Não sei se já tinha contado aqui que foi por causa do Nonio (que me impedia de ler digitalmente os jornais nacionais) que passei a ler o The Guardian. Entretanto motivado pela vontade de ler os textos da Carmo Afonso no Público, registei-me numa plataforma que me permite ler cerca de sete mil jornais e revistas de todo o mundo. Infelizmente o Público não é um desses jornais, mas comecei a ler outras coisas muito interessantes como o jornal Folha de São Paulo, jornal de grande qualidade, onde escreve, ao domingo, o nosso Ricardo Araújo Pereira.
Um texto de Lúcia Guimarães, hoje, sobre a recente edição de um livro nos Estados Unidos chamou-me a atenção e resolvi partilhar aqui:
"Quem pensava que América do Sul era o nome de um país?
Quem descreveu o continente africano como uma nação?
Quem disse que o aquecimento global era uma invenção da China para destruir a competitividade da indústria americana?
Foram três republicanos que tiveram o dedo no botão nuclear —pela ordem de asneira, Ronald Reagan, George W. Bush e Donald Trump.
Todos os países têm sua história de políticos palermas que divertem. Mas chega um momento em que a gargalhada é interrompida pelo medo do estrago que os poderosos e estúpidos são capazes de fazer. Um livro lançado nesta semana nos EUA examina a evolução da atual safra de governantes asininos. O humorista Andy Borowitz é o autor de “Profiles in Ignorance, How America’s Politicians Got Dumb and Dumber” (perfis em ignorância, como os políticos americanos se tornaram mais e mais estúpidos). O livro é um exame forense e 100% factual da versão recente da tradição antiintelectual, um aspecto conhecido da história americana.
Borowitz acha que o pioneiro moderno do boçal estelar, há 50 anos, foi Reagan, o ator de filmes B cuja ignorância era tão gritante que sua campanha para governador da Califórnia, em 1966, contratou psicólogos de uma universidade para treiná-lo como um animal de laboratório. Acostumado a decorar falas em filmes, Reagan aprendeu a repetir o que seus instrutores escreviam em fichas e venceu a eleição com uma vantagem de mais de 1 milhão de votos.
O assessor de campanha responsável pelo banho de fatos em Reagan fracassou quando foi convocado a fazer o mesmo pelo então senador Dan Quayle, em 1984. A colunista texana Molly Ivins acompanhou Quayle em campanha e concluiu que o vice escolhido para a chapa de George Bush pai era mais estúpido do que parecia. “Se você implantar o cérebro de Dan Quayle numa abelha, ela começa a voar em marcha à ré,” declarou.
Reagan e Quayle, escreve
Borowitz, representam o primeiro de três estágios da incultura na política: o ridículo, um saudoso período em que líderes podiam ficar envergonhados por dizer besteira.
O segundo estágio —a aceitação— tem como patrono George W. Bush. Ele achava que sua idiotice era benigna e o aproximava do povão. Bush se orgulhava de revelar que não abrira um livro quando estudava na Universidade Yale.
Em 2000, a campanha do republicano espalhou um slogan —“George Bush está concorrendo à Presidência, não a uma vaga em quiz show” — sugerindo que seu adversário, o relativamente pomposo ambientalista democrata Al Gore era quem ficava em desvantagem por ser culto.
Bush mostrou o poder do despreparo intelectual de provocar morte em massa. Dias depois de invadir o Iraque, ele recebeu uma delegação de iraquianos no Salão Oval e, pela primeira vez, ouviu falar que havia xiitas e sunitas no país. Perplexo, exclamou: “E eu pensava que os iraquianos eram muçulmanos!”.
O terceiro estágio da ignorância é a celebração, que assola tanto Washington quanto Brasília. Trump, conclui Borowitz, é profundamente ignorante, mas exibe, como o parvo capitão do Planalto, o que psicólogos chamam de “ilha de competência”: a capacidade de atrair a atenção proferindo estrumes verbais.
No atual estágio, um doutorado em Harvard, como o exibido por trumpistas republicanos, não é impedimento para tentarem convencer eleitores a tomar remédio de cavalo para combater a Covid.
O único antídoto para a nossa era de obscurantismo é votar.
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