sábado, 10 de julho de 2021

A Segunda Saída do Armário do Manuel Luís Goucha


 Uns mais do que outros todos temos esqueletos escondidos no armário. Coisas da nossa esfera privada que só a nós nos diz respeito e que não queremos que mais ninguém saiba. Ou coisas das quais não nos orgulhamos, ou coisas que, não sendo crimes, deixariam os outros chocados.

A homossexualidade já deixou de ser crime, e, há meia dúzia de anos até deixou de estar inscrita na OMS como doença, ainda que, continuam a existir meia dúzia de iluminados, geralmente associados a religiões, que, diga-se, ainda não há muito tempo os queimavam na fogueira, com receitas para a cura da homossexualidade, como se isto se tratasse de uma receita para perder peso.

Felizmente que as coisas mudaram. Estou em crer que, com raras exceções, hoje em dia um puto pode dizer em casa aos pais que é homossexual, ou bissexual, que deve ser menos grave que dizer que é benfiquista numa família de portistas. Isso sim ainda será uma tragédia e motivo para tristeza profunda.

Mas as coisas nem sempre foram assim. Vivemos 48 anos de ditadura fascista católica, de atraso a todos os níveis e principalmente a nível civilizacional. As pessoas nem ler sabiam e a missa era dita em latim.  As pessoas casavam pela igreja e não se podiam divorciar nem voltar a casar. E a homossexualidade era tida como uma aberração condenada pelo eterno fogo do inferno.

Há não muito tempo nem sequer se pensava em contar, escondia-se. Ainda me lembro que se alguém quisesse acabar com a carreira política de algum político, era dizer que essa pessoa era homossexual. Mas com o passar do tempo, em que revelar que se é homossexual é tão chocante como alguém dizer que virou vegetariano, muitas figuras públicas foram, finalmente e aos poucos, saindo do armário e assumiram a sua homossexualidade: Cláudio Ramos, que tinha até sido casado, mas também Carlos Malato, Vítor de Sousa, Joaquim Monchique ou o caso mais antigo de Ana Zanati. 

"Na minha geração, há coisas que a gente não faz por respeito aos pais. Por respeito ao pai, que é diferente da mãe. Nas gerações mais recentes, isso já não faz sentido. Porque os pais são diferentes, têm outra mentalidade, e os filhos têm a urgência urgente de ser felizes. Foram muitos anos. Onde estiver, compreenderá, finalmente, todas as dimensões da palavra amor” (Malato)

E também o Goucha saiu do armário e para trás ficavam os tempos em que se alimentava a opinião pública com especulações do seu suposto caso com Teresa Guilherme, para ajudar a camuflar a sua sexualidade que no fundo já muita gente conhecia.

A sexualidade de Manuel Luís Goucha não me interessa para nada, contudo, folgo em saber que, finalmente, o conhecido apresentador saiu de um outro armário, esse sim motivo para ter vergonha. Estou a falar do armário do fascismo onde estava escondido há tantos anos, e assumido esta semana, com o seu declarado apoio partidário a uma figura sinistra que será candidata à câmara da Amadora.

Já todos o sabíamos quando convidou o assassino nazi Mário Machado, condenado em tribunal pela morte de Alcino Monteiro e outros atos terroristas, para o seu programa da TVI, branqueando assim este tipo de ideologia aberrante. Mas agora fica mais claro para todos, já não se pode fazer passar por humanista, porque não o é. 

Mas o que eu juro que não entendo é esta mania das minorias defenderem quem tanto as odeia e abomina. Qual é a explicação para isto, alguém tem uma teoria? As pessoas de Esquerda lutam por direitos iguais, pelos direitos das minorias, onde os homossexuais se incluem, mas depois estes vão a correr defender movimentos de extrema-direita que não suportam homossexuais e os acham aberrações, como a senhora que ele mesmo apoia. E isto não é caso virgem, está estudado. Uma grande percentagem das pessoas LGBT votou em Bolsonaro, como votou Trump, tal como vota Le Pen. E isto faz-me imensa confusão. É o mesmo que num campo de concentração Nazi, alguém vir defender a liberdade para os judeus mas estes dizerem que o Hitler é que é muito amigo deles porque os vai matar!

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