Por estes dias andei a separar um montão de tralhas para deitar ao lixo, desde toda uma sérias de capas ainda do tempo da escola, bem como o primeiro computador (que me custou 250 contos!) e toda uma série de tralhas que já não faz sentido estar estar guardadas, apesar de eu ainda ter espaço (até porque estou solteiro e não tenho filhos) mas é preciso que nos livremos de um monte de tralha desnecessária, para que outras tralhas ocupem o seu lugar.
Foram horas e horas a passar os olhos por muita tralha antiga, até que cheguei a um monte de revistas, a maioria de Heavy Metal que fui colecionando ao longo dos anos e que, definitivamente, não irão para o lixo, mas encontrei também outros tipos de revistar, mormente Notícias Magazine, dos tempos em que comprava, quase religiosamente, todos os domingos, o Jornal de Notícias. Mas porque há hábitos que se perdem, há muitos anos que deixei de comprar, quer revistas ou jornais de quaisquer espécie.
Um número em particular da Notícias Magazine chamou-me a atenção. A capa do #832 de Maio de 2008 sobre os quarenta anos do Maio de 68 fez-me pegar e abrir a revista. No meio de várias reportagens interessantes, como, por exemplo, o feminismo em Portugal, as "Três Marias", as drogas, o rock, os equipamentos eletrónicos dos anos sessenta, até que passo por uma entrevista com Jacinto Godinho, vencedor do Grande Prémio Gazeta 2006 pelo documentário da RTP "Ei-los que partem - Uma história da Emigração Portuguesa".
E as imagens dos portugueses nos arredores de Paris, em bairros de lata, fotografados por Gérald Bloncourt chocam, e levam a questionar, mas que raio de boa vida se levaria no Portugal fascista de Salazar para ser preferível ir viver para outro país naquelas condições?
"Foi uma consequência da crise do modelo económico do Estado Novo. Por variadíssimas razões, os campos ficaram esgotados, não tivemos a capacidade de basear a nossa produção industrial apenas nas matérias primas nacionais. A mecanização tardia nos campos, nos anos cinquenta, introduziu mais uma crise neste modelo, voltando a produzir muitos desempregados: a industrialização absorveu parte da mão-de-obra mas não a absorveu toda. França porquê? Porque a América estava fechada. E no Brasil praticamente tinha deixado de existir trabalho para mão-de-obra barata.
Porque é que as pessoas emigravam na década de sessenta?
A guerra foi um fator, mas o motivo principal que levava as pessoas a saírem do país era a falta de emprego. A agricultura ocupava muita gente e quando a mecanização chegou aos campos, com a introdução das ceifeiras, a partir dos anos cinquenta e muito fortemente na década de sessenta, deixou de haver trabalho".
Aos poucos querem apagar e reescrever uma história passada. Branqueador o nosso ditador, que, afinal, nem matou tantas pessoas como os outros. Se calhar até era fofifnho. Se calhar nunca vivemos tão bem como no tempo de Salazar. Se calhar, o que precisávamos, hoje, a meio dos anos vinte do terceiro milénio é de outro Salazar!
Não! Vivemos 48 anos de obscurantismo, de repressão, fome, miséria e de morte. De prisões e mortes arbitrárias. De um atraso descomunal. A vida era tão difícil que os portugueses arriscavam um ano de cadeia a tentar emigrar ilegalmente. E só na década de sessenta, nos últimos anos governados pelo ditador, cerca de um milhão de portugueses emigrou, principalmente para França.
Não precisamos de outro Salazar. Precisamos é de aprender alguma coisa com a História.
Olá !
ResponderEliminarFactos e imagens tristes que fazem parte da nossa história!
Mas com outras condições felizmente, ou não porque nem sempre mudar de vida nos corre da melhor maneira, na era de Passos Coelho o nosso país voltou a ser despovoado.
Milhares de jovens e menos jovens tentaram no estrangeiro o que o nosso país não lhes proporcionou, uma vida digna com trabalho e tecto.
E não vejo melhoras no nosso Portugal, cada vez mais um jovem casal tem dificuldade em comprar uma casa e quando isso acontece é com um crédito até à idade da reforma.
O povo até quer aprender a viver melhor está é abafado pelos constrangimentos da ditadura.
Um bom dia !
Olá Tina!
EliminarÉ verdade que a História da emigração portuguesa já vem de trás, do século 19 e continuou por todo o século 20. Mas o que eu não aceito, de todo, é ouvir muita gente, muitas vezes mais novos e que não sabem as barbaridades que estão a dizer, outras vezes gente com responsabilidade e que até escrevem nos jornais, que os portugueses viviam bem no tempo da ditadura. E também é verdade, só entre 2011-2015 emigraram 500 mil portugueses, metade da década de 60 de Salazar em que emigrou um milhão.
É verdade! O preço das casas está a disparar e os salários a não acompanhar.
Bom resto de semana!