"E os homens em êxodo espraiavam-se pelas estradas e havia fome e miséria nos seus olhos. Não empregavam argumentos nem possuíam um sistema certo de agir; tinham apenas o seu número e as suas necessidades. Quando aparecia trabalho para um homem havia logo dez a disputá-lo, lutavam por ele, aceitando uma paga miserável. "Se aquele tipo trabalha por trinta cents, eu trabalho por vinte e cinco". "Se ele trabalha por vinte e cinco, eu trabalho por vinte".
"Não, eu... eu, que tenho fome. Trabalho nem que seja por quinze". "Trabalho mesmo só pela comida. Os meus filhos. Só queria que o senhor os visse! Estão com o corpo cheio de furúnculos, estão que nem podem andar. Dei-lhes frutas podres, apanhadas do chão incharam terrivelmente. Eu; eu trabalho até por um pedacinho de carne".
E isso causava satisfação, pois, embora os salários diminuíssem, os preços dos géneros mantinham-se altos. Os grandes proprietários estavam contentes e mandavam distribuir ainda mais impressos para atrair mais gente. Os salários baixavam e os preços mantinham-se altos. Não tarda muito que haja de novo escravos no nosso país.
Foi então que os grandes proprietários e as grandes companhias inventaram um novo método. Um grande proprietário comprava uma fábrica de frutos de conserva. E, quando as pêras e os pêssegos amadureciam, ele descia o preço das frutas abaixo do custo de produção. Como fabricante de frutas de conserva, ele pagava a si mesmo um preço baixo pelas frutas e, mantendo alto o preço das frutas em conserva, auferia ótimos lucros. Os pequenos proprietários, que não possuíam fábricas de de fruta de conserva, perdiam as suas propriedades, que eram absorvidas pelos grandes proprietários, pelos bancos e pelas companhias, às quais pertenciam essas fábricas. Com o tempo diminuía a número de propriedades. Os pequenos proprietários não tardavam a mudar-se para as cidades por um certo tempo, onde esgotavam o crédito, os amigos, as relações. Depois acabavam ávidos por trabalho, prontos a assassinar por trabalho.
As companhias e os bancos trabalhavam para a sua própria ruína, mas ignoravam-no. Os campos estavam prenhes de fruta, mas nas estradas marchavam homens que morriam de fome. Os celeiros estavam repletos, mas as crianças cresciam raquíticas e inchava-lhes o corpo com as pústulas da pelagra. As grandes companhias ignoravam quão estreita é a linha divisória entre a fome e a ira. E o dinheiro, que podia ter sido empregado na melhorias dos salários, gastava-se em bombas de gás, em carabinas, em agentes espiões, em listas negras e exércitos bélicos. Nas estradas, os homens deslocavam-se como formigas, à procura de trabalho e de comida.
E a ira começou a fermentar.
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