terça-feira, 31 de março de 2020

Quando Íamos à Venda

Há uma série de palavras ou expressões que, apesar de muito usadas num determinado momento, uns anos mais à frente podem rapidamente desaparecer do léxico popular e deixam de fazer grande sentido.

Quando eu era miúdo, por exemplo, usava-se muito a expressão "ir à venda". Ir à venda significava ir à mercearia fazer compras. Hoje em dia já ninguém vai à venda fazer compras ou, melhor, vão mas dão-lhe outros nomes. Hoje cada vez menos se fala em mercearias. Apareceram os mini-mercados e os mercados Não satisfeitos seguiram-se os supermercados e por fim os hipermercados! Sempre a aparecer cada vez mais um maior a engolir todos os outros mais pequenos.

Expresso.pt
O primeiro hipermercado Continente abriu em 1985 em Matosinhos e foi a loucura. Faziam-se excursões de todo o país para lá ir gastar dinheiro. O deslumbramento era tanto que se conta que muitas pessoas chegavam às caixas e depois tinham que ir devolver muitas compras porque não contavam com uma conta tão elevada. Mas não se pense que as coisas mudaram muito desde os anos oitenta. A mesma romaria continua a fazer-se hoje, se bem que eu nunca tenha percebido muito bem porquê, pois sempre que abre um novo centro comercial na cidade, ou por exemplo uma nova grande superfície de contraplacados sueca, ou uma nova mega-mercearia espanhola é ver toda a gente em procissão lá ir ver o que lá se passa.

Abriram enormes hipermercados e centros comerciais que tiveram livre acesso a estarem abertos ao domingo, que começaram a esmagarar as milhares de mercearias e os pequenos negócios que havia por todo o país e que, muitas vezes, se calhar ainda vão sobrevivendo nos dias de hoje, primeiro graças à proximidade nos meios mais pequenos, mas também à facilidade que algumas, mais antigas, que ainda permitem que se lá vá pagar depois, tal como se fazia antigamente com o livro dos calotes, em que as pessoas compravam e depois iam à venda pagar mal recebessem o salário.

Hoje em dia já não se vai à venda. Vai-se ao Continente, ao Pingo Doce, ao Minipreço e ao Lidl. E os novos livros dos calotes são agora as carteiras carregadas cartões dos diferentes hipermercados e dos postos de combustível e de talões para descontar na próxima visita ao hipermercado.

2 comentários:

  1. Tens ainda o cartão jumbo que é uma espécie de livro de calotes, mas mais moderno, que permite a muito boa gente pagar as compras só ao final do mês hehehehe

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    1. Quando estava a escrever lembrei-me precisamente da conversa que tivemos! E depois esqueci até de referir o Jumbo como uma das grandes mercearias e a única que tem ainda uma espécie de livro dos calotes!
      Bem lembrado! Obrigado!

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