sexta-feira, 16 de julho de 2021

Conheci uma Pessoa na Net - e Agora?

knowyourmeme.com

Tenho por hábito, desde que comprei um telecrã e posteriormente uma coluna bluetooth, de ir ouvindo programas de rádio enquanto estou a jardinar. Dumas destas últimas vezes, resolvi ouvir o programa da Prova Oral com a psicóloga Claudia Morais a propósito do seu livro "Manual do Amor". 

Ouvi o programa até ao fim, que foi interessante, com várias participações dos ouvintes e internautas, "o programa é sempre muito partipado sempre que o tema é amor ou sexo" como disse o Alvim, mas discordei da autora e do apresentador (que concordou com ela) nesta sua opinião:

"Quando conhecemos alguém no Tinder, ou noutra aplicação qualquer, devemos passar tão rapidamente quanto possível para os encontros presenciais. Porque a nossa comunicação é maioritariamente não verbal. Eu posso estar não sei quanto tempo no digital a trocar mensagens, ficar até às duas da manhã, a trocar longos textos com outra pessoa e, a páginas tantas dou por mim e estou a envolver-me com aquela pessoa emocionalmente, até que depois eu marco um encontro e percebo que não há química. E há outra coisa, a autenticidade também é mais facilmente confirmável nos encontros físicos. A radiografia que nós tiramos a uma pessoa num encontro presencial de dez minutos nós não conseguimos tirar em semanas a trocar mensagens via texto." 

Longe de mim achar que a minha opinião é mais válida que a opinião de uma psicóloga, especialista em analisar os comportamentos das pessoas. Contudo, também tenho direito à minha opinião, de especialista em conhecer pessoas na net, que já foram algumas e, se calhar, isso também deve ter a sua relevância. Quem sabe até talvez dê equivalência a um qualquer doutoramento em ciências humanas!

Na opinião da psicóloga, assim que conhecemos alguém na net, devemos logo ir a correr conhecer a pessoa ao vivo. Mas a primeira pergunta que me surge é: e se a outra pessoa não ou puder ou até não quiser e preferir esperar um pouco mais? Responde-se: "Olha, desculpa lá, tu pareces ser muito fixe, mas eu não vou falar mais contigo porque tenho medo de estar a criar afinidade contigo e depois tu não corresponderes fisicamente. Podemos não ter química!" 

Depois há uma outra questão. Toda esta ânsia, meia dúzia de parágrafos depois - "olha, quero-te já conhecer pessoalmente, está bem"? - também dá mostras de quem está muito ansioso, quase desesperado até. E quando alguém se mostra assim, o mais provável é assustar a freguesia. Eu sou da opinião que quando se conhece alguém na net, devemos ir com calma, sem pressões, deixar fluir, cada um ao seu rito e de forma tranquila. E não é preciso colocar um ultimato, porque quando chega a altura certa, e há interesse recíproco, as pessoas sabem. Tal como os alimentos têm o seu tempo de cozedura certo, também as pessoas irão perceber qual será o tempo certo para se encontrarem pessoalmente.

Os argumentos da autenticidade e da radiografia.

Discordo também que ao vivo consigamos tirar uma melhor radiografia da pessoa e que nos consigamos mais facilmente aperceber da autenticidade de alguém. Mais, acho que, se fizermos como a autora diz, e só quisermos trocar meia dúzia de mensagens, aí sim, certamente não vamos conseguir perceber muito da pessoa. Mas se formos com calma, deixarmos a pessoa desenvolver certos assuntos, não tenho dúvidas que conheceremos muito mais da pessoa do que num encontro para café. Até porque, na minha opinião, quando duas pessoas desconhecidas conversam na net, precisamente por não se conhecerem, têm muito mais abertura em falar de assuntos que lhe são desconfortáveis, mais até do que falar com amigos ou familiares. 

Já os primeiros encontros servem para julgar. Para toldar a vista, distrair e impedir de ver o essencial. Olhamos para o pacote, se nos é agradável, ou se não nos imaginamos sequer a ter sexo com aquela pessoa, olhamos para o estilo, olhamos para tudo e prestamos pouca atenção ao conteúdo.

E prestarmos atenção a alguém, ouvir e conhecer um pouco de quem nos parece interessante, também não significa que tenhamos que namorar com essa pessoa. Querer conhecer não significa mais do que isso: conhecer. Significa só que estamos a dar uma oportunidade de conhecer alguém que nos parece interessante. E se não dermos uma oportunidade - porque à primeira vista não temos química - não saberemos quem podemos estar a perder. Não temos de ter uma relação com todas as pessoas interessantes que conhecemos na internet, mas às vezes podemos até fazer uma boa amizade. Noutras podemo-nos apaixonar ou envolver emocionalmente. 

Por experiência própria, discordo que tenhamos que ir logo a correr conhecer pessoalmente quem acabamos de encontrar na internet. Ainda por cima porque não é muito prudente! Em crianças ensinaram-nos  não confiar em estranhos! Então, agora em adultos convém pisar terra firme e dar tempo para despistar gente que bate mal dos cornos e que até pode-nos vir a perseguir. Ao menos ter tempo se não nos sai na rifa uma apoiante do Chega, uma negacionista da pandemia, ou alguém que acha que vou-me tornar num réptil por ter tomado a vacina!

Mas isto sou eu, porque cada um procede como achar melhor. 

2 comentários:

  1. Vivemos num tempo que rejeita a incerteza, queremos controlar tudo e rápido, temos pânico das desilusões e com isto perdemos a beleza da vida...
    Por isso se multiplicam na televisão os programas de casais escolhidos cientificamente... seja lá o que isso queira dizer.
    Com isto perde-se o melhor dos relacionamentos humanos, o encantamento, a descoberta...

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    1. Precisamente. E olha que, em vinte anos de programas da vida real, só houve um casal que sobreviveu, desde o primeiro Big Brother até agora! O que não abona muito para a ciência dos "match de casais" de tantos programas feitos ultimamente! Mas o que me surpreendeu neste caso foi ter sido uma psicóloga a dizê-lo. Mas provavelmente a maioria das pessoas concordará com ela e não comigo.

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