"A religião é o que impede os pobres de matar os ricos" (Napoleão)
"Os magnatas gostavam de se definir pela sua confissão religiosa (...) No conjunto, os magnatas ligavam-se às Igrejas presbiteriana, congregacionista e episcopal. No entanto, nos anos 1900, metade dos 75 multimilionários de Nova Iorque pertenciam à Igreja Episcopal. É que o ritual desta Igreja correspondia muito mais ao sentimento de dignidade e de grandiosidade de que os magnatas estavam impregnados. O caráter espetacular dos serviços episcopais, o sentido muito fortemente marcado pela hierarquia - tudo isso constituía, para os magnatas, o símbolo por excelência das suas aspirações e do seu poder. A este respeito, os exemplos de Henry Clay Frick e de John Pierpont Morgan são reveladores. Morgan, que cultivou sempre o estilo aristocrático, manifestou um grande zelo em favor da Igreja episcopal da qual se tornou um dos pilares laicos. Fez dotes generosos à Igreja Saint-George e deu 500 000 dóllars para a construção de Saint John Divine. O seu gosto pelo cerimonial e pela grandiosidade parece ter encontrado satisfações nas práticas do culto. "A Igreja não era para ele nem um símbolo de piedade, nem um símbolo de moralidade, mas o atributo da aristocracia. Neste sentido ele encarna perfeitamente o tipo do businessman da classe dominante tal como é descrito por Veblen: "Os fieis desta classe têm tendência para filiar-se nos cultos que ligam uma importância relativamente maior ao cerimonial e aos acessórios espetaculares".
Assim, as igrejas, prosperando graças aos donativos generosos dos Vanderbilt, dos Rockefeller, dos Morgan, etc, foram as auxiliares preciosas dos magnatas. Elas difundiram o evangelho da riqueza, concedendo uma sanção divina às empresas dos grandes homens de negócios e encorajando as massas à resignação. Os pastores nunca deixavam passar uma ocasião de citar os magnatas em exemplo, e de estigmatizar a ação dos que se insurgiam contra a ordem social, em particular os chefes sindicalistas. Os generosos doadores que permitiam às Igrejas beneficiar da sua filantropia sabiam o que faziam. Mas poucos eram tão francos como James Hill. Quando lhe perguntaram porque é que ele, protestante, tinha dado 500 000 dóllars à Igreja Católica para fundar um seminário de teologia em Saint Paul, Minesota, respondeu: "Olhai para estes milhões de estrangeiros chegando em massa a este país, para os quais a Igreja católica romana representa a única autoridade que eles temem ou respeitam; quais serão as suas ideias sociais, a sua acção política, o seu estatuto moral, se esta única força de controle fosse suprimida? "As igrejas - sobretudo as Igrejas poderosas de Chicago e de Nova Iorque - viviam quase da generosidade dos magnatas. Elas eram consideradas por eles como instituições necessárias à manutenção da ordem. E a Igrejas foram militantes, mas a favor do capitalismo e contra os oprimidos. Qualquer que fosse a sua "denominação", elas inculcavam uma verdade fundamental às massas: a submissão.
"O Capitalismo Selvagem nos Estados Unidos" (pág 250) / Marianne Debouzy (1972)
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