Camões, Zeca Afonso, Saramago. Só para citar estes três exemplos.
Esta semana, quando vi o enorme destaque, meia primeira página dado pelo The Guardian à morte de Paula Rego, refleti se, de facto, tratamos bem os nossos artistas. E a verdade acho que tratamos muito mal os nossos artistas. Muito bem tratados, como se fossem heróis, tratamos quem dá uns pontapés numa bola, esses sim, até lhes erguem estátuas em vida.
Camões, como se sabe, foi preso várias vezes e enterrado como um indigente numa vala comum.
Saramago basicamente foi expulso do país pelo governo de Cavaco, Santana Lopes e Sousa Lara. Foi viver para Espanha e por lá sempre foi bem tratado. Entretanto vence o Nobel e as críticas em Portugal calaram-se e passou a ser o maior porque, infelizmente, muitas vezes os artistas só são reconhecidos quando têm grande destaque lá fora.
Mas sobre a forma como tratamos os artistas, de como é o portuguesinho e dando o exemplo de como foi tratado Zeca Afonso tem a palavra Júlio Pereira no programa da Antena 1 "Encontros Imediatos":
"Nós somos um país estranho. Os portugueses são mais ligados a dar importância a alguém que já morreu do que alguém enquanto é vivo. É uma realidade diferente dos ingleses, enquanto os ingleses têm, por exemplo, um sentido de comunidade maior, por exemplo, até as empresas têm prazer em dar dinheiro, em dar uma verba qualquer para qualquer coisa cultural, etc. Há um prazer relacionado com comunidade. E eu acho que nós cá não temos.
José Afonso morreu de uma forma muito triste, porque os últimos anos dele (ele sabia porque via e não era tolo, era um homem muito inteligente) mas via, de facto, toda a gente a afastar-se dele. A comunicação social dizia coisas absurdas dele (terem classificado um disco dele como o pior quando hoje sabemos que são temas que se tornaram intemporais), mas repara que hoje, todos são amigos de José Afonso. Nós temos esta capacidade que é muito absurda, parece que toda a gente não gosta que o vizinho seja melhor ou tenha mais: Há uma espécie de virar costas, há uma espécie de insegurança na nossa maneira de ser".
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