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sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Burrice Artificial (3)

Duvido que alguém saiba que nas eleições americanas há seis candidatos à presidência. Mas só se fala em dois e, curiosamente, ou talvez não, ambos são muito à direita. 

Vai daí decidi perguntar ao ChatGPT quantos candidatos presidenciais há nestas eleições de 2024 nos Estados Unidos. Ele muito rapidamente consulta os sites que quer e é verdade que acertar no número, porque de facto são seis, mas erra na resposta ao apontar um candidato que há meses desistiu (Kennedy) e esquece-se da Claudia de la Cruz:




E se eu votasse? Bom, não sei, não estou suficientemente informado sobre os programas eleitorais mas, ou na ambientalista Jill Stein, na socialista Claudia de la Cruz ou no professor catedrático Corel West que lê 
Dostoiévski. Qualquer um dos três parece-me bem. Os outros três, ou os dois que só se fala, democratas ou republicanos apoiados por bullshitionários, é tudo igual, tudo farinha do mesmo saco. 

domingo, 23 de maio de 2021

A Política das Formigas



Uma coisa que eu gosto muito de fazer é de observar as pequenas coisas da Natureza. As plantas, os animais, aprende-se muito a ver como resolvem os seus problemas. E a inteligência pode também ser descrita como a capacidade de resolver problemas. Darwin, por exemplo, dizia que o animal que sobrevive nem é o mais forte - veja-se o exemplo dos dinossauros - nem o mais inteligente, mas sim aquele que melhor se adapta às mudanças.

Por estes dias, andava a varrer o passeio e tive que deslocar um grande vaso de cimento. Mal o tiro do sítio, deparo-me com um enorme ninho de formigas com as suas crias. Coitadas, lá tive que estragar a sua bela casa! De imediato e de forma automática, entraram num enorme frenesim e começaram a pegar nas crias e a deslocá-las. Eu não fiz nada, até resolvi sair dali, ir fazer outra coisa para então voltar dentro de dez minutos para varrer o que faltava.

E dez minutos depois nem vestígios havia que ali habitavam milhares de formigas com as suas crias! Perante um problema muito grave, que é ficar sem casa, as formigas organizaram-se, levando consigo toda a sua prole para outro local seguro.

A organização foi perfeita. Nem por um segundo hesitaram. Nenhuma questionou ou negou a situação! Não vi nenhum formiga dizer que não havia problema nenhum em deixar de ter teto ou que era tudo uma invenção da formiga-rainha que as queria enganar e controlar; também não vi umas formigas contra as outras formigas; não vi formigas pensar só no seu umbigo, desenrascarem-se e deixar as outras para trás. Vi uma organização perfeita, disciplinada, todas a trabalhar para o bem comum, que é o bem de todas e o bem da espécie. 

E agora façamos o paralelo com a sociedade humana e ver a forma como temos estado a atacar este grave problema que é a pandemia (ou do Ambiente,  por sinal bem mais grave que a pandemia ). É cada um por si, consoante o que lhe é mais conveniente. Os outros que fodam que tratem da sua vidinha se quiserem. O Homem é tão ignorante que não percebe que não existem soluções parciais para problemas que são globais, de todos. 

Achamo-nos o animal mais inteligente e forte de todos, mas depois se pararmos para observar as formigas, esse ser tão pequeno e aparentemente insignificante, que até só tem uma duração de vida de algumas semanas ou meses, e  descobrimos que temos muito a aprender com elas. Talvez seja por isso que sobreviveram à extinção dos dinossauros, sobreviveram ao período do gelo, ainda cá estão, e, neste momento, são a espécie mais prolífera do planeta.

sábado, 19 de dezembro de 2020

Os Livros Que Li em 2020


 Estamos a poucos dias de terminar o ano de 2020, e acho que pela primeira vez, porque fui tomando nota, sei precisamente todos os livros que li este ano. Não são muitos, eu também nunca fui de ler muito, mas é um número redondo: um por cada mês do ano. 

Comecei o ano com um pequeno livro de cariz romântico, "Noites Brancas" o segundo que li de Dostoiévski, depois do Pobre Gente.

Depois peguei no livro "Ratos e Homens" de Steinbeck simplesmente porque era um livro citado em Lost, a minha série preferida: É de Of Mice and Men - Tu Não Lês? E a verdade é que ao longo das seis temporadas, vários livros são citados. Portanto, neste caso podemos dizer que as séries também podem incentivar à leitura, pelo menos comigo funcionou, e posso dizer que gostei muito deste primeiro livro que li de Steinbeck. Muito bom. O livro foi publicado em 1936, a seguir à grande depressão nos Estados Unidos, fala-nos duma grande amizade entre dois homens e das muitas dificuldades que é viver no mundo rural dos anos trinta nos Estados Unidos. 

Quando gostamos muito de um autor é normal queremos ler mais coisas que tenha publicado. Foi o que me aconteceu, e então, logo a seguir a Ratos e Homens resolvi ler "As vinhas da Ira". E ainda que o fiz pois é que grande livro e não foi à toa que a academia sueca atribuiu o Nobel ao escritror americano. Gostei mesmo muito e recomendo a todos. O livro o grande êxodo dos americanos do Oklahoma rumo à California em busca de uma vida melhor, e depois a frustração de lá chegados verem o preconceito e racismo dos próprios concidãos, que os maltratam e exploram, quando não os matam mesmo. Um retrato extremamente atual do que é capitalismo selvagem da sociedade americana. 

Depois de dois livros seguidos de Steinbeck peguei no Outubro do Patriarca de Garcia Márquez mas ao fim de vinte páginas, talvez porque não fosse o melhor momento par o ler, resolvi encostá-lo e pegar no estoicismo de Séneca em "Cartas a Lucílio", o livro mais inspirador do ano.

E ao quinto livro comecei entrei nos tempos da ditadura, o tema mais lido do ano  com o primeiro volume de Andanças para a Liberdade de Camilo Mortágua. 

Seguidamente, porque já tinha o livro e quis conhecer mellhor o perfil do general sem medo Humberto Delgado, e confrontar com a opinião de Camilo Mortágua, resolvi ler "Obviamente Demito-o" antes de me embrenhar nas aventuras do segundo volume.

Depois de completado o segundo volume das Andanças de Camilo Mortágua resolvi ler "Opressão e Repressão - Subsídios para a História da PIDE" para ficar a perceber ainda melhor todo o modus operandi da polícia fascista de Salazar. 

Depois de cinco volumes sobre o combate ao Estado Novo e à ditadura fascista, de novo o regresso a um romance, um que romance, o clássico Ana Karenina.  

Para desenjoar de um livro com tantas centenas de páginas, e porque nas semanas seguintes se comemorava os duzentos anos de do nascimento acabei ler uma pequena biografia de Engels.

Após umas duas semanas sem saber muito bem em que livro dos muitos que tenho em casa para ler, acabei por pegar no livro "Memórias Íntimas e Confissões de um Pecador Justificado de James Hogg que para já estou a gostar bastante.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Onde Estão os Teus Sonhos?

"- Sabe que gosto agora de lembrar e de visitar, em certas datas, locais onde um dia fui feliz à minha maneira; gosto de edificar o meu presente de harmonia com o meu passado, e, muitas vezes, vagueio como uma sombra, sem objetivo, sombrio e triste, por sítios afastados e pelas ruas de S. Petersburgo?

- Que recordações! Lembro-me, por exemplo, de que neste local, há justamente um ano, precisamente a esta hora, neste mesmo passeio, vagueei tão solitário e tão sombrio como hoje! E repare que nessa altura também os pensamentos eram tristes; ainda que não fosse mais feliz, sentia apesar de tudo, que a vida era mais fácil e tranquila, não existindo nela esta ideia negra que agora a mim se apegou; nada destes problemas de consciência, sombrios e severos remorsos, que nem de dia nem de noite me deixam descansado. E uma pessoa interroga-se: mas então onde estão os teus sonhos? E sacode a cabeça, dizendo: como os anos passam depressa!

E novamente nos interrogamos: mas o que fizeste tu dos teus anos? Onde foste enterrar o teu tempo mais precioso? Viveste verdadeiramente? Sim ou não? Repara, dizemos para nós mesmos, repara como o mundo arrefeceu. Passarão ainda mais anos e, após eles, virá a triste solidão, virá com a sua bengala a vacilante velhice e, após eles, o tédio e o desespero. O teu mundo fantástico empalidecerá; os teus sonhos morrerão, fenecerão, cairão como as folhas mortas caem das árvores.  


"Noites Brancas" / Fiódor Dostoiévski  (1848) 


domingo, 3 de novembro de 2019

Em Quantos Tipos se Divide a Humanidade?

Dostoievsky, através da sua personagem Raskólnikov dividiu a humanidade entre os ordinários e os extra-ordinários... 

Já Gabriel Garcia Márquez preferiu dividir, na sua personagem Florentino Ariza, a humanidade entre os que cagam bem e os que cagam mal...




Eu acrescentaria ainda um terceiro grupo: aqueles que se estão a cagar para tudo:




sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

"Enfim, As Coisas São Como São... Não é Verdade"?

"Querida Bárbara Alexeievna:

Encontrei hoje a Fédora e estive a conversar com ela, meu anjo. Contou-me que se realiza amanhã o seu casamento e que depois de amanhã segue viagem. O senhor Buikov já alugou os cavalos (...)
Olhe, desejo-lhe muitas felicidades, querida! Que a sorte a proteja sempre é a minha maior alegria ; é verdade, a sua felicidade será sempre para mim motivo de satisfação. Bem queria ir amanhã á igreja, mas não posso; é demasiado violento. 
Mas como havemos de continuar a corresponder-nos? Insito outra vez neste ponto...
Quem se há-de encarregar de fazer chegarem ao seu destino as nossas cartas? (...)

Como sabe, vou mudar deste quarto para o quarto onde você morou, onde a Férola me alugará um compartimento. Jamais me separarei desta honrada e boa velhinha. Demais, trabalha tanto! Ontem percorri os seus antigos aposentos demoradamente. Ainda se vê o bastidor com o trabalho principiado. Deixámos tudo exatamente como estava. Demorei-me também a ver os seus bordados . Ainda por lá ficaram uns restos de coisas . Dei com uma carta minha com linhas enroladas nela. Na sua mesinha encontrei uma folha de carta em que a Bárbara escrevera: Meu querido Makar Alexeievitch..." E nada mais. Certamente entrara alguém no momento em que principiara a carta. No canto, separada por um biombo, está a sua caminha... Oh meu anjo querido!
Bem, com isto, adeus, adeus. Por amor de Deus, escreva-me alguma coisa em resposta à minha carta, o mais breve possível!

Makar Dievuchkin



Meu Querido Makar Alexeievitch:

Está tudo acabado! A minha sorte está lançada e não sei o que o futuro me reserva, mas desde já me entrego nas mãos de Deus.
Partimos amanhã e venho, pela última vez, despedir-me de si, meu único, meu fiel, meu querido e bom amigo. É o meu único parente, a única pessoa que me valeu nas minhas dificuldades!
Não sofra por minha causa, seja feliz, lembre-se algumas vezes de mim e que Deus o abençoe! Pensarei muito em si e não o esquecerei nas minhas orações. Acabou-se a nossa convivência! São poucas as recordações agradáveis do passado que levo para a minha futura vida; por isso mesmo, mais querida e apreciada se me torna a sua lembrança e maior estima lhe consagra o meu coração. É o meu único amigo, a única pessoa que aqui me quis bem. Não sou nenhuma cega, pude avaliar bem o afeto que sempre me dedicou. Um simples sorriso meu era o bastante para o fazer feliz, e uma linha minha tinha o condão de o reconciliar com tudo. Agora tem de me esquecer (..)

Prometo-lhe escrever-lhe, meu bom amigo; mas só Deus sabe o que pode acontecer. Por isso, é melhor despedirmo-nos para sempre, meu amiguinho, meu adorado, meu tesouro, como o senhor me chama a mim. Para sempre!... Ai, que abraço tão apertado lhe daria agora! Adeus, querido amigo. Desejo-lhe muitas felicidades! Deus permita que goze sempre de boa saúde; nunca me esquecerei de rezar por si. Oh, se soubesse como estou triste, que horrível peso tenho na minha alma!
O senhor Buikov está a chamar.
Sou eternamente dedicada.

B.


P.S. - A minha alma está tão cheia, tão cheia de lágrimas! Parecem querer afogar-me, despedaçar-me... Adeus, adeus, Makar Alexeievitch! Que tristeza meu Deus! 
Não esqueça, não esqueça nunca a sua pobre Bárbara

B.


Pobre Gente - primeiro livro de Fiódor Dostoiévski (escrito com 25 aos) e publicado em 1846