sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Ler é como ir ao Cinema Sozinho

The Book Of Secrets by ShaynART

 Foi quando estava a ler Memórias Íntimas e Confissões de um Pecador Justificado que, ao sentir a falta de ter alguém com quem trocar ideias sobre o enredo que estava a ler e do que tudo aquilo poderia poderia ser, que me lembrei precisamente disto: o ato de ler um livro é  mais ou menos como ir ao cinema sozinho, só que, mas ainda mais solitário.

Quando vamos ao cinema sozinhos não temos ninguém ao nosso lado para falar sobre as expectativas do filme. Quando lemos um livro quanto muito alguém já nos pode ter falado do livro, que é muito bom, que a história prende o leitor, que é muto interessante para conhecer determinados factos da História, etc. Por exemplo, comecei a ler o primeiro livro de Murakami porque coloquei uma fotografia no Instagram de vários livros que tinha recebido e uma pessoa comentou que "Murakami é muito bom". Quando vemos um filme, se formos daquelas pessoas que olham primeiro para o nome do realizador do que dos atores, também já dará para ter algumas informação, ainda que, no meu caso, tal como acredito que seja a larga maioria, as pessoas olham sim para os nomes dos atores e não propriamente para o nome do realizador. Se calhar nem os conhecem, se calhar ninguém sabe quem é o realizador do "Sozinho em Casa" que deu passou mais vezes na televisão do que o número de testes à COVID-19 que o Marcelo fez no último ano! O que não deixa de ser algo injusto para o realizador, porque o artista, a obra, o filme neste caso é do realizador e quem tem quase sempre « os louros da fama são os atores, ainda que todos os realizadores precisem de bons atores  para terem uma boa obra. 

No que aos livros diz respeito, também já podemos conhecer o escritor de uma obra anterior e saber, mais ou menos, ao que vamos. Mas, por mais livros que tenhamos lido, uma obra de ficção é sempre algo novo e diferente. Temos que ser nós, ao contrário, por exemplo, da televisão ou do cinema, a criar os nossos cenários com as descrições que nos vão sendo feitas. E, tal como no cinema, se lá estivermos sozinhos na sala, quando o livro acaba e as luzes se acendem enquanto passam os créditos finais, não temos ninguém ao lado com quem trocar impressões sobre o livro que acabamos de ler como quem pergunta: "então, gostaste do filme"?

Enquanto li "Memórias íntima e confissões de um pecador justificado" senti essa falta de ter alguém alguém com quem conversar sobre o livro. Naquela alegoria, afinal, o homem estaria possuído por espíritos malignos; era o próprio chifrudo do "Balha-me Deuz"; era tudo fruto da sua imaginação e sofria de perturbações mentais, ou sofria de dupla-personalidade? O que é que outra pessoa pensaria daquilo? Se calhar até teria precisamente as mesmas dúvidas que eu, porque o livro foi precisamente escrito desta forma para não dar a papinha toda feira ao leitor, mas para o deixar a pensar.  

Contudo, talvez essa seja a vantagem dos clubes de leitura. Colocar várias pessoas a ler o mesmo livro e a opinar sobre ele. Sei que existem mas nunca estive em nenhum e duvido que venha a estar. Conheço também dos filmes e séries americanas. Em Lost, por exemplo, existia um "Book Club", e ao longo da série muitos livros iam sendo sugeridos sub-repticiamente. Eu não sei se os clubes de leitura funcionam bem ou nem por isso. Mas, na falta de um clube de leitura, cabe-nos conversar connosco próprios e tirar as nossas próprias conclusões. E, quem sabe, sugerir, ou não, um determinado livro aos amigos e colegas. Como quem sugere, ou não, um bom filme. 

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