessoa a interpelar o outro primeiro. Mas nem assim, eu se quisesse que falasse porque a senhora dá-se ares de muita importância para meter conversa com a ralé.
Mas mesmo quando a conversa fluía tinha sempre que ser eu a voltar a interpelar a senhora nos dias seguintes. Sempre foi assim e era se quisesse, porque se há muita mulher no Tinder, por certo haverá muitos mais homens e o mulherio tem muita solicitação a quem atender. Mas esse é, precisamente, o problema. Demasiadas atenções, demasiadas conversas com pessoas atrás de pessoas e chegou uma altura em que eu tinha mesmo de tirar notas sobre as utilizadoras para depois não me baralhar todo para saber quem era e gostava do quê. Aliás, antes mesmo de começar a utilizar li os conselhos da própria aplicação, que diz, que não devemos interagir com mais de nove pessoas, e faz todo o sentido, precisamente porque, como referi, a pessoa começa a baralhar-se e acabamos por não conhecer ninguém, fica tudo no ar e é uma puta duma confusão.
E o meu problema, quem sabe, talvez agudizado pela idade, é que eu cada vez menos sou dado à persistência de andar sempre a reclamar atenção a quem se dá ares de importância. Não, minha cara, se não há reciprocidade desinteresso-me, corre tu atrás de mim se quiseres. Não queres conversar? Boa sorte então. E é por todos estes fatores: por causar ansiedade, vício em estar sempre a escolher os menus do dia, por saturar, pela forma como as mulheres se comportam, e, por ser verdadeiramente inútil naquilo que se propõe que abandonei o Tinder.
Realmente! Ó céus!
ResponderEliminarBem essa do ONS já tinha visto e não tinha entendido e passei à frente pareceu-me pouco relevante... ahahah
Quando ao dar match falar... Também concordo, mas já me aconteceu por diversas vezes eu tomar a iniciativa, falar e.... gri gri gri gri gri do outro lado. Zero resposta. Podiam cancelar o match? Podiam... Mas provavelmente entro em fila de espera. Desconhecia essa "regra" das 9 pessoas mas faz-me sentido ainda que 9 já é um número demasiado ambicioso... eu a falar com 3 já me baralhei toda e achava que um trabalhava num sítio e afinal era outro... uma confusão.. Se eu sou péssima com nomes, imagina com conteúdos específicos recebidos mais ou menos ao mesmo tempo...
E eu não referi aqui, mas, tal como tu escreveste no teu post, também eu encontrei (ainda que poucas) contas de mulheres casadas, umas "só para falar", mas outras também a recrutar homens para um Trio Odemira! E para esse tipo de coisa existem outros sites mais apropriados!
EliminarMas foi o que achei, tudo demasiado rápido, cansativo, vazio. E a minha ideia quando me registei não era arranjar alguém para "casar"!, era mesmo encontrar alguém com os mesmos interesses que quisesse ir dar uma caminhada ou uma volta de bicicleta. E quem sabe, se não se poderiam também dar outros tipos de voltas! Mas cansei-me mesmo daquilo. Acho que muitas vezes estavas a ver novas pessoas como quem está a ver as capas dos jornais todos os dias! Mas pode ser que tenhas mais sorte do que eu!