quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

O Admirável Neoliberalismo Americano Que Lucra com os Mortos da Pandemia

Esta história é tão deliciosa e tão pouco conhecida por cá que tinha que a contar aqui. 

Então é assim, como é sabido, o controlo do Senado dos Estados Unidos da América foi decidido agora a 5 de Janeiro numa disputa que deu a vitória aos democratas. Mas a história passa-se com os dois candidatos conservadores, o partido de Trump: David Perdue e Kelly Loeffler.

Posso-vos garantir que estes dois senadores são duas pessoas de "bem" e de boas famílias da direita americanas. Basta olhar para a fotos deles! David Perdue é um empresário que ganhou muitos milhões a importar produtos muito baratos vindos da China (dos tais que depois vêm dizer que a China é um papão). Já Kelly Loeffler é muito mais rica que o seu colega, aliás, segundo a Forbes, é mesmo uma das pessoas mais ricas do Capitólio, com uma fortuna avaliada em cerca de 660 milhões de euros. Para se ter uma ideia, conjuntamente com o seu marido, estima-se que tenha o quadruplo da riqueza do segundo membro do Congresso!

Mas vamos então perceber a maravilhosa história da especulação pandémica. 

Apesar de toda aquela conversa do ainda presidente Trump, que isto era só um "vírus chinês", que ninguém se tinha de preocupar, que era só uma "grizepinha" ou até uma "invenção dos média", a verdade é que em 24 de Janeiro de 2020 houve uma reunião para todo o Senado americano sobre o desastre iminente (lembrar que o primeiro infetado nos Estados Unidos surgiu a 21 de Janeiro de 2020) e então, munidos desta informação confidencial, o que é que estas duas pessoas de "bem" da direita americana resolveram fazer?

Se na saída desta reunião fizeram discursos tranquilizadores para as televisões, que as pessoas não precisavam de se preocupar, muito menos tomar medidas de proteção, nem pensar sequer em usar máscaras como os idiotas dos chineses. Mas o que fizeram em seguida foi um pouco diferente. De imediato começaram a movimentar milhões de dóllars em ações onde sabiam que iriam ter grandes benefícios, nomeadamente em software de teletrabalho. Mas há mais, muito mais, e a cena se calhar até é maravilhosamente macabra.

David Perdue achou por bem que, depois de dizer aos americanos que não se precisavam de preocupar com a pandemia, tratou mas foi de cuidar da sua vidinha - porque a vida custa a todos não é? - e começou a investir milhões numa empresa que se chama DuPont e que fabrica equipamentos de proteção individual, incluindo - veja-se o detalhe sórdido - sacos para embalamento de cadáveres! Não é maravilhoso? Porque não lucrar com a morte de quase trezentos mil americanos? Digam lá que não são tão nacionalistas e tão ferverosamente defensores da pátria esta gente de direita a querer lucrar com a morte dos seus concidadãos!

Quando confrontados com as investigações e o escândalo de corrupção e informações privilegiadas, parece que já os estou a ouvir dizer: "Para serem mais honestos do que eu têm que nascer duas vezes"!

E é esta promiscuidade entre política e negócios, sem qualquer controlo nem conflito de interesses que também em Portugal uma certa direita neoliberal quer. "Menos Estado" ou "Estado Mínimo" gritam eles. No ano passado, em campanha eleitoral até berravam ser contra o financiamento do Estado aos partidos - vejam lá tão honestos que eles são! - e que até abdicariam da subvenção, a que teriam direito, caso elegessem algum deputado. Mas depois de eleito o seu deputado a coisa, como se sabe, foi um bocadinho diferente!

E depois é uma pena criticarem tanto, por um lado o apoio que o Estado dá aos mais desfavorecidos (subsídio de desemprego, rendimento mínimo), por outro são contra o controlo do Estado porque ai-Jesus-que-mais-parece-que vivemos-na-China-e-esta-malta-parece-que-só-leu-o1984, mas depois vem uma "gripezinha" (como eles dizem) e vêm logo de mão estendida para o Estado lhes dar de comer. O que esta gente quer não é acabar com a corrupção, quer é rédea solta. Não quer nenhum controlo, nenhumas regras para voltarmos ao tempo da ditadura em que o trabalhador trabalhava doze horas por dias e ganhava uma bucha de pão e um gole de vinho até porque, como eles dizem, "o aumento do salário mínimo é muito mau para os pobres". Esta gente não quer acabar com a corupção, quer é o exclusivo da corrupção para si.

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