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domingo, 18 de maio de 2025

A Receção Vem Aí


No final do ano passado o governador do banco de Portugal já avisado  que com o rumo que este governo está a levar íamos voltar aos défices. Agora, ainda por cima o Benfica não foi campeão. Estamos mesmo fodidos. A receção vem aí. Mais um motivo para hoje votarem bem. 

sábado, 22 de março de 2025

Ter Salários Dignos Não Arruína a Economia ou O Último Prego no Caixão do Neoliberalismo

Como introdução a mais um artigo que aqui quero deixar (principalmente para mim mas que, por certo também poderá interessar a outro qualquer leitor fantasma) poderia começar por dizer que não percebo nada de economia, mas, se calhar, a grande maioria dos economistas da nossa praça também não!

Depois de anos com a mesma ladainha de sempre "ai, não, não se pode aumentar os salários porque isso é mau para a economia e as empresas não aguentam" e lembrar aquele arauto da economia portuguesa, formado pela Católica, João César das Neves a dizer o aumento do salário mínimo é muito mau para os pobres, como pudemos ver nos últimos anos, tudo isso era um mito absurdo.


"O salário mínimo aumentou 61% em Espanha desde 2018, um crescimento vertiginoso que - apesar da recente explosão da inflação - supera em cerca de 40 pontos percentuais a evolução dos preços desde então. De 736 para 1184€ brutos por mês em 14 pagamentos, alcançando, segundo as estimativas do Governo, 60% do salário médio dos espanhóis. 

Em paralelo, e impulsionado por um ciclo económico expansivo, a taxa de desemprego caiu de forma sustentada, o nível de emprego cresceu ligeiramente e a desigualdade salarial atenuou-se. Embora se registem algumas travagens moderadas na criação potencial de postos de trabalho, a maioria dos analistas concorda que os aumentos do SMI trouxeram mais consequências positivas do que negativas. Uma conclusão comum a outras geografias e que coloca em causa algumas ideias que pareciam imutáveis.

Espanha não é, de longe, o único país que aumentou o salário mínimo nos últimos anos. Em períodos marcados pela forte inflação pós-pandemia e pela escalada abrupta dos preços da energia, outros países também reforçaram os seus salários mínimos. De um modo geral, novamente, com mais vantagens do que desvantagens. O caso do México é um exemplo disso. Ou o da Califórnia, um dos estados dos EUA que mais aumentou este indicador. Ou, mais perto, o de vários países da Europa de Leste, com a Roménia e a Bulgária à frente, onde os aumentos de dois dígitos se tornaram norma, melhorando a vida de milhões de trabalhadores.

Os supostos efeitos negativos, amplamente teorizados por muitos economistas e empresários - e contestados apenas por alguns, com os laureados com o Prémio Nobel da Economia David Card e Alan Krueger à cabeça - não se concretizaram. Os preços subiram, sim, mas por razões alheias ao salário mínimo. E, longe de ser um inimigo do pleno emprego, o desemprego está próximo de mínimos históricos.

Manuais desatualizados


Essas ideias, firmemente enraizadas no imaginário coletivo da economia neoclássica e nos manuais com que se formaram (e continuam a formar-se) várias gerações de académicos, começam a desmoronar-se. “O caso do salário mínimo é mais um exemplo de conceitos que a ortodoxia económica tomou como certos nos últimos 50 anos e que caíram desde 2008; argumentos que, carregados de ideologia, eram considerados inquestionáveis e não o são”, afirma Xosé Carlos Arias, autor do recém-publicado O tempo é ouro. Economia política do nanosegundo. “Quer isto dizer que o salário mínimo pode subir indefinidamente? Não, claro que há um limite… Mas parece ser mais elevado do que se pensava”.

“Os modelos convencionais falharam, sobrestimando os impactos negativos e subestimando os positivos”, acrescenta Juan Carlos Moreno Brid, professor de Economia da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM). Porquê? “Em grande parte, porque assumiam que o mercado de trabalho funcionava como o das laranjas. E não é assim… O mercado laboral é, sem dúvida, onde a economia neoclássica mais falhou na sua compreensão.”

Uma linha de pensamento partilhada por Attila Lindner, investigador do instituto alemão IZA, especializado em economia do trabalho, e professor no University College de Londres, com inúmeras investigações sobre o tema. “A evidência empírica sobre o salário mínimo sugere que, nos níveis atuais [no Ocidente], esta política tem efeitos mínimos sobre o emprego, ao mesmo tempo que aumenta significativamente a remuneração dos trabalhadores com salários mais baixos”. Algo, conclui, “difícil de conciliar com a visão neoclássica dos mercados laborais que dominou a profissão até ao início dos anos 2000, e que revela limitações importantes da teoria económica tradicional”.

Ao contrário de tantas outras variáveis laborais em que Espanha costuma estar na cauda da Europa, no que toca ao salário mínimo está agora perto do topo. Os seus 1.184 euros mensais são o quinto valor mais elevado da Europa, superado largamente pelos 2.261 euros do Luxemburgo, 1.956 da Irlanda ou 1.880 dos Países Baixos, todos eles países onde o custo de vida supera em muito o espanhol. Nada a ver com a realidade de há alguns anos, quando o salário mínimo espanhol estava entre os mais baixos da União Europeia.

Se tomarmos como referência 2018 - antes da pandemia e do forte aumento do SMN em Espanha -, o salário mínimo cresceu 61% desde então, enquanto os preços subiram apenas 19%. Esta diferença é ainda mais notória em países do leste e norte da Europa: na Lituânia, por exemplo, os preços aumentaram 41%, mas o salário mínimo subiu 160% (de um valor inicial muito baixo, 400 euros em 12 pagamentos, para os atuais 1.038 euros). Em Montenegro, Albânia e Croácia verifica-se um fenómeno semelhante. Também na Alemanha (+19%) e nos Países Baixos (+11%) houve ganhos significativos no poder de compra do salário mínimo.

Um raio de esperança

No México, os resultados foram igualmente claros. Durante os seis anos de presidência de Andrés Manuel López Obrador, o salário mínimo - que partia de valores muito baixos, mais típicos de economias empobrecidas do que de um país de rendimento médio - mais do que duplicou. Isto pôs fim a décadas de estagnação e trouxe esperança a milhões de trabalhadores. E, mais uma vez, sem o temido “efeito cascata”, que pressupunha que qualquer aumento do salário mínimo levaria automaticamente a uma subida de todos os salários, o principal argumento dos economistas (e políticos) tradicionalmente contra essa medida.

Rosalía Vázquez-Álvarez, economista da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e especialista em salários, assinala que, entre 2021 e 2022, 57% dos países do mundo aumentaram o salário mínimo nominal. Entre 2022 e 2023, a percentagem subiu para 59%. “Isto representa um aumento substancial em comparação com anos anteriores, o que indica que, em muitos mais países do que se esperava, as políticas de salário mínimo responderam de forma firme ao aumento da inflação”, comenta.

Os aumentos coincidiram com novos estudos científicos sobre o impacto do salário mínimo, que se viram reforçados pelos dados dos últimos anos. Foi neste contexto que a Academia Sueca concedeu o Prémio Nobel de Economia a David Card, reconhecendo a sua tese que contrariava a crença generalizada de que aumentos do salário mínimo destruiriam empregos. “Os aumentos no salário mínimo não têm necessariamente de levar à destruição de emprego”, justificou a Academia.

A conclusão geral não é que o aumento do salário mínimo não possa ter efeitos negativos, mas sim que não há uma consequência automática e que os aumentos recentes têm trazido mais benefícios do que prejuízos. Como enfatiza Luis Ayala, professor de Economia na UNED, “os estudos mais recentes mostram que os efeitos negativos sobre o emprego são pequenos, enquanto os efeitos positivos sobre a desigualdade salarial são muito comuns”.

A evidência empírica sugere que um salário mínimo bem implementado reduz a desigualdade e melhora a vida dos trabalhadores, sem que isso resulte numa perda significativa de empregos. A economia evolui e, com ela, o entendimento sobre os impactos das políticas salariais.

"Tener sueldos dignos no arruina la economía" / El País 

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Editado:

Entretanto ficamos a saber que Espanha teve ser o maior superavit dos últimos trinta anos. E Ana Gomes partilha o meu post no Bluesky a satirizar o economista da Católica:

domingo, 9 de fevereiro de 2025

A Economia dos Ovos



Sim, desde 2009 que o salário mínimo não aumenta nos Estados Unidos, porque assim é melhor para os pobres. Não admira que estejamos a ser invadidos por americanos (ou estadunidenses como é mais correto dizer). E já estou a ver que não é nada por causa do Trump. Deve ser mas é por causa dos nossos ovos. 


domingo, 19 de março de 2023

Só os Mais Conceituados Gestores Podem Levar um Banco à Falência

* Artigo publicado hoje na Folha de São de Paulo por Ricardo Araújo Pereira

"E cá estamos novamente. O sistema financeiro opera sem freio nem regulação, dois ou três bancos vão à falência, o Estado intervêm para evitar o efeito de contágio, os bancos falidos prometem se comportar e, uns anos depois, começa tudo outra vez.

E cá estamos novamente. O Silicon Valley Bank, o Signature Bank e o Credit Suisse estão em dificuldades. O mais fascinante, para mim, é a frequência com que bancos caem. O negócio dos bancos é infalível. Trata-se de comprar dinheiro barato e vendê-lo mais caro. Eles comercializam um produto de que todo o mundo gosta e que não estraga. Nunca ninguém foi ao banco dizer: “Desculpem, estas notas são da semana passada. Este dinheiro não está fresco”. Nunca.


Os bancos são administrados por pessoas que estudaram nas melhores universidades e usam as melhores gravatas. É gente inteligentíssima a gerir um negócio seguríssimo. Ainda assim, os bancos vão à falência constantemente.


No entanto, há bastantes sinais de que os bancos são administrados por gente superior ao mortal comum. Quando o mortal comum vai à falência, ele vai à falência. O banco é recapitalizado.

Não é uma ajuda: é uma recapitalização. Ajudas são para pobres, que não conseguem se governar. Esses devolvem a ajuda com juros dolorosos, para não se esquecerem do que fizeram. Mesmo que alguém quisesse, não poderia recapitalizar um pobre, porque ele nunca teve capital para começar.


O ramo mais atraente para quem quer construir uma carreira de sucesso é ser proprietário de um banco falido. Enquanto o banco não vai à falência, os acionistas retiram todos os benefícios que ser banqueiro oferece; quando vai à falência, não suportam nenhuma das desvantagens de falir - o Estado toma conta de tudo.


Quem deve R$ 5.000 pode ter problemas: intimações, tribunais, penhoras. Quem deve R$ 5 milhões, em princípio, está mais à vontade. Se você contrair empréstimos, já sabe: o segredo é apontar para cima.

Para os devedores, aplica-se o mesmo princípio de mérito que rege o resto da sociedade: os maiores e mais talentosos têm mais dinheiro e prestígio.


Eu teria todo o gosto em fundar um banco falido. Desgraçadamente, não tenho curso de economia ou gestão e temo que a minha falta de preparação técnica me levasse a criar um banco bem-sucedido e próspero. Só os mais conceituados e bem pagos gestores parecem ter a capacidade para conduzir um banco estrondosamente à bancarrota.


domingo, 6 de setembro de 2020

The Inside Job - A Verdade da Crise

Dizem-nos que esta pandemia é a pior crise que há memória, ainda assim eu não tenho visto bancos e seguradoras a falir, ou gestores a suicidarem-se. E agora que passam doze anos da crise de 2008 do subprime americano, achei por bem relembrar como tudo aconteceu e ver o documentário "The Inside Job (A verdade da crise) que venceu o Óscar de melhor documentário em 2011. Como dizem que a memória coletiva só dura dez anos, se calhar convinha a muita gente ver ou rever para se lembrar do que foi esta crise, quem a provocou e de como continua basicamente tudo na mesma. Um filme que recomendo vivamente.

"Em Setembro de 2008, a falencia do banco de investimento dos EUA Lehman Brothers e o colapso da maior companhia de seguros do mundo, a AIG desencadearam uma crise financeira global. 

Esta crise não foi um acidente. Foi causada por uma indústria descontrolada. Desde 1980 o crescimento do setor financeiro americano provocou crises cada vez mais dramáticas. Cada crise provocou mais danos, e, paralelamente, a indústria ganhou cada vez mais dinheiro.  

Depois da grande depressão os EUA viveram 40 anos de crescimento económico, sem que se desse uma única crise financeira. O setor financeiro estava escrupulosamente regulado. Na sua maioria os bancos eram empresas locais e era-lhes proibido especular com as poupanças dos clientes. Os bancos de investimento, que transacionavam ações e obrigações eram sociedades pequenas e privadas. 

A administração Reagon, apoiada por economistas e lobbyistas financeiros, deu início a um período de 30 anos de desregulação financeira....

Porque é que existem os grandes bancos? Porque os bancos gostam do poder dos monopólios. Porque os bancos gostam do poder das influencias. Porque os bancos sabem que quando são demasiado grandes, serão salvos. 

Há trinta anos, se pedisse um empréstimo para comprar uma casa, o empréstimo era concedido por alguém que contava recuperar o seu dinheiro. Desde então criou-se a securitização, e quem concede um empréstimo já não corre riscos se o devedor não pagar.

No sistema antigo, quando um proprietário pagava a sua hipoteca todos os meses, o dinheiro ia para a entidade de crédito local. E como se tratava dum empréstimo de longa duração, as entidades eram cautelosas. No novo sistema as entidades venderam as hipotecas a bancos de investimento. Estes reuniram milhares de hipotecas e outros empréstimos, para criar produtos derivados complexos, a que chamaram ativos tóxicos ou CDO (collateralized debt obligations). Os bancos de investimento venderam os CDO a investidores. Neste modelo, quando os proprietários pagavam a sua hipoteca, o dinheiro ia para investidores espalhados por todo o mundo. Os bancos de investimento contratavam agências de rating para avaliar os CDO e muitos deles receberam a cotação de AAA, a nota mais alta em termos de investimento. O sistema era uma bomba-relógio. Às entidades já não interessava se o proponente podia pagar por isso começaram a fazer empréstimos de maior risco. Os bancos de investimento também não se preocupavam. Quantos mais CDO vendessem mais altos eram os seus lucros. E as agências de rating, que eram pagas pelos bancos de investimento, não eram responsabilizadas se a cotação dum CDO se revelasse mal atribuída. 

Entre 2000 e 2003, o número de empréstimos para hipotecas quase quadriplicou.

A banca de investimento referia empréstimos subprime por terem taxas mais altas. Isto conduziu a um aumento intensivo dos empréstimos predatórios. Alguns empréstimos tinham taxas de subprime desnecessariamente  e foram concedidos muitos empréstimos a quem não podia pagá-los. 

Em 2007 a Goldman foi ainda mais longe. Começou a vender CDO concebidos de forma  a que quanto mais os clientes perdessem, maiores fossem os lucros da Goldman Sachs. 

Em 2008 as execuções tinham disparado em flecha da "cadeia-alimentar" securitizada. As entidades de crédito não conseguiam vender os empréstimos à banca de investimento e, à medida que as hipotecas iam sendo executadas, dezenas delas faliram.

Sexta-feira 12 de Setembro o Lehman Brothers ficara sem liquidez e a banca de investimento afundava-se rapidamente. A estabilidade do sistema financeiro global estava comprometida.

A 4 de Outubro de 2008 Bush aprovou uma fatura de resgate de 700 mil milhões. Mas as bolsas continuaram a cair com receio duma recessão global já implantada.

Os homens que destruíram as suas próprias empresas e lançaram o mundo numa crise afastaram-se dos destroços com as suas fortunas intactas. Os cinco executivos de topo do Lehman Brothers ganharam mais de mil milhões entre 2000 e 2007. E quando a empresa foi à falência eles ficaram com o dinheiro todo. 

Porque há-de um engenheiro fianceiro receber entre 4 a 100 vezes mais do que um engenheiro normal? Um engenheiro normal constrói pontes; um engenheiro financeiro constrói sonhos. E quando esses sonhos se transformam em pesadelos, foram os outros a pagá-lo.

O sistema financeiro americano foi seguro durante décadas. Mas depois algo mudou. O setor financeiro virou costas à sociedade, corrompeu o nosso sistema político e fez mergulhar a economia mundial numa crise. Com imenso esforço, evitámos o desastre e estamos a recuperar. Mas os homens e as instituições responsáveis pela crise continuam no poder. E isso tem que mudar. Eles dirão que precisamos delese que aquilo que eles fazem é demasiado complicado para que possamos entender. Dirão que não volta a acontecer. Vão despender milhares de milhões a combater a reforma. Não será fácil. Mas há coisas por que vale a pena lutar.



Inside Job - Charles Ferguson (2010)

domingo, 22 de dezembro de 2019

As Falsas Necessidades Com Que o Capitalismo Atola as Pessoas em Dívidas

É curioso observar como as coisas têm mudado nos hábitos de consumo e como há coisas verdadeiramente contraditórias. Se por um lado, por alturas do 25 de Abril de 1974 o salário mínimo era, em comparação, maior que os 600€ que temos hoje, por outro lado, ainda por cima cada vez mais há mais despesas que são impingidas e que de repente parece que são imprescindíveis à vida. 

Quando eu era criança, por norma, em cada casa havia uma só televisão e eram raras as casas que tinham telefone. Nos anos noventa já todos os lares tinha televisão a cores e telefone. E as pessoas recebiam três cartas com contas para pagar: água, luz e telefone.



Vinte anos volvidos todas as casas têm agora, não uma mas várias televisões pela casa. Além do telefone, que se passou a chamar telefone fixo, agora todos os elementos da casa têm também o seu telefone portátil, que por cá, estranhamente, se passou a chamar telemóvel (por oposição ao cell phone). Há vinte anos, cada lar, tivesse três, quatro ou vinte pessoas, gastava em telefone uma média de três contos de rei (15€) por mês. Hoje em dia, quase todos os lares pagam para ver televisão (ou para ter internet) e cada elemento do agregado familiar tem o seu telemóvel, que entretanto anda a ficar cada vez mais esperto, mas pouco económico porque o gasto será uma média de 15€ vezes o número de pessoas de cada casa.

Há vinte anos o telefone tinha um aluguer (tal como ainda hoje temos o aluguer do contador da eletricidade e da água) mas não se gastava dinheiro para o substituir. Se avariasse os TLP (empresa pública que os nossos políticos privatizam e os nossos grandes empreendedores empresários trataram de falir) logo se apressavam a substituir, tal como substituíam, gratuitamente, quando os modelos ficavam ultrapassados. As listas telefónicas e as Páginas Amarelas também eram entregues gratuitamente.

Hoje, além de cada pessoa do agregado familiar ter a sua fatura telefónica para pagar, por norma, excluindo pessoas como eu, que os outros acham que vivem numa caverna, têm ainda que substituir, frequentemente, o seu aparelho para telefonar. Pois é, um telemóvel hoje é muito esperto, faz muitas coisas, mas nenhum outro faz e recebe chamadas, não é?

Esta semana, na TSF (rádio que quase deixei de ouvir por causa da publicidade) ouvi um programa - sim, se antigamente era expressamente proibido fazer publicidade às marcas, hoje, por vezes a publicidade é mesmo descarada - e nesse programa falavam dos melhores telemóveis que os pobres poderiam comprar por menos de 500€. Relembro de novo que o salário mínimo português é de 600€!
E a certa altura, a pessoa que apresentava o programa "Mundo Digital" dizia mesmo "Não compre nada abaixo dos 150€. Eu sei que gostaria de poupar uns bons euros mas a verdade é que, mais cedo ou mais tarde, vai arrepender-se", e o que aconselha, no mínimo, é mesmo entre os 200-250€, mas os preços vão, não até ao infinito, mas facilmente até aos 1000-1500€.
Bom, mas seria de esperar que um bom telemóvel que custa mais que um televisor ou um computador (o meu portátil custou 250€) durasse, pelo menos, uns bons anos. Não! Numa rápida pesquisa fiquei a saber que os portugueses trocam de telemóvel, em média, ao fim de dois anos!

E, se há umas quantas décadas as coisas eram feitas para durar, desde as mobílias das casas, os automóveis, a roupa, toda e qualquer geringonça durava que se fartava, com o avanço tecnológico passou-se a programar as coisas para terem um fim certo e ao fim de xis tempo, que por norma é pouco depois do tempo de garantia!, e lá tem que se ir comprar novo que agora não se repara nada e o Ambiente - todos preocupados com o Ambiente não é?, agradece! Acontece que, além da obrigatoriedade de comprar, as coisas agora duram menos tempo e gasta-se mais dinheiro. Mas não só. Temos também uma publicidade cada vez mais agressiva que mete na cabeça das pessoas que não serão felizes se não comprarem, se não tiverem o que todos os outros têm ou se não se comportarem como todas as ovelhinhas imaculadamente brancas, todas iguais, se comportam.

O capitalismo vive de crises sucessivas, para que os pobres fiquem ainda mais pobres, e os ricos fiquem ainda mais ricos. Para se ter noção, estamos hoje em 2019 e o rendimento dos portugueses é, em média, menos 175€ por mês que em 2009! Sofremos uma crise terrível e seria de esperar que as pessoas tivessem aprendido a lição e estivessem mais contidas nos gasto, certo? Não, errado!

"A verdade é que, o número de famílias a bater à porta da DECO por estar com dificuldades financeiras, ele não está a abrandar, pelo contrário, ele está novamente a aumentar. E aquilo que nós verificamos relativamente às famílias que nos estão a pedir ajuda este ano de 2019, estão a fazê-lo muita vezes devido a crédito que já foi contratado este ano ou em 2018. Isto é claramente demonstrativo que as famílias não estão a recorrer ao crédito de forma tão responsável quanto era desejável". (Natália Nunes/DECO)

Concluindo. Com o passar do tempo e com as sucessivas crises do capitalismo, o rendimento disponível das pessoas é cada vez menor. Ironicamente a pressão é cada vez maior para o consumo e as pessoas satisfazem as suas necessidades de escravatura acedendo ao crédito fácil não aprendendo com o passado recente e endividam-se ainda mais. 

sábado, 19 de outubro de 2019

Quanto é que na Verdade nos Custa o Carro Todos os Meses?

Imagem retirada daqui: https://onestoptax.com.au

Na mesma semana em que passaram vinte anos desde que tirei a carta de condução tive que deixar os dois carros na oficina, um para fazer a revisão, o outro para resolver um problema elétrico (totalizando nos dois um custo de 70€), e tendo ainda gasto 150€ na compra de quatro pneus em muito bom estado para o todo-terreno (que o mecânico considerou muito bom negócio). Nesta mesma semana uma amiga ficou sem bateria e vai ter que mudar o Kit de Distribuição, e se calhar 350€ não chegam para a brincadeira toda, daí que estivemos a falar com o carro nos consome muito dinheiro. 

Por norma, quando pensamos no gasto mensal que temos com o carro, pensamos na despesa do combustível. No meu caso que faço 50Km todos os dias, eu mesmo digo que gasto 80€ todos os meses para ir para o trabalho. Mas, como é óbvio, isto é extremamente enganador! Eu gastaria só 80€ se isto fosse o valor do passe dos transportes públicos, porque com um carro há toda uma lista de gastos, uns mais a curto prazo, outros mais a médio ou longo prazo, consoante queiramos manter um carro por muito tempo nas nossas mãos, ou, como muitas pessoas fazem, trocar de carro de quatro em quatro ou de cinco em cinco anos.

Grosso modo quem está a pensar comprar um carro pela primeira vez, tem que ter noção que para o sustentar, terá que pagar - obrigatoriamente! - além do combustível: 

- Seguro
- Inspeção 
- Imposto Único de Circulação
- Revisões programadas (mudança de óleo e filtros, kit de distribuição)
- Substituição de peças de desgaste (bateria, lâmpadas, escovas, pneus, calços de travões (e discos), embraiagem, amortecedores, carregamento do ar condicionado, etc)

Mas há uma despesa mensal, que quase ninguém considera no carro, que é a desvalorização que o carro tem. Por exemplo, se o meu carro me custou 12 mil Euros há 12 anos, mas hoje já só vale 3 mil Euros, significa que em doze anos eu deitei ao lixo 9 Mil Euros! Significa que, por mês perco 62.50€!! Mas este custo de desvalorização poderá ser baixado consoante ficarmos com o carro mais tempo nas nossas mãos, até porque, se eu ficasse com este carro para o resto da vida, no máximo perderia o seu custo em desvalorização, e ainda há outra questão, que é, depois que o nosso carro se torna um clássico (mais de 25 anos) começa a valorizar (se entretanto não estiver um chaço velho e tiver que ir mas é para a sucata!)

A título de exemplo, se eu ficasse com este carro 30 anos, e nessa altura ele valesse mil euros, ele já só teria desvalorizado 30€ por mês em vez dos atuais 62,50€. Por outro lado, e como é lógico, perde mais dinheiro quem gasta mais na compra do carro à cabeça, e poupa mais quem compra um carro de uma marca que não desvalorize tanto (ainda que todos desvalorizam muito) ou que compre um carro por um preço baixo.

Mas além destas despesas obrigatórias, da compra do carro e consequente desvalorização, bem como do Seguro, IUC, inpeção e manutenção, depois ainda há que ter em conta também despesas que para muitas pessoas não são de desprezar como por exemplo:

- Portagens
- Estacionamento 
- Juros do Empréstimo para a compra do carro novo ou usado

E podemos ainda ter surpresas desagradáveis inesperadas como:

- Pequenos acidente / toques que implica aumento do prémio do seguro e reparação de chapa/pintura
- Multas (as mais comuns de estacionamento, velocidade, falar ao telemóvel, etc)

E nestas surpresas desagradáveis pode acontecer que nos danifiquem o pára-choques como ainda aconteceu comigo recentemente, questões de vandalismo, tentativa de assalto com coonsequentes estragos, vidros partidos, ou até, termos um acidente por nossa culpa e o carro ir para a sucata, e neste caso, todo o dinheiro que investimos no carro foi deitado ao lixo! Convém, digo eu, andar muito cuidado, por exemplo nestes dias de chuva! Pensar sempre que podemos deitar ao lixo muitos salários numa pequena irresponsabilidade!

Mas ainda temos também que ter em conta os gastos com pequenos mimos em que há pessoas que quase não gastam dinheiro nenhum, mas outras há (como um ex-colega que me dizia que tinha mais produtos para o carro que a mulher de limpeza da casa!) que gastam bastante em quase todos estes pormenores:

- Lavagem (mesmo que seja em casa gastamos água, detergente, esfregona, panos)
- Ambientador
- Renovador de Plásticos
- Massa de Polir a Pintura
- Pano Micro Fibra
- Limpa Estofos
- Renovador de Faróis
- Líquido Limpa Vidros
- Anticongelante
- Substituir o Auto-rádio ou meter umas colunas mais potentes
- Substituição dos Tapetes
- Estofar bancos e/ou Volante 
- Colocação de Barras no tejadilho
- Pintar para-choques
- Gancho de Reboque
- Capas para os bancos
- Cabos/carregador de bateria/Macaco/ Chave desapertar jantes
- Aditivo Limpeza de Injetores
- Spray Brilhos dos Pneus
- Spray Limpa Jantes
- Água destilada
E isto poderia continuar indefinidamente, quanto mais a pessoa seja obcecada pela perfeição do estado do carro!

Mas vamos então ao meu exemplo pessoal, que despesa, em média tenho eu todos os meses com um carro que faz em média 15 mil km / ano:

Combustível....................................................................................................100€
Seguro...............................................................................................................18€
Inspeção.........................................................................................................2,50€ 
IUC................................................................................................................2,50€
Revisão Programada (200€ a cada 2 anos.....................................................8,50€
KIT Distribuição (300€ a cada 5 anos) .............................................................5€
Bateria (100€ cada 5 anos)............................................................................1,70€
Pneus (400€ cada 3 anos).................................................................................11€
Embraiagem (500€ a cada 10 anos)................................................................4.2€
Escovas Limpa-Vidros (10€ cada 2 anos).....................................................0.40€
Pastilhas de Travão (50€ cada 3 anos)..........................................................1,40€
Discos Travão  (100€ cada 6 anos)...............................................................1,40€
Lâmpadas (10€ todos os anos)......................................................................0,40€
Amortecedores (200€ cada 10 anos)............................................................1,70€
Radiador (300€ cada 15 anos)......................................................................1,70€

Esquecendo os 62,50€ de desvalorização, eu todos os meses, mesmo que não pegue no carro e o deixe estar quietinho na garagem, tenho sempre um gasto de 60€!! Depois tudo depende dos quilómetros que fizer, mas tendo em conta que, em média gasto 100€ de combustível por mês, isto quer dizer que, de momento gasto 160€ por mês no carro. Ora isto quer o que significa que, do orçamento anual dois mil euros são só para sustentar um carro.

Como dizia o outro, que por acaso é aqui da minha terra: "É muita grana"!!

* Isto foi escrito numa noite de insónia. Não sou nenhum especialista de "contas-poupança". É possível que alguns cálculos não estejam muito ajustados, mas se for o caso, até falarei com o meu mecânico e editarei posteriormente.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Se Cada Vez Mais Pessoas Deixam de Fumar - Por Que é que As Tabaqueiras Fazem Cada Vez Mais Dinheiro?

A reportagem é do The Guardian. O que estará por detrás dos grandes lucros, cada vez maiores, das tabaqueiras?

As taxas de tabagismo estão a cair no Reino Unido, EUA e em grande parte da Europa. Quarenta e cinco por cento dos britânicos fumavam nos anos 60 e 70, e em comparação hoje apenas 15%. 
Poderia parecer que isso é uma má notícia para os lucros do cigarros, mas as empresas de tabaco estão a ganhar dinheiro do que nunca. Alegam que não comercializam mais cigarros tradicionais, mas as táticas nos bastidores sugerem o contrário. Leah Green explica como:


Então, o que é que está por detrás dos grandes lucros das tabaqueiras?

- Os lucros continuam a vir dos cigarros tradicionais.

- Fazer cigarros é como imprimir dinheiro. Tem um custo muitíssimo baixo e são vendidos por um preço elevado, e por toda a vida do consumidor, visto que está viciado. 

- Em 2015 as seis maiores tabaqueiras tiveram mais lucros que a Coca Cola, Walt Disney, Fed EX, Google, Mac Donalds e Starbucks todas juntas.

Mas se o produto tabaco mata os consumidores, então como é que se arranjam novos clientes se a publicidade é proibida? 
- Muito fácil! Nas redes sociais fazendo contratos e pagando a jovens "influenciadores" do Instagram para publicarem fotografias enquanto fumam, em determinadas horas e sob determinadas regras, para que fumar pareça de novo uma coisa muito fixe e normal. 

E onde é que se encontram milhões de consumidores que ainda não foram incomodados com campanhas anti-tabaco e com um mundo livre de fumo?
- Claro! Ásia, Índia, Indonésia, África mudando a epidemia de tabaco dos países desenvolvidos para os restantes países. E é muito simples, as tabaqueiras pressionam os governos a não aprovar a legislação que existe na Europa e nos Estados Unidos, e que os proíbe de fazer publicidade, atuando assim livremente. 

A indústria do tabaco é o negócio mais lucrativo da civilização humana, apesar de ser o mais mortífero. 

domingo, 19 de maio de 2019

Dinheiros Públicos Vão Ser Obrigados a Usar Chip

Imagem emprestada da net
Um dos principais problemas da economia portuguesa é a corrupção, a lavagem de dinheiro, a fuga ao fisco, o desvio de dinheiros públicos para o bolso dos privados. 

Em face deste cancro que nos torna a todos mais pobres, fazendo por outro lado engordar os mais ricos, e depois do escândalo das declarações de Joe Berardo na Comissão de Inquérito à Caixa Geral de Depósito, a coligação de Esquerda no Parlamento acaba de fazer aprovar, à semelhança do que já se passa com os animais de "companhia", o uso do Microchip nos dinheiros públicos. 

A partir de agora facilmente qualquer empresário ou contribuinte que ande a criar Fundações para fugir ao fisco será apanhado. Toda e qualquer tentativa de lavagem de dinheiro será imediatamente descoberta e responsabilizará o seu verdadeiro dono. Todo e qualquer dinheiro público que for inadvertidamente parar ao bolso de qualquer empresário privado, de imediato será descoberto e será forçosamente obrigado a voltar à esfera pública.

Espera-se que, com esta medida os ricos comecem a pagar impostos e a economia portuguesa comece a crescer 50% ao ano. Em face disso já foi anunciado um salário mínimo de 1500€ mês bem como um aumento nos dias de férias, que passarão dos atuais vinte e dois para trinta e cinco dias. O horário de trabalho passará a ser de, tanto no público tal como no privado de cinco horas por dia.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Em Breve Mil Bicicletas Elétricas "Como Novas" à Venda No OLX e Custo Justo


Há coisas que me fazem mesmo muita confusão. 
De repente, há uma vertigem pelo elétrico, pelas baixas emissões. Depois dos Toyota Prius, que até nos Estados Unidos faziam furor, é agora o elétrico que é mordenaço, verde e sinal de status, até porque um carro elétrico ou uma bicicleta elétrica não são propriamente baratos e acessíveis à generalidade das pessoas. 
Então vai daí o Estado, aprovado pelo parlamento, aprovou um incentivo de 250€ para a compra de mil bicicletas elétricas. 

Perante este cenário, a minha pergunta, senhores e senhoras deputados(as) é: 
- Por que é que em vez de andarem com medidas avulsas, que apesar de ficarem sempre bem na comunicação social, porque são "verdes" - "vejam o que estamos a fazer pela melhoria do ambiente"! - e apoiarem a compra de mil bicicletas elétricas (e claro que tem mil euros para dar por uma bicicleta, certamente que será uma pessoa que ganha um salário mínimo de 600€!) medidas esse avulsas que nada mudam na vida das pessoas em geral (unicamente na carteira de mil burgueses), por que é que não isentam de IVA a compra de todas as bicicletas comuns, aquelas que são movidas à energia dos músculos sobre os pedais, e bicicletas essas verdadeiramente zero emissões?

Uma bicicleta é veículo verdadeiramente ecológico, que faz bem à saúde e previne doenças, e que tem zero emissões para o ambiente (a não ser o cheiro a suor!) e que ainda por cima são fabricadas nas fábricas portuguesas, por trabalhadores portugueses, mas pagam de imposto 23%!
Mas já sabemos que, o que é preciso isentar ou beneficiar, senhores e senhoras deputados(os) é o IVA das touradas, um espetáculo de incentivo à tortura animal ou então o golf, como fez o anterior governo, pois como todos sabemos o golf só é praticado por pessoas com dificuldades económicas!  

Sabem o que é que vai acontecer à vossa linda medida de apoio com 250€ na compra de uma bicicleta elétrica? Vai originar que, daqui a uns tempos, todas elas, estejam à venda em sites como o OLX e Custo Justo, tal e qual como aconteceu com os computadores Magalhães. 

domingo, 16 de setembro de 2018

Bem-vindos Às Falsas Promessas do que Seria o Trabalho no Século XXI

Quando eu era miúdo prometiam-nos uma vida muito melhor. Diziam-nos que num futuro próximo as máquinas de escrever iam ser substituídas por computadores e imaginem que até se dizia que o papel iria desaparecer. Infelizmente o papel não desapareceu, e por causa disso temos um país infestado de eucaliptos. Diziam também que iríamos ter de trabalhar muito menos horas por dia e com os computadores até se poderia passar a trabalhar de casa.

As novas máquinas vieram, e hoje, ao contrário de quando era criança, em que basicamente a maioria das pessoas só tinha uma motorizada para se deslocar, hoje, toda a gente tem o seu carro, dois ou mais até, ou pelo menos um para cada elemento do agregado familiar. Hoje, ao contrário do tempo em que era criança, todos já têm o seu computador de secretária ou portátil, têm dois ou três, e todos até têm o seu telemóvel com acesso à internet. A indústria sofreu uma verdadeira revolução e até aí estão os robots para, supostamente, substituir os humanos. Mas afinal, até que ponto a nossa vida mudou verdadeiramente para melhor? A vida mudou realmente para melhor, ou as pessoas passaram a ter de trabalhar muito mais para comprarem as merdas que o capitalismo meteu na cabeça das pessoas não podem sem as ter? 

Pois é. Afinal todas as promessas não passaram de mentiras deslavadas e continuamos a ter de trabalhar de sol a sol, tal como antigamente. Simplesmente já não nos levantamos com o sol com uma enxada na mão para ir cavar. A única coisa que mudou foram os objetos dos escravos trabalhadores. Se antigamente os trabalhadores usavam foices e martelos, hoje vão para a jorna de trabalho (olha o Google nem sabe o que é jorna e sublinha como se fosse erro!) e vão para a jorna dobrar roupa, estar o dia todo, de pé a passar códigos de barras ou de telefone na mão a atender clientes ou a impingir-lhes serviços. As ferramentas foram a única que mudou.

De resto, continuamos a ter que trabalhar de sol a sol, oito horas por dia. Talvez hoje ainda se trabalhe mais, visto que antigamente as pessoas só se levantavam com o sol, e hoje, graças aos carros, já todos poderemos ir trabalhar para bem longe de casa, nem que para isso tenhamos de sair de noite, e percamos duas horas de viagem, todos os dias e viagens essas que os patrões não pagam. Mas depois as pessoas revoltam-se é com a mudança da hora! Se trabalhássemos duas horas de manhã e duas horas de tarde, alguém andava a discutir se era preciso ou não mudar a hora? Andamos sempre a discutir o que não interessa para nada, em vez de exigirmos as mudanças que interessam verdadeiramente. 


Sim, o futuro chegou, a nossa realidade mudou e foi higienizada, e tomamos dois ou três banhos por dia, mas ao contrário do que se pensa, a nossa realidade mudou para pior. Acham que não? Então pensem um bocadinho. Hoje já ninguém se reforma aos cinquenta anos, ao contrário do tempo em que era criança. Hoje, em pleno século vinte e um, vamos ter de trabalhar em prol de outro ser humano, não até aos cinquenta anos mas sim até morremos! Quão espetacular é isso, trabalhar até morrer? E vamos ter de trabalhar até morrer porque não vai haver dinheiro para pagar as reformas. Mas dizem-nos até, como se nós fôssemos muito burros, que é por causa da "esperança média de vida"! Maldita esperança média de vida que deveria era de diminuir para não sermos obrigados a trabalhar, sem forças, até aos setenta anos! E dizem-nos ainda, como se fôssemos muito burros, que temos de fazer muitos bebés para que depois, quando eles crescerem, nos possam pagar as reformas que não vamos ter porque não há dinheiro para as pagar!

Quando eu era criança, maioritariamente só o homem o trabalhava e o dinheiro de uma só pessoa chegava para construir uma casa. Acham que estamos melhor hoje? Hoje quase nenhum jovem terá dinheiro para comprar um terreno e construir uma casa! Antigamente a mulher ficava em casa a tomar conta dos filhos que não precisavam de infantários nem de amas. Eram verdadeiramente educados pelos pais. Hoje são educados por quem? Eu vou ter um filho para quê? Para ter de pagar para os outros o educarem? Antigamente as crianças brincavam livremente, tal como eu brinquei, sem horários, pelo menos até aos seis anos de idade, quando então tínhamos de ir para a escola primária.  

Hoje trabalha o homem, trabalha a mulher e aos seis meses as crianças vão para a ama ou para o infantário que é mais uma despesa no orçamento familiar. As pessoas correm de um lado para outro, as crianças correm de um lado para o outro. As pessoas não têm tempo nem pachorra para se ouvirem. Não têm disponibilidade física nem mental para ainda chegar a casa, depois de um longo dia de trabalho, e terem de fazer as tarefas domésticas, cuidar dos filhos, ouvir os problemas do cônjuge ir para a cama e ainda ter vontade fazer sexo. Temos setenta, repito, 70% de divórcios e as crianças além de correrem de um lado para o outro por causa das dezenas de atividades que os pais agora as obrigam a fazer, têm ainda de correr de casa da mãe para casa do pai por causa da guarda partilhada. E há uma nova geração de gente que cresceu em famílias disfuncionais, que mais não foram que armas de arremesso entre pais e mães. 

A vida supostamente melhor que o século vinte e um prometia, no final de contas, é ser ainda mais escravo do trabalho e ter cada vez menos tempo. É trabalhar mais horas, é fazer mais horas-extra que agora deixaram de ser pagas porque se inventou uma coisa chamada banco de horas, e é trabalhar de noite com menos horas de subsídio noturno (muito obrigado aos senhores Passos Coelho & Paulo Portas), e é, por exemplo, trabalhar sábados e domingos no turismo, que em Portugal está a fazer dinheiro como ninguém faz no mundo, e ter um salário principesco de 620€. Repito: 620€ para trabalhar aos sábados e domingos!!  E é viver num dos países da Europa onde os patrões se aumentam a si mesmos 40%  em três anos, mas onde ironicamente os escravos, perdão, é a força do hábito, onde os trabalhadores (que agora lhes chamam colaboradores) são os menos aumentados da Europa. 

sexta-feira, 22 de junho de 2018

"Quem é que põe dinheiro num país dirigido por Comunistas e Bloquistas?"

A direita e a extrema-direita portuguesa (que às vezes se confunde e confundem as pessoas), sempre fizeram a propaganda de que um país dirigido por gentes de Esquerda afastam os investidores. Mas será mesmo assim ou afinal ou é propaganda barata como afirmar que os comunistas comem criancinhas ao pequeno-almoço? A notícia é de ontem e desfaz todas as dúvidas.

Portugal (segundo o estudo da EY) é agora considerado o país mais atrativo da Europa para investir no curto prazo. Propaganda barata portanto.



Mas quem é que o afirmava todos os dias que com uma coligação de Esquerda ninguém investiria em Portugal e que vinha aí o Diabo? O nosso saudoso mentiroso compulsivo Passos Coelho. Falhaste em toda a linha - "Levar Portugal a sério?" - A sério Passos? Mas é preciso ter memória (algo que as pessoas não têm) mas eu não me esqueço. 

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Portugal Tem os Salários Mais Baixos Mas o Custo de Vida é Muito Mais Baixo que no resto da Europa

Adoro este tipo de propaganda. Adoro especialmente quando é proferida por outros escravos como eu, que defendem com unhas e dentes os baixos salários, afinal, temos muita sorte, porque nos países em que os trabalhadores têm salários decentes (e trabalham muito menos horas que nós) coitados, lá os preços são muito mais caros. E não é que as pessoas acreditam piamente nas barbaridades que dizem?

Diário de Notícias