sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Quanto Mais Burro, Melhor!

Não sei se já tinha contado aqui que foi por causa do Nonio (que me impedia de ler digitalmente os jornais nacionais) que passei a ler o The Guardian. Entretanto motivado pela vontade de ler os textos da Carmo Afonso no Público, registei-me numa plataforma que me permite ler cerca de sete mil jornais e revistas de todo o mundo. Infelizmente o Público não é um desses jornais, mas comecei a ler outras coisas muito interessantes como o jornal Folha de São Paulo, jornal de grande qualidade, onde escreve, ao domingo, o nosso Ricardo Araújo Pereira.

Um texto de Lúcia Guimarães, hoje, sobre a recente edição de um livro nos Estados Unidos chamou-me a atenção e resolvi partilhar aqui: 


"Quem pensava que América do Sul era o nome de um país?
Quem descreveu o continente africano como uma nação?
Quem disse que o aquecimento global era uma invenção da China para destruir a competitividade da indústria americana?

Foram três republicanos que tiveram o dedo no botão nuclear —pela ordem de asneira, Ronald Reagan, George W. Bush e Donald Trump.

Todos os países têm sua história de políticos palermas que divertem. Mas chega um momento em que a gargalhada é interrompida pelo medo do estrago que os poderosos e estúpidos são capazes de fazer. Um livro lançado nesta semana nos EUA examina a evolução da atual safra de governantes asininos. O humorista Andy Borowitz é o autor de “Profiles in Ignorance, How America’s Politicians Got Dumb and Dumber” (perfis em ignorância, como os políticos americanos se tornaram mais e mais estúpidos). O livro é um exame forense e 100% factual da versão recente da tradição antiintelectual, um aspecto conhecido da história americana.

Borowitz acha que o pioneiro moderno do boçal estelar, há 50 anos, foi Reagan, o ator de filmes B cuja ignorância era tão gritante que sua campanha para governador da Califórnia, em 1966, contratou psicólogos de uma universidade para treiná-lo como um animal de laboratório. Acostumado a decorar falas em filmes, Reagan aprendeu a repetir o que seus instrutores escreviam em fichas e venceu a eleição com uma vantagem de mais de 1 milhão de votos.

O assessor de campanha responsável pelo banho de fatos em Reagan fracassou quando foi convocado a fazer o mesmo pelo então senador Dan Quayle, em 1984. A colunista texana Molly Ivins acompanhou Quayle em campanha e concluiu que o vice escolhido para a chapa de George Bush pai era mais estúpido do que parecia. “Se você implantar o cérebro de Dan Quayle numa abelha, ela começa a voar em marcha à ré,” declarou.

Reagan e Quayle, escreve

Borowitz, representam o primeiro de três estágios da incultura na política: o ridículo, um saudoso período em que líderes podiam ficar envergonhados por dizer besteira.

O segundo estágio —a aceitação— tem como patrono George W. Bush. Ele achava que sua idiotice era benigna e o aproximava do povão. Bush se orgulhava de revelar que não abrira um livro quando estudava na Universidade Yale.

Em 2000, a campanha do republicano espalhou um slogan —“George Bush está concorrendo à Presidência, não a uma vaga em quiz show” — sugerindo que seu adversário, o relativamente pomposo ambientalista democrata Al Gore era quem ficava em desvantagem por ser culto.

Bush mostrou o poder do despreparo intelectual de provocar morte em massa. Dias depois de invadir o Iraque, ele recebeu uma delegação de iraquianos no Salão Oval e, pela primeira vez, ouviu falar que havia xiitas e sunitas no país. Perplexo, exclamou: “E eu pensava que os iraquianos eram muçulmanos!”.

O terceiro estágio da ignorância é a celebração, que assola tanto Washington quanto Brasília. Trump, conclui Borowitz, é profundamente ignorante, mas exibe, como o parvo capitão do Planalto, o que psicólogos chamam de “ilha de competência”: a capacidade de atrair a atenção proferindo estrumes verbais.

No atual estágio, um doutorado em Harvard, como o exibido por trumpistas republicanos, não é impedimento para tentarem convencer eleitores a tomar remédio de cavalo para combater a Covid.

O único antídoto para a nossa era de obscurantismo é votar.

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